Programa que tem participação brasileira estimula segunda geração de projetos para identificação de mundos como a Terra. Além disso, acordos anteriores entre franceses e russos permitiram que o Corot fosse lançado por cerca de US$ 18 milhões, enquanto lançamentos como este custam entre US$ 20 milhões e US$ 30 milhões. “Ainda poderíamos ter lançado da Índia, com custos menores, mas a alta confiabilidade do foguete russo definiu esta opção.
O telescópio Corot iniciou suas observações científicas em 3 de fevereiro e até 3 de abril deve se voltar para a direção contrária ao centro da Galáxia, região rica em estrelas. Neste primeiro momento, o objetivo é encontrar exoplanetas com períodos de translação entre 10 e 18 dias, faixa em que não existem exemplos conhecidos. Após esta data, o telescópio irá se voltar para as regiões do Escudo e Cauda da Serpente, na direção do centro galáctico, e do Unicórnio, no sentido oposto. Ele fará este movimento alternado a cada seis meses.
Ainda que as perspectivas do Corot sejam promissoras, os resultados científicos devem exigir algum tempo para demonstrar resultados. Segundo o critério estabelecido, após o encontro de um candidato a exoplaneta, serão feitos os procedimentos para comprovação, como repetições e observações de solo. Para Janot, os anúncios devem ocorrer cerca de três meses após as descobertas, mesmo com um equipamento extremamente sensível. Desde o início de fevereiro, informações coletadas pelo telescópio orbital Corot são utilizadas para pesquisa envolvendo dinâmica estelar e a busca de exoplanetas. Em seguida à conclusão dos primeiros ajustes, o telescópio já rendeu os primeiros resultados científicos e deu ao Brasil a perspectiva de participar de programas mais ousados.
Com o sucesso do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) na recepção de dados do Corot – a partir de 12 de janeiro, na base de lançamento de Alcântara, no Maranhão – pesquisadores tiveram receptividade para inserir o Brasil no pré-projeto do satélite Platão, previsto para ser lançado a partir de 2015. “Depois de alguns papéis em programas de recepção por satélite, ganhamos status por entrar no topo de uma área de pesquisa. E isso abre possibilidades de novas colaborações técnicas e científicas”, comemora o astrônomo Eduardo Janot Pacheco, presidente do comitê Corot-Brasil.Desenvolvido pelo mesmo grupo do Corot – França, Alemanha, Itália e Bélgica, e sob liderança da Agência Espacial Européia (Esa) – o projeto Platão deve lançar um telescópio para estudos físicos de exoplanetas, que agora estão sendo procurados pelo Corot. Será um avanço qualitativo. Enquanto o Corot dispõe de telescópio de 27 cm de diâmetro, o Platão deve ter um equipamento de pelo menos 2 metros. O instrumento vai operar na luz visível e ultravioleta, além de registrar atividade eletromagnética, com um módulo de interferômetro.
Os principais objetivos do Corot são identificar exoplanetas – ao passarem à frente de suas estrelas-mães – e estudar a dinâmica estelar por meio da astro-sismologia. A partir da freqüência das ondas vistas na superfície da estrela, obtidas com variações de brilho, temperatura, efeito Doppler ou outros sinais, é possível deduzir a estrutura e comportamento interior.O telescópio deve observar dezenas de estrelas semelhantes ao Sol, com idades inferiores, próximas ou mais avançadas. “É uma área essencial de pesquisa, levando em conta nossa dependência solar”, diz Janot Pacheco. Ele aponta a redução de temperatura que ocorreu na Terra na segunda metade do século 17, relacionada ao Sol. Esta alteração, que provavelmente foi de cerca de 2ºC, trouxe menor produtividade agrícola e fome.
