Em continuidade à busca de informações e mais revelações sobre a Operação Prato, ao longo desta série, UFO Especial vem expondo de maneira inédita e franca fatos estarrecedores sobre a ação de seres extraterrestres na maior floresta tropical do planeta. A própria série é resultado direto da investigação que a publicação vem fazendo sobre a casuística ufológica amazônica, em especial no Pará. Os fatos a que a publicação teve acesso, ocorridos principalmente na região litorânea fluvial daquele estado, são de imensa gravidade, tanto que a Aeronáutica incumbiu-se de investigar as manifestações que se davam, tentando entender o que se passava, a razão das agressões a humanos e a origem do fenômeno.
Ocorre que os militares destacados pela instituição para averiguar os fatos — comandados pelo já bem conhecido coronel Uyrangê Hollanda — acabaram não somente tendo contato próximo com as sondas, discos voadores e até naves-mãe que operavam na selva, como também estiveram frente a frente com seus tripulantes. Não há notícia de que algo assim tenha jamais ocorrido em qualquer lugar do mundo, em qualquer tempo. Entretanto, em uma atitude questionável, a Aeronáutica achou melhor manter os resultados de sua missão militar — a famosa Operação Prato — em sigilo. Como ela findou-se em dezembro de 1977, há três décadas e meia, e até hoje nossos militares não aceitam discutir a questão e apresentar os fatos à Nação, esta publicação vem fazendo seu papel jornalístico de revelar o que sabe, buscando novos fatos que ainda não sabe, para que possa também mostrá-los aos seus leitores.
De todos os personagens envolvidos diretamente na onda chupa-chupa e na cobertura da Operação Prato, um tem um repertório especialmente rico para contar. Trata-se do jornalista paraense Carlos Augusto Serra Mendes, que na época trabalhava no extinto O Estado do Pará e foi incumbido para fazer a cobertura dos inúmeros casos de avistamentos de UFOs e ataques a pessoas na ilha de Colares e região. Curiosamente, no entanto, Mendes não teve qualquer observação nem mesmo contato com os objetos voadores não identificados que lá operavam, por mais que tentasse. “Eles nunca apareciam onde eu estava. Às vezes eu ia a uma localidade onde durante semanas os fenômenos estavam ativos. Mas era só eu chegar e parar tudo”, desabafa.
“Acervo humano”
O jornalista concedeu entrevista à Revista UFO, publicada originalmente em sua edição 115, e mostrou ser um “acervo humano” de tudo o que se refere a UFOs na Amazônia, em especial a Operação Prato. Então um jovem jornalista durante a época da ditadura, Mendes sofreu forte pressão dos militares para que arrefecesse a publicação de suas matérias sobre o chupa-chupa. Ele era constantemente seguido quando ia às áreas atacadas e mesmo em Belém, quando fazia a cobertura de fatos que nada tinham a ver com Ufologia. “Eles sabiam quem eu era e me acompanhavam o tempo todo”. Ele chegou a conviver com o coronel Uyrangê Hollanda, então capitão, e o descreve — ao contrário de muitos outros de seus contemporâneos — como um homem forte e opressor, determinado e ditador. Esta é, certamente, uma figura bem diferente daquele Hollanda que a Ufologia Brasileira conhece através da Revista UFO. “O capitão era um homem muito difícil, praticamente inacessível e inabordável”.
Carlos Mendes estava sempre em ação com seu colega Biamir Siqueira e o repórter fotográfico José Ribamar dos Prazeres. Ambos chegaram a ter contatos próximos com o chupa-chupa, e Ribamar fez centenas de fotos dos fenômenos. Uma de suas grandes contribuições à Ufologia foi reparar um erro histórico, que atribuía à Força Aérea Brasileira (FAB) a autoria de todas as imagens de discos voadores publicadas desde 1977. Mendes esclareceu que muitas delas, que a FAB alega serem suas, foram na verdade obtidas por Ribamar, que, em uma ocasião, teve suas fotos e até mesmo negativos confiscados pelos militares. “Foi uma ameaça muito forte e intimidadora”, disse o jornalista, lamentando que seu chefe de redação cedera às pressões da Aeronáutica e entregara todo o material requisitado por eles. Vamos à entrevista.
Por favor, conte-nos como foi seu contato com o fenômeno chupa-chupa?
Aconteceu de forma quase obrigatória, pois na época eu trabalhava no jornal O Estado do Pará, hoje extinto, e fui pautado para cobrir os casos que estavam ocorrendo. Como sempre gostei de Ufologia, eu ia com prazer. Sempre tive uma grande curiosidade e também muito ceticismo com relação ao assunto. Andava sempre com revistas e livros sobre os discos voadores e na redação do jornal todos sabiam que eu era interessado por Ufologia. Alguns colegas brincavam, mas todos respeitavam meu interesse.
