
A história da Ufologia na Bahia remonta aos anos 50, quando, após as ondas de aparições de UFOs em todo nosso território, de norte a sul, o assunto passou a despertar a atenção e a curiosidade públicas, ainda que refletidas timidamente na imprensa. Os fatos ufológicos que se sucederam, tanto no Brasil quanto no exterior, foram marcos importantes neste processo histórico de mais de 47 anos – período considerado Era Moderna dos Discos Voadores. As primeiras notícias de ocorrências do Fenômeno UFO na Bahia foram verificadas ainda no final dos anos 40, em pleno pós-guerra. Porém, estas são notícias vagas e na imprensa baiana seu registro é quase inexistente. Apenas em depoimentos prestados cerca de 25 após acontecerem os fatos, algumas testemunhas ainda descrevem avistamentos de 1º grau nessa época e nada mais.
Mas de 1952 em diante, com a gigantesca onda de aparições de UFOs nos EUA e no resto do mundo, e 1954, especialmente no Brasil e na França, as coisas tomariam outro rumo, com registro de várias interessantes ocorrências na Bahia. Como a manifestação do Fenômeno UFO é planetária, a quantidade e freqüência com que as aparições foram chegando ao conhecimento público foram aumentando, produzindo um feedback natural: quanto mais as pessoas ouviam falar sobre UFOs, mas elas iam à imprensa também prestar depoimentos de suas experiências, que, quando divulgados, estimulavam ainda mais pessoas a se apresentarem. E assim por diante, num moto-continuo.
Espaço limitado – Neste período, o espaço para a Ufologia nos noticiários da imprensa escrita era ainda muito pouco e tinha um acentuado tom de fantasia, gozação e inverosimilhança, em parte inibindo as testemunhas e criando uma barreira de comunicação. No Brasil, afinal, UFOs ainda eram especulação, enquanto que nos EUA e Europa já eram motivo de programas governamentais de pesquisa. Até certo ponto, isto é explicável: um fenômeno da magnitude dos UFOs, com toda a sua complexidade cultural, científica e psicológica, dentre tantas outras, causou um impacto substancial na mentalidade pacata e conservadora do povo brasileiro, e no caso em questão, o baiano, especialmente considerando-se isso ter-se dado nos anos 40 e 50. Era natural! Dificilmente este imenso choque e sua conseqüente reação não deixariam de ocorrer, tanto por ser o Fenômeno UFO um petardo demolidor, quanto um verdadeiro desestabilizador de postulados, teorias e conceitos sobre o universo e a vida inteligente na Terra. Um verdadeiro detonador dos pilares da sociedade planetária, que traz em seu bojo recursos para pôr em xeque-mate conceitos históricos, políticos, religiosos e científicos, apenas para citar alguns…
Um fenômeno da magnitude dos UFOS, com toda sua fantástica complexidade cultural, científica e psicológica (dentre tantas outras) causou um impacto substancial na mentalidade pacata e conservadora do povo brasileiro das décadas de 40 e 50 e, em especial, o baiano
O Fenômeno UFO representava algo “novo”, uma transformação irreversível, especialmente com o mundo saindo de uma guerra e as nações ainda envolvidas nela estarem em um novo momento da história. O Brasil, de certa forma, ainda que com grandes diferenças, passou por esse processo cultural de renovação, justamente na época em que os UFOs decidiram aproximar-se definitivamente de nosso planeta [Editor: logo após as primeiras explosões atômicas experimentais nos desertos do sul dos Estados Unidos, a partir de 1942]. Não é coincidência que, após as ondas ufológicas de 1952 e 1954, a Força Aérea Brasileira (FAB) tivesse criado sua primeira comissão oficial para estudar o fenômeno, dirigida pelo coronel João Adil de Oliveira. Evidentemente, tais primeiras movimentações foram cobertas pela imprensa, especialmente pela revista O Cruzeiro, em matérias onde o repórter João Martins não fazia nenhuma questão de deixar transparecer que as atividades da FAB eram orientadas pelos colegas fardados da América do Norte.
Em 1957 e no ano seguinte, outra onda ufológica fantástica viria a acontecer no Brasil, culminando com as primeiras fotos conhecidas de UFOs feitas na Bahia. Foram anos de grande movimentação, com ocorrências em inúmeras localidades de todo o litoral baiano. Ainda em 24 de abril de 1959, na praia de Piatã, em Salvador, o cidadão Hélio Aguiar conseguiu o intento de registrar em várias chapas a passagem de um UFO em plena luz do dia. O caso tornou-se um verdadeiro clássico da Ufologia mundial e um importante referencial dentro da casuística ufológica. A experiência de Aguiar, por tão conhecida, não precisa ser reproduzida aqui, mas serve, ainda hoje, de exemplo de ocorrência padrão para ufólogos de todos os continentes.
