REDAÇÃO — Tracy Tormé é uma figura carimbada da Ufologia Norte-Americana, por trás de cada uma das últimas grandes produções cinematográficas sobre o assunto. Participou intimamente de Intruders, como roteirista, de Fogo no Céu, como co-produtor, e de O Caso Roswell, como consultor. Para a TV, Tormé tem dado grandes contribuições também, como para as séries Insight e Abducted, dos EUA, além do programa especial de Mike Farrell UFO Cover-up Live. Filho de Mel Tormé, que tem estreita ligação com o Fenômeno UFO, Tracy cresceu ouvindo e admirando estórias de discos voadores. Há mais de 12 anos, já adulto, tem aplicado toda sua genialidade na produção cinematográfica de peças ufológicas inesquecíveis. Sempre que algum diretor tem um script ufológico em mãos, Tracy é o convidado para dar forma ao trabalho. E com essa figura importante da Ufologia Norte-Americana que a repórter Quendrith Johnson, da revista californiana UFO Magazine, conversou recentemente, confessando alguns segredos. UFO Especial tomou emprestado a entrevista e a reproduz por inteiro a seguir.
Para fazer o roteiro de Intruders, você teve que realizar pesquisas sobre o assunto? Bem, eu já sabia um bocado sobre o assunto. Fui a Boston e freqüentei as sessões do psiquiatra John Mack. Mas a equipe de produção fez muitas pesquisas para o projeto.
Você notou discrepâncias entre o que conhece sobre Ufologia e o que foi apresentado no filme? Tudo que usamos tinha o objetivo de ser investigado e apresentado como real. Inicialmente, a CBS ficou preocupada em ser processada, quando Dan Curtis, o diretor, disse à CBS que nós faríamos o que pudéssemos. Então tivemos mais liberdade para partir em novas direções, mas não o fizemos. Tudo na produção foi baseado em algum acontecimento real.
E a respeito da cena da queda de UFO, relatada por aquele interno do sanatório em Los Angeles? O diretor queria uma cena de colisão, só que não era a original que estávamos fazendo. Então tentei trabalhar nos arquivos ufológicos de 20 anos atrás. Talvez tenha havido uma queda, mas não é como se os extraterrestres conhecessem as pessoas e apertassem as suas mãos. Foram encontrados corpos.
Isto se baseia em documentos reais? Sim, tudo é baseado em uma coletânea de casos reais. Provavelmente existem umas 50 histórias de acidentes de UFO desse tipo. Fizemos um protótipo de um desses casos e o aplicamos ao Intruders.
E a respeito do envolvimento governamental? Budd Hopkins, por exemplo, afirma que as abduções ocorrem com centenas de pessoas e que o governo possivelmente seja o monitor desses incidentes. O maior problema com a Ufologia é que 98% das pessoas crêem que isso seja verdadeiro e que existe algum tipo de conspiração governamental. Obviamente tem de haver uma! Alguns conhecem os fatos, mas a posição oficial é de que não há nada a respeito. Há a questão de como conseguiram manter as coisas em segredo por 45 anos. Minha opinião é a de que, se há evidências de quedas de UFOs e cadáveres de alienígenas, e que nossos políticos sabem disso há 5 décadas, o vazamento disso seria como uma história doida. Creio que há um grupo muito seleto, como um meta-governo semelhante ao que protegia Oliver North, mas em uma área completamente diversa, que manipula o fluxo da informação. Minha hipótese no filme é de que esse grupo se formou há 40 ou 45 anos.
Que personagem da vida real pode ser identificada com o general Hanley? Bem, o General Hanley é uma personagem inteiramente minha, é algo que criei para a história. Há pessoas como ele no país e não creio que Ronald Reagan, George Bush ou Jimmy Cárter saibam da existência de tal grupo — é aí onde difiro dos ufólogos. Muitos deles crêem numa maciça conspiração e que todos no governo sabem dela. Henry Kissinger fazia parte, Nixon conhecia os meandros. De um lado parece haver um segredo, uma conspiração. De outro, pura fofoca e a imprensa como um todo parece não acreditar nisso. Para mim há mesmo um grupo de militares como esse, pequeno e independente.
Qual sua crença? Você crê na vida em outros planetas e que somos visitados por uma ou mais raças de seres alienígenas? Algumas vezes ouço histórias dizendo que há 7 raças nos visitando, mas não sei não… O que sei é que são pessoas bem intencionadas, provavelmente vítimas de desinformação. Creio que há gente que adora espalhar boatos. Bases subterrâneas, tanques criogênicos com corpos de ETs etc. Recentemente ouvi que — acredite se quiser — existiria um asteróide com homens-lagarto se dirigindo para a Terra e que os ufólogos nos advertiam que irá cair sobre nós. Não acho que sejam coisas criadas por alguém tomando LSD, Creio que são histórias simplesmente plantadas. No círculo ufológico há muitos patetas que adoram passar tais boatos adiante – fazem parte da mitologia. Voltando à pergunta original, não faço idéia de onde eles vêm, nem mesmo sei quem são. O melhor que se pode dizer é que são extraterrestres. Seja quem forem, têm suas próprias metas. E não estão interessados em aterrissar na Casa Branca ou em brilhar na televisão.
