Na Teoria da Relatividade Geral de Einstein, o tempo num determinado local se acelera e desacelera quando se passa por corpos de grande massa, como estrelas e galáxias. Ao se aproximar do Sol, por exemplo, uma nave extraplanetária teria deformado o tempo medido em eventual relógio em seu interior. Desta mesma forma, um segundo na Terra não é o mesmo que um segundo em Marte. Se pudéssemos espalhar relógios pelo universo, notaríamos que eles se moveriam a velocidades diferentes, nos diversos pontos onde se encontram. E ao praticar navegações por distintos pontos do cosmos, um veículo estaria sujeito a inúmeras variações no transcorrer de seu tempo, conforme se aproxima ou distancia de corpos de grande massa.
A pergunta que fica no ar, então, é: seres pertencentes a uma tecnologia mais avançada teriam como tirar proveito disso para fazer viagens espaciais? Aparentemente, sim. Boa parte dos ufólogos da atualidade acredita que nossos visitantes extraterrestres têm capacidade de vencer grandes distâncias através do uso calculado de conceitos que envolvem a manipulação do tempo. Os elementos essenciais para isso estão espalhados pelo universo e são justamente as estrelas, os buracos negros e, mais recentemente descobertos, os buracos de minhoca [Do inglês wormholes]. Estes seriam, a grosso modo, a ligação de dois ou mais buracos negros, interligando distintas e as vezes longínquas posições do universo – ou de vários universos.
Em 1935, Einstein e o cientista Nathan Rosen deduziram que a solução das equações da relatividade geral permitia a existência de “pontes temporais” no cosmos, originalmente chamadas de Pontes de Einstein-Rosen. Correntemente, são os conhecidos buracos de minhoca, que receberam esse nome em virtude de terem imaginariamente formas irregulares, tais como canais. Estas pontes uniriam distantes regiões do espaço-tempo e, viajando-se através de uma delas, poder-se-ia mover mais rápido do que a luz viajando pelo espaço-tempo normal. Os buracos de minhoca seriam poderosos atalhos que encurtariam distâncias astronômicas.
Antes da morte de Einstein, o matemático Kurt Gödel, que também trabalhava na Universidade de Princeton, teria encontrado uma solução para as equações da relatividade geral que, em tese, permitiriam a viagem através do tempo proposta por seus antecessores. Esta solução mostrava que o tempo poderia ser distorcido pela rotação do universo, gerando “redemoinhos” que possibilitariam a alguém, movendo-se na direção de tal rotação, chegar ao mesmo ponto no espaço, mas atrás no tempo. Antes de Gödel, no entanto, Einstein havia concluído que, como o universo não está em rotação, a solução de Gödel não se aplicava. Estava criado um impasse, até que, em 1955, o físico norte-americano John Archibald Wheeler cunhou o termo buraco negro. Ele escreveu um artigo sobre geometrodinâmica mostrando que as pontes de Einstein-Rosen poderiam ligar não somente distintas regiões do universo, formando um túnel de espaço-tempo, mas também universos paralelos.
Em 1963, o matemático Roy Patrick Kerr, da Nova Zelândia, encontrou outra solução nas equações de Einstein para um buraco negro em rotação. Nesta solução, tecnicamente, tal buraco negro não colapsa para um ponto, ou para o que os cientistas chamam de “singularidade”, como previsto nos estudos anteriores. Ele concentraria sua ação num gigantesco anel de nêutrons em rotação. Em termos mais simples, um anel desse gênero teria um equilíbrio gravitacional, através de força centrífuga, que impediria um colapso que o encerraria em si mesmo. É muito difícil conceber de forma mental como isso se daria, mas cientistas chegaram a equações matemáticas de grande complexidade que garantiriam, em tese, que o anel formado seria um redemoinho que conectaria não somente regiões do espaço, mas também regiões do tempo, como um buraco de minhoca. Apropriadamente empregado, tal redemoinho poderia ser usado como uma máquina do tempo.
Nossa ciência tem conhecimento disso apenas teoricamente, com algum respaldo em observações astronômicas através de telescópios óticos e radiotelescópios. Outras civilizações mais avançadas poderiam ter maiores e mais completas informações a respeito, usando-as de uma forma prática que, entre outras coisas, as permitiriam usar as próprias forças naturais do universo em seu favor. Segundo nossos conhecimentos a respeito dessa novíssima área da astronomia – já apelidada de opináutica [De opi, que significa buraco + náutica, que se usa para navegação] –, a maior dificuldade para o uso dos buracos de minhoca como máquina do tempo é a energia necessária para sua operação, que teria que ser de uma quantidade fabulosa. Seria preciso usar a energia nuclear de uma estrela, ou a proveniente da operação com antimatéria, para se lograr êxito na empreitada. E essas são apenas conjecturas teóricas sobre as quais temos pouco ou nenhum conhecimento.