Você já acreditava em discos voadores?
Eu sempre tive muita curiosidade para entender isso. São aquelas perguntas básicas que todo o ser humano medianamente inteligente tem: Quem somos? De onde viemos? E para onde vamos? Essas são questões filosóficas que remontam aos primórdios da humanidade e sempre a acompanhou, desenvolvida principalmente pelos pré-socráticos da antiga Grécia. A filosofia ajuda na compreensão de vários fenômenos, inclusive aqueles que fogem a uma explicação racional, como os objetos voadores não identificados e seres extraterrestres. Esses questionamentos são cruciais. Mas sempre procurei separar minhas indagações interiores com a realidade da investigação dos fatos que, como jornalista, sou obrigado a fazer.
Você chegou a ter experiências ao ir aos locais dos fatos?
Não, nunca, o que é muito interessante. O Biamir Siqueira, outro repórter do O Estado do Pará, era meu parceiro na cobertura dos casos de chupa-chupa e teve experiências, mas eu não. Tomei conhecimento do fenômeno através do Siqueira, pois foi quem me chamou a atenção para os fatos. “Carlos, você que anda com essas revistas e livros de Ufologia aí, precisa ver o que está acontecendo lá em Colares”, disse-me.
Quando foi o epicentro do fenômeno chupa-chupa no Pará?
Na verdade, eu comecei a pesquisar os fatos entre maio e julho de 1977, mas o fenômeno já estava ocorrendo há muito tempo. Ele vinha desde
a Baixada Maranhense, entrava no Pará pelo município de Viseu, a oeste do Estado, e chegava a Belém, até estacionar na Baía do Sol, e ilhas de Mosqueiro e Colares. Quando veio para o Pará, todo o Maranhão já estava infestado pelo chupa-chupa. Tanto que a imprensa de lá, principalmente o jornal O Imparcial, já noticiava o aparecimento das luzes há meses.
Anteriormente às ocorrências registradas em Belém, como era o fenômeno?
Antes de termos os casos paraenses, e mesmo do chupa-chupa receber uma conotação tipicamente regional, ele era chamado lá no Maranhão de “luz do diabo”, “coisa” etc. A expressão “aparelho” é própria de Colares, mas quem inventou o termo “chupa-chupa” foram os moradores dos municípios de Santo Antonio do Imbituba e Vigia, próximos das ilhas e onde o fenômeno teve muita intensidade. Eu ouvi essa denominação pela primeira vez quando entrevistei residentes que foram atingidos pelas luzes na localidade de Vila Nova.
Quando você foi pautado para ir aos locais atingidos, você se deparou com algum fenômeno não explicado lá?
Não, e isso é interessante. Nada me aconteceu, mas sim a outros repórteres que também cobriram os fatos, como o Biamir Siqueira, que também trabalhava no O Estado do Pará. Na época, eu era repórter especial e depois passei a ser chefe de reportagem. Então ele me falou: “Carlos, você que é um repórter investigativo, vá correndo ver que está acontecendo lá em Mosqueiro”. E isso me despertou a atenção.
Então, foi o Biamir Siqueira quem o levou a conhecer os casos do chupa-chupa?
Isso, mas foi antes da Operação Prato ter início. Era final de maio, início de junho de 1977. O José Ribamar dos Prazeres estava junto e foi o fotógrafo que fez as fotos que eu acho mais assustadoras. Qualquer arquivo da Ufologia Mundial que se preze deve ter suas imagens como ícones do assunto. Uma edição de O Estado do Pará já dava na época a manchete Eis o Chupa-Chupa, com fotos que o Ribamar tinha feito.
Quer dizer que algumas dessas fotografias que estamos habituados a ver publicadas são, na verdade, de Ribamar?
Sim, são de Ribamar e foram confiscadas pela Aeronáutica, que chegou a aparecer como dona das imagens em muitas reportagens. Eu testemunhei sua angústia na época, quando ele perdeu suas fotos. Ele lamentava e eu até brincava: “Ribamar, se tu tivesses vendido as fotos para as revistas norte-americanas especializadas no assunto, estavas rico”. Mas não teve jeito: o capitão [Na época] Uyrangê Hollanda foi à redação do jornal e exigiu que os filmes fossem entregues, alegando que eram questão de segurança nacional. Lamentavelmente, nosso chefe de redação entregou tudo. Era o jornalista Valmir Botelho do Oliveira, que hoje é o diretor e redator de O Liberal, onde trabalho atualmente.
Como foi sua primeira ida aos locais dos ataques, junto do Biamir Siqueira?
