Uma das mais constantes críticas dos detratores da Ufologia é a de que os pesquisadores não têm formação científica e, assim, suas atividades não podem ser levadas a sério. Quando tolerantes, o que é raro, esses críticos, mesmo reconhecendo a legitimidade do Fenômeno UFO, ainda alegam que os ufólogos carecem de subsídios básicos para analisar a questão com o rigor da metodologia científica. Tanto uma quanto outra afirmação estão desatualizadas. Hoje, há um significativo número de ufólogos com formação científica trabalhando. Seu emprego do referido método tem dado excelentes resultados, e a cada dia esse quadro vem melhorando, fazendo com que a Ufologia passe gradualmente a ser merecedora de respeito e credibilidade proporcionais à envergadura do objeto de seu estudo. Um dos grandes nomes da chamada Ufologia Científica no Brasil é justamente um cientista – e mais que isso, um cientista da área espacial. Trata-se do engenheiro, mestre em computação aplicada e consultor da Revista Ufo Ricardo Varela Corrêa, que atua na Coordenadoria de Ciências Espaciais e Atmosféricas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Varela é um notável investigador de campo e especialista em análises de imagens de supostos UFOs, fotos, filmes e vídeos. É a ele que Ufo recorre quando recebe de seus leitores material do gênero. Varela é um autêntico representante da ala científica do movimento ufológico, no qual atua há 20 anos. Entre suas mais importantes pesquisas está a identificação na natureza de objetos não identificados no Vale do Paraíba, em São Paulo.
Varela, trabalhando num órgão científico e voltado para a pesquisa espacial, você encontra preconceito ou algum tipo de reação negativa à sua militância dentro da Ufologia, partindo de seus colegas? Sem dúvidas. A Ufologia é vista pelos colegas como uma comédia, na qual todos os que com ela se envolvem não são merecedores de crédito. O próprio Fenômeno UFO, apesar de fortes evidências, não merece credibilidade para eles. Nos EUA, já há algum tempo, é possível ver cientistas de quilate analisando os dados e realizando pesquisas utilizando todos os preceitos e técnicas científicas de investigação. Aqui no Brasil isso ainda é raríssimo. Mesmo sendo um dos mais céticos ufólogos do país, ainda recebo muitas críticas dos colegas devido ao meu envolvimento com a pesquisa ufológica. E justamente por manter uma postura científica sobre o assunto, sou criticado também pelos ufólogos. Estes são os mais duros, porque muitas vezes os desmistifico mostrando que a maioria das fotos e vídeos que obtêm são simples erros de interpretação.
A tendência dos bons estudiosos é ver a Ufologia sob um ponto-de-vista neutro, sem acreditar demais, mas também sem negar demais. O que você considera o item mais desafiador de Fenômeno UFO, aquilo que mais afronta a ciência? Essa deve ser a postura inicial de qualquer pesquisador, que tem, obrigatoriamente, que se abstrair do fenômeno. Ou seja, não pode incutir sua convicção na realidade de um fato como uma desculpa para afirmar que uma determinada evidência foi provocada por algo de origem extraterrestre. E esse é o maior problema da Ufologia. Muitos pesquisadores não estão preparados e forçam investigações de forma a concluir que os objetos observados sejam extraterrestres legítimos. Hoje, um dos grandes equívocos reside na busca de evidências a qualquer custo. Um vídeo ou uma foto valem dinheiro e, por isso, muitos procuram fraudá-los. As evidências são fracas, mas existem. Os depoimentos de testemunhas idôneas são muito fortes e por isso os considero a mais importante parte de uma pesquisa. Devido à sua diversidade e singularidade, nos levam a sugerir a hipótese de que realmente somos visitados por civilizações alienígenas. A ciência não pode ter medo dessa diversidade. Se o fenômeno existe, o cientista deve procurar suas causas e identificar sua origem, mesmo que aponte para algo terrestre e desconhecido. No caso oposto, também deve ser encarado de frente.
Sou criticado pelos ufólogos porque desmistifico muito dos casos que eles consideram legítimos
Qual foi o caso da Ufologia Brasileira que você considera mais extraordinário, pelo conjunto de suas evidências materiais? Fico com a Operação Prato. Sem dúvidas, uma das mais importantes evidências que temos. Para realizá-la, a Força Aérea Brasileira (FAB) utilizou os mesmos formatos de relatórios e procedimentos de investigação que os militares empregam nas investigações de acidentes aéreos. Apesar de considerar alguns relatos obtidos um pouco distorcidos, a maioria é bem detalhada e extremamente focada no fenômeno. E o que considero o melhor de tudo é que os estudos foram elaborados por pessoas que inicialmente não acreditavam em UFOs. Temos algumas fotos e o impressionante relato do comandante da missão, o falecido coronel Uyrangê Hollanda. Infelizmente, os filmes obtidos por ele e sua equipe estão apodrecendo em algum canto do Comando da nossa Aeronáutica e não poderão ser analisados, uma vez que nossas Forças Armadas também nutrem um pavor arrepiante com relação à casuística ufológica.
