Nossa edição anterior conteve a primeira parte da entrevista que já está sendo considerada a mais polêmica de toda a história da publicação. Os leitores e praticamente todos os segmentos da Ufologia Brasileira se surpreenderam com as declarações do entrevistado, que, entre outras coisas, se diz decepcionado com os ufólogos, sobre cujo comportamento – “mais religioso do que científico”, segundo ele – prepara um livro que se espera arrasador. Mas a perplexidade dos leitores está longe de acabar e a sensação que se vai experimentar agora é ainda mais contundente, com a continuidade da entrevista e a revisão que o entrevistado faz do Caso Varginha, que ele próprio descobriu e investigou. O episódio, considerado um dos mais bem documentados do país – e talvez do mundo –, é colocado sob outra perspectiva, causando bem mais do que assombro.
Depois de passar pelo menos 20 anos de sua vida firmando-se como um dos mais respeitados nomes da Ufologia Brasileira, hoje Ubirajara Franco Rodrigues diz que já nem sequer acredita em extraterrestres. “Apenas aceito a possibilidade de existir vida em outros planetas, tal como admite a astrobiologia e a grande maioria dos astrônomos”. Atendendo a um insistente pedido deste editor, depois de quase uma década afastado de congressos do gênero no país e sem publicar um só artigo na Revista UFO deste junho de 2004, Rodrigues quebrou o silêncio. “A Ufologia não é ciência e tampouco disciplina acadêmica. Ela está tão longe disto que só pensar na idéia me provoca risos”, declarou nesta entrevista, mostrando-se desiludido com o andamento da pesquisa da presença alienígena na Terra. “Alienígenas? Já não acredito sequer que existam”, afirmou, colocando ainda mais lenha na fogueira que arderá por bastante tempo e que, na avaliação de alguns estudiosos, causará grandes rombos na Ufologia Brasileira.
Mas quais são, afinal, os arquivos pleiteados pela Comissão Brasileira de Ufólogos? Uma ou duas gavetas de registros que chegam à Força Aérea? Se eu disser que vi Papai Noel, não deverá tal comunicado ir parar nos mesmos arquivos
Como se verá na última parte de sua histórica entrevista, Rodrigues diz ter revisto totalmente seus conceitos, o que o fez concluir que não há sequer um único caso ufológico completamente autêntico. “Não creio que qualquer episódio da casuística ufológica tenha causa ou origem extraterrestre”. Sobre os destinos da Ufologia Brasileira e de muitas de suas atividades consideradas mais produtivas, ele também faz ácidas críticas. Por exemplo, acha completamente descabidas as bases de sustentação do movimento UFOs: Liberdade de Informação Já, que conta com a simpatia até mesmo de integrantes do Governo Federal e de nossas Forças Armadas. Rodrigues se refere, em especial, às afirmações da campanha, tais como “estamos sendo visitados por inteligências alienígenas” ou “já está comprovada a existência de naves extraterrestres”, defendidas pelo movimento e que compõem a Carta de Brasília, o Manifesto da Ufologia Brasileira e o Dossiê UFO Brasil. “São absurdos sem par”, diz, ignorando completamente seus valiosos resultados. Para espanto da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), patrona do movimento, o entrevistado o considera “no mínimo infantil”.
Enfim, o entrevistado, que desencadeou a maior movimentação já vista na Ufologia Brasileira para investigação do Caso Varginha, praticamente nega ou menospreza os fatos que ele próprio descobriu, divulgou e defendeu, alegando ter passado por “uma mudança de visão”. Para os ufólogos brasileiros, que se dividem entre surpresos e indignados com sua nova postura, é bem mais que isso. Após a publicação da primeira parte da entrevista, alguns estudiosos passaram a cogitar a idéia de que Rodrigues foi pressionado por nossas Forças Armadas para negar a queda de um veículo extraterrestre em Varginha, assim como a captura e transporte de seus tripulantes e o envolvimento do Exército e do Corpo de Bombeiros nestas operações – que, aliás, ele levantou e defendeu. Já outros acham que o entrevistado foi silenciado de outra maneira, por ter recebido dos militares informações privilegiadas e sensacionais sobre o episódio e outros da Ufologia Brasileira, com a garantia de se calar a respeito. São hipóteses que Rodrigues nega com veemência. “Não é nem uma coisa, nemoutra. Estes são absurdos. Eu apenas mudei minha forma de ver o objeto de estudo da Ufologia, ela própria e seus praticantes”, disse.
Criaturas? Que criaturas?
Em sua entrevista, no entanto, ele disse que, se um episódio como o de Varginha ocorresse novamente, ele sequer divulgaria os fatos, “por considerar uma perda de tempo”. E vai além: questionado sobre a natureza das criaturas que todos passaram 13 anos considerando como extraterrestres, Rodrigues disse não ter hoje a menor idéia do que seriam, e insinua que já não está certo nem mesmo de que houve a captura de seres em Varginha – que ele também levantou e divulgou. O que falar, então, da morte do soldado Marco Eli Chereze, que Rodrigues descobriu ter capturado uma das criaturas sem proteção, que acabou falecendo de infecção generalizada menos de três semanas depois? E das quase 100 testemunhas oculares de primeira-mão, que viram as criaturas sendo capturadas, transportadas e mantidas em dois hospitais de Varginha, entre elas os próprios militares que arriscaram suas identidades revelando o que sabiam? E o que vão pensar os integrantes da Ufologia Brasileira que acompanharam Rodrigues em muitos procedimentos da investigação, entrevistando testemunhas e levantando fatos conjuntamente, e que ainda sustentam tudo o que se passou em Varginha? Estas e muitas outras questões agora são expostas a céu aberto na continuidade da entrevista, que certamente causará ainda mais polêmica e perplexidade.
