A Comunidade Ufológica Brasileira viveu momentos de muita expectativa e grande agitação entre os dias 15 a 18 de novembro passado. O meio já vinha sendo chacoalhado desde o fim de setembro com a publicação, na edição UFO 126, da polêmica entrevista com o autor e conferencista espiritualista Jan Val Ellam – pseudônimo literário do empresário potiguar Rogério de Almeida Freitas –, na qual ele anunciava que o tão esperado contato oficial e definitivo com ETs era iminente. Ellam informava ainda que já havia até data definida para o encontro cósmico – algum dia entre a segunda quinzena de novembro e o fim de abril de 2007. Jamais, em toda a história da Ufologia Brasileira, alguém tinha arriscado profetizar com tamanha precisão algo assim.
Sua ousadia só encontra paralelo com uma notícia do início da década de 80, espalhada por um cidadão chamado Edílcio Barbosa, que alardeava aos quatro cantos que uma nave alienígena pousaria na cidade fluminense de Casimiro de Abreu. Com cobertura da revista Manchete e de outros veículos da época, milhares de pessoas foram ao local do encontro marcado, mas o disco não desceu. Barbosa, até então um completo desconhecido na Ufologia, teve seus 15 minutos de fama. Na época, ainda sem a internet, a notícia teve lenta difusão e logo o malogrado encontro entrou no esquecimento. Barbosa veio a falecer poucos meses depois, alimentando mais uma lenda urbana da Ufologia, totalmente infundada, de que ele fora assassinado pelo serviço secreto por falar demais.
Entre Edílcio e Ellam – mais de duas décadas e meia depois –, muitos outros alegados contatados ou canalizadores fizeram anúncios proféticos semelhantes, tanto no Brasil quanto no exterior, mas nenhum contato direto com ETs, nos moldes propostos, jamais se verificou. Edílcio previa a aterrissagem ao vivo e em cores, numa determinada madrugada, de um grande disco voador trazendo seres espaciais em missão de paz. Ellam profetizou que várias naves, todas de tamanho descomunal, seriam vistas em todo o planeta durante algumas horas, sem que as mesmas aterrissassem ou seus tripulantes entrassem em contato com os líderes mundiais. Ele ainda adicionou um controverso elemento às suas previsões: a de que a revoada maciça de naves seria comandada pela figura de Jesus Cristo. “Ele virá comandando o retorno da Terra ao convívio cósmico”, declarou.
Muitos alegados contatados ou canalizadores fizeram anúncios proféticos semelhantes aos de Jan Val Ellam, tanto no Brasil quanto no exterior, mas nenhum contato direto com alienígenas, nos moldes propostos, jamais ocorreu
Jesus e seres extraterrestres — Para quem está familiarizado com certas correntes de pensamento da Ufologia, a sobreposição da figura de Jesus à manifestação alienígena não é novidade. Para quem não está, parece esdrúxula. De qualquer forma, numerosos estudiosos aceitam a hipótese de que um ser, que se convencionou chamar de Jesus, veio efetivamente à Terra e aqui conviveu com nossos antepassados, há dois mil anos. Tal linha de raciocínio exclui a discussão ou a transformação religiosa da figura deste ser, e está em consonância com a de muitos historiadores. Já os ufólogos que defendem a tese vão além e, baseados nas descrições dos prodígios que ele teria sido capaz de realizar – além das incontáveis menções bíblicas sobre a presença de outros seres ao seu lado e fenômenos luminosos nos céus –, interpretam a origem de Jesus como sendo externa ao planeta e, portanto, extraterrestre. Não são poucas as obras publicadas nas últimas três décadas que apresentam o ser como pertencente à mesma categoria de figuras históricas das tradições culturais e religiosas de vários países – que tinham os mesmos poderes e comportamento ao conviverem com grupos tribais do passado remoto –, todas vistas como alienígenas.
