No começo de julho de 1947, algo aconteceu em um rancho situado no Deserto do Novo México, nas proximidades da cidade de Roswell. Independentemente do que tenha ocorrido ali, como a queda de um UFO e a consequente captura de seres extraterrestres, ou a queda de algum projeto ultrassecreto do Exército, o Caso Roswell ditou a regra do que seria seguido pela Inteligência, pela Defesa e pelas Forças Armadas do país em relação aos UFOs: sigilo e negação.
Nas décadas seguintes, a recém-nascida Ufologia viu um aumento no número de avistamentos, o início das abduções, a chegada dos contatados e o surgimento de órgãos e comissões governamentais para estudarem os então “objetos voadores não identificados”. E durante todo o tempo, alheia aos fatos e aos casos sem explicação mostrados pelos estudos, a posição oficial, marcada no final dos anos 40, não se abalou: UFOs não existem, os avistamentos são fruto de má interpretação de fenômenos naturais ou de aeronaves secretas, abduções são alucinações vindas por paralisia do sono ou uma máscara para abusos sexuais, cujas lembranças foram reprimidas e os contatos são mentiras ou delírios.
Essa posição oficial não se restringe aos norte-americanos, mas é praticada por muitos outros países, com raras e notáveis exceções. Até certo ponto, é justificável que países temam que, ao confirmarem que têm seus espaços aéreos violados por aparelhos desconhecidos e incontroláveis, estejam desencadeando uma crise de confiabilidade em suas instituições — as pessoas podem simplesmente perder a confiança em seus governos e isso sempre é estopim para crises e para a falta de obediência às leis.
Desinformação
Não é difícil de se entender que quanto mais rico e tecnológico for um país, mais ele temerá assumir que há uma tecnologia superior circulando sobre seu território. A melhor forma de se enfrentar esse tipo de realidade é negando que ela exista e aliciando a mídia para que ela faça o mesmo. Assim, extraterrestres são ótimos no cinema e melhores ainda se forem mostrados como animalescos, cruéis, cheios de baba, olhos diabólicos e dentes afiados, assustando a população. Mas não podem existir na vida real.
O caso é que essa postura de negação em relação aos UFOs sempre ocorreu apenas da porta para fora. Internamente, todos os governos investigaram o que estava acontecendo em seus céus e territórios, e o que eram aqueles aparelhos cuja velocidade e manobrabilidade estavam séculos adiante de qualquer coisa que pudéssemos pensar. É importante frisar que, de 1945 a 1989, vivemos sob a tensão da Guerra Fria, quando qualquer força que não fosse aliada era considerada inimiga por ambos os lados do conflito.
Os edifícios do Pentágono, em Washington, e do Kremlin, em Moscou, se tornaram os símbolos do poder armado de seus respectivos regimes, e aqueles que os ocupavam nunca mediram esforços para descobrir o que eram aqueles objetos agora já apelidados de “discos voadores” e de que forma poderiam se beneficiar da tecnologia que exibiam. Não são poucas as histórias que correm dentro da Ufologia sobre engenharia reversa e sobre UFOs capturados por norte-americanos, soviéticos, ingleses, nazistas e até por Mussolini.
Os governos mentem
Da mesma forma, não são poucas as histórias contadas por informantes — cujas credenciais são sempre difíceis de se verificar — de que existiria um acordo entre o governo dos Estados Unidos e algumas espécies extraterrestres já há muitas décadas. Porém, conspirações e boatos à parte, a verdade é que os norte-americanos investigam, sim, a existência dos UFOs. Ou seja, os governo vêm mentindo para a população há muito, muito tempo.
Mentiras oficiais não são novidade e todos os governos mentem, muitas vezes por razões que nada têm a ver com segurança nacional. Porém, o caso do governo dos Estados Unidos é realmente sui generis, uma vez que a verdade estava à vista de todos, embora de tal forma disfarçada que ninguém nunca a viu. Tudo isso ficou muito claro quando, em dezembro de 2017, o próprio Departamento de Defesa (DoD) liberou três filmagens de UFOs feitas por militares, mostrando artefatos voadores completamente diferentes de qualquer coisa terrestre conhecida. E, aparentemente, ainda há muito mais à espera de liberação dentro dos arquivos militares.