Rodrigues não é um ufólogo como outro qualquer. Co-editor da Revista UFO por mais de 10 anos e consultor científico ora jurídico da publicação até alguns anos, ele é dono de um extenso currículo de investigações bem sucedidas – inclusive de pousos de UFOs e abduções alienígenas – e teve intensa participação na Comunidade Ufológica Brasileira. Ele é, enfim, o homem que comprovadamente apurou todos os fatos relativos às complexas operações de captura e transporte das criaturas de Varginha – processos que hoje ele nega ou subestima. Boa parte de seu pensamento anterior e de suas posturas antes da transformação por que alega ter passado foi apresentada em outra entrevista do advogado mineiro, na obra O Pensamento da Ufologia Brasileira, Parte I, de 2006. Quem quiser conferir sua obra completa, aliás, pode também consultar outros dois livros que Rodrigues publicou pela mesma Biblioteca UFO, Na Pista dos UFOs e O Caso Varginha [Respectivamente códigos LIV-005 e LIV-008, igualmente no Shopping UFO ou Portal UFO]. Hoje, a julgar pelo que mudou em sua visão em apenas três anos, nada mais faz sentido para ele.
UFOs podem não existir
A partir da próxima edição, já contemplando as inúmeras manifestações de nossos leitores e de todos os segmentos da Ufologia Brasileira quanto à entrevista aqui apresentada, a UFO fará uma reflexão do que ela pode significar para o futuro da disciplina em nosso país. Mas Rodrigues ainda promete mais surpresas, garantindo que está próxima a publicação de seu novo livro A Desconstrução de um Mito, com o espantoso subtítulo Discos Voadores Podem Não Existir, em co-autoria com o ex-ufólogo e também ex-integrante da Equipe UFO Carlos Alberto Reis. A Revista UFO, que tantas vezes veiculou os valorosos trabalhos investigativos deste que foi um de seus mais ativos colaboradores, está aberta para avaliar o conteúdo da obra que logo sairá, assim como veicula esta inusitada entrevista, praticamente contrária a tudo o que publicou antes de autoria do entrevistado. O editor agradece novamente a colaboração dos ufólogos Fernando A. Ramalho, Gener Silva, Luciano Stancka e Silva, Marco A. Petit, Rafael Cury, Ricardo Varela e Wallacy Albino, todos integrantes da Equipe UFO.
Mas por qual razão, especificamente, você não aceitou compor a comissão? Uma das principais foi e é o absurdo dela dirigir requerimentos, ou mesmo moções ou equivalentes, a autoridades do Governo, com a utilização de termos e afirmações descabidas, como a de “estarmos sendo visitados por inteligências extraterrestres”. Ou que “já estaria comprovada a existência de naves extraterrestres”. Ou ainda que, “inegavelmente, nossos céus são invadidos por aparelhos de tecnologia desconhecida e similares”. São absurdos sem par. Como dirigir requerimentos a órgãos do Governo com esse tipo de afirmação, sem causar o espanto de que há uma certa comunidade de pessoas que, na contramão de todas as aquisições científicas complexas, obtidas através dos séculos, não se constrange em requerer a liberação de dados daquilo que sequer existe oficialmente? Não é possível. No início, procurei opinar brevemente sobre qual tipo de procedimento que deveria ser feito, porque me foi solicitado. Mas me limitei a isso e jamais aceitei fazer parte da iniciativa pela principal razão de que pareceu, no mínimo, infantil e totalmente desprovida de fundamento jurídico. Foi o que eu disse a um membro da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) que me telefonou há pouco tempo, mas ele entendeu como ofensivo. Não era a intenção e espero que ele me desculpe.
Como professor de direito, você conhece a legislação sobre documentação pública e seu acesso. Nesse sentido, a Constituição Federal, na parte final do Artigo 5º, Inciso XXXIII, e mais especificamente a Lei 11.111/ 2005, aborda uma questão que tange os meandros contidos entre o seu ofício e suas pesquisas ufológicas. O que você acha, hoje, da iniciativa da CBU em acionar esse corpo legal, e como tem visto a abertura inicial dos arquivos militares no Brasil, ocorrida ao final de 2008? Você comenta isso com seus alunos? Jamais comento com meus alunos qualquer coisa sobre Ufologia, porque ministro aulas no meio acadêmico, desde 1984, e faço questão de não misturar as coisas. No início de cada período letivo, é natural que alguns se dirijam a mim com curiosidade sobre o tema, mas limito-me a dizer que, em casa ou no imóvel onde mantenho meus arquivos e material ufológico, estou à plena disposição deles. Porém, não na faculdade. Esta é a postura que escolhi, pois, como o tema não é científico e não pertence aos meios acadêmicos, faço questão absoluta de mantê-lo apartado de minhas aulas, atividades acadêmicas e profissionais. Já quanto à iniciativa da CBU, não vejo como dar resultados concretos partindo do tipo de afirmações que ela faz. Mas se ocorrer o contrário, tomara! É contraditório? Ora, se eu estiver errado, bom para a Ufologia, ou seja, para todos nós. Mas, afinal, que arquivos oficiais são estes os pleiteados? Uma ou duas gavetas de registros que chegam à Força Aérea e esta os mantém em arquivo, a que, aliás, ela é obrigada? Se eu disser que vi algo no céu, parecido com o Papai Noel, não deverá tal comunicado particular ir parar nos mesmos arquivos? E outra, como requerer a liberação de documentos oficiais se não são indicados que peças são estas, seus números de registro ou processo, dados que as identifiquem e o que contêm especificamente?