Jan Val Ellam fez a intersecção entre um assunto – o futuro contato oficial e definitivo com ETs – e outro – a suposta origem extraterrestre de Jesus – e emitiu sua profecia de que estaríamos em franco processo do que chama de “reintegração cósmica”. Para ele, a chegada das naves alienígenas à Terra representariam o prometido retorno de Jesus, defendido também por muitas correntes religiosas. Certamente, esta informação, por si só, já geraria imensa controvérsia tanto nos meios ufológicos, por natureza avessos a profecias, quanto nos espiritualistas, que não vêem com bons olhos a forma como os ufólogos enxergam a multidimensionalidade dos mundos habitados. E mais seguramente ainda, toda esta grande polêmica movimentaria a Ufologia Brasileira, como de fato ocorreu, polarizando-a em um majoritário grupo de céticos quanto aos anúncios feitos e um minoritário grupo de simpatizantes a eles. Foi sob este clima que o meio ufológico viveu seus últimos meses, não faltando acusações mútuas, intolerâncias e muitas rupturas.
Exposta a uma situação dessas, nossa Ufologia mostrou claramente sua fragilidade e flagrante falta de maturidade para discutir um tema com a necessária isenção. No caso específico, entre outras coisas, faltou a muitos ufólogos diferenciar o mensageiro – Ellam – da mensagem que ele alega ser portador. Ambos foram igualmente atacados pelos segmentos céticos, com maior ou menor truculência, dependendo do agressor. E ambos foram também confundidos pelos simpatizantes, que viram na figura do mensageiro uma espécie de continuidade da mensagem, por esses entendida como algo “sublime”, “transformador” e de “profundo significado”.
Rejeição e idolatria — Em outras palavras, para seus apoiadores, Ellam passou a ser visto como um “escolhido” ou um “iluminado”, sobre cuja “missão” não pairam dúvidas. Já para seus opositores menos tolerantes, ele não passaria de um enganador ou aproveitador da crendice alheia, ou, para os mais condescendentes, apenas um enganado e iludido. A Ufologia Brasileira se viu às voltas com uma situação que nunca contemplara antes. Sendo Jan Val Ellam portador de credenciais respeitáveis, e fazendo afirmações contundentes – ainda que, para muitos, totalmente descabidas –, que posição tomar quanto aos seus vaticínios? Este foi o grande dilema em que se viu mergulhado o meio desde que UFO 126 veiculou sua entrevista. Estava-se, ali, diante de um significativo enigma. Mesmo os que se colocaram imediatamente contrários às previsões não conseguiram, em sua maioria, vislumbrar o que motivaria o autor e conferencista a colocar sua reputação, sua carreira, sua vida enfim, em risco óbvio, que se confirmaria caso as profecias não ocorressem. Não há qualquer indício de que Ellam tenha se beneficiado de alguma forma com suas afirmações – muito pelo contrá
;rio, as mesmas apenas lhe trouxeram enorme desgaste, como agora se confirma.
Mas o caráter messiânico e quase delirante com que muitos dos seus apoiadores – os habituais leitores de seus livros e ouvintes de suas palestras e de seu programa Projeto Orbum, apresentado na Rede Boa Nova de Rádio [www.radioboanova.com.br] nos domingos à tarde – trataram suas profecias representou um capítulo à parte de toda esta longa história. Para eles, o desgaste a que o médium foi submetido é apenas parte de uma espécie de karma que ele tem que pagar na Terra, por ações supostamente malignas que cometera em vidas pregressas. Há quem alegue – e Ellam não parece se opor a isso – que sua constante citação à figura de Jesus, a quem chama de Mestre (com m maiúsculo), entoada à exaustão como um mantra por seus seguidores, se dá por ele ter sido um dos personagens que participou da bíblica crucificação, e por isso estaria aqui para expiar seus pecados…
Com tanta emoção e uma boa dose de fanatismo no ar, a Comunidade Ufológica Brasileira foi levada ao extremo durante o tempo em que perdurou a polêmica. Duas enquetes conduzidas pela Revista UFO, através da internet – especificamente em suas listas de discussão Equipe UFO, composta pelos integrantes de seu Conselho Editorial, e Revista UFO Online, aberta a todos os seus leitores e assinantes –, apresentaram resultados interessantes. A primeira foi baseada na seguinte pergunta: “Você acredita que seres extraterrestres estão em processo de aproximação da Terra para um contato oficial e definitivo, segundo afirma Jan Val Ellam?” Cerca de 47% dos consultados informaram não acreditar nas previsões do médium, contra 33% que acreditavam e 20% que preferiram não opinar. Ou seja, houve certa divisão na forma como as pessoas receberam o impacto das previsões, com uma significativa porcentagem de rejeição ao contato nos moldes anunciados pelo autor e conferencista.
