Continuação da Parte 1…
A dissonância cognitiva
O termo dissonância cognitiva foi estudado pela equipe do sociólogo Leon Festinger (1919-1989), ao pesquisar as seitas e movimentos ligados ao Fenômeno UFO, especificamente ao analisar uma comunidade na Califórnia, Estados Unidos, dirigida por uma senhora conhecida por Keech. A equipe de Festinger conseguiu se infiltrar na comunidade e documentou como Keech psicografava. Ela recebia informações de que uma grande catástrofe sísmica atingiria a Califórnia e que os \”escolhidos\” seriam retirados por discos voadores, que viriam salvá-los.
A oratória é bem semelhante a de outros casos de suposta contatação extraterrestre, como se vê na literatura ufológica da área. Durante um tempo, Keech acreditava estar recebendo mensagens de pessoas mortas, até que essas entidades, que se intitulavam \”guardiões e guias\”, se revelaram como sendo tripulantes de UFOs e alegaram monitorar o planeta Terra. Além disso, afirmaram serem capazes de se comunicar com os humanos e entre si por telepatia. Os pesquisadores infiltrados perceberam claramente, o tempo todo, que os moradores da comunidade, inclusive a líder, eram pessoas sinceras, cheias de ideais positivos e que realmente acreditavam estarem sendo portadores de algo fascinante e importante.
Como era de se esperar, nada do previsto pelos hipotéticos tripulantes dos UFOs ocorreu, e é nesse ponto que a surpresa acontece. Ao invés da comunidade admitir que havia ocorrido algo errado ou que a fonte, ou a fonte da fonte das informações, era suspeita, ou ainda que tudo não passava de uma viagem mental, preferiu acreditar que na verdade tudo tinha siso um teste. E crer que, como tinham sido obedientes, o planeta foi salvo da catástrofe.
Esse é o mecanismo chamado de dissonância cognitiva, cuja explicação é a de que quando o sistema de crenças de um grupo é contrariado, ele reage sobre o fato que desmente sua crença e expectativa, de modo a manter o mito vivo. Ou seja, sempre existe uma reformulação para adequar o \’previsto\’ e \’canalizado\’, originado de entidades supostamente espirituais ou extraterrestres, entretanto, nunca é pensado e analisado na possibilidade de não estar acontecendo nenhuma mensagem divina e que tudo isso não passa de processos mentais, egos e mentalismos, frutos da fragilidade e inocência da mente humana, em busca constante de salvadores para nossos erros e equívocos.
Síndrome do contatado
Segundo especialistas, a síndrome (conjunto de sintomas, de patologias) do contatado é um distúrbio psicossocial que é evidenciado pela abrupta mudança do modo de vida de alguns supostos contatados e abduzidos. Com alguma frequência, o contato ou abdução – real – transformam o protagonista do caso em celebridade. Pessoas que antes levavam uma vida pacata, passam a ser o foco de atenção dos meios de comunicação, que somente estão interessados em audiência. Esse é o problema que a pesquisa séria enfrenta sempre, pois pessoas que tiveram algum tipo de contato com o Fenômeno UFO e que estavam sendo sinceras em suas alegações, acabam virando pseudo-estrelas e achando-se especiais, queridas pelos extraterrestres. Passam a ser convidadas para participar de eventos nacionais e internacionais, nos quais se transformam em lendas vivas e acabam sendo assediadas por uma legião de simpatizantes, curiosos e fanáticos, que as veem como gurus e se posicionam como sendo amigos das mesmas.
Assim começa um ciclo vicioso no qual as relações sociais são ampliadas e a experiência de contato ou abdução pode render ganhos financeiros. Muitas vezes, a história relatada acaba não satisfazendo completamente os seguidores e imprensa, desejosos de novos acontecimentos com as pessoas escolhidas dos ETs. Então, para não caírem no esquecimento, acabam inventando mais e novas histórias. Pouco pode se fazer quando uma pessoa chega a esse ponto, pois a legião de fiéis que se forma em torno dela é enorme, havendo muitas vezes casos de violência contra quem contesta a veracidade das informações.
ETs enganadores, equívocos de interpretação ou mentiras?
Parece que todas as alternativas se misturam e se completam. Muitas situações e contatos deixam de ser contestados, inclusive por seus próprios protagonistas, os contatados. Para citar um exemplo, de dezenas, o sistema binário Wolf 424, apontado como a origem dos ufonautas do Caso Ummo, ocorrido na Espanha na década de 70, nem pesquisadores gabaritados e experientes da época se deram ao trabalho de ver que a base do suposto episódio estava sustentada numa mentira, dita pelos alegados extraterrestres ou por quem inventou o caso. Bastaria ter verificado o que se sabia sobre as estrelas do sistema Wolf 424 e descoberto a armação.
Poucas são as pessoas que se dizem contatadas e que estejam transmitindo ideias realmente positivas e com certa coerência. Certos pesquisadores afirmam que contatados e abduzidos são a linha de frente na propagação de iniciativas e modelos de procedência incerta. Se são extraterrestres, militares terrestres, jogos e táticas de guerra psicológica, entidades dimensionais, manifestações espirituais zombeteiras ou outra hipótese qualquer, ainda não se sabe. O que se conhece, muito bem, é que muitas das pessoas que se dizem contatadas e que alegam manter encontros com estas entidades não adquirem nenhum ganho ou benefício direto com isso.
