As manifestações artísticas fazem parte do espírito humano e foram, durante muitos milênios, a única forma de registro histórico existente. Em paredes de cavernas ou em grandes rochas expostas ao Sol, nossos ancestrais registram informações sobre a fauna e a flora de suas regiões, retrataram suas atividades diárias e, também, registraram fenômenos naturais e coisas vistas no céu. O firmamento, aliás, é um dos temas mais recorrentes ao longo do tempo, e embora cada povo tenha mostrado o Sol, a Lua e as estrelas de sua maneira particular, todos eles o fizeram.
Mesmo depois da invenção da escrita o registro por imagem continuou sendo — e ainda é — uma das melhores formas de se mostrar ao mundo, e à posteridade, grandes acontecimentos, os costumes, a moda, as personalidades e também estranhos objetos que eventualmente frequentavam os céus da cada época. Hoje, quase todos temos um telefone com câmera para registrar nosso dia a dia, mas antigamente isso era feito pelos pintores. E o que eles deixaram para a posteridade fascina e impressiona.
Foi justamente para ver um desses famosos registros de estranhos objetos vistos no céu que este autor, em 14 de dezembro de 2014, foi até a Sala Hércules do Palazzo Vecchio — ou Sala dos Super-Heróis dos Médici, como prefiro chamá-la —, na belíssima cidade de Florença, na Itália. Eu não estava lá para olhar o herói grego e seus trabalhos sobre-humanos brilhantemente ilustrados no teto, como uma graphic novel renascentista, para deleite dos ricos e famosos florentinos de então. Estava lá para ver uma pequena pintura do início do século XVI intitulada de Nativitá, criada entre 1510 e 1520.
UFO, anjo ou o Espírito Santo?
Não se sabe quem a pintou, mas historiadores da arte a atribuem a Sebastiano Mainardi, Jacopo del Sellaio ou Filippo Lippi. Ela foi primeiro exposta no Convento de Sant Orsolo, no distrito de San Lorenzo, em Florença, e isso é tudo o que se sabe sobre o quadro. Mas o que interessa é que a pintura parece mostrar um UFO pairando no céu, além de um homem e seu cão parados, em pé, sobre uma colina, ambos olhando para cima — a mão do homem está protegendo seus olhos e ele está aparentemente intrigado sobre aquele objeto flutuante. Em primeiro plano, a Virgem Maria, de costas para aquela coisa no céu, sorri com reverência para os dois primos sagrados, o bebê João, que se tornaria o Batista, e o bebê Jesus, que se tornaria o Cristo.
O quadro não é uma peça de arte importante e foi preciso pedir ajuda a dois guardas do local para conseguir localizá-la no palácio, e não há uma reprodução impressa da tela Nativitá à venda na loja do museu. Uma das guardas a descreveu com um grande sorriso como a Madonna dell UFO, a Nossa Senhora do UFO ou a Madona do UFO em italiano — ela parecia encantada com o novo nome da pintura e com a perspectiva que a nova designação sinalizava. Já outro guarda do museu disse, com gentil arrogância: “Bem, é claro, você sabe que não é um UFO. É uma representação renascentista padrão do Espírito Santo”.
Crédito: CORTESIA PALAZZO VECCHIO
Ao lado está a gravura atribuída a Sebastiano Mainardi, Jacopo del Sellaio ou Filippo Lippi, exposta na Sala Hércules do Palazzo Vecchio, em Florença, Itália. Veja acima o retângulo destado, onde aparece claramente uma pessoa olhando para o objeto no céu, também ampliado acima, além de outro detalhe da pintura.
Poderia ter lhe perguntado o que o Espírito Santo estava fazendo em uma cena que não tinha nada a ver com a Anunciação ou por que um homem e seu cão estavam observando o objeto que pairava no céu enquanto a Virgem parecia completamente alheia ao fato. Os cães, por sinal, têm participação ativa nos encontros ufológicos contemporâneos de UFOs, já que geralmente veem coisas invisíveis aos humanos, mas reagem com o mesmo espanto e temor que eles.
