Ácido e direto, o ufólogo James Carrion traz para as páginas da Revista UFO todos os ingredientes para temperar uma entrevista polêmica. Criador do Projeto Pandora, que digitalizou mais de 13 mil arquivos em papel sobre casos ufológicos nos Estados Unidos, ex-diretor da Mutual UFO Network (MUFON) — Rede Mútua de Pesquisas Ufológicas — e ex-tradutor de russo para o Exército norte-americano, ele não mede as palavras para censurar as pesquisas atuais que desdenham e rejeitam os princípios da ciência. “Por terem convicções fixas e acabadas, céticos e crentes nos UFOs têm mais em comum do que imaginam”, diz ele para dar início a essa entrevista exclusiva que concedeu em uma de suas passagens pelo Brasil — ele está residindo parte do ano em São Paulo, após casar-se com uma brasileira que conheceu no Colorado.
Nosso entrevistado chega a ser duro ao apontar a pouca importância dada pela Comunidade Ufológica Mundial à interferência que órgãos oficiais exercem na área, especialmente os de inteligência. Aqui, nessas páginas, ele fala abertamente sobre conspirações estatais, agências de espionagem e todo o tipo de campanhas de desinformação da fenomenologia ufológica — que iludem, acobertam e até manipulam cenários e pessoas. Acusado de ser um agente governamental infiltrado no meio ufológico, e até na MUFON, ele não se cala e responde às denúncias provando sua inocência e interesse genuíno pelo estudo do Fenômeno UFO.
Criando polêmicas
Confrontando figurões da Ufologia Mundial, como o mexicano Jaime Maussán e o canadense Stanton Friedman [Ambos consultores da Revista UFO], Carrion ficou famoso por sua conturbada carreira de investigador, cujo ápice aconteceu, de 2006 a 2010, na direção internacional da MUFON — a maior instituição de investigação ufológica do mundo [A segunda maior é o Centro Brasileiro de Pesquisas de Discos Voadores (CBPDV), que produz a Revista UFO]. Na organização, ele lutou pela profissionalização do quadro de pesquisadores e, simultaneamente, constatou preocupantes influências de elementos externos ao grupo — que buscavam manejar e acobertar informações sobre os fatos apurados. Nessa entrevista inquietante, o ex-diretor delata o acordo da entidade com a empresa do famoso milionário Robert Bigelow, dono da Bigelow Aerospace, cujas motivações e financiamento permanecem para ele como um “mistério muito suspeito”.
Criada como uma instituição não governamental e sem fins lucrativos para a pesquisa de ocorrências ufológicas, a MUFON tem atualmente milhares de filiados, coleciona inúmeros relatórios de observações de UFOs e até de abduções alienígenas em todo o mundo e é reconhecida por sua seriedade. Sua missão declarada é a de estudar cientificamente os fatos em benefício da humanidade. Porém, Carrion revela que, nos últimos anos, os propósitos da entidade já não estão tão claros e que sua finalidade, a de ser destinada a oferecer informações sobre o Fenômeno UFO ao público, parece ter mudado de formato.
Admirado por uns e criticado por outros, James Carrion se diferencia. Enérgico, ele afirma que as investigações realizadas por grande parte da Comunidade Ufológica Mundial de nada servirão se não seguirem os trilhos do pensamento crítico, das evidências concretas, dos fatos comprovados e da análise atenta. Além disso, ele apresenta sua teoria de que o Caso Roswell — o mais conhecido episódio de queda de UFO no mundo — é apenas uma fraude, o que já lhe resultou em críticas acirradas por parte de pesquisadores que se dedicam ao episódio, como Friedman.
Os verdadeiros MIBs
Em abril passado, James Carrion fez conferência no 8º Encontro Ufológico de Peruíbe, a convite da Revista UFO e da prefeitura daquela cidade, e apresentou o tema Os Verdadeiros Homens de Preto, arrancando animados aplausos da plateia. Sua conferência mostrou os bastidores da pesquisa ufológica norte-americana e descreveu como agências de inteligência — leia-se de espionagem — manipulam ufólogos, testemunhas do Fenômeno UFO e até cenários para acobertar a realidade ufológica. Veja a seguir a entrevista realizada com ele em 30 de outubro de 2011 e tire suas próprias conclusões sobre esse homem que não pode ser definido com meios-termos.
Ufologia e ciência
Primeiro, uma questão básica: como você se interessou pela pesquisa ufológica? Tive interesse pelos UFOs durante toda minha vida. Comecei aos 11 anos, época em que minha mãe assinava tabloides e jornais sensacionalistas, cujas histórias, especialmente as das primeiras páginas, eram sobre alienígenas. Eu era muito curioso, gostava de recortar os artigos e colecioná-los, e mais tarde decidi começar a ler sobre o assunto, quando fiquei muito interessado. Em 1996, quando vivia na Flórida, tomei conhecimento da existência da MUFON, pois o órgão realizou uma conferência em Pensacola, uma cidade do estado. Mas eu ainda não sabia ao certo quem eram seus membros e o que faziam. Então, quando me mudei para o Colorado, procurei o escritório da entidade, que ficava lá, e me juntei a ela.
O que você tem a dizer sobre a negação da ciência ao Fenômeno UFO, que alega que a visita de ETs ao nosso planeta é improvável? Considero essas afirmações controversas. Cientistas trabalham com um conjunto de teorias e hipóteses, em que se baseiam para propor suas teses. Mas um dos princípios científicos básicos, sobre os quais eles deveriam se alicerçar, é a falibilidade, que sustenta que o conhecimento construído pelo homem não é absoluto e está em progresso constante. Então, os cientistas não podem negar a visitação de seres de outros planetas à Terra se não podem refutar a possibilidade de maneira absoluta.
