Já estava anoitecendo em 21 de agosto de 1955 no condado de Christian, no Kentucky. Em uma fazenda remota, os moradores foram visitados por estranhas criaturas que lembravam duendes das histórias infantis. Luzes estranhas iluminavam os céus sobre a fazenda. Os moradores, o pessoal na cidade mais próxima, a polícia estadual, a polícia local, três xerifes do condado e quatro oficiais da polícia militar de Forte Campbell do Exército se aglomeraram na fazenda. Os donos da propriedade disseram que eram entre 12 a 15 criaturas pequenas rondando a casa, observando o interior pelas janelas.
Tiros foram disparados enquanto os Suttons, os donos da propriedade, tentavam afastar os invasores. Eles até perseguiram as criaturas pela plantação com as armas em punho por cerca de quatro horas. Os policiais e os militares vasculharam a fazenda e não encontraram evidências do bizarro encontro. No dia seguinte, vizinhos contaram às autoridades que a família empacotou tudo o que podia e partiu, porque as criaturas teriam voltado às três da manhã para tocar o terro de novo.
O evento ficou conhecido como o Caso Kelly–Hopkinsville e ficou famoso entre ufólogos e curiosos. Steven Spielberg soube a respeito enquanto fazia pesquisas para Contatos Imediatos de Terceiro Grau, um dos mais amados filmes de contato alienígena. A história sobre os eventos bizarros do Kentucky sempre ficou em sua cabeça e ele guardou aquilo para uma possível sequência de Contatos Imediatos que exploraria o lado mais terrível do contato com visitantes de outro planeta.
Os Suttons nunca venderam os direitos de sua história para um estúdio de cinema, mas Spielberg podia usar como inspiração. Assim ele chamou seu chegado, Ron Cobb (o criador do DeLorean e da Nostromo, de Alien), produtor, para que contratasse um roteirista que transformasse essa inspiração em um filme. O roteirista era John Sayles, de Piranha (1978) e o resultado foi Night Skies (tirado da frase “Watch the Skies” de Os Invasores de Corpos). A história é a seguinte: uma família é visitada por criaturas pequenas, com olhos grandes como de insetos. Eram cinco criaturas: Hoodoo, com poderes telepáticos, Klud e Squirt, um alien mais novo chamado Buddee e o mais assustador do grupo, Skar, que pode mutilar uma pessoa com apenas um toque de seus dedos longos e deformados. O enredo foca nas crianças dessa família, uma adolescente e dois irmãos mais novos.
Spielberg e Cobb trabalharam nos storyboards e seguiram em busca de financiamento. Steven até convidou Cobb para ser o diretor, enquanto o designer Rick Baker (ele foi o responsável pelos zumbis de Thriller, de Michael Jackson) começava a trabalhar nas criaturas bizarras da história. Baker começou com um protótipo para as criaturas de 70 mil dólares. Enquanto ele trabalhava nas criaturas, Spielberg foi para o norte da África para as gravações de Indiana Jones e os caçadores da arca perdida. Kathleen Kennedy, parceira de produção de longa data de Spielberg, ficou tão empolgada com os protótipos de Baker que injetou mais dinheiro no projeto e Baker contratou mais gente para trabalhar.
Entretanto, Spielberg estava preocupado com o ar sombrio do longa e a Columbia não gostou nadica de ver os custos subindo. Sentado em sua cadeira de direção durante os intervalos das gravações de Indiana Jones, ele comentou sobre Night Skies e o medo de que a produção seria um fracasso de bilheteria. A pessoa que o ouvia atentamente era a roteirista Melissa Mathison, na época namorada e depois esposa de Harrison Ford. Ela passou os olhos no roteiro de Night Skies e encontrou o ponto focal do enredo: as cenas em que os aliens interagem com o filho mais novo da família. Esta deveria ser a história, era isso o que deveria ser filmado.
Spielberg concordou. Tanto que a cena final de Night Skies era alien Budeee preso na Terra, abandonado por seus colegas aliens. Melissa logo sacou que aquela deveria ser a cena de abertura e não o final. Com a autorização de Steven, ela começou a escrever o roteiro de E.T, o Extraterrestre, focando no garoto dos subúrbios, de pais divorciados (tal como o próprio Steven Spielberg). Dois meses depois, no final de 1980, ela o entregou a Spielberg que amou o conceito e a história. Ele cancelou o projeto de Night Skies e tomou para si a cadeira da direção.
Quem não gostou dessa mudança foi a dona Columbia, que já tinha investido uma grana nesse filme. Spielberg bateu o pé, levou o projeto para os estúdios da Universal Pictures, que pagou para a Columbia os custos iniciais do investimento. Para o azar da Columbia, E.T. o Extraterrestre foi um sucesso estrondoso, tornando-se o filme mais lucrativo de toda a década de 1980. Ah, se arrependimento matasse, né Columbia? Ron Cobb perdeu a cadeira de direção e foi franco em admitir que não curtiu o filme E.T. , mas sua esposa se deu ao trabalho de ler o contrato da produção e descobriu que Cobb tinha direito a 1% dos lucros do filme. Faz a conta aí, 1% de 792,9 milhões de dólares.
Quando Spielberg contou a Baker que ele não faria mais Night Skies, Baker quase chorou de desespero. Steven o convidou para participar de E.T. para fazer uma versão “fofa” dos aliens que ele tinha criado. A coisa desandou, os dois trocaram xingamentos, ameaçaram um ao outro de processo e Spielberg acabou por confiscar todos os protótipos já feitos. Baker ficou trancado para fora do próprio estúdio, enquanto Spielberg chamava Carlo Rambaldi para seu lugar. É bem óbvio pelas imagens acima que Rambaldi usou ao menos um dos protótipos de Baker na produção.
Ainda que Night Skies nunca tenha se tornado um filme, seu conceito está diluído em várias produções por aí. De Poltergeist a Gremlins, até o filme Sinais, a visão de aliens ou seres de outro mundo aterrorizando os humanos se tornou bem popular. Um caso bizarro que começou no Kentucky e acabou ganhando o mundo e até uma galáxia muito, muito distante.
Thiago Luiz Ticchetti
Coeditor da Revista UFO
Diretor de Relações Internacionais da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU)
Diretor Nacional da MUFON no Brasil
MUFON Field Investigator
MUFON STAR Team
MUFON ERT
Representante do Brasil na International Coalition for Extraterrestrial Research (ICER) – Brasil
Coeditor e Coordenador do CIFE
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