O resultado das pesquisas é claro: a crença de que um dia a Terra estabelecerá contato com outras espécies é quase unânime. Porém, é grande a desconfiança de que alguém tenha condições de prever e afirmar quando tal fato poderá ocorrer, como fez Jan Val Ellam
A segunda pesquisa foi genérica e baseada numa pergunta que tinha o mesmo conteúdo da primeira, mas tirava Ellam do questionamento: “Você acredita que seres extraterrestres estão em processo de aproximação da Terra para um contato oficial e definitivo?” Ela foi feita sem se referir a qualquer previsão feita pelo médium e se baseava numa idéia corrente e comum a praticamente todos os segmentos da Ufologia. Seus resultados foram de acordo com o esperado: cerca de 97% dos consultados acreditam que sim, ou seja, que o contato cósmico irá de fato ocorrer um dia, enquanto apenas 3% discordam. Sobrepondo-se os resultados de ambas as enquetes, se verifica que a crença de que um dia a Terra terá estabelecido contato com outras espécies é quase unânime. Porém, é grande a desconfiança de que alguém tenha condições de prever e afirmar quando tal fato poderá ocorrer, como fez Jan Val Ellam.
Antecipando a data do contato oficial — E se o cenário já estava significativamente nebuloso e conturbado com suas previsões originais, tendo a primeira – a da devastação no Oriente Médio – falhado [Veja box] e a segunda apontando o aludido encontro cósmico para algum dia dentro do vasto período de seis meses, até abril de 2007, Ellam causou ainda mais furor ao antecipar o segundo vaticínio e marcá-lo logo para o início do período originalmente proposto, redefinindo o contato oficial para 18 de novembro, um sábado que foi chuvoso em boa parte do país. Como se não bastasse o exagero da precisão, afirmando o dia do encontro, ele ainda deu a hora exata em que as naves deveriam ser vistas em todo o planeta – 17h30, no horário oficial de Brasília.
O que levou Ellam a antecipar sua previsão e a anunciá-la com tamanha precisão? Segundo ele, a data já era de seu conhecimento havia pelo menos sete anos, mas ele teria evitado difundi-la anteriormente, preferindo o longo período de seis meses – segundo ele, “por precaução”, o que de nada adiantou no fim das contas. Em contato telefônico com este editor, no feriado da Proclamação da República, dia 15 de novembro – apenas três dias antes do aludido contato –, Ellam informou que a data estava definida. Disse que tinha certeza de que a revoada de discos voadores ocorreria às 17h30 em todo o planeta, no formato que já havia sido anunciado em sua entrevista. E garantiu que todo o globo testemunharia os fatos, “que seriam inequívocos, inconfundíveis e não poderiam ser negados por nenhum veículo de imprensa e nenhum governo”. Ellam disse ainda, um tanto sem objetividade, que o fato só não se daria caso ele estivesse enganado quanto à interpretação da mensagem recebida, o que pode ser visto com relativamente cômodo para quem se propõe a fazer previsões.
Em 17 de novembro, Ellam voltou a ligar ao editor e reafirmou que tinha convicção inequívoca de que os fatos ocorreriam no sábado seguinte, dia 18. Em face disso, ainda naquela sexta-feira, a Revista UFO emitiu um comunicado à Comunidade Ufológica Brasileira e Mundial sobre a nova data informada pelo autor. Tendo sido a publicação que veiculou a entrevista com Jan Val Ellam e passou a difundir textos com informações adicionais e atualizações sobre suas previsões na internet, fomentando o debate entre as partes que discutiam a legitimidade ou não dos anúncios, era natural que a nova informação fosse também anunciada por UFO. A revista, no entanto – como vinha fazendo até então –, limitou-se a comunicar o que lhe fora informado pelo autor das previsões, sem tomar partido, sem apoiar ou rejeitar seu conteúdo ou mesmo a decisão de Ellam em antecipar a data.