Alguns consideram o Caso Varginha um evento mais importante do que Roswell, outros não. Falando apenas em torno de fatos, situo-me entre os últimos. O que temos no espisódio ocorrido em 1996 no sul de Minas Gerais são tão somente relatos. E o valor é quase nenhum, em um contexto deste tipo
A CBU já conseguiu demonstrar que o Ministério da Defesa realmente possui muita documentação que atesta a presença alienígena na Terra acima de qualquer dúvida. Mas concordamos que ainda falta o principal, juridicamente falando, que é a total liberação dos segredos ufológicos, principalmente do Caso Varginha. Qual é a sua opinião sobre as possibilidades da CBU conseguir o que pleiteia no Supremo Tribunal Federal? Estaria disposto a colaborar? Em direito, temos o que se chama “possibilidade jurídica do pedido”. Veja, um pedido é juridicamente impossível em várias hipóteses. No caso em tela, seria pedir algo que não se especifica, que se crê existir genericamente e nada há que o identifique. Porém, é bom ressaltar que um requerimento perante uma autoridade militar não judiciária, apenas administrativamente, não constitui propriamente um processo na Justiça. Ainda assim, não se pode deferir ou liberar, como pede a CBU, o que não foi apontado explicitamente. Não há deferimento de requerimentos genéricos, muito menos na Justiça. Por outro lado, a pergunta parece mais uma vez forçada, pois não sabemos – e estou certo de que ninguém mais sabe, a não ser os membros da CBU, já que o afirmam – se de fato o Ministério da Defesa possui documentos que “atestam a presença alienígena na Terra”. Ora, esta afirmação é totalmente absurda, irreal, ilusória e fantasiosa. Ainda mais quando feita no contexto de que seja “acima de qualquer dúvida”. Ora, é importante que se veja a magnitude do que se está afirmando. E mediante tal absurdo, eu não estaria disposto a colaborar, nem direta, nem indiretamente.
Entendido, sem problemas. Você algum dia sofreu alguma pressão, seja de ordem militar ou civil, que mudasse sua postura quanto à Ufologia, em especial após o Caso Varginha? Eu narraria sem qualquer constrangimento, caso tivesse ocorrido. Mas jamais aconteceu, nem tácita, nem expressamente. Aliás, se me permite, no livro que Carlos Reis [Ex-ufólogo e ex-ombudsman da Revista UFO] e eu acabamos de escrever, após três anos de trabalho a quatro mãos, estou sendo mais explícito quanto aos tais cidadãos que por três vezes visitaram a mãe de duas das garotas protagonistas do Caso Varginha. Isto é, descrevo melhor a hipótese que adoto para a origem e as atividades daqueles homens, que muitos insistem em atrelar ao mito dos homens de preto ou a agentes secretos [Após o Caso Varginha ter atingido imensa repercussão na mídia, as principais testemunhas do episódio foram visitadas por homens trajando ternos pretos, que lhes ofertaram dinheiro e bens para que fossem a um programa de televisão afirmarem que tudo nunca passou de uma brincadeira, o que elas jamais aceitaram fazer. Para mais informações, consulte a obra do entrevistado, O Caso Varginha, código LIV-008 da coleção Biblioteca UFO. Veja a seção Shopping UFO desta edição].
Você poderia nos adiantar alguma coisa sobre sua nova hipótese quanto ao que eram aqueles sujeitos? Creio que nem nova seja. Destaco alguns aspectos que podem fazer supor que se tratavam de
líderes religiosos.
Já que entramos no tema do Caso Varginha, diga-nos o que de melhor ele trouxe para sua vida e suas atividades, e o que de pior ele lhe causou? De bom, a experiência adquirida, a observação do comportamento de testemunhas, de ufólogos e da imprensa. De ruim, muitas afirmações, algumas que eu mesmo fiz e outras que fiz juntamente com outros colegas, que não estavam embasadas nas devidas evidências ou provas concretas dos fatos. Este foi um aspecto ruim do caso, que acabou por se tornar também positivo, no sentido de eu ter aprendido o que não devo repetir.
Como você comenta o fato de que o Caso Varginha é hoje considerado um dos episódios ufológicos mais importantes do mundo, acima até mesmo do Caso Roswell? Alguns o consideram mais importante do que Roswell, outros não. Limitando-me novamente a falar apenas em torno de fatos, sem atrelá-los ao que quer que seja, situo-me entre os que consideram Roswell mais importante que Varginha. O caso do Novo México teve várias testemunhas que à época eram militares ligados aos setores envolvidos na trama, que vieram a público afirmar fatos. Varginha não conta publicamente com qualquer testemunha deste tipo. O que temos no Caso Varginha são tão somente relatos. E o valor de simples relato é quase nenhum, em um contexto deste tipo.
Então, você acha que a Comunidade Ufológica Brasileira deu importância demasiada ao Caso Varginha? Não. A comunidade ufológica é dividida quanto ao acontecimento. Uns o consideram um bom caso, outros não.
Sua opinião sobre a captura de estranhas criaturas na cidade mudou drasticamente desde a publicação de seu livro, O Caso Varginha. Você hoje acha que o subtítulo da obra, que menciona a captura de “estranhas criaturas no sul de Minas Gerais”, não representa a realidade, ou seja, que os seres capturados não podem ser classificados como fora dos padrões conhecidos por nossa ciência? Bem, o subtítulo do livro não foi de minha autoria, mas do editor. De início, minha insistência era para que o título fosse tão somente O Caso Varginha, pois o livro praticamente se limitaria a narrar o que fora registrado durante a coleta de informações. Mas o editor [A. J. Gevaerd,] preferiu dar mais contundência à obra com o subtítulo Pela Primeira Vez Revelada a História Completa sobre a Captura de Seres Extraterrestres no Sul de Minas. Fui expressa e veementemente contra. Mas, quanto à natureza das criaturas, não mudei meu pensamento, porque jamais imaginei que natureza fosse esta. Apenas mudei minha postura diante dos fatos, como comentei até aqui – o de fazer afirmações desacompanhadas da devida demonstração aceitável dos acontecimentos, nada mais do que isso. Se tais criaturas existiram ou não, acredite quem preferir ou não acredite. Espero que ufólogos ou interessados, um dia, deixem de simplesmente acreditar para aceitarem apenas o que puder ser comprovado.
Mas o que eram, então, as criaturas capturadas em Varginha, em 20 de janeiro de 1996? Ou não existiu criatura alguma? E muito menos sua captura pelo Corpo de Bombeiros da cidade, em operação conjunta com um destacamento do Exército enviado pela Escola de Sargento das Armas (ESA)? Excelente pergunta, mas que a mim não me cabe responder. Não tenho a mínima idéia do que seriam as criaturas protagonistas da história do Caso Varginha.