Ele e Ribamar apareceram em casa em uma noite, às 23h00, em um fusquinha de O Estado do Pará. Convidaram-me e fomos todos para a Ilha de Mosqueiro [A 60 km de Belém] e, depois, para a Baía do Sol, uns 6 km à frente. Lá já havia ufólogos estudando os casos. Inclusive, o chupa-chupa desencadeou uma onda de visita de ufólogos de todo Brasil e do exterior à região. Como se sabe, o Pará sempre teve ocorrência de luzes não identificadas, mas não na intensidade que a onda chupa-chupa demonstrou. Houve aparecimento de UFOs em Porto de Trombetas, Monte Alegre, Juruti, Itaituba, Alenquer, Carajás etc, todas localidades paraenses. Já conhecíamos relatos das décadas de 50 e 60, de pessoas que viam tais luzes. Em Carajás, onde há minas de ferro e até urânio.
Você acredita que os minérios atraíam os objetos voadores não identificados?
Creio que sim. Os moradores de Carajás falam muito em avistamento de objetos voadores não identificados. E isso em tempos pregressos ao fenômeno chupa-chupa.
Voltando à Baía do Sol, o que ocorreu lá em sua primeira viagem?
Bem, ficamos a madrugada inteira com a máquina fotográfica do Ribamar ligada, mas nessa primeira observação não vimos nada, apesar dos moradores do local já comentarem os casos abertamente.
Havia pesquisadores estudando os casos. O chupa-chupa desencadeou uma onda de visita de ufólogos de todo Brasil e do exterior à região. Como se sabe, o Pará sempre teve ocorrência de luzes não identificadas, mas não naquela intensidade
A população acompanhava o trabalho jornalístico de vocês?
Sim, alguns acompanhavam. Outros se recolhiam em suas casas. Havia muita curiosidade, pois a visão do céu naquela região é deslumbrante. Na época, a Baía do Sol, Mosqueiro e Colares não tinham luz elétrica o tempo todo, apenas a fornecida por uma usina termoelétrica, a óleo, que era desligada às 22h00.
Havia clima de expectativa, medo ou pânico por parte da população?
Havia um clima de pavor, mesmo. As pessoas já estavam sendo atacadas há tempos. Em junho de 1977, quem quer que fosse para a beira dos rios da região acabava vendo alguma coisa. Eu gostaria que os militares que participaram da Operação Prato, que ainda estão vivos, viessem a público revelar o que viram.
Mas há militares ainda vivos?
Há sim, como o piloto que testemunhou um objeto sobre a Baía do Sol, aquele cujo helicóptero quase colidiu com um disco voador. Ele se chama Flávio e mora no centro de Belém, mas não tenho seu sobrenome.
O jornal que você trabalhava tinha uma equipe de plantão para cobrir os casos de ataque?
Sim, eu e o Biamir Siqueira estávamos sempre de plantão. Se acontecesse um caso, nós íamos ao local imediatamente. Tínhamos uma redação muito forte, muito grande, que permitia que designássemos repórteres para fazer matérias específicas, e eu fui um deles.
Como vocês ficavam sabendo que os fatos estavam acontecendo e aonde? A população avisava? Qual era o mecanismo?
As pessoas ligavam da Ilha de Mosqueiro e até de Colares para a redação do jornal. O Ribamar e o Siqueira tin
ham publicado as primeiras matérias sobre essa questão, o que chamou a atenção dos moradores. Ambos eram repórteres policiais e cobriam crimes, os assaltos da cidade. À noite eles tinham um trabalho específico: pegavam o carro do jornal e iam às áreas dos ataques. Eles chegaram a ficar semanas lá.
Havia uma conotação policial nos casos de ataques do chupa-chupa, ou seja, eles podiam ser entendidos como crimes?
Exatamente. O Siqueira ia para os locais porque as pessoas estavam sendo agredidas pela luz. Havia uma forte conotação policial nos casos e, nas delegacias de Mosqueiro e Colares, eram feitos até boletins de ocorrência dos ataques. As pessoas iam de fato à polícia. Ora, se você é agredido fisicamente em uma vila pequena, você não vai procurar o padre nem o prefeito, mas sim a polícia. Era comum que, nos dias seguintes aos ataques das luzes, onde quer que ocorressem, as pessoas pegassem um ônibus e fossem à delegacia mais próxima.
Você chegou a ver os boletins de ocorrência policiais?
Cheguei a ver alguns, sim. Neles, as pessoas descreviam como eram atacadas. Uns diziam que vinham por uma estrada e, de repente, uma luz os paralisava e lhes “focava” um raio. As vítimas alegavam que corriam apavoradas, mas quase sempre caíam desmaiadas, sem se lembrar de mais de nada. Outros também ficavam paralisados, viam as luzes e sentiam um formigamento pelo corpo, mas não podiam reagir. Quando o chupa-chupa ia embora, segundo os atacados, eles ficavam “lesos” [Expressão no Pará que significa atordoamento ou tontura].
