As novas imagens obtidas na semana passada pelo rover Perseverance da NASA parecem mostrar o 3I/ATLAS cruzando o céu noturno marciano enquanto passava pelo campo de visão da Câmera de Navegação Direita (Navcam) do explorador robótico, a partir de sua posição na Cratera Jezero.
As imagens recentes foram originalmente carregadas na página multimídia da NASA em formato raw. Desde então, fotos adicionais foram coletadas pela agência espacial, uma das quais foi posteriormente apresentada como a “Imagem da Semana” da NASA ( Nota do Editor: Embora o objeto na imagem abaixo tenha sido inicialmente interpretado por muitos especialistas e veículos de notícias como sendo o cometa 3I/ATLAS, outra identificação potencialmente mais provável é a da lua marciana Fobos, com a confusão surgindo devido à falta de informações atualmente disponibilizadas pela NASA em meio à recente paralisação do governo dos EUA).
Desde então, várias renderizações amadoras com composições de imagens da NASA também foram compartilhadas on-line em meio à atual paralisação do governo dos EUA, que interrompeu temporariamente a maioria das operações de agências governamentais como a NASA.
No entanto, a aparência estranha do objeto em algumas das imagens — particularmente seu formato alongado — aumentou as especulações existentes de que o 3I/ATLAS poderia ser algo mais complexo do que apenas um cometa incomum.
“3I/ATLAS avistado novamente e, desta vez, não parece um cometa”, escreveu um usuário do X operando sob o nome “Leo Orwelliano” em uma postagem no domingo, descrevendo o 3I/ATLAS como apareceu nas imagens recentes como um “cilindro brilhante perfeito flutuando pelo céu marciano”.
“Nenhuma pluma de poeira. Nenhuma fragmentação. Apenas… estrutura”, dizia a publicação. “Vocês percebem que isso está acontecendo agora a 68 quilômetros por segundo? O que realmente estamos vendo aqui?”
Em meio a postagens semelhantes sobre o suposto formato alongado do 3I/ATLAS, alguns usuários também fizeram comparações entre o objeto que aparece nas imagens recentes do Perseverance e um exemplo de arte rupestre antiga retratando um formato longo, escuro e elíptico que superficialmente lembra as fotos recentes da NASA.
“Das paredes das cavernas aos telescópios, nossos olhos nunca deixaram as estrelas”, escreveu uma usuária do X, Camila Dias, em uma postagem no fim de semana.
“3I/ATLAS é o eco de uma antiga promessa”, acrescentou o post.
Embora muitos tenham interpretado o formato aparentemente alongado do objeto mostrado nas imagens do Perseverance como mais uma evidência apoiando especulações de que o 3I/ATLAS poderia ser uma forma de tecnologia extraterrestre, neste caso, há uma explicação muito mais simples para sua aparência.
O que as imagens do Perseverance realmente mostram é um artefato causado pelo movimento do objeto (que pode ser, na verdade, a lua marciana Fobos), em vez de qualquer representação precisa da forma e estrutura do 3I/ATLAS. Na ocasião em que as imagens foram obtidas pela Navcam Direita do Perseverance, às 21h33min39s (horário solar local de Marte) de 4 de outubro, o 3I/ATLAS estava a cerca de 38 milhões de quilômetros de distância. A essa distância, seria impossível discernir detalhes claros sobre sua forma ou aparência nas imagens da Navcam.
Notavelmente, o físico teórico de Harvard Avi Loeb, que permaneceu aberto à possibilidade de que 3I/ATLAS poderia ser evidência de tecnologia extraterrestre e escreveu comentários sobre tais especulações em sua página do Medium, também confirmou que a aparência do objeto nas imagens recentes do Perseverance era um artefato resultante de imagens compostas.
Loeb argumenta que, como a resolução angular da Navcam de 0,33 milirradianos (68 segundos de arco) por pixel se traduz em cerca de 12.500 quilômetros por pixel à distância calculada pelo 3I/ATLAS de Marte, a “faixa” que aparece nas imagens recentes da NASA pode ser estimada em cerca de 50.000 quilômetros de comprimento. Esse comprimento enorme é problemático, pois excede em muito o diâmetro real estimado do objeto, de cerca de 46 quilômetros, com base em medições anteriores obtidas pela missão SPHEREx da NASA.