Se você fizesse uma avaliação da investigação do caso hoje, passada mais de uma década, o que você consideraria como erro e o que consideraria como sucesso no trabalho desenvolvido? Sucesso foi a intenção inicial de não deixar passar em branco um acontecimento com aquelas nuances, e, em vez disso, registrar os fatos, como foi feito. O resultado foi enorme e realmente, hoje, o Caso Varginha é citado ao lado do de Roswell, tanto pelos que o aceitam como por aqueles que não o consideram real. Já os erros, paralelos aos acertos, foram as várias afirmações feitas sobre algo que até agora não pode ser comprovado.
O que você faria diferente, hoje? Se ocorresse algo semelhante, novamente, o ideal seria em uma época em que os meios acadêmicos já estivessem lançando seus olhos para a fenomenologia ufológica, direcionando verbas e desenvolvendo pesquisas em torno do tema. Nessa situação, se informações valiosas chegassem a mim antes, eu procuraria levá-las aos institutos competentes. Se, no entanto, voltassem a ocorrer antes desta sonhada realidade – a de que seria contemplada pelos meios científicos –, eu faria tudo diferente. Por exemplo, eu nada divulgaria, por considerar uma perda de tempo. Trocando em miúdos, na primeira hipótese eu “passaria a bola” para quem seria competente. E, na segunda, deixaria de afirmar coisas que não pudesse demonstrar.
Qual é a sua opinião agora sobre os demais pesquisadores do Caso Varginha, que até hoje continuam insistindo que o que ocorreu em Varginha, em 1996, foi de fato um caso ufológico? É direito deles pensarem como querem e podem. Mas vejo que meus comentários sobre a essência daqueles fenômenos são procedentes. No entanto, deixe-me frisar que a palavra “ufológico” não quer necessariamente significar algo “extraterrestre”, como pressupõe a pergunta.
Ubirajara, pelo tom de suas palavras, parece mesmo que você hoje nem sequer considera o Caso Varginha como um incidente ufológico. É isso mesmo o que podemos deduzir? E se é assim, como entender seu pensamento atual sobre o que se deu naquela data? O que ocorreu, enfim? Claro que foi um caso ufológico, já que envolve aspectos comuns ao tema. Creio, no entanto, que os leitores já devem ter se intoxicado por me lerem dizer mais uma vez que “ufológico” não quer dizer necessariamente “extraterrestre”. Este é o problema da maior parte dos ufólogos, ter um ícone para a sua crença e não conseguir escapar do que afirmam sem evidências ou provas. Tomo a liberdade de novamente enfatizar que não mais farei afirmações que não tenham respaldo em provas ou em uma aceitação científica universal.
É importante saber que \”ufológico\” não quer dizer necessariamente \”extraterrestre\”. Este é o problema dos ufólogos, tem um ícone para a sua crença e não conseguir escapar do que afirmam sem evidências. Não farei mais afirmações que não tenham respaldo em provas ou em uma aceitação científica universal
Alguns céticos do Caso Varginha afirmam que tudo não passou de uma “armação” idealizada pelo prefeito da cidade, com sua participação, para promover Varginha e fazê-la ganhar notoriedade no Brasil e no exterior, o que de fato ocorreu após 1996. O que você pensa desta alegação e qual é sua resposta aqueles que contestam os fatos que você levantou? Os que contestam os fatos estão apenas agindo exatamente como deve agir alguém de pensamento racional. Se alguma coisa que se pretende demonstrar é quase sempre contestável, o que podemos dizer, então, de um caso sem qualquer demonstração? Quanto a ter havido uma “armação”, lembro que o prefeito, à época, ficou completamente indiferente aos fatos, ainda que tenha participado de uma brincadeira no programa Casseta & Planeta. Mas o vice-prefeito chegou a ir às emissoras locais de TV dizendo que faria o que fosse necessário para acalmar a população. Não creio que uma simples armação para divulgar uma cidade receberia a comoção intensa da imprensa mundial, como o Caso Varginha recebeu, só porque três garotas diziam ter avistado “um bicho estranho” agachado perto de um muro. No entanto, comento bastante sobre as razões de a imprensa ter dado tanto valor ao incidente em meu livro O Caso Varginha, já citado. No que concerne a minha eventual participação nesta alegada armação, devo confessar que me sinto como uma espécie de marido traído, pois é a primeira vez que me informam dessa desconfiança, depois de tanto tempo. Mas é direito dos desconfiados, como disse no início da resposta. Se o leitor souber o que seja falácia de argumento “Ad Hominem”, verá que não há porque responder.
De fato, há a insinuação de que você teria tomado parte nesta suposta armação, algo que jamais foi sequer considerado pela Comunidade Ufológica Brasileira, que conhece sua índole e postura. Além do que, muitos outros ufólogos participaram das investigações do Caso Varginha. Estariam todos de conluio? Certamente que não.
Como a cidade está hoje com relação ao caso, sabendo-se que, meses ou anos depois, os varginhenses chegaram a repudiar a notoriedade que a cidade recebeu, transformando-se em símbolo de chacota por setores da mídia? Não percebi alteração nenhuma, porque a postura da população parece a mesma. Só noto que, desde 1996, não vi publicada qualquer pesquisa séria a tal respeito na imprensa. Apenas a preferência de se entrevistarem pessoas que adoram falar com o uso de expressões caipiras e regionalistas, transeuntes descomprometidos e freqüentadores de bares e pracinhas. No entanto, a população local é mesmo dividida quanto ao caso. Quando se fizer uma pesquisa com boa e correta escolha de amostragens, em universos apropriados, como manda a correta metodologia de uma estatística, aí poderei opinar.
E as principais testemunhas civis do Caso Varginha, as irmãs então adolescentes Liliane Fátima e Valquíria Aparecida Silva e sua amiga Kátia Andrade Xavier, como se encontram hoje? Duas delas já se casaram, têm filhos, trabalham e andam naturalmente pela cidade e seus locais de serviço. Quando eventual e raramente me encontro com elas, agem com a maior naturalidade. Levam suas vidas normalmente.