Quais são as dificuldades que você vê atualmente na pesquisa científica de ocorrências ufológicas? Para mim, as limitações estão nos tipos de acontecimentos que temos para trabalhar, que não se repetem. As manifestações são transitórias, ou seja, alguém vê um disco voador e depois, quando um cientista vai ao mesmo local, não vê mais nada — o fenômeno não pode ser medido porque não se replica. Além do mais, sua própria natureza é confusa. Por exemplo, no livro Perigo Alienígena no Brasil: Perseguições, Terror e Morte no Nordeste [Código LIV-014 da coleção Biblioteca UFO. Confira na seção Shopping UFO desta edição e no Portal UFO: ufo.com.br], do jornalista norte-americano Bob Pratt, já falecido, testemunhas dizem ter sido erguidas do chão por máquinas com uma tecnologia superior, enquanto outras afirmam ter sido içadas com cordas. Nessa situação, temos alienígenas que supostamente teriam avançados equipamentos, mas que também usariam aparelhos rudimentares. Isso confunde muito.
Você considera importante que ufólogos tentem obter a aprovação da comunidade científica? Sim. Mas grande parte da nossa gente não quer trabalhar dentro dos parâmetros da ciência. Os ufólogos acham que estão acima de regras como a falibilidade, não veem que as hipóteses devem ser provadas ou refutadas, que são necessárias boas provas físicas, e raramente exercitam pensamento crítico e uma análise mais atenta da questão ufológica — é impossível ganhar respeito dos cientistas se não se trabalha sob suas mesmas regras e procedimentos.
Ceticismo que incomoda
Carrion, parece que você se considera um cético. É mesmo um? Não. Eu acredito que algo que ainda não conseguimos entender e explicar está acontecendo em todo o mundo e que diversas pessoas vivenciam, presenciam ou avistam situações estranhas. Mas meu lado cético quer saber, por meio de uma boa investigação, o que são tais coisas. A questão é que, para mim, não é suficiente acreditar que os casos ufológicos estejam acontecendo — eu preciso mesmo é ver as evidências e entendê-las.
Quando digo às pessoas que não acredito que um disco voador tenha caído em Roswell, por exemplo, muitas ficam alarmadas por não conseguirem conceber qualquer outra explicação para o caso. Eu examinei detalhadamente a pesquisa do episódio
Você acha que seu lado mais inquiridor pode ter causado descontentamentos e rumores sobre você? Certamente. Quando digo às pessoas que não acredito que uma nave tenha caído em Roswell, por exemplo, muitas ficam alarmadas por não conseguirem conceber qualquer outra explicação. Eu examinei detalhadamente a pesquisa original do episódio e apresentei uma palestra a respeito em um congresso da MUFON, em 2009. Também fiz outra palestra sobre minhas conclusões na Conferência sobre Resgate de UFOs Acidentados [UFO Crash Retrieval Conference], em Las Vegas, no mesmo ano. Quando minha posição foi divulgada, todo mundo pensou: “Como pode o diretor de uma entidade ufológica como a MUFON não acreditar que Roswell foi real?” Mas a questão é que o conceito de crença não deve estar no vocabulário de alguém envolvido com Ufologia, pois ele mostra que sua mente já está decidida, formada, quanto ao assunto. Ao contrário, o ufólogo deve procurar as provas, reformular as velhas teorias e sempre procurar os fatos com um olhar novo — infelizmente, muitos envolvidos com o assunto não estão dispostos a fazer isso.
O ufólogo mexicano Jaime Maussán não gostou da sua hipótese, não é? Maussán não gostou do meu estudo porque ele o fez parecer um tolo com suas crenças. E o que Maussán fez para retaliar foi produzir alguns programas de televisão para tentar negar minha investigação, dizendo que meu trabalho foi ambíguo. Mas suas reportagens são baseadas em relatórios sensacionalistas, pois ele não tem ânimo para buscar a verdade — sempre que existe um mistério, temos indivíduos que não têm desejo de resolvê-lo, e o que fazem é apenas sustentar o enigma, pois quanto mais o mantiverem, mais benefícios terão. O ufólogo Jaime Maussán é uma dessas pessoas.
O que você acha das declarações do cientista Stephen Hawking de que o contato com alienígenas pode ser perigoso para nós? Concordo com ele, pois não conhecemos as intenções de outras civilizações. Aqui na Terra ainda somos divididos em nações que ocasionalmente entram em guerra umas com as outras, e temos também um lado violento em relação à natureza. Então, se a vida está em todo o universo, e provavelmente está, não podemos dizer com certeza que nossos visitantes vão ser amigáveis, pois, na verdade, eles podem mesmo ser hostis.
Mas outros cientistas, como Seth Shostak, do Projeto SETI, o programa de busca por vida extraterrestre inteligente, não concordam com Hawking. O que diz a respeito? Isso pode ser um jogo político. Shostak está totalmente envolvido com o SETI, seu trabalho é encontrar sinais de vida extraterrestre no universo e tentar contato com ela. Então, é claro que ele prefere pensar que nossos visitantes são amigáveis e que não devemos nos preocupar. Eu estou mais inclinado a acreditar na afirmação de Hawking.
A resposta vem do SETI?
Shostak disse que o SETI tem em seus arquivos centenas de sinais não identificados, que podem ter sido emitidos por seres de outros planetas. Aliás, são válidos os propósitos do projeto? Eu acho que toda pesquisa vale a pena e, por isso, não vou dizer que seus esforços estão sendo desperdiçados. Mas tenho ressalvas quanto à procura por atividade eletromagnética alienígena. Nós não sabemos exatamente como o universo é por causa da velocidade da luz e das ondas eletromagnéticas. A estrela mais próxima da Terra pode ter desaparecido há anos sem que saibamos, porque sua luz continua a viajar no espaço e chegar até nós. Então, caso consigamos algum desses desejados sinais, ele pode pertencer a um povo extinto já há muito tempo — e isso não prova que a vida está lá fora agora.