O segundo problema que se enfrentaria é falta de estabilidade do sistema. Um buraco negro em rotação pode ser instável, se excreta massa. Efeitos quânticos também podem acumular-se e destruir o redemoinho. Na verdade, a teoria prevê que os redemoinhos ou buracos de minhoca sobrevivam somente uma fração de tempo tão curta que nem a luz conseguiria atravessá-lo. O outro grande problema para se usar um buraco negro ou de minhoca como ponte entre dois locais é que a força desses objetos estelares seria tão grande que despedaçaria qualquer corpo que se aproximasse de suas redondezas, primeiro sugando-o ao seu interior e, uma vez lá, exercendo sobre ele uma pressão descomunal. Portanto, embora teoricamente possível, uma viagem no tempo não é praticável.
Aumento de Massa — O postulado fundamental da Teoria da Relatividade de Einstein, que até os dias de hoje se mantém como padrão de entendimento na área, é de que o limite universal de velocidade é a que a luz atingiria em sua propagação no vácuo, algo pouco menor do que 300 mil km por segundo. Para se ter idéia dessa grandeza e das distâncias que envolvem os corpos estelares, se o Sol se extinguisse neste instante, sua luz ainda brilharia sobre a Terra por pouco mais de oito minutos, que é o tempo necessário para que viaje da posição onde está nossa
estrela-mãe até nosso planeta. Ao extinguir-se, os últimos raios do Sol precisariam dos tais minutos para atingir a Terra. Isso equivale a dizer que cada instante em que recebemos a luz e o calor solares, eles já têm oito minutos de duração viajando pelo espaço.
A estrela mais próxima da Terra, fora do Sistema Solar, é Alfa da Constelação do Centauro, que está a pouco mais de 4,4 anos-luz da Terra. Seu brilho, portanto, precisa de quatro anos e alguns meses para atingir nosso planeta. Se num determinado instante a estrela deixar de existir, talvez por uma explosão, por exemplo, só perceberemos o fato quase meia década depois, porque a luz que ela emitiu antes de extinguir-se ainda estaria chegando à Terra. Isso à fantástica velocidade de 300 mil km por segundo. Em sua trajetória, ao passar por corpos de grande massa, poderia sofrer alterações, cujos impactos estão sendo estimados por astrônomos.
Qualquer corpo do universo, quando acelerado, tem sua massa inercial aumentada em função da velocidade atingida. Assim, quanto maior a velocidade do corpo, maior a massa inercial, o que implica que será necessário muito mais energia para fazê-lo acelerar e, conseqüentemente, desacelerar. Em outras palavras, para fazer a velocidade de um corpo aumentar até 100 km/h, por exemplo, gasta-se muito mais energia do que para acelerar um corpo a 10 km/h, ou mais ainda para outro que esteja a 1 km/h. Assim, para corpos que estejam próximos à velocidade da luz, a quantidade de energia necessária para aumentar sua velocidade é absurdamente alta, algo quase inimaginável.
Já a relação da velocidade com o tempo é inversa. Quanto maior a velocidade de um determinado corpo em movimento, mais lentamente o tempo passa para ele. Daí o exemplo clássico da astronáutica: um pai que viaja numa espaçonave, próximo à velocidade da luz, quando volta ao ponto de partida estará mais novo do que o filho que ficou na Terra. Assim, a velocidade do fluxo de tempo é tanto mais lenta quanto maior a velocidade do corpo, de forma que, à velocidade da luz, esse fluxo de tempo seria nulo. Mas, ainda assim, por mais que isso fosse um benefício imenso para quem gostaria de viajar a velocidades supralumínicas [Acima da luz], ainda haveria o impasse da fabulosa quantidade de energia necessária para acelerar o corpo a tal velocidade, para quse pudesse usufruir de um retardamento no envelhecimento de quem estivesse dentro da nave espacial. Pode-se chamar de velocidade de fluxo de tempo a relação entre o fluxo de tempo propriamente dito no corpo em movimento e o fluxo de tempo no referencial que se toma por base – aquele que fica parado com relação ao qual medimos nossa velocidade. Assim, se relativamente ao fluxo de tempo no referencial, para cada segundo transcorrido, o tempo decorrido no corpo em movimento fosse de 0,5 segundo, a velocidade de fluxo de tempo seria de 0,5 – 0,5 segundo para o corpo em movimento, dividido por um segundo no referencial.