Comentou-se que, por motivos próprios posteriores, como alguma delas ter passado a freqüentar uma igreja evangélica, as testemunhas teriam adotado uma postura contrária à realidade do Caso Varginha. É verdade? Pelo que eu saiba, não é verdade. Realmente, uma delas converteu-se a uma seita evangélica e mesmo assim jamais negou ter avistado o que sempre declarou.
E quanto às testemunhas militares do caso, que em total sigilo procuraram você e os ufólogos Victório Pacaccini e Marco Antonio Petit, entre outros, para prestar seus depoimentos sobre a captura de estranhas criaturas no sul de Minas? Como eles se encontram atualmente em relação aos acontecimentos? Eles os negam ou os confirmam hoje? Não tenho qualquer contato com militares sobre o Caso Varginha.
Houve algum momento em que você sentisse estar se arriscando demais na investigação do Caso Varginha, especialmente ao adentrar em situações controladas pelos militares do Exército? Pensou em recuar ou efetivamente recuou? Nunca fantasiei sobre isso. Mesmo porque, não extrapolei minha atuação tentando, por exemplo, infiltrar-me em locais de acesso restrito ou de segurança. Procurei ser natural e claro na busca do que podia, ao lado de outros colegas.
No dia 10 de maio de 1996, o general Sérgio Lima, na época comandante da Escola de Sargento das Armas (ESA), deu início a uma sindicância para apurar se teria ou não havido participação de “materiais” e “efetivos” da já citada instituição no Caso Varginha. Sabemos que este processo acabou por dar origem a um Inquérito Policial Militar (IPM), cuja existência foi mantida longe da imprensa por muito tempo. Nele, você e o citado pesquisador Pacaccini foram ouvidos durante horas pelos militares. Você o acompanhou como seu advogado. Qual foi, em sua opinião, o motivo da abertura dessa sindicância e do IPM? Penso no que é óbvio e conseqüente. Ora, com a imprensa do Brasil e do mundo noticiando o caso diariamente, inclusive com citação de instituições e pessoas, é evidente que tal sindicância seria instaurada. O IPM foi aberto, ufólogos e outras pessoas foram ouvidos e o assunto foi encerrado com a conclusão de que nada havia que denotasse o envolvimento oficial da ESA. Quando muito, que poderia ter havido a conversa de alguns ex-membros que, dando “baixa”, teriam conversado com ufólogos e feito afirmações descomprometidas. O IPM acabou arquivado.
Mas você e o próprio Pacaccini, entre outros, todos tendo tido acesso a informações de primeira mão dadas por militares da ESA na ativa, defendiam o envolvimento da instituição diretamente com os fatos do Caso Varginha, inclusive e principalmente a captura, na manhã de 20 de janeiro de 1996, da primeira criatura, e depois, na noite do mesmo dia, da segunda. Você hoje não tem mais elementos para acreditar que a ESA esteve envolvida nisso? O que o levou a mudar de opinião quanto a estes detalhes fundamentais do episódio? Os elementos que tenho hoje não me autorizam a fazer qualquer afirmação que não possa ser provada, ainda que não tenha mudado meramente de opinião. Mas opiniões diferem totalmente de argumentos devidamente fundamentados.
Em seus depoimentos aos militares, durante o referido IPM, você e Pacaccini confirmaram aquilo que ambos afirmavam na época da ocorrência, inclusive perante a imprensa, que o Caso Varginha era um fato real e que os seres capturados por nossos militares deveriam ser classificados como “fora dos padrões conhecidos por nossa ciência”? O militar que presidia a audiência indagou sobre questões afirmadas por ufólogos e pela imprensa, e o que era sabido foi ratificado. Em nenhum momento qualquer depoente informou sobre a identidade de alegados informantes. Quanto aos “seres” que compõem a história do caso, o IPM não os teve como objeto.
Em sua visão, o que pretendiam os militares da ESA com o IPM e a convocação dos dois principais ufólogos envolvidos? Apenas investigar e oficializar os aspectos que envolviam a instituição, nos comentários e na imprensa.
Ubirajara, compartilho com alguns colegas a impressão, firmemente gravada naquela época, de que a instauração do referido IPM era uma forma de intimidação ou mesmo de demonstração de truculência por parte dos militares da ESA. Você nunca pensou nisso? Sim pensei, e concluí que também isto não passa da imaginação, dos aspectos mitológicos e lendários que cercam uma ocorrência ufológica. Os que pensam assim talvez apenas estejam demonstrando resquícios psicológicos que ficaram socialmente arraigados em razão da época do autoritarismo militar.
A Comunidade Ufológica Brasileira sabe que você é detentor de documentação com alto poder revelador sobre o Caso Varginha, contida, sobretudo, em gravações em vídeo, cuja existência — mas não o conteúdo — já foi até divulgada pela Revista UFO. Alguns alegam que neste material haveria depoimentos de militares relatando a captura, a guarda, o transporte e o envio de material de origem desconhecida para fora do país, tanto criaturas quanto destroços de um veículo “fora dos padrões conhecidos por nossa ciência”. Isso é verdade? De onde saíram tais informações? Documentação com alto poder revelador sobre o caso? Não a possuo e não sei de onde partiu tal certeza. Quanto ao “material” ser enviado para fora do país, esta é outra afirmação que jamais partiu de mim, mas a grande maioria dos colegas acredita nesta hipótese. Só não sei o que os leva a crer tanto nela. Já a questão dos depoimentos gravados é interessante para exemplificarmos, novamente, o que eu disse anteriormente. Apenas para efeito de raciocínio, suponhamos que houvesse mesmo fitas gravadas com militares, que tivessem afirmado terem participado da captura de seres extraterrestres, ou seja, declarações pessoais e nada oficiais, muito menos falando em nome das instituições citadas na história do Caso Varginha. Nesta hipótese, alguém em sã consciência acha mesmo que isto seria prova da existência de seres extraterrestres, que nos visitam e que foram capturados pelas Forças Armadas? Não há como. E por isso, novamente repito que está na hora de a Ufologia sair do campo das ilusões, por que viaja há mais de 60 anos, e passar a ter uma idéia madura e real do que realmente possa ser considerado prova, ainda mais de afirmações tão extraordinárias. E repito: não possuo qualquer depoimento gravado que prove que as Forças Armadas capturaram seres extraterrestres.