Outro cientista que está chamando a atenção da mídia é o físico Michio Kaku, que vem falando abertamente sobre a existência de outras espécies cósmicas e suas visitas à Terra. Você acha que isso pode ser um avanço na forma como a comunidade científica vê a Ufologia? Sim, acho que essa é uma mudança positiva. Kaku é especialista em física quântica e compreende que há uma grande parte dessa área do conhecimento humano que ainda não entendemos — como a possibilidade de múltiplos universos e de que maneira nossos pensamentos podem absorver e criar a realidade que nos cerca. Acho que a coisa não é diferente quando falamos de UFOs, que podem muito bem se encaixar no terreno da ciência quântica.
Conspirações governamentais
Em recente palestra que fez em São Paulo, você mencionou um episódio da série Arquivo-X chamado Do Espaço Sideral. Por que acha que esse capítulo é tão significativo? É que ele, de forma muito simples, descreve o problema que a Ufologia enfrenta atualmente. Sabemos que existe forte presença de órgãos governamentais no meio ufológico e que agências de inteligência usam nossas descobertas para alguns de seus próprios projetos. A Força Aérea Norte-Americana (USAF) faz isso, por exemplo, em torno da Área 51, escondendo o que realmente acontece lá dentro, como o desenvolvimento de aviões furtivos e exóticos. Para mim, o episódio Do Espaço Sideral mostra de forma bem concisa que o que pensamos ser uma experiência ufológica autêntica pode ser apenas uma encenação das autoridades. Mas, é claro, não podemos dizer que isso explica toda a atividade ufológica. Enfim, o episódio mostra como diferentes faces da Ufologia se juntam, da participação do governo aos acontecimentos reais — e um de nossos desafios é tentar identificar qual é qual.
Você acha que a Ufologia é uma disciplina muito complexa e inacessível? Se analisarmos uma grande quantidade de ocorrências ufológicas, perceberemos que elas variam muito e vão desde clássicos avistamentos de discos voadores no céu, passando pela telepatia em testemunhas e atividade poltergeist, chegando a contatos com extraterrestres e até entidades míticas, como o Pé Grande. É um grande leque de ocorrências. Se alguém relata ter visto um UFO e depois, quando vai para sua casa, percebe que seus móveis estão se movendo, como podemos saber onde o fenômeno começa e onde termina? Ninguém pode realmente dizer. A Ufologia envolve tudo isso e não podemos excluir nada. E isso também tem sido parte do problema ao longo dos anos. Muitos ufólogos se baseiam em conhecimentos científicos materiais e querem se concentrar apenas no aspecto físico dos fatos, procurar as naves, esmiuçar os cenários de abdução etc, mas tudo é um grande conjunto em movimento.
Como os governos se beneficiam de toda essa casuística ufológica? Acho que as agências de inteligência se preocupam em encobrir as manifestações ufológicas porque podem tirar proveito delas. Mas é claro que o interesse político também pode se dar simplesmente porque nossos governantes não sabem do que se trata o Fenômeno UFO e consideram mais seguro não deixar o público tomar conhecimento a respeito dele. Então, é melhor para eles encobrir os fatos do que admitir que não compreendem o que está acontecendo.
Agente infiltrado?
Você acha que rumores conspiratórios podem ser campanhas de desinformação promovidas propositalmente pelos governos? Acho que existem indivíduos envolvidos com a divulgação de boatos com o objetivo de enganar pessoas e ganhar dinheiro e fama. Contudo, não descarto a possibilidade de haver a ação de agências de inteligência nesses cenários. No início de 2011, eu estava em um lugar chamado Bugarash, no sul da França, uma cidade muito pequena com uma grande montanha nas proximidades, quando alguém chegou com a história de que o mundo acabaria em 2012 e que aquele lugar seria o único seguro na Terra — o rumor dava conta ainda de que ETs iriam até a montanha salvar os humanos que nela subissem. Agora, centenas de pessoas têm ido até o local para tentar se safar do suposto apocalipse, e o prefeito do município está tão preocupado com a migração em massa que precisou apelar ao Exército francês para ajudar a controlar o caos. Não acho que essa história tenha sido criada pelo governo, como tantas outras, mas pode muito bem haver alguém lucrando com ela, o que é outra história.
Você já foi acusado de ser um agente governamental infiltrado na comunidade ufológica. Como responde a isso? As pessoas pensam que sou agente do governo porque, quando tinha 21 anos, fui membro da Inteligência do Exército dos Estados Unidos. Mas foram apenas quatro anos de minha vida dedicados àquela função e esse período já terminou. Isso não significa que eu tenha trabalhado para a CIA e que, de repente, tenha me tornado o diretor de uma instituição ufológica para levar seus interesses para dentro dela. Dizem que sou culpado por associação, o típico pensamento do “porque você fez aquilo, então você faz isso”. É ridículo! O que me importa é que todos saibam que busco a verdade — eu critico tanto o governo quanto as agências de inteligência. Por que, então, eu seria um agente infiltrado?
O que você fazia quando serviu no Exército norte-americano? Meu trabalho era muito simples. Frequentei uma escola de idiomas por um ano na Califórnia, onde aprendi russo, e depois passei dois anos na Alemanha ouvindo os soviéticos pelo rádio, gravando suas informações e depois as enviando para análise pelas agências de segurança nacional dos Estados Unidos. Era uma coisa muito primária e que é feita até hoje — não havia nada de misterioso no meu serviço, que, na verdade, era bem chato. Depois, após quatro anos, quando deixei o Exército, fui para a Flórida e passei dois anos na reserva militar fazendo a mesma coisa: voava até Guantánamo e coletava dados dos russos que estavam em Cuba. É uma atividade rotineira das Forças Armadas do meu país.