Que idade tinham e que tipo de pessoas eram aquelas atacadas pelo fenômeno chupa-chupa?
Tinha gente de todo tipo. Eu encontrei até um adolescente de 17 anos. Mas as pessoas atacadas tinham idade média de 30 anos. Algumas eram idosas.
Qual era sua impressão sobre esses casos?
Bem, eu tinha uma intuição. Eu olhava os mapas das áreas atingidas e associava os paralelos e meridianos com os casos. As imagens formavam figuras que atravessam todo o Estado do Maranhão, entravam no Pará por Viseu, passavam pela Baía do Sol e iam em direção às Guianas, na Planície Amazônica. Creio que os objetos voadores não identificados vistos na região eram pilotados por seres do espaço, que, de maneira inteligente, seguiam os meridianos e paralelos como uma forma de orientação em sua navegação. Isso me ocorreu na época, embora nunca tivesse estudado isso antes.
Quanto tempo você passou nas áreas atingidas?
Fui muitas vezes aos locais, sendo que, em uma ocasião, fiquei em Colares por cinco dias e noites, em duas delas dormindo em cima do mercado da vila. O Ribamar ia comigo às vezes e muitas outras sozinho. Tanto que fez centenas de fotografias dos objetos. Ele levava rolos e mais rolos de filmes e todos acabaram sendo confiscados pela Aeronáutica, centenas deles. O Biamir Siqueira também teve muitas experiências. Em uma vez, ele e o Ribamar foram atacados pelas luzes em uma estrada da Baía do Sol.
Algo assim chegou a acontecer com você em alguma ocasião?
Não, comigo não aconteceu nada, nem nas duas noites que passei em Colares. O estranho é que, onde eu estava, nada acontecia. Mas a alguns quilômetros dali, sim. Inclusive com o Ribamar, que tinha fotografado um UFO na Baía do Sol. Havia até uma competição entre os fotógrafos para ver quem conseguia mais imagens.
A Baía do Sol era o local preferido dos ETs?
Sim, a Baía do Sol era o point. De lá se vê, do outro lado do rio, a Ilha de Mosqueiro, e mais à frente está Colares. Curioso era que às vezes o chupa-chupa aparecia de um lado do rio e não do outro. Noutras vezes, era o contrário. Eram tantos os casos que as pessoas faziam fila para me dar entrevista, dizendo que tinham sido atingidas pelas luzes bem ali onde eu estava. As noites eram de pânico na cidade e se ouvia muito o barulho dos moradores batendo latas e soltando fogos.
Mas eu não via nada…
Por que as pessoas de Colares soltavam fogos e batiam latas?
Quando nós chegamos finalmente a Colares, os moradores nos diziam que estávamos pegando o fim da onda, os últimos instantes do fenômeno. De fato, nós não pegamos o auge do chupa-chupa porque ele se deslocou da Baía do Sol para Colares. As pessoas nos descreviam que passavam noites e dias correndo e se escondendo dos objetos. E para tentar afugentá-los, o prefeito pedia a todos que batessem latas e panelas. Ele mandava dar fogos de artifício e café forte para os moradores, para que não dormissem e repelissem os ataques. Ademais, bater latas e soltar fogos também servia para comunicar que as luzes estavam chegando, atingindo uma determinada casa etc. As pessoas já estavam vivendo isso há muito tempo. Até mesmo os animais eram afetados. Teve um casal atacado, que entrevistei, cujo cão ficou mudo e não latiu mais.
O que lhes aconteceu foi um fenômeno conhecido na região como luz translúcida, uma fonte de intensa luminosidade que atravessa o teto das casas, escolas, lojas, igrejas e até carros, e clareia o interior como se fosse dia. Foi exatamente isso
Mas o perigo era tão grande assim?
Era. As pessoas descreviam que os UFOs davam voos rasantes de 30 m de altura sob as árvores, quase beirando as casas. No local a vegetação é primária, de árvores típicas da Amazônia, que chegam a ter 30 m de altura. São castanheiras, mognos, maçarandubas etc, e os objetos chegavam ao topo delas. Na ilha de Colares, o maior vilarejo tinha uns 1.500 moradores, era um núcleo urbano mais próximo da beira do rio. Noutros lugares moravam umas 200 ou 300 famílias e nas regiões mais afastadas havia umas 10 a 20 casas aqui e ali. Eram todos pequenos núcleos dentro da mesma ilha, onde as luzes atacavam mais regularmente.
O fenômeno ocorria simultaneamente em toda a região? Ou se concentrava em algum lugar?