Primeiros resultados. O primeiro emprego científico dos dados do telescópio foi o mapeamento da forma e intensidade da Anomalia Magnética do Atlântico Sul, elaborado por Leonardo Pinheiro da Silva, da Escola Politécnica da USP. A anomalia é uma diminuição do campo magnético terrestre, sobre a região Sul do Brasil, caracterizada pela incidência de partículas solares, com freqüência responsável por falhas nas telecomunicações por satélite nesta região. Silva, um dos cinco engenheiros brasileiros envolvidos com o programa, usou dados obtidos de nove passagens do Corot sobre o Brasil, nas primeiras recepções, para o mapeamento.Com órbita polar, o telescópio Corot dá uma volta na Terra a cada 100 minutos. Mesmo que nem todas as órbitas passem sobre o Brasil, o Corot sobrevoa a área de recepção de Alcântara várias vezes ao dia. O Corot tem capacidade reduzida de armazenamento de dados, e precisa “descarregar” suas informações com freqüência. Para isso dispõe de bases no Ártico e na Europa (Viena, na Áustria). O uso da base de Alcântara permitiu um aumento no número de estrelas observadas de 70 mil para 100 mil, e esta é uma das potencialidades do Brasil em projetos deste tipo.
Em função da participação no programa, outro engenheiro, Vanderlei Cunha Parro, criou um centro de estudos de softwares para satélites no Instituto Mauá de Tecnologia. Além do uso nos satélites, esses programas são utilizados em aplicações ininterruptas, de alta confiabilidade, de aeronáutica a siderurgia. Além das pesquisas relacionadas à astro-sismologia e à busca de exoplanetas, o Corot também selecionou projetos paralelos. No Inpe, em São José dos Campos, Walter González lidera um estudo das emissões de ondas de rádio por planetas, caso de Júpiter, em interação com partículas emitidas pelo Sol, o vento solar. Os elétrons do vento solar atingem o campo magnético jupiteriano em cerca de dez dias e mergulham em espiral, emitindo ondas de rádio. Em exoplanetas, há possibilidades de recepções muito mais intensas, devido à maior proximidade desses corpos com suas estrelas-mães. “Nesta área ocorrem muitas surpresas. Às vezes temos boas teorias, mas as medições podem dar resultados diferentes”, diz Francisco Jablonsky, também envolvido com o projeto.
O grupo brasileiro deve utilizar o Corot para prever interações de ventos estelares e exoplanetas. As emissões identificadas, a partir das alterações ópticas nas estrelas, orientarão o direcionamento de radiotelescópios, na Índia, para investigar a interação com planetas já identificados. Os pesquisadores brasileiros trabalham em cooperação com equipes do Giant Meter Radio Telescope (GMRT), na Índia.
Eclipses estelares. Adriana Silva, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, utiliza as imagens do telescópio para estudar manchas estelares, tirando partido da passagem de planetas à
; frente das estrelas. Outros grupos estão envolvidos com os eclipses estelares causados por sistemas planetários em formação, com estudos detalhados da rotação de estrelas parecidas com o Sol e sua pulsação, entre outros.Pesquisas brasileiras na área de exobiologia também devem beneficiar-se das descobertas do Corot, embora não estejam ligadas diretamente ao programa. A partir da detecção de planetas semelhantes à Terra, os pesquisadores poderão identificar os que possuem atmosfera e estudar a composição em busca de traços de vida. “O Corot fará a seleção de alvos para trabalhos futuros, com o auxílio de telescópios como o Keppler, Darwin e TPF, previstos para serem lançados a partir de 2008”, diz Carlos Alexandre Wuensche, pesquisador da área de astrofísica do Inpe. O Brasil tem cinco pesquisadores co-investigadores do Corot, com direito a acessar e analisar informações levantadas pelo telescópio.Foguete confiávelO Corot foi lançado por um foguete russo Soyuz 2-1B, da base de Baikonur, no Cazaquistão, em 27 de dezembro passado. Embora a França seja a líder do projeto e disponha da base de Kourou, na Guiana Francesa, a escolha do sistema russo ocorreu por razões técnicas e de mercado. O Corot tem apenas 600 kg, carga leve para os foguetes franceses Ariane 5, que operam em Korou.