Velocidade da Luz — A constatação que se pode fazer a partir daí é bastante interessante: quando o corpo está em repouso, sua velocidade no espaço é mínima ou nula, e sua velocidade de fluxo de tempo é máxima. Ou seja, para cada segundo que se passa no referencial, passa-se um segundo para o corpo. Dessa forma, quando o corpo está à velocidade da luz, algo apenas imaginário para o ser humano, sua velocidade no espaço é máxima e sua velocidade de fluxo de tempo é mínima. Portanto, poder-se-ia dizer que o deslocamento de um segundo no tempo equivale a um deslocamento no espaço de 300 mil km. A viagem para o futuro, em tese, é perfeitamente possível segundo a já citada Teoria da Relatividade. Fazendo-se aumentar a velocidade de um corpo, o tempo passará mais vagarosamente para ele em relação ao referencial de partida. Assim, para cada segundo que se passa para o corpo, passará um segundo e mais alguma coisa para o referencial parado. Esse “mais alguma coisa” pode ser uma fração do valor total. A velocidade do corpo, nessa interpretação da teoria de Einstein, determinará a “velocidade” da viagem no tempo.
E se chegar a dois-terços da velocidade da luz, para cada segundo que passar para o corpo, passará 1,34 segundo para o referencial. Assim, ao final de 10 anos de viagem, o corpo em viagem pelo universo terá se “adiantado” no tempo em mais de três anos. Embora complexas para o leitor, estas constatações são matemáticas e precisas. Infelizmente, nada podemos fazer para testá-las na prática…
De qualquer forma, seguindo a mesma analogia, para fazer o corpo ganhar velocidade é preciso a ação de uma força descomunal para acelerá-lo. E quanto maior a velocidade que se deseja atingir, maior terá que ser a força a ser empregada, devido ao aumento da massa inercial, como foi já colocado anteriormente. Isso significa que mais e mais energia será necessária para continuar a aceleração ou manter a velocidade atingida.
Segundo a conhecidíssima fórmula de Einstein, a energia que o corpo absorve, com o aumento da massa inercial, é definida por sua clássica fórmula, E = m.C2, onde E é a energia necessária, m é a massa considerada e C2 é a velocidade da luz elevada ao quadrado. Matematicamente falando, a energia necessária para acelerar um corpo até certa velocidade é sempre a mesma. Entretanto, a força produzida pela energia é que determina a aceleração, e assim, se a energia for aplicada lentamente, o corpo demorará bastante até chegar à velocidade desejada. Desta forma, o fluxo de energia também pode influir no tempo gasto na hipotética viagem ao futuro.
Viagem ao Passado — E para o passado, é possível viajarmos? Será um dia, mas certamente não tão “simplesmente” quanto viajar ao futuro. O raciocínio que geralmente se faz, relativamente aos efeitos do aumento de velocidade quando se atinge velocidades supralumínicas, é incorreto. Ainda que se ignore a impossibilidade de se ultrapassar a velocidade da luz para viajar ao futuro, não podemos usar a mesma lógica para viajar ao passado. Uma imaginária jornada à Antiguidade, por exemplo, seria uma impossibilidade mesmo segundo o avançado postulado de Einstein ou aqueles dele derivados. Mesmo que a velocidade de um veículo fosse maior do que a da luz, ele não seria levado ao passado. Na realidade, o corpo teria seu tempo retrocedido
e uma pessoa em seu interior, por exemplo, ficaria mais nova. Mas não haveria o retrocesso do próprio tempo.
A menos, é claro, que se descubra no futuro alguma condição que permita rever aquilo que Einstein tão brilhantemente descobriu, uma teoria sobre a qual cientistas das mais diversas áreas, há décadas, se debruçam para ampliar ou modificar. No entanto, a julgar pelo fato de que, num dado momento de nossa história, surgiu um Albert Einstein para criar um “regulamento” que permita ao homem sonhar com viagens no tempo, talvez possamos soltar nossa imaginação e esperar que essa mesma história nos presenteie com outro ser com seu brilhantismo e intuição, que nos dê mais respostas às perguntas que tanto nos inquietam. Essa nossa trajetória histórica, que contemplamos neste instante, por já ser algo concreto para outras civilizações mais avançadas, que estiveram e resolveram os problemas que hoje nos retém ao nosso próprio tempo.