Manipulação na MUFON
Por que o seu período na administração da MUFON foi tão polêmico? Há muita manipulação de entidades ufológicas por parte dos serviços de inteligência e acredito que, quando entrei na MUFON, algumas daquelas agências — sejam quais forem — pensaram que eu seria facilmente maleável e que atenderia aos seus interesses. Quando comecei a tomar decisões dentro da entidade e a trabalhar fora dos parâmetros anteriores, fora da rotina em que normalmente a organização trabalhava, deixei algumas pessoas bem nervosas…
Qual foi a razão de você ter saído da MUFON? Recebeu muita pressão? Não. Eu já tinha tomado a decisão de me demitir em 2009. Porém, naquele mesmo ano, a entidade iniciou um projeto com a Bigelow Aerospace, financiado por ela, para realizar uma série de investigações ufológicas. Foi algo muito curioso, porque a verba que recebíamos para trabalhar não vinha do senhor Robert Bigelow, dono da empresa, mas de fontes externas, que ele não nos revelou quais eram — ele informou apenas a um dos membros da diretoria da MUFON, John Schuessler, mas esse não nos contou nada. Então, comecei a averiguar por conta própria qual era a origem da misteriosa verba e me convenci de que poderia vir de agências governamentais, o que não me agradou.
Nós não sabemos exatamente como o universo é por causa da velocidade da luz e das ondas eletromagnéticas. A estrela mais próxima da Terra pode ter desaparecido há anos sem que saibamos, porque sua luz continua a viajar no espaço e chegar até nós
O que você fez a respeito quando descobriu esse esquema na entidade? Informei aos outros diretores sobre essa possibilidade, mas eles decidiram continuar o programa com a Bigelow Aerospace de qualquer forma, em vez de questioná-la. Mais tarde, no início de 2010, quando eu já era diretor internacional da MUFON, estabeleceu-se uma comunicação secreta com aquela empresa sem que eu soubesse. Quando descobri, pedi demissão — acho que a Bigelow Aerospace pretende controlar, manipular e desestabilizar a MUFON. Os atuais diretores permitem influências externas, gostam muito do dinheiro que recebem e comprometem seus objetivos com tais alianças. Enquanto organização sem fins lucrativos, a MUFON deve servir ao público, mas não é isso que está sendo feito. Minha maior crítica é quanto às pesquisas que a entidade não realiza — ela tem uma imagem pública forte, obtém centenas de relatos de UFOs, mas as informações não vão a lugar algum.
Suas ações na MUFON para tentar colocar as coisas a limpo aumentaram as acusações que recebia? Sim, mas qualquer um que me visse trabalhando lá diria que eu estava muito longe de querer abalar a entidade. O que eu fiz foi realizar muitas mudanças. Por exemplo, nossos investigadores costumavam entrevistar testemunhas sem qualquer identificação oficial, e tentei profissionalizá-los. Também contribuí para a reformulação do nosso manual de investigação de campo, para que todos começassem a se basear em provas periciais, tornando o método mais científico — é preciso ter muito cuidado com as informações que se coleta e de quem se coleta. Meu objetivo era profissionalizar nossa equipe o máximo possível. Também fui responsável por disponibilizar os relatórios de casos ufológicos em formato eletrônico no Projeto Pandora. Como se vê, nada disso foram esforços para desestabilizar a organização, como me acusam de ter tentado.
Órgãos de desinformação
E por que acha que insistem em falar isso de você, mesmo depois de tanto serviço prestado à MUFON? São as influências dos órgãos de governo que infiltraram a entidade. Por exemplo, quando o projeto com a Bigelow Aerospace estava acontecendo, chegou até mesmo a surgir um boato de que eu estaria roubando o dinheiro daquele trabalho. Isso é muito engraçado, porque eu deveria receber um salário mensal de três mil dólares para tomar parte nele, mas peguei todos meus salários de um ano inteiro, o que dá 36 mil dólares, e dei de volta à MUFON como contribuição. Logo à frente o projeto terminou, eu saí da entidade e hoje em dia não sei mais qual é o relacionamento entre ela e a Bigelow.
Você acha que os diretores da entidade deveriam ter sido mais enfáticos quanto à situação que você aqui denuncia? Sim. A diretoria da MUFON deveria pelo menos dar uma declaração formal, tal como “não temos nenhuma relação com a Bigelow” ou “nós temos sim um relacionamento com ela”. Ou ainda “há uma relação entre membros da comissão de diretores e a Bigelow” ou “não há nada”. Mas eles se mantêm quietos e guardam o envolvimento entre a MUFON e aquela empresa em segredo, o que torna tudo muito suspeito. Na palestra que eu dei no Brasil, alguém no fundo da sala disse que eu estava ali porque fui pago para isso. Ora, você pode perguntar a qualquer um e verá que eu não cobrei um centavo sequer para falar na conferência [Nota do Editor: tendo sido o responsável pelo convite ao entrevistado para palestrar em Peruíbe, confirmo que ele nada cobrou por seu trabalho]. Bem, enfim, acho que os órgãos de desinformação do governo encontram meios de pressionar pessoas em benefício de seus projetos — e talvez haja um complô contra mim.
Mas, afinal, o que pretendem essas pessoas que criam rumores a seu respeito? Realmente acho que elas estão envolvidas com agências de inteligências ou atuam como agentes provocadores — e isso não é diferente do que a CIA faz nos países cujos governos deseja desestabilizar. A agência fez um trabalho muito bom por toda a América do Sul e Central, derrubando governos e implantando outros para cumprir sua agenda, mesmo que para isso tenha que desacreditar várias pessoas.
No final das contas, que tipo de forças pode afundar a MUFON? Acho que ela afundaria de vez caso se tornasse uma ameaça para aqueles que querem controlá-la. Em 1950, a National Investigations Committee On Aerial Phenomena (Comitê Nacional de Investigações de Fenômenos Aéreos, NICAP) acabou naufragando porque os órgãos e agentes desestabilizadores não conseguiram manipulá-la da maneira como queriam — a MUFON serve aos propósitos desses mesmos órgãos e agentes, que gostam de construir um mito ao redor do Fenômeno UFO para usá-lo como fonte de inteligência. Mas a MUFON não vai afundar — vai continuar flutuando porque é manipulada.