Como Loeb conclui, “a faixa na imagem da Navcam deve ter resultado do empilhamento de centenas de imagens da Navcam em um intervalo de tempo total de cerca de 10 minutos”.
“O 3I/ATLAS teria parecido um ponto circular para uma única fotografia, com um tempo máximo de exposição de 3,28 segundos para a Navcam”, escreveu Loeb em sua página no Medium . “Em um único quadro, o movimento do 3I/ATLAS no céu marciano teria borrado sua imagem em apenas 300 quilômetros, apenas ~3% da borragem muito maior de 12.500 quilômetros associada à resolução angular limitada da Navcam.”
Entretanto, após o surgimento de interpretações alternativas de que as imagens da Right Navcam podem representar a lua marciana Fobos em vez do 3I/ATLAS, Loeb ofereceu perspectivas adicionais em um e-mail para o The Debrief observando que a análise foi “baseada na suposição de que as imagens da Navcam são do 3I/ATLAS”, observando que essa informação “não foi especificada explicitamente no site da NASA“.
“Se as imagens da Navcam representam instantâneos únicos com tempo de exposição inferior a 3,28 segundos, então o brilho e o comprimento angular da fonte observada implicam que não se trata de 3I/ATLAS”, disse Loeb ao The Debrief por e-mail. “Nesse caso, a fonte pode estar muito mais próxima da câmera — capaz de ser espalhada em uma imagem alongada com tamanho espacial e velocidade menores. Um exemplo poderia ser a lua marciana Fobos, que ocupa um diâmetro angular de 2,4 milirradianos no céu marciano e deve ser resolvida pelo tamanho de pixel de 0,33 milirradianos da Navcam.”
“Fobos cruza seu próprio diâmetro em um período de cerca de 10 segundos, então, para obter a imagem alongada neste caso, o tempo de exposição deve ser da ordem de 40 segundos”, acrescentou Loeb. “A segunda lua marciana, Deimos, ocupa um diâmetro angular de 0,5 miliradianos e cruza seu próprio diâmetro em cerca de 9 segundos, exigindo um número semelhante de instantâneos para produzir a imagem relatada”, disse ele.
As imagens recentes capturadas pelo Perseverance não são a primeira vez que imagens compostas causam uma aparência um pouco estranha em objetos no espaço. De fato, uma série combinada semelhante de fotos obtidas no início deste ano pelo Very Large Telescope do Observatório Europeu do Sul (ESO) mostra o movimento do 3I/ATLAS em um curto período, resultando em uma linha pontilhada de aparência peculiar.
Além disso, artefatos que aparecem nas imagens da NASA, causados pelo movimento relativo entre objetos, já causaram interpretações errôneas semelhantes no passado. Por exemplo, em março passado, uma série de fotos capturadas pela câmera de ângulo estreito a bordo do Lunar Reconnaissance Orbiter (LRO) revelou o que parecia ser um objeto alongado passando rapidamente sobre a superfície da Lua.
No entanto, as imagens eram, na verdade, apenas do Korea Pathfinder Lunar Orbiter (KPLO), que, mesmo apesar do curto tempo de exposição de 0,338 milissegundos da câmera de ângulo estreito do LRO, parecia quase dez vezes maior que seu tamanho real nas imagens da NASA.
Resumindo, nenhuma imagem obtida até o momento do 3I/ATLAS o retrata como um objeto massivo em forma de charuto. Embora seja verdade que o visitante interestelar possui uma série de características incomuns, a abundância de dados coletados pelos astrônomos sobre ele até o momento parece apontar para a realidade de que o 3I/ATLAS é simplesmente um cometa.
Embora a atual paralisação do governo dos EUA tenha impedido a divulgação de novas imagens que a NASA provavelmente obteve durante o recente sobrevoo marciano do 3I/ATLAS, as fotos capturadas pela câmera HiRISE do Mars Reconnaissance Orbiter (MRO) devem ser divulgadas a qualquer momento, potencialmente nos oferecendo uma das vistas mais claras do objeto que os astrônomos já viram até hoje.
Fonte: The Debrief