Ainda assim, o guarda tinha um ponto a seu favor: é verdade que o Espírito Santo às vezes é retratado de forma semelhante em pinturas sobre a Anunciação e, mais raramente, sobre a Natividade. Também é verdade que o pastor que protege seus olhos da “Glória de Deus” pode ser encontrado em outras obras. Ainda assim, há algo sobre o Espírito Santo ou a glória de Deus retratado na pintura Nativitá que é diferente. O objeto brilhante é tão semelhante aos modernos discos voadores que a comparação religiosa soa estranha.
Uma crítica de arte italiana chamada Filomena D’Amico descreve o objeto como um disco elipsoidal de chumbo que estaria inclinado para a esquerda, tendo uma espécie de cúpula muito semelhante às descrições dadas pela ficção científica tradicional a uma espaçonave extraterrestre. Filomena, no entanto, pensa que o artista pretendia retratar um anjo sob a forma de uma nuvem luminosa — uma escolha artística extremamente rara, mas não totalmente desconhecida. O crítico Diego Cuogi concorda com Filomena, observando que artistas da época consultavam o Protoevangelho de Tiago, no qual há referência a uma nuvem de luz. Tal referência material aparentemente prova, na opinião de Cuogi, que o objeto no quadro não é um UFO, mas “apenas uma concepção artística”, segundo diz.
Filhos de Ezequiel
Mesmo levando-se em conta os precedentes históricos da arte, é duvidoso que eles realmente expliquem Nativitá ou a Madona do UFO. E aqui é preciso ressaltar que os pintores não tinham qualquer necessidade de recorrer a um obscuro texto apócrifo, como alega Cuogi, para encontrar uma referência à nuvem luminosa da pintura, já que nuvens cheias de luz e raios luminosos estão por toda a Bíblia. Já a “Glória de Deus” é descrita em termos semelhantes, como, por exemplo, em alguns momentos-chave no Êxodo e nas primeiras linhas do livro de Ezequiel, quando o profeta descreve a visão de uma coisa anômala que se parece e soa com um UFO.
O texto bíblico descreve “estranhas rodas”, narra como o objeto flutua, ruge e brilha como algum tipo de metal eletrificado — e também como ele foi abduzido ou arrebatado pelo espírito de Deus e levado para outro lugar físico. David Halperin, historiador do Antigo Judaísmo, autor de um estudo psicanalítico de Ezequiel e sem dúvidas um dos intérpretes mais astutos do Fenômeno UFO moderno, observou o óbvio: “A visão parece genuína, ou seja, com base em um evento fenomenológico real. E sim, se parece com um UFO”.
A pintura mostra um UFO pairando no céu, além de um homem e seu cão parados, em pé, sobre uma colina, ambos olhando para cima – a mão do homem está protegendo seus olhos e ele está aparentemente intrigado sobre aquele objeto flutuante
Halperin comenta com muita propriedade o movimento típico que os estudiosos bíblicos e os historiadores da arte contemporâneos fazem no sentido de restringirem o fenômeno a um tempo e lugar muito específicos, e assim criar uma barreira existencial entre ele e nós. Mas isso simplesmente não funciona neste caso. “Os estudiosos da Bíblia desdenham dessas noções, insistindo que o que Ezequiel viu deve ser interpretado em termos do tempo e da cultura da época, o início do século VI a.C. Mas as ferramentas tradicionais da exegese nos permitiram até agora entender os textos bíblicos, por mais estranhos que fossem, mesmo aqueles com profundo teor espiritual” , diz Halperin. Ou seja, faz sentido que Ezequiel realmente tenha visto um UFO, assim identificado além das suas e das nossas capacidades de explicação. “É algo capaz de ser culturalmente definido como ‘visões de Deus’ pelo profeta ou como uma ‘nave espacial’ por nós. A verdade, porém, transcende a ambas as versões”, complementa o pesquisador.
Protoevangelho de Tiago
A conclusão aqui é simples e importante: a tentativa reducionista de Cuogi para explicar a nuvem luminosa cit
ando o Protoevangelho de Tiago não leva em conta as falhas nas traduções, uma vez que os próprios textos podem ter sido expressões de avistamentos e encontros reais. O texto clássico de Ezequiel é um exemplo poderoso disso. E, por fim, há o fato de que os UFOs modernos também são comumente relatados como ocultos ou aparecendo como nuvens luminosas que se assemelham ao objeto que paira na pintura renascentista.
