O cientista e escritor inglês Paul Davies, doutor em física e astronomia na Universidade de Londres, professor na Universidade Nacional do Arizona (EUA), fez há algum tempo uma afirmação fenomenal e valente. Em seu livro Un Silencio Inquietante [Editorial Crítica, 2011, edição em espanhol], no capítulo “¿Y qué hay de todas esas historias de OVNIs?” [E o que dizer de todas essas histórias de UFOs?], revela que “os questionários nos dizem que nada menos que 40 milhões de estadunidenses viram algo que descrevem como Unidentified Flying Object (UFO) [Objeto Voador Não Identificado (OVNI)]”. Desde 1947 o tema vem revolucionando o mundo em torno da pergunta sem resposta: há ou não moradores do universo que andam nos visitando?
Essa cifra representa um de cada 13,3% de habitantes desse país (sua população atual é de 300 milhões de pessoas). Se existem ou não civilizações em outros mundos que estão em visita por estes lados, devem ser bem mais inteligentes do que nós, já que podem chegar até aqui, onde alguns poucos terrícolas (uma dúzia, em seis viagens do projeto Apollo entre 1969 e 1972) mal conseguiram chegar até nosso satélite natural, a Lua, para dar uns poucos passos e retornar, depois de comprovar que é um solo inóspito e inabitável.
Davies continua: “Desnecessário dizer que nada de tudo isso impressiona aos cientistas. Para começar, a lógica é errônea. Não ser capaz de identificar algo como (fator) X, não significa que deve ser (fator) Y. Ou poderia ser (um fator) Z”. Os UFOs são observados por milhares de pessoas ao redor do mundo a cada dia, tarde ou noite e, na maioria dos avistamentos, suas características se explicam facilmente como fenômenos convencionais ou mesmo insólitos, mas de caráter meteorológico, aviões observados em condições incomuns, planetas brilhantes, meteoros, satélites, equívocos etc.
Porém, segue ele, “cabe admitir que há um punhado de casos difíceis, mas nenhuma linha divisória clara que separe os fatos que se resolvem dos casos que não foram concluídos. De modo que é tentador concluir que podem ser explicados 95% dos avistamentos, mas também poderia ser assinalado que os 5% restantes não se pode elucidar”. Assim, a percentagem de quem realmente viu algo “não identificável” se reduz a pouco mais de dois milhões de ocorrências inexplicáveis, quantidade que, obviamente, não é nada desprezível.
No entanto, esse país está repleto de bases militares, nas quais há uns 20.000 aviões cada vez mais sofisticados e até vários bombardeiros invisíveis (mas não insonoros), de estranhas formas. Todos são ultrassônicos e seu programa de treinamento e voos de prova diários é importante. Anos atrás uma muito inteligente colega argentina que nos acompanhava em um passeio pelo National Museum of Air and Space [Museu Nacional do Ar e do Espaço] em Washington, DC, advertia sobre o “militarizado” Estados Unidos, onde mais de 60% dos objetos desse museu eram aviões militares de diferentes épocas, desde os caças Mustang P-51 aos jatos Lockheed P-80, Sabre F-86 ou os McDonnell Douglas.
Exibe-se a cabine de um bombardero da Segunda Guerra Mundial que supostamente voa sobre a Alemanha, onde soa a música de uma banda de jazz de fundo e se ouve a voz dos pilotos: cinco manequins com roupa de voo, em um ataque sobre Frankfurt ou Hamburgo. Claro que também há uma reprodução do Águia (Eagle), a nave da Apollo XI que chegou à Lua e a voz de Neil Armstrong assinalando situação e aproximação. Também se vê pela janela, em uma projeção autêntica, o cinzento solo lunar.
Outro caso próximo é a confusão produzida quando supostos avistamentos resultam ser do do planeta Vênus, que nas madrugadas brilha no limite do horizonte ao leste ou depois ao oeste, com toda intensidade, graças a sua espessa camada de nuvens. Também em outros casos especiais houve lançamentos de foguetes (mísseis) para analisar a atmosfera em grande altura, especialmente um na Inglaterra que Davies desmascarou.
Há estados do Velho Mundo que reconheceram e têm estabelecido investigações sobre os UFOs. O governo britânico registrou aproximadamente 11.000 casos desde 1950. Depois de décadas, recentemente tornou público um bom calhamaço de arquivos sobre UFOs sob instâncias da Lei de Liberdade de Informação. No entanto, finalmente indicou que “seja o que for esse resíduo, não se trata da obra de alienígenas. O governo não nega que coisas estranhas são vistas no céu”, disse um porta-voz. Mas por outro lado, “certamente, carece de provas de que tenham aterrissado naves espaciais extraterrestres em nosso planeta”. O governo da França igualmente informou através do Dossiê Cometa sobre suas ocorrências. Não deu conclusões, só assinalou que são absolutamente estranhas.
Essa mistura, em grande parte contribui com a tarefa de difusão que alguns reconhecidos mistificadores fazem do observado através de milhares de anos. Incluído o que uma vez viu o profeta Ezequiel, caminhando junto ao rio Quebar, quando contemplou um brilhante turbilhão do qual emergiram quatro estranhas criaturas aladas, que de maneira superficial “se assemelhavam a homens e que vinham acompanhadas de quatro rodas voadoras que brilhavam como se fossem de metal polido e que após algum tempo se elevaram do solo e se foram voando…”.
Alguns dos pesquisadores mais sérios são confiáveis e escreveram vários tratados nos últimos anos. Me permito nomear alguns, que podem procurar, por exemplo, via Google: David Jebson, Jason Martell, David Childress, George Noory, Stanton Friedman e vários outros. Há programas sobre o tema difundidos por TV a cabo que capturam a atenção de centenas de milhares de
fanáticos, que, sem terem visto nada, jamais, estão convencidos de “a verdade está lá fora”.
Dos mais antigos, posso mencionar ao uruguaio Fabio Zerpa, que faz questão de saber se houve consumo de bebida alcoólica entre as testemunhas de UFOs, como uma maneira de descartar a possibilidade de uma visão de ébrios. Entrevistei Zerpa no programa de TV saltenho que dirigia nos anos 80. Mostrei-lhe uma foto colorida da zona de Lesser, onde aparecia um pequeno objeto alongado. Me disse que se tratava de uma falha de revelação do laboratório fotográfico, mas não pediu para ver o negativo.
Mais popular é o espanhol J. J. Benítez, que quer nos convencer de que tem ocorrido grande quantidade de abduções, e o popular Erich von Däniken, que diz que determinadas figuras talhadas em pedra há séculos em grutas rupestres do Equador e México são evidência de antigas visitas alienígenas, que há figuras de “sujeitos que portam capacetes similares aos dos atuais astronautas”. Sem esquecer de J. Allen Hynek, que teve em suas mãos o projeto Livro Azul, depois descartado.
Como me assinalou um amigo fotógrafo há poucos dias: “Esses fantasiadores (famosos autores de livros) passaram da moda faz tempo, não me convencem mais. Quando era um rapaz achava que eram uma realidade, mas agora ficou esquisito!”. E, bom, se alguma vez ver algo, conte para seus íntimos ou procure na Internet e achará uma tonelada de observações similares a cada dia em diferentes e longínquos lugares. Eu jamais vi nada anormal na comunidade deste sólido mundo, o que não tira o mérito que muita gente se tenha convertido em absolutos crentes, como se professassem um culto religioso, e estão aguardando um reencontro…
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