Você já tentou rastrear a origem de tal “contaminação”? Muito, mas o problema é que as pessoas que lerão essa entrevista vão pensar que se trata de uma teoria de conspiração. Os governos são espertos e usam toda camuflagem possível para esconder suas atividades — as agências de inteligência constroem suas atividades de maneira a esconder suas ações. Então, provar as intenções dos serviços de inteligência é uma tarefa realmente complicada. Eu também já fui chamado de teórico da conspiração, apesar de ninguém ter conseguido provar que o que eu alertava era teoria.
As agências de inteligência encobrem as manifestações ufológicas porque podem tirar proveito delas. Mas é claro que o interesse político também pode se dar simplesmente porque nossos governantes não sabem do que se trata o Fenômeno UFO
Você afirma publicamente que o Caso Roswell é uma farsa, tendo com isso irritado Stanton Friedman, que é o principal defensor do episódio. O que houve entre vocês? Queuando fiz minha apresentação no congresso da MUFON de 2009, no qual defendi por meio de novas evidências que o Caso Roswell poderia não ser ufológico, Friedman — um dos primeiros pesquisadores a examinar o episódio — ficou muito incomodado. O maior problema, como disse antes, acontece quando você é ufólogo e sua mente já está convencida daquilo em que acredita. Quando Friedman ataca os céticos em suas palestras, ele esquece que ele próprio já tem uma convicção arraigada — ele acredita, por exemplo, no Majestic 12 e em todos esses documentos que circulam por aí. Para mim, se o ufólogo é um bom investigador, ele pode até ter uma teoria em que acredita, mas se alguém apresentar uma explicação alternativa, ele não pode simplesmente descartá-la. E foi exatamente isso que Friedman fez com minha apresentação — ele sequer conferiu os dados que apresentei e apenas disse “não, isso não pode ser”, descartando todas as minhas informações.
A grande ilusão de Roswell
Mas qual é, afinal, sua teoria sobre o Caso Roswell? Em que se baseia para tratá-lo como uma farsa? Minha proposta quanto a esse episódio é baseada na observação de operações de inteligência durante a Segunda Guerra Mundial, período em que os Estados Unidos demonstraram uma necessidade gigantesca de enganar os nazistas em todos os níveis. Naquela época, o governo tinha centros projetados para criar ilusões e enganar toda a nação — foi quando tivemos o Escritório de Serviços Estratégicos [Office of Strategic Services], que se infiltrou nas linhas de defesa inimigas. Logo após a guerra, o Escritório foi fechado e, de repente, muita gente com experiência ficou sem emprego. Foi então que o governo colocou esse pessoal para trabalhar em um novo centro de inteligência, o que, para mim, explica a grande ilusão que foi Roswell.
Por favor, explique melhor sua hipótese. Penso que os UFOs de então foram projetados e construídos para enganar os nazistas e também os russos, fazendo-os pensar que os Estados Unidos agora tinham uma espaçonave extraterrestre acidentada e que poderiam usar sua avançada tecnologia. Isso chamaria a atenção dos inimigos e, talvez, tornaria possível identificar espiões soviéticos em solo norte-americano — li um documento oficial sobre isso e tenho informações convincentes para apoiar minha teoria. Duas semanas antes do Caso Kenneth Arnold, em 1947, uma história vazada para os jornais dizia que o governo tinha em mãos uma arma mais poderosa do que a bomba atômica. Será que ninguém vê a relação entre essa história e a suposta queda de um UFO tempos depois? Ora, há algo obscuro aí. Não havia mais nada poderoso do que a energia nuclear naqueles anos, mas precisávamos convencer os inimigos de que éramos donos de uma coisa que, na realidade, não existia.
Penso que os UFOs do passado foram projetados e construídos para enganar os nazistas e também os russos, fazendo-os pensar que os Estados Unidos agora tinham uma espaçonave extraterrestre acidentada e que poderiam usar sua avançada tecnologia
Você afirma que os documentos Majestic 12, que tanta polêmica criaram em seu país, são uma fraude. Em que se baseia para alegar isso? Eles são falsos simplesmente porque foram descobertos em um arquivo. Alguém deixou que vazassem em forma de fotografias a um dos associados de Stanton Friedman, décadas atrás. Para mim, isso é um método clássico de desinformação. Ora, aqueles documentos foram analisados por bom tempo e não nos levaram a lugar algum — ou melhor, levaram algumas pessoas para onde queriam ser levadas, e acho que Friedman caiu em uma armadilha.
Revelações sobre Arnold
Você acredita que a explicação dada pela Força Aérea Norte-Americana (USAF) sobre Roswell seja verdadeira? Sim, eu acredito que seja verdade. Veja, muitos ufólogos aceitariam alguns dados e rejeitariam outros, mas, como também já disse, um bom pesquisador não pode fazer isso. Por exemplo, Kenneth Arnold diz ter avistado uma esquadrilha de UFOs e todo mundo realmente acreditou nele, mas ninguém prestou atenção aos detalhes do que aconteceu. Coisas estranhas ocorreram duas semanas antes de seu avistamento, em 24 de junho de 1947, quando ele foi para Tacoma, no estado de Washington, investigar uma manifestação anterior que aconteceu na Ilha Morey. Duas semanas antes! Como Arnold era piloto particular, voou para o aeroporto da cidade e não contou a ninguém sobre sua viagem. Ao chegar, foi procurar um hotel para dormir, mas não encontrou vaga…
Aonde quer chegar com esses detalhes? Quero mostrar as estranhezas desse episódio. Continuando, ao não encontrar vaga em hotel algum, Arnold continuou procurando um lugar para dormir e acabou chegando ao Hotel Winterup, onde lhe disseram: “Senhor Arnold, temos aqui a sua reserva”. Isso está registrado. Ou seja, ele planejara estar ali com duas semanas de antecedência e até havia um quarto em seu nome. Ao chegar ao local, um repórter ligou a Arnold dizendo: “Eu sei que está falando sobre UFOs nesse quarto porque alguém me ligou e me contou tudo que você disse aí”. Isso também está registrado e é óbvio que o lugar estava sob escuta. Mas de quem? Para mim, esse é um fato que revela claramente o envolvimento do governo, mas o resto dos ufólogos joga esse dado fora. Pensemos: por que isso aconteceu com Arnold antes de seu famoso evento? Deve existir uma explicação e ninguém pode simplesmente descartá-la. Acredito que devem se fazer mais investigações sobre seu avistamento e sobre Roswell — a maioria das pessoas não questiona como em um dia tivemos o primeiro grande avistamento de UFOs e, duas semanas depois, um deles cai em uma fazenda do Novo México…
Logo após o avistamento de Arnold, que marcou o início da Era Moderna dos Discos Voadores, houve o surgimento de vários contatados, como George Adamski, Truman Bethurum e Daniel Fry. Você acha que há alguma relação entre os fatos? Seria outra manobra do governo? Talvez. Acho que alguns desses contatados realmente acreditavam ter recebido mensagens extraterrestres, enquanto outros podem ter sido influenciados. Não sei, mas talvez as agências de inteligências estejam envolvidas nisso. Mas veja que existem pessoas cuja composição psicológica é tal que podem ser facilmente influenciadas a levar suas histórias para o público. Isso é muito mais difícil do que parece.