Anteriormente à essa época, as notícias de observações, pousos e contatos com UFOs e extraterrestres já começavam a ganhar certa publicidade, particularmente com aparições em Barreiras e outras cidades do interior baiano. Foi nessa época que, em todo o extenso Recôncavo Baiano, Itaparica e Baia de Todos os Santos, deu-se uma das mais importantes observações ufológicas deste Estado. Em 4 de dezembro de 1957, dois UFOs foram observados justamente sobre o quartel-general do Exército, na Mouraria, culminando com um verdadeiro espetáculo aéreo sobre o largo da Costa de Camamú. Os objetos foram observados inclusive por toda a tripulação do rebocador da Marinha brasileira Triunfo, comandado pelo capitão Carneiro Ribeiro.
Essa não era a primeira vez que militares registravam o Fenômeno UFO, mas era uma das ocasiões mais importantes em que estiveram frente a frente com estas naves, o que, evidentemente, estimulou os generais brasileiros a pesquisarem o assunto, embora isso tenha ocorrido, a princípio, sigilosamente.
Em 2 de janeiro de 1958, os fatos ufológicos ganhariam aspectos ainda mais dramáticos com as fotos feitas durante o Ano Geofísico Internacional pelo fotógrafo, também baiano, Almiro Baraúna. Baraúna, hoje residindo em Niterói, estava a bordo do navio da Marinha Almirante Saldanha, numa viagem de treinamento ao largo da ilha de Trindade, no litoral do Espírito Santo. Grande quantidade de militares de altas-patentes encontravam-se no navio, onde também estava o fotógrafo baiano contratado para realizar fotos das rochas da ilha. De repente, um enorme objeto em forma de Saturno despontou no horizonte e fez uma série de evoluções sobre o local, rodeando a ilha. Imediatamente, Baraúna fotografou a cena – e por várias vezes. As fotos foram motivo de imenso interesse em todo o país e acabaram sendo liberadas para o público pelo próprio presidente Juscelino Kubitschek. É desnecessário dizer que as fotos de Baraúna, assim como as de Aguiar, ainda que em menor escala, rodaram o mundo e até hoje são publicadas em livros em revistas de Ufologia.
Interceptação – Como outr
o exemplo de um bom caso ufológico baiano podemos citar também o ocorrido entre 1955 e 1957, em data não apurada corretamente, próximo das cidades de Nazaré das Farinhas e São Roque do Paraguaçu. A ocorrência foi testemunhada por 4 ocupantes de um carro, que foram seguidos, interceptados e observados por ETs por nada menos do que 2 horas e à curta distância. A ocorrência teve vários desdobramentos e foi pesquisada na época por um médico baiano, cujo nome está reservado a seu pedido, que entrevistou exaustivamente as testemunhas e atestou a veracidade do fantástico fato. Casos de UFOs seguindo carros eram, até certo ponto, comuns no interior do Brasil durante os anos 50 e 60. Nessas décadas, casos excepcionais se verificaram em diversas localidades, de norte a sul do país.
Muitas testemunhos de observações foram perdidos ou esquecidos na Bahia pela falta de grupos de pesquisas e pesquisadores nas épocas em que ocorreram ou logo após. Igualmente, faltou um maior interesse e abertura sobre o assunto por parte da imprensa, além de um tratamento jornalístico mais receptivo e aberto. Com isso, muitas testemunhas de fatos e observações de grande importância sentiram-se inibidas e desestimuladas e exporem publicamente suas experiências, as vezes com medo do ridículo, da falta de compreensão e até do pouco entendimento sobre o assunto, sua complexidade e profundidade. E estamos falando das testemunhas sérias, e não dos aproveitadores ou mistificadores presentes em todas as épocas e situações.
Outros motivos que inibem os relatos de UFOs são a falta de informação sobre o assunto e a religiosidade da pessoa. No primeiro caso, uma testemunha ufológica não sabe da importância do que presenciou, não tem idéia de que alguém vá se interessar e sequer sabe a quem narrá-la. No segundo caso, pessoas religiosas escondem fatos ufológicos de suas vidas por várias razões, entre elas a de crerem que o que viram é “coisa do demônio”. No início dos anos 60, novamente outra onda de aparições ufológicas ocorre com observações principalmente em torno ou próximas do Aeroporto Internacional 2 de Julho, de Salvador, quando UFOs aparecem flutuando à baixa altura sobre as pistas de pouso e decolagem, geralmente à noite.