O consultor, escritor e professor emérito da Universidade de Chicago Michael Lieb chama aqueles que testemunharam e conduziram tais eventos de “filhos de Ezequiel” e de “novos cavaleiros da carruagem”. “São os modernos profetas da Nova Era. A religião deles é a religião da Nova Era, por meio da qual as formas anteriores de devoção e os modos de culto arcaicos descobrem uma nova saída”, diz Lieb em seu livro Children of Ezekiel: Aliens, UFOs, The Crisis of Race [Filhos de Ezekiel: Aliens, UFOs e a Crise Racial. Duke University, 1998].
Crédito: THE DAILY BEAST
Barbara Ehrenreich, autora de Vivendo com um Deus Selvagem
Além disso, essa ressonância entre a arte renascentista e a literatura ufológica moderna se multiplica rapidamente se souber onde procurar. Numerosos contatados, por exemplo, que viveram a experiência de estar diante de um alienígena, sentiram como se aquele ser fosse uma espécie de “anjo tecnológico”. Assim, a explicação dos historiadores da arte de que tudo “é uma representação de um anjo” apenas aumenta o buraco e não nos tira dele. E isso antes de chegarmos a coisas realmente estranhas, como as correlações entre a história das modernas aparições marianas e os eventos ufológicos, que se reflete em detalhes minúsculos e completamente estranhos.
Como exemplo temos a queda de material conhecido como “cabelo de anjo”, uma substância estranha que cai do céu em torno de aparições marianas e ufológicas, muitas vezes apenas para se dissolver ou desaparecer antes de tocar o chão. Também o movimento de “folha seca” descrito por testemunhas de discos voadores e o Sol ou disco de prata que milhares de pessoas testemunharam cair do céu no mais famoso evento mariano de todos os tempos. Lembrando que o Milagre do Sol, ocorrido em 13 de outubro de 1917, em Fátima, Portugal, foi previsto com precisão perfeita por três crianças pastorinhas meses antes de acontecer. Esse contexto histórico e comparativo mais amplo é o que nos deixa tão desconfortáveis com a resposta da história da arte de que o objeto no quadro Nativitá ou Madona e o UFO é apenas uma representação rara do Espírito Santo, ou ainda a resposta dos entusiastas do Fenômeno UFO de que o objeto é uma nave espacial extraterrestre. A este autor parece que David Halperin percebeu isso quando disse que “a verdade transcende ambas as versões”.
Queimado em praça pública
Talvez o artista tenha realmente pretendido retratar o objeto como uma representação do Espírito Santo ou de um anjo. Os contatados modernos geralmente descrevem seus encontros em termos religiosos notavelmente semelhantes, e não há nenhuma razão para que os italianos do século XVI não pudessem ter visto as mesmas coisas que norte-americanos ou italianos, belgas ou brasileiros, japoneses ou irlandeses veem todas as semanas. Também não há como imaginar uma boa razão pela qual algum artista italiano — ou mesmo o autor do Protoevangelho de Tiago — não tivesse tomado essas coisas no céu como figuras apropriadas para descrever o Espírito Santo ou um anjo.
Talvez o artista tenha visto um UFO e utilizado o que vira para o quadro. Mas, obviamente, ele não pretendia representar um UFO em sua pintura. Essa linguagem e a cosmologia científica modernas, juntamente com o Big Bang, galáxias e viagens espaciais, simplesmente não estavam disponíveis para um artista florentino do início do século XVI. Pelo fato de o artista vestir sua própria experiência ou visão interpretada de acordo com os códigos culturais e religiosos de sua época não significa que a natureza do objeto fosse diferente daqueles encontrados hoje — significa, isso sim, que esses eram os códigos cosmológicos disponíveis para ele. O que mais ele poderia ter pensado que fosse aquilo?
Outro italiano, o dominicano Giordano Bruno, seria queimado em uma praça pública romana algumas décadas depois, em parte por reivindicar a existência de outros planetas ou mundos dentro de um universo infinito e sem centro. No final, é claro, devemos admitir que não há como chegar a uma conclusão sólida sem que conheçamos uma experiência de fundo ou um evento singular por trás desses processos artísticos históricos — e se houve um evento assim, ele agora está perdido para nós, escondido nos silêncios dos séculos.