Corporações privadas
Suspeitos ou verdadeiros, quais casos ufológicos você considera mais relevantes para a história da Ufologia? Para mim os mais significativos são o Caso Kenneth Arnold e o da Ilha Morey. Acho o acidente em Roswell também muito influente na história da Ufologia, mas ele precisa ser averiguado mais atentamente. Dos clássicos, também temos o Caso Cash Landrum, quando duas senhoras e o neto de uma delas foram queimados por um UFO em 1980, no Texas [Um gigantesco UFO foi visto sobrevoando a estrada acompanhado por helicópteros sem identificação, e a proximidade com o artefato produziu sequelas físicas nas testemunhas]. Enfim, há tantos casos importantes.
E no Brasil, qual caso considera mais significativo? Aqui, o mais significativo foram as ocorrências em Colares, no Pará, investigadas pela Operação Prato, da Força Aérea Brasileira (FAB), em 1977. O episódio foi intrigante e curioso para toda Comunidade Ufológica Mundial, porque pessoas foram queimadas, mutiladas e feridas em Colares. Fatos antigos, como esses, são mais complicados porque exigem que você revise informações originadas por terceiros — o ideal é investigar um caso novo e entrevistar as testemunhas em primeira mão, em vez de ficar lendo trabalhos alheios.
O que você acha do movimento mundial de abertura ufológica e da liberação de documentos oficiais sobre discos voadores por parte de alguns governos? Acha que os Estados Unidos podem aderir ao movimento? Bem, de acordo com o governo norte-americano, isso já teria sido feito, não é? O governo liberou todos os registros que havia sobre o Projeto Blue Book [Livro Azul], de 1969. E a Força Aérea hoje diz: “Nós não investigamos mais discos voadores. Paramos de investigá-los em 1969 e fechamos o Projeto Livro Azul. Liberamos todo o arquivo, divulgamos o que descobrimos e pronto”. Mas o meio ufológico acha que certamente há muito mais dados sendo mantidos em segredo. O problema é que muitos registros passaram à iniciativa privada, que não segue a Lei da Liberdade de Informação. Desse modo, não há como alguém dizer “ei, me dê essa documentação aí”, pois ela não pertence mais ao governo.
Os documentos Majestic 12 são falsos porque foram descobertos em um arquivo. Alguém deixou que vazassem em forma de fotografias a um dos associados de Stanton Friedman, décadas atrás. Para mim, isso é um método clássico de desinformação
Isso lembra os rumores de que todas as formas de tecnologia alienígena que o governo tenha conseguido foram enviadas para empresas privadas, que as protegeram com leis de direitos autorais. Bem, para fazermos essa constatação, primeiro teríamos que provar que os Estados Unidos tenham mesmo tido qualquer tecnologia extraterrestre. Mas não temos nenhuma confirmação disso. Há boatos, apenas, além de informantes e pessoas anônimas que vazaram documentos que garantem isso, mas que podem ou não ser reais. Acho que tudo isso é uma manipulação de dados, uma manobra.
Novas e exóticas aeronaves
Você falou a pouco de Colares, mas quais outros casos brasileiros conhece? Considero o Caso Varginha, por exemplo, intrigante. Outro que me chamou a atenção foi a suposta explosão de uma nave alienígena em Ubatuba, nos anos 60 — ele é interessante porque não deixou testemunhas e, pelo que sei, apenas um repórter recebeu de um remetente anônimo alguns misteriosos fragmentos metálicos. O ocorrido reúne um elemento clássico que acontece em toda parte do mundo: testemunhos dados em anonimato. Se um dia o Governo Brasileiro liberar a documentação completa sobre esses episódios, gostaria muito de conhecer melhor os casos ocorridos em Colares [Nota do Editor: O Caso Ubatuba teve várias testemunhas e o repórter em questão era Ibrahim Sued. Quanto a Colares, já foram liberadas oficialmente cerca de 300 páginas].
Que entidade, nos Estados Unidos, controla a informação sobre projetos secretos e o Fenômeno UFO? Nos Estados Unidos temos a Força Aérea, o complexo industrial militar, a Boeing e a Lockheed-Martin para construir novas e exóticas aeronaves com tecnologia stealth e armas submarinas. Mas a organização que se preocupa em manter o sigilo sobre tudo o que se refere ao Fenômeno UFO é a Air Force Office Special Investigations [Secretaria de Investigações Especiais da Força Aérea], cujo trabalho é assegurar que tais projetos permaneçam em segredo e que as forças inimigas nunca descubram o que está sendo feito.