Sim, ele aparecia dessa forma. Algumas luzes se deslocavam da Baía do Sol para Colares, da Vila Nova de Imbituba para Vigia, tudo na mesma noite. Havia casos de agressões ocorrendo ao mesmo tempo em várias localidades. Inclusive de naves grandes sendo vistas em um vilarejo e, logo depois, atacando outro local. O Ribamar fez diversas fotos desses fenômenos, mas elas foram confiscadas.
Você acredita que o capitão Hollanda subestimou o fenômeno que ocorria no Pará?
Sim, creio que ele o subestimou e tentou caracterizá-lo como uma forma de histeria coletiva, manifestada em pessoas sem nenhum nível
cultural, ignorantes. Mas o primeiro relatório foi bem pior e até preconceituoso. Porque as pessoas entrevistadas por Nascimento eram pobres, humildes e tratadas com desprezo. Inclusive, em seu relatório, Nascimento definiu duas pessoas entrevistadas por ele como tendo “fortes traços mongoloides e de cretinismo”. O brigadeiro Protásio não gostou do resultado.
O que aconteceu, então?
Quando o primeiro relatório caiu nas mãos do brigadeiro, ele decidiu executar um trabalho mais sério e profissional, e encaminhou uma equipe que acreditava em inteligências superiores para ir às áreas atingidas investigar os casos. Essa equipe era a Operação Prato e levou em consideração a sinceridade com que as testemunhas e vítimas descreviam os fenômenos. Logo de cara, Hollanda compreendeu que havia algo sério acontecendo, pois pessoas de localidades diferentes, que não se conheciam, morando 40 ou 50 km entre si e que nunca saíram do seu vilarejo — a não ser para pescar e plantar —, narravam as mesmas histórias, com semelhanças incríveis. A impressão que eu tive quando vi seus depoimentos é que aquelas pessoas não foram vítimas de alucinação.
Não havia na Ufologia Brasileira a informação de uma investigação prévia do chupa-chupa, antes da Operação Prato? Como se confirma isso?
Sim, houve. Mas sem grandes consequências e sem a aprovação da direção do COMAR I. Houve um direcionamento do sargento Nascimento para que a origem dos UFOs fosse vista pelos moradores como infiltrações comunistas e de guerrilheiros. Isso servia para desviar a atenção de todos para a real natureza dos acontecimentos. Creio que o Hollanda, quando assumiu a Operação Prato, também tinha instruções para dar esse tratamento aos casos. Acho que essa era uma determinação direta do comando da Aeronáutica, em Brasília, e não tanto do brigadeiro Protásio. Os militares queriam aproveitar a conotação dada pela extinta revista Manchete, na época, que chegou a publicar que os russos estavam desenvolvendo uma nova arma de guerra que poderia afetar a hegemonia norte-americana. A ideia era empregar isso como origem para o chupa-chupa. Eu nunca li essa matéria na Manchete, mas isso consta no relatório do capitão Uyrangê Hollanda.
O Hollanda foi aos locais tentar explicar às pessoas que os ataques eram uma invasão russa ou norte-americana?
Sim. Não diretamente ele, mas seus subordinados. E vou dizer mais: eu não estava em Colares no dia, mas soube logo após que os militares da Aeronáutica levaram uma máquina de projeção e passaram um filme da descida do homem à Lua, como uma forma de induzir a população a crer que se tratasse da mesma coisa. Isso nunca foi publicado.
Qual foi a reação das pessoas diante disso?
Houve uma plateia grande e até mesmo o padre de Colares, Alfredo de Lá Ó, um norte-americano estudioso de Ufologia, tentou convencer as pessoas que aquilo que o Hollanda e seus homens estavam mostrando era verdade. Todos queriam convencer os moradores da ilha a crerem que estavam vendo uma invenção do próprio homem, e não de uma coisa do espaço exterior. A ideia da invasão russa ocorreu porque, em 1977, vivíamos a época da ditadura e de caça a comunistas. Estávamos em uma fase intensa de repressão, inclusive no Pará, com a Guerrilha do Araguaia. Assim, caso a ideia de invasão norte-americana não funcionasse, tinha a da invasão russa.
As vítimas alegavam que corriam apavoradas, mas quase sempre caíam desmaiadas, sem se lembrar de mais de nada. Outros também ficavam paralisados, viam as luzes e sentiam um formigamento pelo corpo, mas não podiam reagir
A intenção de Hollanda de acobertar o fenômeno com essas estratégias perdurou até o final da Operação Prato?
Não, ele não resistiu aos depoimentos das pessoas, ao medo e ao pavor que demonstravam, coisas que superavam qualquer tipo de lavagem cerebral militar. Mesmo assim, eles tentavam estratégias também com os jornalistas e fotógrafos. Uma vez, estando em vigília em Colares, sentíamos reflexos de alguma luz em nossas costas. Eram os militares disparando flashes em nós. Talvez para nos fotografar, talvez para nos intimidar.