Acirramento de nervos — Desde a comunicação feita via e-mail, na sexta-feira, 17, pela manhã, o calor que já caracterizava as discussões sobre a profecia do contato oficial e definitivo com ETs ganhava muitos graus e tornava-se ardente. Os segmentos contrários e favoráveis aos vaticínios, tanto nos meios ufológicos quanto espiritualistas, engajavam-se em defender seus pontos de vista com nítido
acirramento de nervos. Cada um a seu modo, no entanto, céticos e crentes no referido evento prepararam-se para, já desde o começo da tarde do dia seguinte, aguardar a prometida aparição em massa. O sábado, 18, começou com grande agitação, tendo as caixas postais de e-mails da Revista UFO amanhecido com centenas de mensagens com os mais diversos conteúdos. Houve quem protestasse contra a postura da publicação, alegando que ela não deveria alimentar este “engodo” por mais tempo, até quem sugerisse os melhores meios de se “harmonizar ambientes” para receber os irmãos cósmicos.
“UFO presta um desserviço à Ufologia Brasileira ao dar corda a esta bobagem”, condenava José Evangelista Nunes. “É notável a coragem da publicação ao mostrar que o mundo entrará numa nova fase”, apoiava Célia Conceição Matoso. Estes são apenas alguns exemplos das centenas de e-mails. Mas, entre todas as mensagens recebidas, favoráveis ou contra, protestando ou oferecendo apoio etc, uma constante podia ser nitidamente observada: as pessoas continuavam confundindo a mensagem de Ellam com o mensageiro. E pior: confundiam também o papel da Revista UFO no processo, que apenas assumiu uma posição jornalística, reforçada pelo fato de ser a única publicação sobre Ufologia do país, ao divulgar os fatos a que teve conhecimento – fazendo-o de forma imparcial e para conhecimento de seus leitores. As inúmeras mensagens mostraram logo cedo, naquela manha do festejado sábado, 18, que um clima beirando à histeria e fanatismo ocupava o lugar que deveria ser destinado à razão. E este editor, então, viu-se obrigado a emitir um novo comunicado à Comunidade Ufológica Brasileira, desta vez deixando claro que havia uma diferença entre a função jornalística da revista, de informar os fatos, e a alegada missão cósmica de Jan Val Ellam, de anunciar suas profecias.
Emoções estilhaçadas — Pelo menos por algumas horas o comunicado – enviado também ao exterior, onde círculos de ufólogos também se dividiam entre condenar as profecias do médium e aguardar sua realização –, arrefeceu os ânimos. Mas eles voltaram a se acirrar logo após as primeiras horas do momento prenunciado para a realização do encontro cósmico, em razão de seu total fracasso. Já no princípio da noite de sábado, 18 de novembro – com milhares de pessoas espalhadas por todo o Brasil e muitos países do exterior desistindo de continuar suas vigílias e abrindo mão da alegada “chegada do mestre Jesus” –, estava de volta com potência ainda mais avassaladora a polêmica e as trocas de acusações na internet, que perduraram por todo domingo e começo da semana seguinte, refletindo profunda indignação de muita gente que teve suas emoções atingidas pelas previsões de Jan Val Ellam.
A Revista UFO, cujo papel em toda a controvérsia foi unicamente o de dar vazão aos fatos – inclusive com uma edição inteiramente dedicada à manifestações pró e contra os vaticínios de Jan Val Ellam, a UFO 128 –, foi duramente atingida. Foram inúmeros os e-mails de pessoas que cobravam uma posição da revista quanto à não realização do encontro cósmico, como se a publicação tivesse uma a dar. Outros escreveram para demonstrar compreensão com a falha da previsão e até oferecer consolo pelo não contato, como se o fracasso no encontro tivesse abalado as estruturas da publicação. E muitos outros ainda nos escreveram apenas pedindo informações, e quem respondemos como de praxe, repassando os dados que tínhamos até aquele momento. “Como ficam agora as pessoas que acreditaram em tudo que Ellam nos disse, como eu, que me preparei para iniciar uma nova vida, embalada pela volta do mestre Jesus?”, perguntava Maria Aparecida C. Coutinho, uma das muitas que se sentiu literalmente desamparada pela falha da profecia.