Por que você acha que, mesmo com tantas evidências registradas, a FAB em particular e os militares em geral ainda relutam em abrir seus arquivos sobre UFOs ? A principal razão com certeza é a visão ainda um pouco crédula que esses segmentos têm da Ufologia. Mesmo com as evidências obtidas através de testemunhos idôneos é possível também constatar fortes dúvidas quanto à sua veracidade. Os registros fotográficos são sempre fracos, de luzes fora de foco ou objetos que podem ser associados a qualquer coisa que tenha asas e voe. Infelizmente, o fator dúvida é bem forte no meio ufológico. Os estudiosos afirmam que a FAB não revela seus arquivos sobre o assunto por temer o pânico da população. Essa visão é bem simplista. As implicações tecnológicas do fenômeno podem muito bem definir uma posição de extremo poder em relação à nossa sociedade. Aí sim, o total despreparo de nossas Forças Armadas em lidar com todo esse paradigma desconhecido é que as impede de divulgar seus dados.
Mas as Forças Armadas de alguns governos já admitiram a realidade dos UFOs. Chile, Bélgica e Uruguai, por exemplo, são países onde o governo dá atenção ao assunto. Recentemente, o Peru também entrou nesse time. Essa atitude mostra amadurecimento desses governos e de suas forças armadas. A França, apesar de ter sido uma atitude isolada de alguns pesquisadores e militares de alta patente, também liberou um relatório muito interessante. Já a Bélgica e a Espanha não possuem um grupo oficial de pesquisas ufológicas como o Chile. Esses governos apenas liberaram alguns casos e a Bélgica, em particular, fez estudos aprofundados sobre a onda de UFOs triangulares ocorrida há alguns anos, e os relatos apresentados pela Espanha são interessantíssimos. Eu entendo a relutância em se divulgar alguma coisa. Aqui no INPE, por exemplo, praticamente todos os relatos que chegam são encaminhados para minha análise, e é bom ressaltar que, apesar da cara-feia da comunidade científica quanto à minha participação na pesquisa ufológica, a direção do instituto não impõe qualquer restrição ao assunto.
Você acha que esses países já detêm informações seguras sobre a origem e intenção dos extraterrestres? Acho que mesmo em países como a Bélgica e Espanha o acesso a informações é bem difícil. Não houve uma continuidade nas divulgações do que eles começaram a fazer na área. O Uruguai, por exemplo, mantém um pequeno grupo de militares investigando casos esporádicos. Aparentemente, o Peru pretende fazer o mesmo. Já o Chile deveria servir de exemplo a todos os países. Os militares de lá montaram uma estrutura de cooperação entre a Força Aérea Chilena e a Universidade de Santiago e até controladores de vôo estão sendo treinados para reportar e gravar contatos com UFOs. Pilotos são instruídos a relatarem seus avistamentos. Tive a oportunidade de visitar o Comite de Estudios de Fenómenos Aereos Anómalos (CEFAA) e fiquei estupefato com a seriedade e, principalmente, a forma como o assunto é tratado entre os militares e civis envolvidos no projeto, em cooperação com os ufólogos chilenos.
Você falou que recebe relatos no INPE. De que tipo são? Muitas pessoas trazem vídeos ou fotos de supostos UFOs para eu examinar. Elas impedem que se faça cópia do material e ainda exigem um laudo ou relatório. Quando afirmo tratar-se de um erro de interpretação, as pessoas ignoram minhas análises, e procuram alguém que possa validar “seu” disco voador.
Sendo um ufólogo que se considera cético, você acredita nas muitas afirmações que existem no meio ufológico, de que há UFOs resgatados em acidentes sendo recuperados testados em locais como a Área 51? As informações sobre o assunto são muito vagas e as provas, como sempre, fracas. Porém, minha postura é reforçada pelo ditado espanhol: “Yo no creo en brujas…” As evidências da recuperação de naves são fracas, principalmente se levarmos em conta que até o momento os possíveis retornos tecnológicos de tais operações não existem. Pelas características que observamos através dos relatos de disco voadores – identificados –, a tecnologia que empregam está além da nossa compreensão e, assim, dificilmente poderia ser incorporada à nossa. Toda a evolução tecnológica terrestre tem seguido parâmetros bem definidos, ou seja, as novas tecnologias aparecem baseadas em inovações anteriores. Nunca ocorreu algum grande “pulo” nesse processo, que pudesse ser associado a uma tecnologia alienígena. Os relatos das testemunhas do Caso Roswell são inconclusivos mas fortes. O mesmo com relação à cobertura sigilosa dada pelo governo norte-americano referente ao Projeto Majestic.
E quanto a ETs supostamente capturados em quedas de naves espaciais, que alguns ufólogos garantem que estão ou foram mantidos cativos pelo governo dos EUA? Os relatos descrevendo sobrevôos de discos voadores apresentam esses objetos sem qualquer restrição a trajetória ou velocidade, quando aparentemente não possuem obstáculos quanto à fronteiras ou defesas. Assim, acho que seria extremamente difícil capturar um tripulante. Basicamente, os relatos de abdução mostram que alguns desses seres possuem total controle sobre nossas respostas sensoriais e, inclusive, nenhum respeito por nossos sentimentos. Assim, dificilmente conseguiríamos mantê-los aprisionados. E aqui volto à questão anterior: não existe qualquer evidência palpável que possa sustentar essas afirmações.