Você considerou isso como uma forma de repressão por parte do militar?
Sim, mas não apenas isso. Uma vez os militares nos procuraram quando estávamos para sair da ilha, para tentar nos intimidar. Estávamos comendo um peixe lá na beira do rio e o Hollanda sentou em uma cadeira e me disse: “Você é o Carlos Mendes. Eu te conheço das manifestações esquerdistas”. Ora, como jornalista, eu cobria em Belém muitas manifestações, quando pessoas foram presas, torturadas etc. E os militares acompanhavam nossos passos como uma forma de tentar ter controle do que publicaríamos.
Você acha que o Hollanda fazia parte da política de repressão?
Isso eu não sei, mas ele era do Serviço Nacional de Informações, o antigo SNI, que era quem fazia as torturas e tudo mais. E era também ligado ao Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica (CISA) [Uma espécie de serviço de espionagem interno na instituição]. As pessoas falavam na época que o Hollanda não tinha participação direta nas torturas, mas várias que foram torturadas o reconheceram como um dos agentes que colhiam informações sobre supostos subversivos. A imprensa tinha medo dele, pavor.
Foi nesse clima de medo que se deu o confisco das fotografias do Ribamar?
Creio que sim. O que eu ouvi falar é que ele esteve nas redações de O Liberal e da Província do Pará também, mas nelas ele não encontrou muita coisa, porque suas equipes não conseguiram fotografar o chupa-chupa. Esses jornais não tinham uma missão específica de averiguar esses fatos, enquanto O Estado do Pará, que era o meu jornal, sim. Eu tinha motorista, fotógrafo, combustível e dinheiro a minha disposição. O Ribamar e o Siqueira, como repórteres que já trabalhavam juntos cobrindo área policial, estando todo dia em ação, largavam tudo à noite e iam para as áreas atingidas. Faziam vigília na Baía do Sol, Mosqueiro, Colares etc, e foi assim que eles conseguiram fotografar os fenômenos.
Chegou a se levar a sério que os UFOs poderiam ser realmente naves de alguma outra nação? Havia realmente esse temor?
Não, não havia. Isso foi artificialmente plantado. Por isso que eu digo que essa orientação veio de Brasília, do Estado Maior das Forças Armadas (EMFA). Como se sabe, a Amazônia sempre foi vulnerável às invasões estrangeiras, de maneira que a justificativa de uma experiência russa na área poderia dar certo.
Após
as desculpas russas e norte-americanas, dos confiscos e das ameaças, você continuou indo aos locais atingidos, depois do encerramento da Operação Prato?
Depois que ela se encerrou, eu me afastei. Cheguei a voltar algumas vezes a Colares, mas para me divertir e conversar com as pessoas com que fiz grandes amizades, que ainda conservo. Procuro saber como estão hoje as vítimas do chupa-chupa e fico contente que algumas continuem vivas. O Newton Cardoso, por exemplo, que teve uma experiência marcante em Colares. Uma vez ele achou uma sonda meteorológica e me ligou falando que tinha achado um disco voador…
Em dezembro de 1977, quando foi encerrada, já eram conhecidos os resultados da Operação Prato?
Não. A operação foi mantida sob rigoroso sigilo, inclusive pela imprensa do Pará. Não era para vazar nada. Somente depois é que alguns fatos foram aos poucos surgindo e nos dando uma ideia da dimensão dos acontecimentos e do envolvimento militar.
Fala-se muito que, quando o chupa-chupa estava em sua plenitude, as pessoas tinham pavor de pescar e plantar, que não saíam de casa e que o fenômeno estava prejudicando sua vida. É verdade?
Sim, prejudicou muito, inclusive a produção de peixe na região da Vigia e da Ilha do Marajó, que são riquíssimas em pescado e abastecem o Pará e as exportações. Houve uma grande queda na produção por causa do medo das luzes que atacavam. Ninguém gostava de sair para o rio e se arriscar.
Você conhece casos de pescadores atingidos?
Conheço várias histórias. Na praia do Cajueiro, por exemplo, em uma certa noite, três pescadores saíam para pescar e tiveram uma surpresa. Eles acabaram de entrar no barco, ajeitaram sua rede e estavam para atravessar toda a Baía de Marajó, para pescar em uma área muito piscosa chamada Canal do Meio, quando foram surpreendidos pela luz e voltaram correndo para suas casas…
Você avalia que, hoje, o fenômeno diminuiu em intensidade e gravidade ou permanece a mesma coisa?