Pelo contrário, são expostas ao ridículo, a crises nas relações interpessoais, fenômenos do tipo poltergeist, entre outras situações embaraçadoras. Com exceção de alguns poucos espertos, não ficam ricos com tudo isso. No caso da existência de alienígenas e da possibilidade de já estarem de fato contatando alguns seres humanos, operariam dessa maneira, sem respeito a vida humana, sob disputas de ego, competições, guerras galácticas e disputas sociais? Se o futuro de civilizações super avançadas é dessa forma, o que esperar de nós mesmos?
As alternativas que se apresentam sobre o espinhoso tema Ashtar Sheran, parecem se resumir em dois aspectos. O primeiro refere-se à necessidade de comprovações sobre a existência ou não do hipotético ser e evidências não serão encontradas de forma tradicional. Implica em que está fora e muito além do âmbito exato, pois não obedece a regras específicas, aleatórias ou repetitivas e está sendo operado, controlado por alguém. Estamos diante de um fenômeno social de larga escala, que já conseguiu causar sérios e irreversíveis estragos no sistema de crenças das pessoas. Esse assunto é um grande sinalizador da existência de algo ou alguém muito mais inteligente do que nós, que pode estar simplesmente jogando com aquilo que temos capacidade para processar e compreender, podendo ser inclusive uma tática de guerra psicológica.
\”Trapaceiros alienígenas\”
O segundo aspecto reside no fato de que pessoas de várias etnias e credos que mencionam ou fazem alusão à suposta entidade intergaláctica Ashtar Sheran não conseguem demonstrar nenhuma evidência de sua existência. Muitos livros, estudos e hipóteses sobre Ashtar tendem a excluir quaisquer relatos que não se enquadrem perfeitamente em algum sistema teórico. Essa prática pode ser contraproducente, uma vez que dados tidos como inconsequentes ou errôneos poderão, mais tarde, na medida em que nosso conhecimento e compreensão forem se ampliando, passarem a ser significativos.
Há também a denominada Hipótese da Trapaça Alienígena (HTA), que defende que seres de origem desconhecida poderiam estar manipulando de alguma forma a nossa realidade e o sistema de crenças, para manter o Fenômeno UFO como um assunto de loucos e mentirosos. Quando se fala em seres de origem desconhecida, incluem-se organizações da própria Terra, que utilizariam desses fenômenos para executar testes militares e psicopatológicos, visando o controle de massas. Estudar a existência de Ashtar e de outros supostos seres é um trabalho hercúleo e extremamente complicado, as variáveis são imensas e as possibilidades de se escorregar e enveredar por becos sem saída, muito grande. No entanto, deixar o assunto de lado e considerá-lo simplesmente uma farsa ou fruto de devaneios não é sensato.
Se Sheran é uma invenção ingênua, os rumos que ela tomou são preocupantes. Se foi algo intencional, se tornou um excelente sistema manipulador de mentes ao atuar justamente no arcabouço e crenças do ser humano, sendo que uma experiência de cunho transcendental tem grande impacto na transformação da realidade das pessoas. Neste caso, foi muito bem bolado e planejado. O assunto Ashtar não é apenas cultuado por pessoas simples, artistas e celebridades de renome internacional também estão envolvidas. Todos, sem exceção, são pessoas altamente manipuláveis e propensas a comandos autoritários anônimos, camuflados de boas intenções, mesmo que ingênua e inocentemente. O que acontece quando as massas são carregadas por uma propaganda messiânica não é uma expressão primária do instinto, mas uma revitalização quase científica de suas psicologias.
Sempre separar joio e trigo
Retirando-se todo joio, ou almejando-se essa ação, algo realmente anormal está realmente ocorrendo e as origens podem ser várias. Um exemplo do erro de se tentar interpretar algo com uma visão limitada e de acordo com a nossa lógica, está na típica comunicação atribuída ao comandante intergaláctico, que entre os anos 50 e 60 alertava sobre os perigos da energia nuclear. Alguns poderão dizer que isso é óbvio, pois todos sabem desses perigos, mas é razoável discutir se nesse período alguém realmente conhecia os reais riscos envolvidos com tal energia. Outros ainda dirão que os extraterrestres poderiam impedir o aperto de botões, o lançamento ou ainda inutilizar as usinas nucleares existentes, como se a função de uma hipotética entidade alienígena fosse ficar intervindo como um anjo da guarda em tudo que os tolos humanos fazem de errado. É complicado tentar colocar um padrão lógico e racional baseado em nossa maneira de pensar nas supostas atitudes de origem extraterrestre.
Não se está defendendo a existência de Ashtar e outras supostas entidades e suas alegadas mensagens, mas sim tentando ampliar os limites de nossa ignorância perante o tema, afinal, a nossa realidade está conformada daquilo que somos capazes de sintonizar, e as interpretações para um mesmo estímulo externo são diferentes. Ashtar Sheran pode ter sido real ou não, mas tomou inúmeros caminhos, versões, interpretações, acréscimos e cortes de acordo com a cultura, ignorância e esperteza de quem recebeu ou viu nesse assunto uma maneira de se beneficiar de alguma forma, enquanto o público leigo, que não recebe a mínima explicação da ciência sobre o tema, fica literalmente perdido e passa então a duvidar da própria ciência, da Ufologia e do governo.
Assim nascem as conspirações, as seitas, os cultos aos UFOs etc, que interpretam a realidade que percebem da maneira que querem e acham. É preciso encontrar uma nova fórmula para encarar o problema e o primeiro passo é abandonar as ideias pré-concebidas. Mas falar que não há solução é questão e preconceito, inaceitável. Nosso suposto comandante estelar enfatizava, já naquele tempo, o despertar das pessoas, temos todos que acordar para os acontecimentos. Não só nada aconteceu, como parece também que nossos relógios despertadores ficaram sem pilhas.
Fonte Original: Revista UFO Especial 033
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