Alguém em sã consciência acha mesmo que há prova da existência de seres extraterrestres? Está na hora de a Ufologia sair do campo das ilusões, por que viaja há mais de 60 anos, e passar a ter uma idéia madura e real do que realmente possa ser considerado prova, ainda mais de afirmações tão extraordinárias
Então, refaço a pergunta: você possui depoimentos gravados com militares que contêm declarações de que as Forças Armadas capturaram seres cuja natureza nos é inteiramente desconhecida? Reafirmo minha resposta, de que não possuo depoimentos gravados com militares que contêm declarações de que as Forças Armadas capturaram seres cuja natureza nos é inteiramente desconhecida.
Se esta fita de fato existisse, e contivesse as presumidas revelações importantes, você a disponibilizaria para os ufólogos à frente da campanha que pede liberdade de informações ufológicas no país? Nesta hipótese, se houvesse mesmo uma fita como esta, além dela jamais poder ser considerada uma prova, ela não poderia ser empregada para este fim simplesmente porque os depoimentos que conteriam teriam sido dados com o pedido de sigilo quanto às identidades dos depoentes. Assim, sejamos realistas e paremos de fantasiar. E, como disse um respeitadíssimo jornalista certa vez, se profissionais de diversas áreas sabem que manter suas fontes em sigilo é o mínimo de dignidade que se espera deles, não serão ufólogos que agirão irresponsavelmente ao contrário. Não podemos agir na contramão da confiança que eventuais depoentes depositaram, quando solicitam a preservação de suas identidades. Só por isto. Comprometer o sossego, o nome e a tranqüilidade de pessoas, a bem da uma saga de querer provar a todo custo que ETs foram capturados, seria no mínimo um ato absolutamente patético, antiético e desastrado. Finalmente, teria sido exatamente o combinado entre os próprios ufólogos envolvidos com o caso na época, e eu, de minha parte, manteria tal compromisso sempre. Se testemunhas de casos ufológicos não forem respeitadas ao pedirem sigilo, o que somos nós? Super-heróis que não ligam para tais pessoas? E por que faríamos isso? Para satisfazer nossos caprichos? Para nos considerarmos os “grandes homens” que provarão ao mundo que ETs existem e vêm até aqui? Ora, para isso, nem seria necessário considerar se o depoimento destas pessoas é verdadeiro ou não. E nós ainda queremos levar o Governo a revelar supostos segredos ufológicos…
Você criticou bastante o fato da CBU ter incluído o Caso Varginha no chamado Manifesto da Ufologia Brasileira, que pede a liberação de documentos ufológicos secretos das Forças Armadas. Qual o motivo de suas críticas, já que você sempre afirmou que o Exército esteve completamente envolvido no caso? Quanto às minhas afirmações do passado, já respondi. Já a minha crítica – que, aliás, não é algo pejorativo, e saber como empregar corretamente termos, em seus reais significados, é outra coisa que a Ufologia Brasileira precisa aprender – reside no fato de que a campanha pretende requerer algo que nem sabe se existe. Também não sei que documentos secretos são estes que falam sobre o Caso Varginha. Requerer documentos que nem podem ser especificados é no mínimo um ato inócuo e sem objeto, que talvez implique no imediato arquivamento do pedido, logo no primeiro despacho, como parece ter acontecido com as estranhas reivindicações dirigidas pela CBU, inclusive à Casa Civil.
Ao contrário, a Casa Civil da Presidência da República já determinou a abertura de mais de 600 páginas de documentos ufológicos, em especial aqueles referentes ao funcionamento do Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani) e aos resultados da Operação Prato. Já estão tudo no Arquivo Nacional, em Brasília, para consulta popular, e no Portal UFO. Você não acha um resultado positivo, embora modesto? Sei disto. Ou seja, sobre documentos de registros de avistamentos e outros tipos, como já comentamos. Mas tais alegados “segredos ufológicos” são provas de que discos voadores existem e que ETs nos visitam? Não são.
Voltando ao Caso Varginha, para finalizar, tenho mais algumas perguntas. Primeira, o que você acha que ainda falta acontecer ao episódio, ou seja, o que falta descobrir? Como eu sempre disse em todos esses anos, os ufólogos elaboraram alguns fatos isolados, contidos em um contexto maior, não sabendo até hoje de todos os seus componentes, independente de serem ou não verdadeiros ou concretos. Falta, portanto, fechar todo esse contexto. Não tenho a mínima idéia sobre se conseguiremos ou não.
Mas qual você gostaria que fosse o desfecho mais apropriado para o caso? Aprendi que não se pesquisa algo esperando um resultado previamente desejado. Caso contrário, corremos o risco de deturpar a realidade. E isto faz parte do abecedário científico. O desfecho do caso, se vier e quando vier, espero que seja o mais realista possível. Não me prendo psicologicamente ao episódio e, como disse no início, isto é uma postura difícil de ser assumida em Ufologia. Não me pertence à propriedade dos fatos. Portanto, o desfecho mais apropriado, para mim, será o resultado que puder vir atrelado ao que de concreto puder ser demonstrado. Se puder.
Entendido. Você é professor de direito numa faculdade respeitada e tradicional em Varginha, além de profissional da área, com especialização em direito trabalhista e também com grande reconhecimento no sul de Minas Gerais. Ainda se considera um ufólogo? Absurdamente, alguns colegas acreditaram que deixei a Ufologia, apenas porque alterei minha postura e meu modo de ver os estudos nesta área, que hoje são diversos da maior parte do que se lê, se vê e se publica. Nunca neguei ser ufólogo à sociedade da cidade em que vivo. Mas não misturo minha condição de ufólogo com minhas atividades de advogado nem com as de professor universitário. Gosto de Ufologia. Depois de todos esses anos, considero-me um colaborador da casuística ufológica, que acho que ainda necessita ser melhor organizada. Assim, penso que sou e pretendo continuar ufólogo.