Numerosos contatados que viveram a experiência de estar diante de um alienígena sentiram como se aquele ser fosse uma espécie de ‘anjo tecnológico’. Assim, a explicação dos historiadores da arte apenas aumenta o buraco e não nos tira dele
O que questionamos aqui é porque não se usar as nuvens luminosas modernas, para as quais temos acesso bastante direto por meio das testemunhas contemporâneas do Fenômeno UFO, para tentar entender a misteriosa nuvem luminosa renascentista, para qual não temos uma explicação confiável? Temos que interrogar o que está em jogo nas recusas da história da arte em fazer esta prática comparativa simples. Muito possivelmente o motivo pelo qual o historiador está tão preocupado com a comparação ufológica é o mesmo que incomoda o estudioso convencional da religião, ou seja, ambos estão ideologicamente comprometidos com uma história puramente materialista, na qual só pode haver influências que sejam políticas, institucionais, textuais e materiais. Não admitem, nunca, intervenções fora do espaço e fora do tempo.
Para essas pessoas tudo é “apenas arte”, “apenas poder e política”, “apenas os textos” ou então é “apenas a imaginação do estudioso”. Assim buscam um texto obscuro que possa explicar de forma diferente o que vemos claramente na pintura. Fazem qualquer coisa que não seja apreciar a simples ideia de que os italianos do século XVI podem ter sido como nós e ter respondido religiosamente ao que dezenas de milhares de pessoas contemporâneas hoje descrevem usando códigos mitológicos e cosmológicos muito diferentes.
Uma nova visão
O comparatista, por outro lado, pode ver claramente que tanto o historiador da arte quanto o entusiasta dos modernos UFOs estão caindo em algumas leituras simplistas — o primeiro agarrado à cultura católica renascentista ou historicismo positivista, e o outro à ficção científica do século XX. Acredito que ambos estejam errados. Penso que precisamos de uma linguagem inteiramente nova e imaginária e de uma renovada maneira de ver a história das religiões que não esteja vinculada aos simbolismos e teologias do passado religioso e nem hipnotizada pelas nossas tecnologias e avanços militares atuais.
Para este último, a palavra UFO, derivada do inglês unidentified flying object, é um acrônimo militar criado nos anos 50 e projetado para transformar uma anomalia no céu em um inimigo no radar, nada além disso. Mas o que eles realmente são? Essa é uma pergunta forte e completamente inapropriada em nosso clima intelectual atual. Porém, esse clima passará, como todas as ortodoxias acadêmicas eventualmente o fazem. Acredito que essas máquinas tenham pilotos com suas próprias intenções e agendas, tais que não estamos em posição de entender ou de captar neste momento de nossa evolução cultural.
O mesmo raciocínio foi recentemente feito pela feminista e crítica social ateísta Barbara Ehrenreich em um ensaio intitulado Living With a Wild God: A Nonbeliever’s Search for the Truth About Everything [Vivendo com um Deus Selvagem: Uma Pesquisa de Não Cren
tes Para a Verdade Sobre Tudo. Twelve Press, 2004]. Lutando contra a própria experiência mística que ela não pôde mais negar, cuja impossibilidade cultural e constrangimento intelectual se compara a uma experiência de abdução alienígena, Barbara chegou a um entendimento muito próximo daquele que tem este autor.
Mas por que não construir algo novo sobre as bases históricas já lançadas pelo poder da religião e da cultura moderna? Precisamos parar de cavar no porão e começar a construir sobre esses fundamentos um projeto mais radical. Um novo projeto comparativo que se concentre no presente paranormal para entendermos melhor um passado mágico e milagroso. Um projeto que não assuma que a única explicação para algo seja um “isso é apenas arte” ou “é apenas poder e política”. Um projeto, por fim, tão cético quanto as ideologias materialistas e subjetivistas presentes, como foi a ideologia religiosa e institucional do passado. Podemos chamá-lo de “novo comparatismo”. Até que possamos começar tal projeto, Nativitá ou a Madona do UFO continuará a zombar de nós.