Em relação ao Estado do Pará as manifestações continuam, mas não na intensidade daquela época, que foi absurda e única em todo o mundo. Pelo menos, até onde sei, nunca se teve conhecimento de que durante um certo tempo tantas luzes investissem contra as pessoas, agredindo-as. Hoje há mais espaçamento entre os relatos que nos chegam, mas os casos continuam ocorrendo. Há pouco tempo, o Ubiratan Pinón Frias [Piloto civil que esteve envolvido com a Operação Prato], me comunicou casos em Alenquer e Oriximiná, como o aparecimento de luzes constantes. Nessas localidades, os agricultores e pescadores estão apavorados com a manifestação dos objetos, mas ainda não há registros de ataques. Nada que se compare ao fenômeno chupa-chupa dos anos 70 e 80.
Carlos, você falou que a vida das pessoas atacadas pelo chupa-chupa acabou se deteriorando. Isso ocorreu a muita gente, que ainda não se recuperou e tem saúde física e emocional abalada. Sabemos que a vida do capitão Uyrangê Hollanda também foi comprometida por ele ter se envolvido com o fenômeno. A de seus colegas de farda, que também serviram a Operação Prato, idem. O que você pensa disso?
Nessa outra fase da vida do Hollanda, meus contatos com ele foram muito escassos para eu poder avaliar. Mas enquanto minha convivência com ele e outros militares da operação durou, ainda em Belém, isso podia ser constatado. Muita gente sofre até hoje de depressão, cansaço injustificado, pouca imunidade a doenças etc, após ter sido atacada pelo chupa-chupa [A doutora Wellaide Cecim Carvalho confirma isso. Veja entrevista nesta série].
Você e o Hollanda chegaram a ter algum convívio social?
Não, não tivemos nada semelhante a uma amizade ou convívio. Conheci o Hollanda na redação de O Estado do Pará e nas manifestações, onde ele geralmente estava em veículos com chapa fria, fotografando protestos nas ruas de Belém. Naquela época, como jornalistas, éramos todos vistos como perigosos e subversivos. Uma vez o Hollanda me perguntou se eu era comunista e qual era a minha ideologia. Eu lhe disse: “Olha, capitão, comunista eu não sou. Porque, se eu fosse, estaria rico. Não conheço nenhum comunista, inclusive aqui no Pará, que seja pobre. Eles são fazendeiros, pecuaristas, donos de grandes estabelecimentos etc”. Ele propôs que quebrássemos o gelo e passássemos a nos conhecer melhor. Disse-lhe que, da minha parte, não havia problema. Se eles não interferissem em meu trabalho, eu não interferiria no dele.
O que você sabe sobre a vida posterior de Hollanda, após a Operação Prato?
Tive contato com alguns agentes do serviço de informação da Aeronáutica, que me disseram que ele começou a beber, se separou da esposa, teve brigas com familiares e agressões, em parte devido ao seu próprio comportamento, pois não se relacionava bem com os colegas de trabalho. No COMAR I ele era visto como um maluco, uma pessoa sem muita credibilidade. Mas essa não foi a impressão que eu tive ao conversar com o brigadeiro Protásio, que tinha grande admiração por Hollanda e o considerava um militar altamente disciplinado, competente, homem de extrema inteligência e confiança.
Foi essa confiança que o brigadeiro Protásio tinha em Hollanda que fez com que o chamasse para coordenar a Operação Prato?
Sim, e o brigadeiro me disse que ele tinha a preocupação de perguntar ao Hollanda se tinha visto alguma coisa na mata. Quando ele respondia que não, no começo da operação, o brigadeiro falava: “Então volte para lá. Alguma coisa anormal está acontecendo em Colares e você precisa descobrir”.
O Hollanda era visto como um maluco. Mas essa não foi a impressão que eu tive ao conversar com o brigadeiro Protásio, que tinha grande admiração por ele e o considerava um militar disciplinado, competente, de extrema inteligência
Quando a operação foi encerrada, Hollanda ficou muito frustrado, pois ela estava dando excelentes resultados, inclusive contatos com as naves. De quem ou de onde você acha que a ordem de encerrar a missão militar partiu?
A ordem veio de Brasília. Eu conhecia bem o brigadeiro Protásio e ele confiava no Hollanda. Ele também acreditava em vida inteligente fora da Terra, que seres superiores existiam etc. Não creio que ele fosse suspender a operação. Se o Hollanda acabou por confirmar estar testemunhando UFOs e o Protásio admitia a existência de inteligências superiores, isso certamente aguçaria ainda mais sua curiosidade e determinação em manter a Operação Prato ativa. Não havia sentido que ela fosse encerrada — exceto, claro, tendo a ordem partido de Brasília. O EMFA estava sendo continuamente informado do que se passava na selva, desde a primeira missão com o sargento Nascimento, e decidiu ence
rrar o trabalho de Hollanda. Foi uma situação que acredito inesperada para ambos.
Considerando a extrema gravidade dos fatos que ocorriam com os militares da Operação Prato, e estando o brigadeiro Protásio tão próximo das áreas atingidas, você acredita que ele fora aos locais para ver e também tentar contatar o fenômeno?