É natural que, com os ânimos exaltados pela não realização do contato oficial com ETs, principalmente os dos céticos e ufólogos mais ortodoxos, e com as emoções fragilizadas ao extremo, no caso das pessoas mais susceptíveis e que abraçaram a hipótese da reintegração cósmica desde o princípio, fossem surgir as mais agressivas, infundadas e inusitadas explicações para o malogrado contato. E elas não tardaram a brotar, principalmente com as cores da intolerância, da leviandade e do fanatismo. “O contato não se deu porque as naves foram impedidas de entrar na atmosfera por causa de nossa negatividade e baixa vibração mental”, alegava um remetente de São Paulo, por e-mail. “Tudo não passou de um golpe de marketing para Ellam vender seus livros e atrair mais pessoas às suas palestras”, dizia outro remetente de Porto Alegre. Variando entre a total credulidade nas profecias e o completo desprezo por elas – e pior, fortes ataques ao seu autor – recebemos mais de 700 mensagens. E muitas continuam chegando.
Pagando alto preço pelo fracasso — Ellam somente faria um pronunciamento sobre o fracasso da previsão em seu programa de rádio, já citado, na tarde de domingo, 19 de novembro. E nele, sem acrescentar muita coisa, disse que voltou a ter contato com seus amparadores extraterrestres e espirituais, na noite anterior, e que estes teriam lhe dito que “as coisas tinham que ocorrer como ocorreram para que as escrituras sagradas se cumprissem”, ou seja, que sua exposição pública e a frustração das pessoas era necessária para que algum estranho jogo pudesse ser realizado entre as tais forças cósmicas. Acrescentou que isso era importante e que sua “reputação seria totalmente abalada, ficaria sem o menor crédito, seria pisada, achacada, atacada, violentamente destratada etc. Pois era assim que estava escrito nas profecias, no capítulo 11 do Apocalipse bíblico”. Talvez alguém que realmente se entregue de corpo e alma à Espiritualidade tenha condições de entender o que isso significa, mas certamente os humildes mortais, não.
Mas se foi confuso em sua explicação – ou em sua não explicação –, pelo menos Jan Val Ellam, nestas horas já falando mais solenemente como Rogério de Almeida Freitas, foi honesto com as conseqüências de seus malogrados vaticínios. “Não estou fugindo da minha responsabilidade. Ao contrário, estou apresentando as minhas claras e objetivas desculpas por estar tentando falar de um assunto que está muito acima da minha condição humana. Estou pagando o preço com absoluta tranqüilidade na alma, pois jamais fiz nada movido por questões de ego”. Acrescentando que está acostumado a perceber seus equívocos no campo mediúnico, e que sempre alerta os leitores de seus livros e ouvintes de suas palestras sobre eles, Ellam admitiu já não se importar mais com as críticas que recebe. “Meu ego já está enterrado há m
uito tempo com tantas pancadas que venho levando ao longo de todos esses anos, e faço isso apenas porque acredito estar servindo a um interesse maior”.
Ellam profetizou coisas óbvias. Como o fato de que a Terra um dia se verá diante de outras raças cósmicas, o que realmente ocorrerá — seja por nosso próprio crescimento tecnológico, que vai nos levar aos mundos de onde provêm nossos visitantes, seja por decisão destes de um dia nos contatarem —, e que um dia teremos explosões nucleares, químicas e biológicas, situação cujas chances crescem a cada dia neste conturbado planeta
“Que interesse maior é esse que o expõe desta forma, que desacredita a Ufologia e que esculhamba os meios espiritualistas brasileiros?”, questionou um de seus ouvintes. Ficou sem resposta. Ainda nos contatos telefônicos que manteve com este editor, antes de 18 de novembro, Ellam demonstrou ter absoluta segurança de que o aludido contato oficial com ETs se daria na data antecipada, assim como total consciência de que, se não ocorresse, pagaria caro por isso. Foi justamente a crença de que estava sendo alimentado com informações por forças cósmicas – quer de origem puramente espiritual ou extraterrestre, quer por uma união de ambas – que agora consolidava na mente de Jan Val Ellam a idéia de que, não tendo ocorrido nenhum de seus vaticínios, ele estava mesmo é sendo manipulado de maneira obscura. O mesmo pensam seus apoiadores, grande maioria dos quais, antes mesmo de malogrado o encontro cósmico, já expressavam a curiosa afirmação de que “não importa se os ETs vierem ou não, se Jesus estiver no seu comando ou não, o que importa é a beleza da mensagem recebida…”
Contato físico com ETs — Mas há um dado relativamente objetivo, pelo menos um, a justificar tanto a ousadia do médium em anunciar o referido contato oficial e definitivo para o amplo período que vai até abril de 2007, como para depois antecipá-lo para o dia 18 de novembro passado. Ellam revelara a este editor que a data tem origem no fato de que, sete anos antes, tivera um contato físico, face a face, com seres extraterrestres. Ele era então gerente de um dos mais amplos e luxuosos hotéis da orla marítima de Natal (RN), sua cidade, no qual havia acontecido, durante todo o dia 18 de novembro de 1999, uma reunião técnica de cientistas ligados às agências espacial norte-americana (NASA), brasileira (AEB) e européia (ESA), que discutiram o uso da base de lançamento de foguetes de Alcântara (MA). Como gerente do estabelecimento, ficou até o fim do encontro para assegurar que nada faltasse aos participantes.