Novos parâmetros
E ela estará certa em fazê-lo porque, no final, não temos uma resposta para ela. Devíamos assumir isso e parar de fingir. Muito melhor seria começar a reimaginar a história das religiões como uma série longa e complicada de eventos de contato realmente vivenciados, seguidos por um número incontável de comunicações místicas pessoais e comunicações públicas — artísticas, inclusive —, todas disciplinadas, filtradas e moldadas pela história material, incluindo-se a neurologia e biologia. Claro, tudo sobre religião é construído, mas tudo é construído sobre algo realmente visto, realmente experimentado e ainda não identificado.
Talvez, como argumentou o historiador das religiões J. Z. Smith, a religião seja uma construção de nossas imaginações acadêmicas, mas esses tipos de experiências ou eventos ufológicos não o são. Não são apenas construções acadêmicas, não são apenas textos, não são apenas estratagemas de poder e nem apenas ilusões subjetivas — eles acontecem muitas vezes de forma empírica e perceptível publicamente. Não podemos explicá-los com nossos métodos sóciocientíficos e historicistas, e nem simplesmente ignorar suas repercussões ontológicas óbvias como fez o próprio Smith em um ensaio sobre o Fenômeno UFO moderno. Isso é muito conveniente e francamente suspeito.
Alguém poderá argumentar que essa é uma proposta grande demais para se construir sobre um estudo de caso tão duvidoso como é o quadro Nativitá ou a Madona do UFO. Talvez o argumento esteja correto e a pintura não seja tão importante assim. Ou talvez o objeto fora do lugar no céu tivesse sido concebido e visto como uma simples convenção simbólica. Eu duvido, mas é possível.
Porém, realmente precisamos dessa pintura para o novo comparatismo que estamos discutindo? Observações comparativas novas poderiam ser feitas em torno do trabalho do professor doutor de Harvard, Brent Landau, sobre A Revelação dos Magos, um texto cristão do século III que, como Landau honestamente observou, contém temas ufológicos. O professor inclui entre eles a famosa estrela ou bola de luz inteligente que levou os reis magos à cena da Natividade, distorceu a sensação de tempo para eles — exatamente como ocorre nos modernos encontros ufológicos — e depois se transformou em um pequeno humanoide luminoso, o bebê Jesus, que nunca é nomeado como tal no texto.
A mesma “estrela” anônima, por sinal, também expressa ensinamentos místicos que são indistinguíveis das convicções perenialistas modernas e da Nova Era. Nos próprios termos de Landau, o texto nos apresenta “uma bola de luz sensível que pode assumir a forma de um humanoide pequeno e que diz às suas testemunhas que ele apareceu a muitos outros indivíduos ao longo da história humana”. Tal narrativa não seria a última, pois estrelas e bolas de luz se transformam em anjos e humanoides em toda a história ocidental até os dias atuais.
Estrela do Oriente
O historiador de arte ou crítico literário, é claro, pode argumentar que o tema das estrelas itinerantes depende de uma fonte textual anterior, o Evangelho de Mateus, e estará correto. Mas, observe o leitor quão pouco esta explicação esclarece. A Estrela do Oriente, na história do Evangelho, não distorce o tempo, não se transforma em um humanoide pequeno e nem prega uma forma clara de perenialismo, como o texto do século III. Então, estamos aqui na mesma situação que nos encontramos diante da Madona do UFO em Florença. Sim, temos precedentes e convenções simbólicas, mas explicam muito pouco no final. Algo está fora de lugar nessa história.
Se uma adolescente judia solteira concebeu escandalosamente um deus com a ajuda de um espírito, um anjo ou uma nuvem luminosa, isso não importa mais — pelo menos não como um evento histórico singular. As mesmas esferas conscientes, com seres leves e transfísicos, envolvem mulheres e homens desde as profundezas da sexualidade humana e, portanto, das profundezas da genética e evolução humanas. São milhares de casos atualmente e é provável que tenha sido sempre assim.
Entretanto, há a Nativitá ou a Madona do UFO unindo a cultura religiosa do passado ??europeu às mitologias emergentes do presente. A questão que ninguém está se perguntando é como isso é possível. Mas sim quem está pronto para reviver a história das religiões como uma história material assombrada pelo contato real? Quem está pronto para afirmar tanto o humano quanto o não humano dentro de um novo entendimento? E há muito para ser entendido. Como disse Terence McKenna, “fazemos parte de um relacionamento simbiótico com algo que se disfarça de invasão extraterrestre para não nos alarmar”. O que é esse algo, ninguém sabe.