Você acha que pessoas que alegam estar em contato com alienígenas estão falando a verdade ou fazem parte de uma conspiração? Há pessoas que têm doenças físicas ou mentais que explicam parte de suas declarações — mas essa é uma questão complicada, pois não podemos categorizar o que é devaneio e o que não é. É como um cristão chamar um budista de louco por suas crenças, sendo que ambos acreditam em algo que não tem qualquer prova tangível. Não dá pra afirmar que contatos de quarto grau — avistamento de seres extraterrestres — sejam mais válidos do que os de quinto — quando testemunhas ingressam em naves.
Qual ufólogo, norte-americano ou estrangeiro, você mais admira? Admiro Bob Pratt, já falecido, que tinha verdadeira paixão por investigar. Ele começou como repórter em um jornal sensacionalista, o National Enquirer, e quanto mais era manipulado pelo meio, mais pensava: “Há algo muito estranho aqui”. Quando deixou o cargo de jornalista, decidiu continuar na Ufologia por conta própria. Eu o considero um pesquisador exemplar, que realizou um belo trabalho. Tenho também muito respeito por John Schuessler, que foi diretor da MUFON, J. Allen Hynek e Jacques Vallée. Há muitos outros que admiro, até mesmo Stanton Friedman, mas acho que ele deveria fazer investigações mais recentes — ele se apega muito aos seus antigos estudos.
Esses são excelentes nomes. Agora, mudando um pouco de assunto, você esteve na Fazenda Skinwalker, em Utah, considerada local de muita atividade ufológica. O que poderia nos contar sobre essa sua experiência? Bem, isso ocorreu quando li o livro The Hunt for the Skinwalker [A Caçada do Skinwalker, Paraview Pocket Books, 2005], de Colm A. Kelleher e George Knapp, e decidi ir até lá e conhecer aquilo tudo. Enquanto estava na MUFON, certa vez fizemos um programa especial para uma série do Discovery Channel e tive vontade de abordar os casos da fazenda em um dos episódios. Liguei para o senhor Robert Bigelow, que é dono daquela terra — ele a comprou quando soube das estranhas atividades que ocorriam lá —, pedindo permissão. Mas ele negou meu pedido e falou para não gravarmos nada lá, quando resolvi investigar em outro lugar. Na ocasião, me reuni com um ufólogo de Utah chamado Frank Salisbury, autor do livro The Utah UFO Display [Um Panorama da Ufologia em Utah, Devin Adair Company, 1974], e fui com ele a certos lugares do estado.
O que você e o pesquisador Frank Salisbury descobriram em Utah? Bem, entrevistamos testemunhas que moravam ao lado da Fazenda Skinwalker e que também viram UFOs na área. Daí soubemos que as histórias mais sensacionais estavam ali, não exatamente na fazenda — aliás, até longe dela. Mais tarde descobrimos que a pessoa que vendeu a propriedade para Bigelow a havia comprado de um dono anterior, já morto, cujo irmão, porém, ainda estava vivo. Encontramos esse homem e ele nos disse que esteve lá muitas vezes e nunca viu nada incomum. O curioso é que a obra que me motivou a ir até o local dizia claramente que a fazenda tinha uma longa história de atividades paranormais, não apenas ufológicas — para mim, alguém não estava dizendo a verdade, pois a história daquele homem não coincidia com a obra que eu lera. Mas acho que nunca saberemos o que se passa na propriedade, uma vez que ela é de Bigelow, e o que é dele é bem guardado!
Aliens do passado e futuro
Carrion, em uma apresentação sua no Brasil você mencionou a teoria dos antigos astronautas, que diz que visitas extraterrestres já vêm ocorrendo há milhares de anos. Poderia falar a respeito? Para mim é possível que a Terra já tenha sido visitada algumas vezes em seu passado e que a presença alienígena aqui possa ter dado origem à vida e à civilização em nosso planeta. Ao mesmo tempo, não posso desprezar a genialidade da raça humana e os espantosos avanços tecnológicos que criamos. Penso que é difícil entender como nossos ancestrais construíram as pirâmides ou as grandes catedrais da Europa sem a tecnologia que dispomos hoje — mas eles as construíram e eu não acredito que foi por intervenção de seres de outros planetas. Temos que nos dar mais crédito.
O que você pensa a respeito da teoria de Graham Hancock, de que em um passado muito anterior à história conhecida existira uma sociedade tão avançada que talvez tenha inspirado os maias e os egípcios? Acho que, se visitas extraterrestres realmente ocorreram em nossa história, de fato tais visitantes poderiam ter inspirado nossos antepassados. Contudo, não temos evidências diretas disso. Tudo ficaria claro se encontrássemos restos de uma nave extraterrestre ou de seres não humanos em uma escavação arqueológica.
Em um recente comunicado apresentado pelo Escritório de Política em Ciência e Tecnologia da Casa Branca, que abordamos em nossa edição UFO 185, o senhor Paul Larson disse que o governo norte-americano não tem provas de qualquer interação entre ETs e humanos. Qual é sua opinião a respeito dessa declaração, que causou tanta polêmica? Acredito que temos primeiro que considerar se uma civilização alienígena que visitasse a Terra teria alguma razão para interagir oficialmente conosco. Como uma sociedade superior à nossa, não parece haver motivos para uma raça extraterrestre interagir com qualquer ser humano, individualmente, ou com nossas nações. Assim, a declaração da Casa Branca não nega explicitamente as visitas — nega apenas a falta de relação entre duas espécies, a nossa e a extraterrestre.
Você acha que um dia estabeleceremos contato formal com culturas extraterrestres? E, nesse caso, quem deveria falar em nome da humanidade? Acredito que esse evento é inevitável e o primeiro contato será estabelecido por eles — é apenas uma questão de tempo. Creio que a humanidade está madura para a aceitação disso, mas os visitantes possivelmente serão vistos com desconfiança por terem tecnologia superior. Se uma civilização buscar contato conosco, faria sentido que a Organização das Nações Unidas (ONU) atuasse como representante da Terra. E como tal chegada poderia ser um risco à segurança da raça humana, também seria interessante que o Conselho de Segurança da ONU nomeasse um representante formal. Mas, se eles forem hostis, penso que não teríamos como nos defender.
