“A capacidade de explorar está escrita em nossos genes e o destino do ser humano é ir além”, afirma Jim Adams, subdiretor de tecnologia da NASA. Ele foi nomeado recentemente para esse posto depois de 5 anos como diretor adjunto de ciências planetárias. Com envolvimento em mais de 25 missões planetárias, acredita que o melhor ainda está para chegar.
Enviar seres humanos para Marte é um de seus principais objetivos, considerando-o como o passo natural após a exploração lunar do Projeto Apollo, mas suas embições não se restringem ao Planeta Vermelho. O propósito final dessas viagens, de acordo com o que explicou no III Congresso de Mentes Brilhantes realizado em Madri, entre 06 e 07 de novembro, é enfrentar algumas perguntas fundamentais sobre a origem e destino de nosso planeta, e esclarecer a dúvida sobre estarmos ou não sozinhos.
– Diga até onde podemos chegar.
Atualmente temos seis pessoas que vivem no espaço na ISS [Estação Espacial Internacional], mas estão muito próximas, a cerca de 320 km de altitude, sequer aproximando-se da Lua. Marte deve ser o passo seguinte e natural, de acordo com a própria NASA em um futuro bem próximo, e uma vez ali esse planeta será convertido em ponto de partida para destinos mais distantes, como as luas de Saturno ou mais além.
– Enviamos um novo e extraordinário rover para Marte, o Curiosity. O que podemos esperar dessa missão?
Aprenderemos muitas coisas graças ao Curiosity. Ele aterrissou em um lugar em que se pode analisar todos os tipos de rochas, que refletem toda a história do planeta. E com evidências de ter existido água no passado, e com argila, o local mais adequado onde buscar se existe ou existiu vida. Também analisa o metano na atmosfera, algo que ainda não foi comprovado como tendo origem biológica.
– Mas as primeiras análises deram resultado negativo.
Sim, o primeiro metano detectado provavelmente foi trazido da Terra, e as análises seguintes não deram qualquer indicação, mas devemos ter em conta que esse gás vai e vem em Marte conforme as estações, então temos esperança.
– Acredita que finalmente encontraremos algum sinal claro de vida em Marte?
Bem, tenho uma aposta com meu ex-chefe, Jim Green, diretor de ciências planetárias da NASA, em que apostamos um almoço. Ele está convencido, muito, que em certos momentos existe vida em Marte que produz esse metano. Também acredito nisso, mas apostei contra para que pudéssemos fazer isso, mas na verdade estou esperançoso de perdê-la.
– Algumas das missões futuras da NASA são impressionantes, como enviar um submarino a lua Europa de Júpiter e aterrissar em um asteróide. Acontecerão mesmo?
Sim. Teremos uma missão, Osiris Res em 2016, para ir a um asteróide, aterrissar em sua superfície, colher uma amostra e trazê-la para a Terra. A sonda japonesa Hayabusa já fez isso, mas queremos amostras bem maiores. Ainda não temos uma missão para Europa, mas este é um de muitos sonhos, porque se existe um lugar onde pode haver vida fora da Terra no sistema solar é nessa lua de Júpiter.
– Por quê?
Europa é um mundo de gelo, que compõe uma capa de vários quilômetros em sua superfície. Dentro, existe duas ou três vezes mais água que na Terra, e sabemos que é líquida porque podemos medir seu movimenot. Além disso, essa lua está situada em um cinturão de radiação, que é tão intensa que se um astronauta ficasse lá por 48 horas morreria, mas essa radiação passa pelo gelo e separa o hidrogênio do oxigênio. Conforme os anos passam, esse oxigênio desce pelo gelo, e portanto a água abaixo da capa congelada também está oxigenada, além de possuir uma temperatura agradável. Se parece muito com as condições abaixo do gelo do Ártico, onde existe vida.
– Em que outros lugares se poderia procurar por vida?
Na Terra, em alguns lugares dos desertos, nas minas mais profundas da África do Sul ou em rios com altíssimo grau de acidez, se encontra vida. O fundamental é que exista água. Não me surpreenderia se encontrasse vida em meio as sombras de Mercúrio, na superfície de Vênus ou na lua Titã de Saturno.
– Como imagina essa vida extraterrestre?
Microscópica, e acredito que funcionaria como a vida na Terra. A razão é que temos encontrado aminoácidos na cauda dos cometas. Concordo com a teoria da panspermia, acredito que os blocos de construção que fundamentam a vida chegaram do espaço.
– Há várias semanas correm os rumores de que a sonda Voyager pode estar na borda do sisterma solar. Isso é certo?
A Voyager levou 35 anos viajando pelo espaço e chegou a um ponto onde as baixas pressões da radiação solar são como o restante da galáxia. Desde então, estamos na borda dessa pressão do sistema solar, seu limite extremo.
– O que acha da participação de empresas privadas no espaço?
É algo fantástico, realizarão parte de nosso trtabalho e isso permitirá que avancemos ainda mais.
– Barack Obama acaba de ser reeleito. Com o financiamento da NASA tendo diminuído, como vê o futuro da exploração espacial?
Temos sofrido cortes, sim, mas nos mantemos. Acredito que os Estados Unidos precisam da NASA. É parte de nossa imagem no exterior, e o mundo não seria o mesmo sem a NASA.
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