Mas o fato de você ser rotulado como ufólogo atrapalha o desempenho de suas atividades acadêmicas e laborais? Meus clientes, alunos e colegas já perceberam claramente, há muito tempo, a minha postura, que aprendi em filosofia, de que cada área do conhecimento deve estar no seu devido lugar. Caso contrário, seremos bons fanáticos. Portanto, a menos que seja novamente colocado na posição de marido traído, nada percebi que me pudesse ter prejudicado em minhas atividades profissionais, por causa da Ufologia. A não ser os investimentos que fiz em minha atuação de ufólogo, que acabaram sendo bem empregados, mas não foram poucos. Evito totalmente dar prioridade ao emprego do meu tempo em prol da pesquisa dos discos voadores, fazendo-o primeiro para minhas profissões de advogado e professor. A Ufologia fica para depois.
Em sua brilhante trajetória no campo das pesquisas ufológicas você recebeu críticas de alguns colegas por ter anunciado seu desligamento da Ufologia e retornado à ativa em seguida. O que realmente o desmotiva e motiva para sair e entrar no meio? Lembro-me de que realmente anunciei minha saída da chamada Comunidade Ufológica Brasileira, algum tempo antes do Caso Varginha. E confesso, como já fiz em outras oportunidades, que retornei em razão dele. Mas jamais saí da Ufologia ou deixei meus estudos ufológicos. O que acontece é que alguns colegas insistem por achar que deixei a Ufologia em razão de eu ter encerrado minha participação em atividades sociais da comunidade, como ter parado de freqüentar congressos, de ministrar palestras ou de escrever artigos, por exemplo, para a Revista UFO. Considero esse entendimento idêntico à postura de alguns fervorosos religiosos que, porque alguém não comunga com suas posturas ou crenças, acham que a pessoa encerrou suas atividades, seus estudos, suas reflexões. Mas devo reconhecer que isto tem certa coerência. Afinal, se não comungo com a maioria do pensamento dos membros de uma linha de atuação, realmente pode ser entendido que a deixei. Mas não deixei a Ufologia após o Caso Varginha, e o que me estimula a continuar é o pleno interesse que ainda mantenho pelo tema. Já o que me incentiva a deixar as atividades normais da mencionada comunidade é minha total incompatibilidade com os rumos que ela tem tomado, refletidos nas publicações existentes, nos entendimentos sobre o Fenômeno UFO e o pensamento manifestado. Ou melhor, a incompatibilidade não é apenas minha, mas de mais uns três ou quatro colegas, dentre eles meu parceiro e co-autor Carlos Reis.
Considerando que, durante as décadas de 80 e 90, você sempre foi ativo participante de eventos ufológicos e brilhante conferencista, pretende voltar a participar de eventos na área? Não tenho esta expectativa. Tudo o que estou dizendo não me impede de sempre ter em mente que a postura da Comunidade Ufológica Brasileira, das publicações e da maioria dos colegas, é, repito, um direito indiscutível de todos eles. Portanto, o velho jargão de que os incomodados que se retirem, continua válido. Se a Ufologia não é ciência nem tampouco disciplina acadêmica – e está tão longe disto que só de pensar na idéia contrária me provoca risos –, eu e os poucos colegas a que me refiro temos a mesma liberdade de não comungarmos com as crenças e com tais modos de atuação, adotando outros absolutamente diversos. Participar de eventos ufológicos para, no final das contas, essa comunidade achar um feito heróico alguém elaborar um “código de ética ufológica”, como se princípios axiológicos e deontológicos [Em geral, valores e ética] não fossem aplicáveis em qualquer atividade humana? Não vejo como contribuir, com minha participação em eventos, com uma Ufologia que insiste em se misturar com correntes religiosas, a exemplo das impropriedades publicadas, em termos de fundamentação, ligando Ufologia ao espiritismo – ainda que meu respeito pelos espíritas seja completo. Ou com uma Ufologia que sequer sabe o significado do termo “fenômeno”, como recentemente um excelente ufólogo irritou-se por e-mail por não se conformar com o fato de alguns ainda chamarem UFOs simplesmente de fenômeno. Como se fenômeno tivesse o sentido conotativo de algo estranho e desconhecido, a bem de nossos antigos vícios de conceituação.
Pelo visto você sente bastante desconforto com os rumos atuais da Ufologia Brasileira. Nada tenho a oferecer a uma Ufologia que fala em um holismo, como se isso fosse dar a um tema o trato embaralhado, misturado e incompatível com misticismo, esoterismo, ciência, religião e pseudofilosofias. O trato holístico a algo é, por exemplo, refletir, experimentar ou agir sob diversos pontos de vista científicos, como pode fazer um médico ao considerar aspectos biológicos, psicológicos e sociais de um paciente. Não é a injustificada mistura que se faz hoje em Ufologia, para atender aos nossos arraigados e insuperáveis conflitos de cunho religioso. Não vejo objetivo em falar para um público cada vez mais ávido de gurus e profetas que anunciam sem constrangimento o fim do mundo e a volta de Jesus, marcando várias datas e depois se calam, com a mesma tranqüilidade, ao perceberem que nada aconteceu, exatamente como nas tantas de vezes em que tais previsões escatológicas foram divulgadas [Veja edições UFO 126, 128 e 129].
O que acontece é que alguns colegas insistem em achar que eu deixei a Ufologia em razão de ter encerrado minha participação em atividades sociais da comunidade, como ter parado de frequentar congressos, de ministrar palestras ou de escrever artigos, por exemplo para a Revista UFO
Então, aparentemente, a Ufologia Brasileira vai ser privada indefinidamente de sua presença nos eventos, que todos sempre apreciaram tanto. Bem, também não vejo sentido em fazer palestra para poucas dezenas de pessoas quando se anuncia um evento de Ufologia apelidada de científica, sabendo que seriam milhares se eu propagandeasse que falaria sobre seres intraterrenos, contatos telepáticos com nossos “irmãos espaciais”, presenteando o auditório com pedacinhos de argila que irá salvá-los quando o tal de Nibiru invadir o Sistema Solar, ou o fantasioso Comandante de Quinze Milhões de Naves vier para o histericamente aguardado arrebatamento.