Eu desconheço, pois ele nunca tratou do assunto desta forma. Agora, se ele guardou algum segredo com relação a isso, deve estar nos arquivos da Aeronáutica. Nesta pergunta você levanta o x da questão. Ora, como é que o chefe do homem que está comandando a operação, que recebe dele o relato de que na Baía do Sol seus agentes tiveram contato com os seres extraterrestres, iria resistir à tentação de ir pessoalmente aos locais de avistamento para ter o seu próprio?
Temos informações seguras de que não somente o brigadeiro Protásio, mas uma numerosa equipe de militares de Brasília esteve em Colares e Mosqueiro, para todos verem com seus próprios olhos o que estava se passando.
Eu soube em Colares, depois que a Operação Prato foi encerrada, que várias outras equipes de militares foram à ilha. É por isso que acredito que é importante que a Aeronáutica venha a público revelar suas investigações e informar o que Hollanda apurou. Mas temo que muita coisa que se produziu aqui no Pará — documentos, fotos e filmes — já nem esteja mais no Brasil. Já ouvi o boato, inclusive partindo de um militar da Aeronáutica, de que o material está em poder do governo norte-americano. É sabido que eles vinham ao Brasil constantemente e iam com nossos militares a Mosqueiro, Colares e até Vigia. Há um relatório sobre essa atividade conjunta, mas ele é guardado a sete chaves.
Tendo acompanhado detalhadamente os fatos na época, analisado tudo e tido todo esse tempo para refletir, qual sua opinião hoje sobre o que eram aquelas luzes?
Eu continuo com o mesmo sentimento intrigante que me levou a Colares naquela época, há três décadas. Quero saber de fato o que aconteceu com aquelas pessoas, qual o objetivo dessa onda de luzes, o que elas eram e que tipo de pesquisa faziam com aquela gente. Tem um trecho do relatório do sargento Nascimento em que ele diz que “eram luzes guiadas por objetos inteligentes”. Essa foi a única coisa que ele falou ali de proveitoso. Creio nisso certamente: as luzes
eram inteligentemente controladas.
Eram naves, eram seres?
Aquelas luzes não têm uma explicação comum. Ninguém até hoje soube compreender o que foi o chupa-chupa, um fenômeno único na Ufologia Mundial e que mexeu com o sentimento de pescadores e lavradores muito humildes de comunidades ribeirinhas da Amazônia, que até hoje continua na memória das pessoas. Elas foram aterrorizadas pelos objetos voadores não identificados e tinham até um sentimento de culpa, pois eram extremamente religiosas e achavam que tinham sido “escolhidas”. Muitas acreditavam que estavam pagando algum pecado que cometeram e que estariam recebendo uma espécie de vingança, uma punição divina. Enfim, para muita gente, as luzes eram um castigo de Deus. Mas, na verdade, as pessoas estavam servindo de cobaias de algo ou alguém.
Repórteres atacados no Pará
Um dos casos mais impressionantes contados pelo jornalista Carlos Mendes deu-se com seus colegas Biamir Siqueira e José Ribamar dos Prazeres, em julho de 1977, antes da Operação Prato. Este último estava como motorista do Fusca de O Estado do Pará, tendo Siqueira ao seu lado. Em uma estrada a caminho da Baía do Sol, uma luz os atacou. “Biamir, você está notando um clarão na estrada, atrás da gente?”, perguntou o motorista. “Então vamos parar para ver o que é”, respondeu o colega. Os repórteres pararam o veículo mas não tiveram tempo de sair — o local onde estacionaram ficou todo iluminado de repente.
O que lhes aconteceu foi um fenômeno conhecido na região como luz translúcida, uma fonte de intensa luminosidade que atravessa o teto das casas, escolas, lojas, igrejas e até carros, e clareia o interior como se fosse dia. Foi exatamente isso o que ocorreu dentro do carro deles. Siqueira e Ribamar sentiram um desconforto muito grande dentro do veículo — eles ficaram paralisados com a luz entrando pelo teto. Nenhum deles conseguia olhar para cima, com medo de ficarem cegos. E também não podiam saltar do carro, que simplesmente perdeu sua força e estancou na estrada.
Mas houve um momento em que a luz diminuiu de intensidade e eles pensaram que o foco havia cessado, quando tentaram correr. Ao sair do automóvel, Ribamar tentou olhar para cima e sua vista começou a arder, como se estivesse olhando para o Sol durante o dia. O objeto permanecia lá, mas a paralisação havia terminado. Então, ele bateu fotografias do fenômeno e as publicou. O objeto parecia estar a 50 ou 60 m de altura e Siqueira o definiu como sendo uma grande nave-mãe.