Acabada a conferência, Ellam – que informa que já vinha recebendo comunicações de entidades extrafísicas havia 13 anos – saiu ao pátio do hotel para apreciar o céu noturno. Já era alta madrugada e ele estava acompanhado de um dos cientistas presentes no congresso, quando, de repente, ambos viram um ponto de luz surgir no céu e descer à sua frente. O UFO tinha formato triangular e teria sido testemunhado também por outros dois seguranças do hotel. De seu interior, segundo Ellam, saíram seres que se comunicaram com ele e o asseguraram que a Terra estaria em processo de gradativa aproximação por parte de outras raças cósmicas, entre as quais as dos tripulantes do objeto. E afirmaram ainda que em sete anos, contados a partir daquela madrugada, um grande evento cósmico ocorreria no planeta. Tal evento seria a profecia de que, em 18 de novembro passado, estaríamos sendo visitados por naves descomunais, o que não ocorreu [Veja texto nesta edição].
Jan Val Ellam garante que o assunto não está encerrado: assegura que tanto o referido encontro cósmico virá realmente a ocorrer, como também, infelizmente, as explosões no Oriente Médio. Ele disse que, ao longo dos sete anos passados, os seres que o contataram em 1999 voltaram várias outras vezes para reforçar a informação então transmitida. E que foi a partir de março deste ano que as comunicações atingiram seu ápice, tendo então o autor decidido tornar públicas suas previsões, fazendo-a em entrevista à Revista UFO. A publicação acolheu seu depoimento de forma jornalística, sem, no entanto, saber de seu alegado contato em 18 de novembro de 1999 e tendo apenas a informação original de que o profético contato oficial e definitivo estaria marcado para algum dia entre a segunda quinzena de novembro e abril de 2006. UFO também foi tomada de surpresa com a remarcação do evento, mas ainda assim agiu com a imparcialidade que deve pautar um veículo de comunicação – ainda mais em se tratando do único no gênero no país.
É de acordo com essa função que a publicação também vê a decisão de Ellam de continuar alegando que suas profecias vão se concretizar, interpretando-as como algo relativamente óbvio. Tanto é certo que um dia a Terra estará mesmo frente a frente com outras raças cósmicas – seja por seu próprio crescimento tecnológico, que vai nos levar cada vez mais longe no espaço, aos domínios ou mundos de onde provêm nossos visitantes, seja por decisão destes de um dia nos contatarem abertamente – quanto que as chances de explosões nucleares, químicas e biológicas crescem a cada dia neste nosso planeta conturbado e dividido, de 6,6 bilhões de seres humanos que não se entendem. Nem uma, nem outra “profecia” tem qualquer coisa de novo e anormal – aliás, nem deveriam ser vistas como profecias, mas como certezas. A única novidade que Jan Val Ellam trouxe ao cenário ufológico foi o ineditismo de marcar a data para que ocorressem. Mas, infelizmente, sua ousadia em fazê-lo de nada adiantou. Continuamos em nossa solidão cósmica, aguardando que um aialotá da vida aperte um botão…