Conhecemos pelo menos 2 importantes casos ocorridos nessa ocasião, em que as testemunhas trabalhavam na aviação civil e militar. Porém, foi nos anos 1968 e 1969 que tivemos uma seqüência expressiva de aparições ufológicas, concentradas na Baia de Todos os Santos, na orla da capital e no litoral norte, estendendo-se até Serrinha, Feira de Santana e Jequié, já no sertão. Esta onda caracterizou-se principalmente por observações que variaram desde contatos visuais simples, de 1º grau, até grandes aproximações de UFOs e acompanhamento de veículos. Registramos, dentro da manifestação dessa onda, ocorrências de sobrevôo de zonas militares, acompanhamento de viajantes em animais (boiadeiros), simulação de pouso de UFOs, tentativa de captura de transeuntes e até captura de uma família inteira.
Como se vê, a onda, ao contrário das anteriores, promoveu uma variedade impressionante de ocorrências de todos os tipos. As observações do fenômeno começavam invariavelmente após o crepúsculo e continuavam até o amanhecer e nas primeiras horas do dia seguinte. Neste período da Ufologia Baiana, a mídia escrita, falada e televisiva abriu razoável espaço para os acontecimentos, noticiando os casos ufológicos com bastante destaque. Talvez porque, simultaneamente a onda ufológica baiana, nesta mesma época houve uma grande onda de observações que estendeu-se por todo centro-sul do Brasil, litoral do nordeste e leste do país.
Ufologia oficial – Tal movimentação culminou, em 1969, com a criação de uma nova comissão oficial de pesquisa da FAB, intitulada Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (SIOANI), sediada na 4° Comando Aéreo Regional (COMAR), em São Paulo, e com núcleos de operações em todo o Brasil – um inclusive na Base Aérea do Salvador [Editor: o CBPDV publicou material completo sobre o SIOANI, especialmente em suas edições Coleção Biblioteca UFO n° 1 (CB-01) e Temas Avançados n° 2 (TA-02), que podem ser obtidas através do encarte das páginas centrais]. Há variadas notícias de obser-vações de UFOs nos limites da Base Aérea de Salvador, porém sem confirmação oficial, como era de se esperar.
No ano de 1969 surgiu, na Bahia, o primeiro centro de pesquisas ufológicas, o Grupo de Pesquisas Aeroespaciais Zenith (G-PAZ), comandando pelo ufólogo argentino Alberto Romero, que se radicou na capital. Romero, com seus artigos sobre astronáutica, era espacial e discos voadores, publicados nos jornais locais, deu forte impulso à discussão do tema no Estado, abrindo espaço para a casuística ufológica inclusive no jovem Jornal da Bahia, com grande penetração junto à opinião pública. Já no fim dos anos 70, surge o movimento dos “clubes de ciência”, comandado pelo jornalista Adionel Mota Maia, onde a Ufologia estava presente. Daí para diante, a discussão sobre o as-sunto não cessou na Bahia, graças a esses pioneiros.
Os grupos de Ufologia baianos funcionam com as mais diferentes tendências, abrindo um vasto leque e ampliando a abordagem da Ufologia no Estado até novos conceitos no campo da espiritualidade e paranormaiidade. essa diversidade foi o embrião do que hoje chamamos de Ufologia Mística
Em 1972, surgem outros grupos ufológicos para acompanhar o G-PAZ, entre eles o ICLA, o Cosmos Vimana e o Gea – todos de tendências diferentes das dos grupos já existentes, abrindo um leque e ampliando a abordagem da Ufologia até novos conceitos no campo da espiritualidade e paranormalidade. Foi o embrião do que hoje chamamos de Ufologia Mística e suas variáveis. Na esteira de tamanha movimentação sobre o tema UFOs, a Bahia via acontecerem, a partir de 1973, os primeiros eventos ufológicos públicos, organizados em geral pelo G-PAZ. Programas de TV sobre Ufologia foram inaugurados e disso tudo surgiu o Centro de Estudos Exobiológicos Ashtar Sheran (CEEAS), fundado pelo jovem Paulo Fernandes e percorrendo dois caminhos diferentes, com o mesmo objetivo: desvendar e entender o maior enigma do século e compreender as intenções dos ETs quanto à Humanidade.
O CEEAS existe até hoje, tem mais de duas décadas de existência e é um dos mais importantes centros de pesquisas do Brasil, promovendo anualmente a série de eventos Congresso Nacional sobre Discos Voadores, cuja próxima edição será em outubro. Devido a grande divulgação dada à Ufologia a partir dos anos 70, importantes casos foram registrados. Em especial, em 21 de maio de 1972, deu-se o famoso Caso Liberdade, no bairro de mesmo nome da capital. D
epois, em 1973, casos de contatos com ETs deram-se em Dias D’Ávila, envolvendo black-outs, marcas físicas, seqüestros etc. Coincidência ou não, nesta mesma época foi instalado o Polo Petroquímico de Camaçarí, importante indústria da região.