Em um documento publicado em 06 de agosto de 2021, Gaël Lombart, repórter do Le Parisien, segundo jornal diário mais lido na França, afirma investigar relatos militares sobre UFOs. Ele inclusive revela uma de suas fontes principais: um militar de alta patente e com muita credibilidade. E nos conta um de seus relatos.
Lombart começa traçando o retrato de sua fonte principal, o general Bruno Mignot. Ele foi:
-Diretor-delegado do Centro de Estudos Estratégicos Aeroespaciais (CESA);
-Diretor de publicações no instituto Themiis (2016);
-Chefe da divisão de Planejamento e Estratégia, CESA (2013-2015);
-Diretor do Centro Nacional de Operações Aéreas CNOA (2011-2013);
-Piloto ativo em unidades de combate, certificado em caças, transporte, embarcações de guerra eletrônica e helicópteros.
O general Mignot é um ex-piloto. Ele não se contém quando questionado sobre a política, mas quando questionado sobre UFOs, torna-se extremamente cauteloso: “Eu gostaria que você não declarasse que um general acredita em extraterrestres. Não estou aqui para promover um jornalista. Estou aqui para brilhar a luz da Verdade.” Um dos avistamentos do general Mignot aconteceu em 05 de novembro de 1990, às 19h00. O então capitão Mignot pilotava um Transall com uma tripulação de quatro pessoas, no final de uma missão de treinamento, em direção a Orleans. Ele falou sobre isso publicamente pela primeira vez em um documentário francês, “le bureau des Ovnis”, de 2020, dirigido por Dominique Filhol (não traduzido). O aclamado diretor, Dominique Filhol também dirigiu ‘Ovnis une affaire d’Etat‘, um mergulho profundo no assunto UFO, disponível em inglês, conhecido por suas entrevistas inovadoras com oficiais, incluindo Alain Juillet, ex-diretor dos Serviços Secretos Franceses.
De repente, o mecânico relata o contato visual com algo quase diretamente à sua frente, do tamanho de um grande 747. Em seguida, ele os passa para a esquerda do Transall. O objeto foi descrito como tendo um rastro de luz acompanhado por um grande número de luzes laranjas, vermelhas e brancas. O final do rastro de luz parecia truncado. O capitão Mignot então reclamou com o Controlador de Tráfego Aéreo militar por não o alertar, mas o objeto não tinha assinatura de radar. O observador da torre notou uma trilha amarela se movendo na direção leste. O Transall então se moveu para se alinhar com a pista de pouso para sua finalização, e o capitão Mignot observou a completa ausência de turbulência em seu rastro. As luzes então aceleram e desapareceram. No total, 13 testemunhas militares seriam entrevistadas pela polícia militar francesa, a Gendarmerie.
Na época, o Escritório Público UFO francês, criado em 1977, era chamado de SEPRA, o Serviço Especializado em Fenômenos de Entrada Atmosférica. Sua conclusão foi usar a reentrada de um foguete Proton russo para explicar os relatórios civis e militares. O general Mignot discorda dessa avaliação, pois os foguetes queimam entre 50 (160.000 pés) e 100 km de altitude (320.000 pés) e o Transall estava voando a 500 metros (1600 pés). Especificamente, o foguete Proton derreteu diretamente acima de Orleans, o que é contraditório ao que foi observado. Lombart deu continuidade à sua investigação observando que, na mesma noite, foi feito um relatório por pilotos britânicos sobre o Canal da Mancha, às 18h00, uma hora antes da reentrada do foguete. Os pilotos viram um objeto do tamanho de um C 130, semelhante a um avião, luminoso, com várias luzes brancas e uma azul na cauda.
O general Bruno Mignot, fonte principal de informações ufológicas militares de Gaël Lombart.
Fonte: Deposit Photos
O autor termina seu artigo apontando que, desde o lançamento da avaliação preliminar da Força Tarefa UFO, os objetos voadores não identificados são comentados publicamente por oficiais de alto nível e ex-oficiais de inteligência, enquanto na França é extremamente raro ver um oficial militar de alto escalão tomar uma posição sobre este assunto. Para registro, oficiais de alto escalão já assumiram uma posição publicamente em 1999 por meio de um livro, “UFOs and Defense.” Os autores, pilotos militares e civis, engenheiros, oficiais militares de alto escalão e cientistas, que se autodenominaram COMETA (sigla em francês para Comitê de Estudos Avançados), trabalharam três anos para produzir um relatório inédito sobre UFOs, incluindo evidências fotográficas. A reação da mídia e a total falta de reação das autoridades acabaram com essa oportunidade. Algumas semanas atrás, quando o assunto do aumento de relatos de UFOs em 2020 nos Estados Unidos foi usado em uma rádio nacional, o apresentador e figura do jornalismo de TV francês, Yves Calvi, perguntou se o consumo de álcool também aumentou ao mesmo período.
Lombart conclui com uma citação do general Mignot: “Nunca ouvi falar de documentos classificados ou coisas que deviam ser mantidas ocultas. Não falamos sobre isso, porque frequentemente estamos entre pilotos e quando um piloto vê um UFO, temos a tendência de, gentilmente, zombar dele. Ele conclui: “Pelo que eu posso dizer das minhas investigações, não há uma classificação secreta específica para relatos de UFOs. Todos os relatórios militares franceses podem ser lidos no arquivo militar, se você tiver acesso a ele. Recentemente, sete caixas de relatórios sobre UFOs feitos pela Gendarmerie foram postados em um novo site.”
“O problema é a obscuridade. Nada é referenciado, nem ordenado, nem devidamente arquivado. Você tem porões de bases militares cheios de vários relatórios não digitalizados que são destruídos apenas para liberar espaços. O sistema de classificação francês é muito simples: quando você solicita acesso a uma caixa de relatórios específica (você não pode pedir um relatório especificamente porque eles não são referenciados), um arquivista examina a caixa e declara o nível de segredo de seu conteúdo e se você tem acesso a ela ou não.” Se o documento for classificado, é possível fazer um apelo ao CRADA (Acordo Cooperativo de Pesquisa e Desenvolvimento) para desclassificar os materiais, mas esta administração está sobrecarregada com pedidos, pois obriga qualquer administração a cumprir os pedidos dos cidadãos.
A classificação não se baseia no conteúdo, mas na metodologia e na plataforma, portanto, as caixas mais antigas (dos anos 60 ou 70) são mais fáceis de desclassificar do que as mais recentes. Também é possível que dentro da administração francesa, em algum lugar, uma célula esteja coletando relatórios militares de UFOs, já que o último relatório militar transmitido ao órgão público ufológico data dos anos 80. Mais uma vez, Gaël Lombart deve ser elogiado por seu trabalho, como um dos poucos jornalistas franceses a abordar este assunto com seriedade.