“Observou-se um único objeto semelhante a uma estrela, só que maior, arredondado e muito brilhante. Parecia azul ou verde durante a maior parte do tempo, mas mudou sua cor ao branco antes de desaparecer”. Não se trata de um diálogo extraído de Contatos Imediatos de Terceiro Grau [Close Encounters of the Third Kind, 1977], mas do fragmento de uma declaração realizada no ano 1996 por um piloto de avião e recolhida em um relatório recém desclassificado pelos Arquivos Nacionais britânicos. E não é o único em destaque.
Outro assinala que viu, enquanto dirigia pela rodovia, no mesmo ano, “uma luz em movimento descendo à Terra, como um meteoro. Partiu-se em dois e desapareceu”. Algo semelhante ao que ocorreu com uma terceira testemunha que, poucos meses depois, presenciou “dois objetos idênticos extremamente brilhantes e de forma irregular, se deslocaram juntos até que um se desviou para o nordeste e outro para o sudeste”. São apenas três dos 10 mil depoimentos que foram recentemente publicados na Inglaterra.
Além de tais declarações, reunidas a partir de telefonemas de cidadãos comuns para escritórios de polícia ou bases do Exército, encontram-se relatórios produzidos pela comissão do Ministério de Defesa (MoD) dedicada ao tema ou artigos realizados por pesquisadores em Ufologia. Em um deles, feito por um oficial do serviço de inteligência, se estabelece a possibilidade de que a visita de extraterrestres se deva ao “reconhecimento militar, investigação científica ou simplesmente uma forma de turismo”.
No total, os documentos que agora podem ser acessados livremente desde o dia 12 de julho – ao menos até o próximo 11 de agosto, quando deixarão de estar disponíveis para download –, remontam ao redor de 6.700 páginas nas quais se localizam até 10 mil depoimentos diferentes de avistamentos de Objetos Voadores Não Identificados (OVNIs), uma quantidade definida nos próprios documentos por um oficial do serviço de inteligência como “demasiados para serem confiáveis”.
Os resumos realizados pelo UFO Desk e destinados aos poderes públicos britânicos parecem bastante frequentes, destinados entre outros à Câmara dos Lordes ou ao próprio Premiê Tony Blair, que foi informado e estava ciente sobre a proliferação de avistamentos ufológicos em 1998, após o Ministério de Defesa lhe comunicar que, apesar de não manter um interesse especial pelos UFOs, “gostavam de manter a mente aberta sobre o tema”.
Blair sabia de tudo
Uma das razões para isso é que tais fatos poderiam explicar uma série de estranhos acidentes frequentes que se classificaram sob o nome de Projeto Condign, e nos quais aviões da Força Aérea Real [Royal Air Force, RAF] se chocaram após realizarem, sem razão aparente, uma manobra que os conduziu ao destino fatal. Os documentos sugeriam o encontro com um UFO como possível causa. O assessor dos Arquivos Nacionais e professor da Universidade de Sheffield, David Clarke, assinala que se tratou da primeira vez que o Exército Britânico levou em consideração a possibilidade de um contato de terceiro grau como explicação para um fato incompreensível de outra forma.
Segundo explicou o professor ao The Huffington Post, a razão de todos estes documentos virem à público é a Lei de Liberdade de Informação que o próprio Blair levou adiante durante seu mandato, e através da qual podia ser solicitado a consulta de qualquer documento classificado, uma decisão da que o antigo Premiê se arrependeu em repetidas ocasiões, o considerando “uma irresponsabilidade política”.
Segundo Clarke, autor de The UFO Files, a principal razão para realizar o relatório que teve o conhecimento de Blair era a possibilidade de que tais calhamaços saíssem à luz sem que o próprio Premiê tivesse tido a possibilidade de conhecer seu conteúdo anteriormente. Clarke preparou uma guia bem útil para o aprofundamento em todos estes papéis que podem modificar a história da Ufologia Mundial.
Naturalmente, Blair não é o primeiro líder mundial a solicitar informação sobre os UFOs. Em 1963, 10 dias antes de seu assassinato em Dallas, o próprio John F. Kennedy solicitou por escrito o acesso a documentos altamente confidenciais do assunto, provavelmente com o objetivo de tentar frear rumores que apontavam uma proliferação dos avistamentos na antiga União Soviética e punham em risco o frágil equilíbrio entre blocos durante a Guerra Fria. Kennedy tinha medo de que fossem interpretados como uma invasão do céu russo por norte-americanos, segundo a tese mantida por William A. Lester em seu ensaio A Celebration of Freedom: JFK and the New Frontier.
Churchill também questionava
“Qual o montante de tudo isso sobre os discos voadores? O que pode significar? E qual é a verdade? Faz favor, mantenha-me informado”. Esta é a petição realizada por carta pelo Premiê Winston Churchill em julho de 1952, quando foi informado pelo Ministro do Ar do aumento de avistamentos ufológicos nos céus britânicos. Anos mais tarde, quando este tipo de contatos se produziam em média de um por semana, o herói da Segunda Guerra Mundial pediu ao seu gabinete de guerra que “ocultassem toda a informação disponível durante pelo menos 50 anos”, pela possibilidade do “pânico em massa” entre uma população da qual ainda estava sob a lembrança dos desastres da grande guerra. Além do mais, parte da motivação de Churchill era religiosa: temi
a que os britânicos sofressem uma crise de fé caso se inteirassem da existência de seres de outros planetas.
Entre os documentos desclassificados anteriormente, encontra-se o que se considerou como o “Roswell britânico” e que recebe o nome de Incidente do Bosque de Rendlesham [Caso Rendlesham], ocorrido no mês de dezembro de 1980. Diferentes testemunhas, entre elas vários aviadores, afirmaram terem visto luzes movendo no bosque e um objeto voador de forma cônica que desapareceu rapidamente e reapareceu na noite seguinte.
Quiçá não passasse de “mais um avistamento”, no entanto, no início de 1981, o tenente coronel Charles Halt redigiu um memorando chamado Luzes Inexplicáveis [Unexplained Lights], afirmando ter visto um objeto desconhecido que tentou capturar junto a seus homens ao longo do bosque, sem sucesso. Todas estas descobertas que os arquivos britânicos acabam de publicar não são mais que a ponta de um iceberg muito maior, já que se espera até o final do ano outros 25 novos documentos vejam a luz do dia.
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