Qual foi o principal motivo que o levou a sair do Conselho Editorial da Revista UFO, que você ocupou como consultor e até como co-editor? Sem qualquer hipocrisia, foi em virtude do orgulho que tenho desta revista, por motivos óbvios, a maior publicação ufológica de todos os tempos. Ou seja, em razão do que já citei, não teria lógica eu ficar o tempo todo incomodando seu editor e meu amigo, apresentando manifestações contrárias às matérias que considero verdadeiro descalabro – e pouco importa se isso for entendido como arrogante, o que não é minha intenção. Ora, digo novamente que a Ufologia ainda está no início, que é hora de se tentar elaborar informações que possam ser consideradas sérias e chamar atenção de quem é competente para lidar com um fenômeno complexo, a ciência. A UFO não é uma revista científica, como sobriamente expôs seu editor, há uns anos. Ela precisa atrair público e vender para se manter, e isto é fato real. Mas se não comungo com o teor de quase todas as matérias que ela vem publicando, me retiro. Não estou à altura de dar qualquer consultoria a uma publicação que ofereceu a eventuais detratores a maior e mais concreta prova de que se faz muita pseudociência em Ufologia. Veja que, depois de vários estudiosos sérios terem gasto tempo e dinheiro para demonstrar o óbvio, o que já é absurdo, quanto aos tais “rods”, a revista apresentou extensa matéria contendo um festival de falácias e sandices de autoria de um “descobridor de rods”, do exterior, escrito com aparência e disfarce de seriedade científica [Veja edição UFO 112]. Enquanto é óbvio e notório que eles não passam de pequenos insetos, ciscos, poeira e por vezes até pássaros, o autor sustenta que seriam uma forma desconhecida de vida voadora. Assim, não vejo porque permanecer com minhas intervenções nada bem-vindas em uma publicação que tem sustentação em alguns consultores que classificam os contraditores de incrédulos, até com tom de irritação, como se credulidade fosse virtude e incredulidade um grave defeito. Ou que continua insistente de que filmagens de balões de bexiga sejam registros de frotas de UFOs, as chamadas “flotillas” [Veja edições UFO 109, 110 e 112].
A posição da Revista UFO quanto aos rods é a mesma que ela assume quanto a vários temas ainda não esclarecidos da Ufologia. Ou seja, para se conhecê-los, é preciso levá-los ao público e aos estudiosos e deixá-los que examinem e concluam o que puderem. Assim, como o assunto viria à tona se a única publicação brasileira que seria o veículo ideal para isso fecha suas portas a ele, mesmo que seja para explicá-lo em termos naturais e sepultá-lo para sempre? Algumas coisas são tão óbvias que é desnecessário submetê-las à discussão sobre a possibilidade de serem extraordinárias. Quando colocamos à polêmica algo que pertença à ordem natural das coisas, estamos dando “murro em ponta de faca”, demonstramos um desejo ou quem sabe um impulso quase inconsciente de buscar mistérios onde não existem. Sempre no afã de tentarmos, desesperadamente, procurar e demonstrar alguma coisa de incomum, a bem de nosso próprio fascínio pelo mistério. Quando muito, é brincar de ciência ou elaborar uma situação ilusória frente à nossa falta de algo concreto com o qual possamos lidar com fundamentos válidos. É como se a única publicação brasileira no gênero não se recusasse a dar ao público a chance de discutir a possibilidade de Papai Noel passar pelos nossos céus uma vez por ano, em uma charrete tocada por renas. Se os rods ainda não são esclarecidos pela Ufologia, a Ufologia valoriza a possibilidade de ciscos e insetos serem algo estranho. É, na verdade, uma estranha forma de suposta isenção.
Quanto às flotillas mexicanas, a posição da Revista UFO também foi clara: deu espaço a todos os segmentos que pudessem discorrer sobre elas. Evidentemente que o primeiro segmento foi o dos ufólogos mexicanos que apresentaram seus fatos no exterior, que, aliás, não são contestados nos principais ambientes mundiais onde o assunto é tratado, por serem um fenômeno que se pesquisa seriamente. Veja que até mesmo autoridades do governo mexicano, civis e militares — como o general Vega Garcia, titular da Secretaria de Defesa Nacional (Sedena) —, já declararam que os objetos filmados às dezenas e às vezes às centenas sobre importantes cidades do país, e até mesmo detectados por radar e observados de perto por caças a jato, não têm origem explicada. Como considerar este tema algo ilusório a priori, sem lhe dar uma boa dose de debate? Não seria isso justamente fazer anticiência, que é o que você condena? O sentido é o mesmo. Quando se evoca um general e sua alegada declaração, é como se a palavra de uma pessoa, mesmo com a posição que ele ocupa, pudesse servir para firmar uma explicação que não se tem, o que é absurdo. De novo voltamos à questão de que, para os ufólogos, se alguns acontecimentos não têm origem explicada, então só podem ser de fora ou inexplicáveis. Mas devo concordar que uma publicação especializada não possa se abster de tratar das tais flotillas. O que não concordo, é que tendenciosamente se insista que sejam frotas de discos voadores, quando nitidamente são bolas ou bexigas. Isto também não é novo. Ainda continuamos lendo certos boletins de grupos ufológicos mostrando-se perplexos diante de pontos arredondados e esbranquiçados que saem em fotografias batidas dentro de cavernas, insinuando que esses “orbs” possam ser fenômenos extraordinários, quando não passam de pó e cinzas em suspensão. O óbvio ululante, constituindo um mundo pobre e ridiculamente fantasioso. Resguardadas as devidas proporções, admito novamente, não vejo muita diferença entre um e outro tipo de oc