Luis Elizondo, nosso entrevistado desta edição, passou 10 anos trabalhando em um estudo secreto sobre UFOs no Pentágono e que há 22 anos é agente sênior de contrainteligência para o Exército. Ele revela que pode ter havido diversos encontros dramáticos com uma tecnologia desconhecida muito mais avançada do que qualquer coisa existente nas Forças Armadas dos Estados Unidos. Muito do estudo secreto de UFOs feito pelo Pentágono foi realizado no sul do estado de Nevada. Segundo Elizondo, “foi ocupando essa posição que descobri que o fenômeno é, de fato, real”. Isso durou até o ex-agente subir ao palco, em outubro passado, ao lado do astro do rock e vocalista da banda Blink 182, Tom DeLonge, e de outros ex-membros do governo.
A maior parte do mundo nunca tinha ouvido falar de Elizondo até então, o que era exatamente o que ele e o DoD queriam. Muito embora Elizondo tenha vindo a público em outubro, foi apenas após uma matéria do The New York Times, em dezembro, que seu nome se tornou realmente conhecido. Sua carreira no governo crescera de forma reservada e ele trabalhara até então, principalmente como oficial de Inteligência do Pentágono. “Eu estava no topo de minha área de atuação, mas abandonei tudo para ter essa conversa com o povo norte-americano”, disse ele. A conversa era sobre UFOs.
Espionagem e terrorismo
Elizondo é um veterano com mais de duas décadas de atividades no DoD e tinha, até se demitir, autorização máxima de segurança, segundo informou o jornal. Ele era especialista em Inteligência — leia-se espionagem — e trabalhou para o Exército, para o Conselho Executivo Nacional de Contrainteligência e para o diretor de Inteligência Nacional dos Estados Unidos. Elizondo também foi diretor da equipe especial de gestão de programas nacionais do gabinete do secretário de Defesa norte-americano.
Além disso, o militar tem formação em microbiologia, imunologia e parasitologia e é detentor de várias patentes. Elizondo conduziu e supervisionou investigações de espionagem e terrorismo altamente sensíveis em todo o mundo, e como oficial de casos de Inteligência, executou operações de fontes clandestinas em toda a América Latina e Oriente Médio. Ele passou a maior parte de sua vida adulta protegendo seu país, em serviço ativo em zonas de combate, lidando com terroristas em Guantánamo e no Pentágono, e por tudo isso foi indicado a chefiar o Programa Avançado de Identificação de Ameaças Aeroespaciais (AATIP). O programa secreto do Pentágono reunia e analisava informações sobre encontros entre militares e “tecnologia espetacular”, porém desconhecida, que alguns chamam de UFOs.
Durante praticamente 10 anos, Luis Elizondo foi a figura central do programa para estudar “ameaças aéreas desconhecidas”, como os UFOs também são conhecidos. Recentemente mudou-se para a pacata cidade praiana de Encinitas, no estado da Califórnia, onde fica a To The Stars Academy of Arts And Science [Para as Estrelas Academia de Artes e Ciência], de DeLonge, organização à qual se uniu e que tornou públicos dois vídeos de UFOs que o próprio Elizondo ajudou a divulgar antes de deixar Washington.
Segundo está descrito em seu site, a To The Star Academy é uma instituição sem fins lucrativos que levanta fundos para a pesquisa ufológica e estuda avistamentos. Luis Elizondo é listado como diretor de segurança global e de programas especiais. “Vamos procurar fazer uma triangulação dos eventos e trabalhar em tempo real com o público, pois assim conseguiremos rastrear as ocorrências com
muito mais rapidez”, explicou o militar. Foi ele que acendeu o estopim da abertura ufológica que estamos assistindo hoje nos Estados Unidos.