Caminhos da Ufologia Mundial
Exato. Como você vê o rumo que as pesquisas ufológicas estão tomando? Para mim, qualquer estudo que use instrumentação e métodos científicos é válido. O problema é que os ufólogos não refletem o suficiente sobre o aspecto humano da investigação ufológica, pois se concentram em análises. Por exemplo, se alguém afirma que possui o pedaço de um UFO, um pesquisador logo se prontifica a verificar o material. Mas se antes ele tivesse usado seu tempo para examinar o passado da testemunha, poderia ter descoberto que o que encontraria são provas fraudulentas, e assim teria poupado o esforço. Os ufólogos não fazem um bom trabalho quando não investigam o passado dos depoentes, não questionam seus motivos e se concentram demais nas evidências físicas que lhes são apresentadas. Temos de começar com perguntas básicas quanto ao elemento humano: “Por que essa pessoa está contando tal história?”, “qual é seu passado?”, “ela tem alguma motivação para fraudar ou está dizendo a verdade?”
Por favor, nos dê um exemplo desse método e de seus resultados. Um exemplo clássico é o de Stan Romanek, um morador do Colorado que alega ter tido inúmeros encontros com alienígenas — ele chegou a divulgar um vídeo em que ETs supostamente vinham até sua janela. Muitos pesquisadores gastaram tempo e recursos analisando esses indícios, mas ninguém se preocupou em observar o passado de Romanek ou verificar suas alegações anteriores. Quando comecei a investigar seu caso, encontrei um rastro de atividades fraudulentas e não perdi mais tempo. Acho que muitos ufólogos não querem pensar na possibilidade de alguém inventar coisas por dinheiro ou fama, pois ficam muito envolvidos com os protagonistas dessas histórias.
Primeiro temos que considerar se uma civilização alienígena que visitasse a Terra teria razão para interagir oficialmente conosco. Como uma sociedade superior à nossa, não parece haver motivos para ETs interagirem com o ser humano
Mas o que podemos esperar da Ufologia para daqui 10 ou 20 anos? Resumidamente, vejo que a Ufologia não se encontra em posição melhor hoje do que estava há 60 anos, quando o fenômeno surgiu definitivamente. Até que os integrantes do meio ufológico parem com lutas internas e adotem padrões baseados em protocolos científicos autênticos, receio que estaremos na mesma triste posição no futuro. Infelizmente, também não vejo um futuro muito positivo para a Ufologia se organizações como a MUFON — que têm financiamento escasso e estão ocupadas principalmente por crentes no Fenômeno UFO, não por buscadores imparciais — continuarem a se apresentar como representantes da dita Ufologia Científica, enquanto não fazem pesquisa de qualidade.
Afastando crenças
Por que você acha que não há união entre as organizações ufológicas? Isso acontece em parte devido aos conflitos internos nessas entidades e pela manipulação externa ativa que sofrem, de agentes que se utilizam da fórmula “dividindo para conquistar”. Quanto mais as pessoas brigam entre si no meio ufológico, menos coerência nos discursos e objetivos em comum elas têm, impossibilitando as entidades de se unirem para resolver o mistério. Não existem conferências sobre fadas ou duendes, porque não há um grupo significativo de pessoas que afirmem ter visto esses seres — mas muita gente em todo o mundo relata avistamentos de UFOs e diz ter tido experiências com ETs. Enfim, alguma coisa está acontecendo com esses indivíduos e vale a pena fazer um estudo científico.
Muitos acham que a verdade sobre nossos visitantes está bastante próxima. Você imagina que estaremos todos aqui para testemunhar isso? Um dia eu estava pesquisando o histórico da MUFON e li um memorando de um ex-diretor internacional — mesmo cargo que ocupei — que dizia: “Nós achamos que o governo está prestes a nos revelar o que está acontecendo. Isso está para acontecer!” Achei muito interessante, mas quando olhei a data do documento, vi que era de 30 anos atrás. Ou seja, durante toda a história sempre houve expectativa de que a verdade finalmente fosse ser revelada, mas eu não ligo para essas previsões — para mim, isso não é diferente de alguém prever quando Jesus vai retornar ou quando o fim do mundo vai acontecer. Essas datas passam e nada acontece…
De que maneira você acredita que a verdade sobre o Fenômeno UFO será revelada, se é que vai? Eu não espero que ela venha do governo dos Estados Unidos. Para mim, há apenas duas formas disso acontecer: a primeira é com um contato extraterrestre inegável que tenha o mundo inteiro como testemunha. E a segunda seria quando o líder de alguma nação finalmente decidir dizer: “Ok, aqui está a prova das visitas alienígenas”.
Perfeito. Agora, para concluirmos, quais seriam suas colocações finais? Quer dizer que não sou um crente pura e simplesmente no Fenômeno UFO, mas que muito menos sou um negador dele, um cético. Esses dois extremos têm mais em comum do que se pensa e as mentes de quem se enquadra em cada uma dessas categorias já estão feitas, suas opiniões já estão formadas. Os crentes estão certos das visitantes extraterrestres ao nosso planeta, enquanto os negadores acreditam que todas as manifestações podem ser explicadas. Eu me qualifico como um cético que está disposto a examinar as evidências sem permitir que minhas crenças se tornem parte da equação. Se o leitor é crente ou cético, então não sente necessidade de investigar nada. Entretanto, se o leitor se colocar no meio desses dois extremos, então lhe dou as boas-vindas ao mundo do pensamento crítico, onde evidências concretas, fatos comprovados e investigação atenta podem ser usados para chegar à verdade a respeito do Fenômeno UFO.