Vídeos estarrecedores
Em dezembro de 2017, o New York Times apresentou uma reportagem sobre Elizondo e seus vídeos, o que desencadeou uma enxurrada de noticiários na mídia de todo o planeta. Os críticos alegaram que o militar havia liberado as filmagens por conta própria, mas isso não é verdade. “O Departamento de Defesa tomou a decisão de divulgá-los por meio de um processo de desclassificação do próprio órgão, que aprovou a divulgação”, esclareceu. Portanto, foi tudo às claras.
Um dos vídeos, gravado sobre o Oceano Pacífico à frente San Diego, na Califórnia, em 2004, representou o ápice de uma semana de encontros entre UFOs e um grupo de pilotos de caça da Marinha norte-americana lotados no porta-aviões USS Nimitz. Os pilotos chegaram bem perto de um objeto que descreveram como “um enorme aparelho que lembrava um tic-tac”, em referência à balinha de mesmo nome, que era capaz de movimentos e aceleração conhecidamente impossíveis.
Críticos surgiram com muitas teorias para alegar que o vídeo e a principal testemunha não são legítimos — sobre isso, Elizondo esclarece que quando um piloto de caça altamente treinado lhe diz ter visto algo que pairava sobre a água acelerar para 800 km/h imediatamente e, de repente, sumir no horizonte em dois segundos, “é melhor acreditar no que ele está dizendo, porque ele realmente viu o que relatou”.
Além disso, tudo foi corroborado por mais três indivíduos que também estavam em duas outras aeronaves, por operadores de radar e, posteriormente, por mais dois caças F-18. Elizondo declara que é frustrante estar em sua posição, porque as pessoas dizem que é só um reflexo no radar infravermelho, uma condição atmosférica ou um inseto no para-brisa do jato. “Não se pode ‘travar’ condições atmosféricas no radar, como se ‘trava’ um alvo com o propósito de atirar nele, se necessário. Aquilo não é nada atmosférico”, afirmou.
As investigações
Um relatório inicial feito de forma superficial sobre o encontro com o objeto do vídeo apresentado por Elizondo foi jogado em uma gaveta no Pentágono, mas o caso foi reavivado após o senador pelo estado de Nevada Harry Reid e seus colegas iniciarem um programa formal para estudar incidentes com UFOs envolvendo os militares — a empresa terceirizada civil envolvida na pesquisa era a Bigelow Aerospace, situada ao norte de Las Vegas. Os pesquisadores entrevistaram 18 testemunhas do agora chamado Caso Tic-Tac, como ficou conhecido o incidente, e declararam ser algo genuinamente desconhecido. “O artefato filmado naquele episódio não era russo, chinês e nem nosso. Era de algum outro lugar”, declarou Elizondo.
E ocorreram outros incidentes semelhantes ao de 2004, tanto antes quanto depois. O segundo vídeo divulgado, que mostra um objeto em forma de pião, seria de 2015 e teria sido gravado na costa da Flórida. E ainda existem muitos outros encontros dramáticos que ainda não se tornaram públicos. Segundo Luis Elizondo, “o incidente envolvendo os pilotos do Nimitz é apenas um exemplo dentre muitos que analisamos. Quando os avistamentos começam a ocorrer como um padrão, é aí que começamos a ficar preocupados, porque já não era mais uma anomalia, mas uma tendência. E se é uma tendência, então precisamos analisá-la”, explicou o militar. A seguir vamos conhecer a entrevista concedida pelo ex-chefe do Programa Avançado de Identificação de Ameaças Aeroespaciais (AATIP) [A sigla vem do inglês Advanced Aviation Threat Identification Program].
O que pode nos contar sobre seu trabalho no Pentágono? Meu trabalho no governo norte-americano, relacionado ao Programa Avançado de Identificação de Ameaças Aeroespaciais, resumia-se a duas coisas: determinar o que eram as aeronaves anômalas que estávamos observando e detectando e como elas funcionavam. Cheguei à conclusão de que, se pudéssemos responder pelo menos essas duas questões, tudo o mais seria explicado posteriormente.