Na cena em que Mare Winningham está dentro do UFO, vendo a filha que é dela, existe um tubo e uma incubadora na sala, Como veio esta idéia à sua cabeça? A área dos seres híbridos genéticos e demais experimentos ufológicos se baseia em depoimentos de mais de 10 anos atrás e existem muitos casos semelhantes. Antes de mais nada, você lida com pessoas submetidas à hipnose — único meio de elas se recordarem desses eventos. Essa técnica é científica, exata, c aparentemente os ETs estão realizando algum tipo de experimento genético conosco. Penso realmente que esses seres estão fazendo alguma espécie de hibridização, cruzando genes nossos com os deles. Tudo naquelas seqüências — os fetos, os tubos, a incubadora etc — faz parte dos depoimentos dos que foram abduzidos.
Os cabelos de alguns desses seres indicariam essa hibridização? Sim! E não acho que tenham feito um bom trabalho. Os verdadeiros híbridos que vimos em desenhos são mais espantosos que os colocados no filme. É muito perturbador: as mexas de cabelo no crânio dos seres híbridos são esbranquiçados e a fronte muito grande. Numa parte do filme, o diretor fez o tipo Spielberg, que não concordo.
A personagem de Richard Crenna foi baseada em Budd Hopkins? Não. Ele é minha interpretação de uma personagem de Bany Oringer: um homem chamado Sam Kagan que foi psiquiatra em Nova York. Originalmente, pensei em uma personagem 20 anos mais jovem, mas como Crenna era a pessoa que a CBS desejava, mudamos para alguém mais velho. O criei antes de conhecer o Dr. John Mack, mas, por coincidência, a personagem se parece com ele.
Qual é seu interesse pela Ufologia? Desde que era criança, sempre havia uma ou outra fotografia de UFO na revista Look que parecia verdadeira. Quem não se interessaria por isso? Cresci me fascinando com coisas estranhas. Infelizmente, quando se pensa em UFOs, as pessoas imaginam homens-lagarto, bebês espaciais tomando o mundo de assalto e toda essa coisa louca. É assustador.
Você falou que é assustador. Você conheceu pessoalmente algum abduzido? Qual é sua impressão de como suas vidas foram afetadas? Sim, conheci, e minha impressão é que a abdução é muito real! A credibilidade dos abduzidos que conheci é que me impressionou. Há muita diferença entre um seqüestrado real e um profeta do tipo Nova Era. O abduzido não usa termos como disco voador e alienígena quando reconta sua experiência. Não há nada igual. Os eventos lembrados em geral são assustadores e coerentes, passíveis de exame médico.
Em Intruders há uma ênfase no implante retirado de Mary. Isso dá uma aura de verdade ao fato? Bem, essa foi uma coisa criada para o filme. Não nos importamos muito com isso. A cena era muito longa, muito foi cortado. Parece que muita gente sofreu implantes, mas é frustrante que não tenham sido capazes de provar isso. Budd Hopkins e David Jacobs têm muita coisa para mostrar, mas é lógico que necessitamos de pistas e que há efeitos médicos demorados na extração dos implantes.
Tais implantes podem ser metálicos, como o mostrado no filme? É o que todos supõem, gostaria de dar resposta melhor a respeito. Sei que alguns desses implantes foram recuperados. Já quanto à cena da rápida dissolução do implante, ela é uma criação. Não quis dar a idéia de que fosse falsa, mas foi um toque artístico.
Voltando aos abduzidos reais, o que nessas pessoas o convenceu? Foi o fato de terem sido exaustivamente investigadas, de serem de todas as classes sociais, de serem basicamente pessoas comuns no verdadeiro sentido da palavra. O fato de que não desejam publicidade — poucas o fazem também é um fator positivo. Há um procurador de Washington, uma dona de casa na Maine, um médico no Alabama, um jogador de golfe no Texas etc — todos tiveram o mesmo tipo de experiência e aparecem no filme. A maioria dos abduzidos envolve-se numa nuvem de segredo. Alguns crêem que tiveram uma experiência positiva em suas vidas. O Dr. Mack também, mas eu não creio. As pessoas são tratadas como cobaias em laboratório pelos ETs. As pessoas comuns não conseguem esquecer essas coisas. A mulher de um fazendeiro é um dos casos que conheci: teve experiências de perda de memória e estranhas cicatrizes. Essas histórias foram cruzadas e combinadas com outros casos no Canadá e em Nova York, e bateram.
Em certos anos, 1973 e 1976, por exemplo, a atividade de abdução aumentou nos EUA? Alguns afirmam isso, mas eu não posso dizer. Budd Hopkins afirma que sim e pensa que pelo menos uma pessoa em 50 já foi abduzida, mas acho que o número é muito maior. Centenas de milhares, talvez milhões de pessoas já foram abduzidas.
Há um aspecto aterrorizante no Intruders. Você acha que isto foi subestimado ou superestimado? Alguns pensam que o Intruders deveria ser uma espécie de \”eles vieram para nos salvar\”, o tipo de filme que Spielberg gosta de fazer… No Intruders detestei a música, que não definiu o que tínhamos em mente. Foi mais do tipo de ficção científica, e algumas cenas assustadoras foram cortadas. Preferiria que houvesse mais suspense, mas muita gente reclamou à CBS ter tido pesadelos e insônia quando foi lançado o filme. Talvez tenhamos acertado em cheio.
Alguns abduzidos relataram ter sentido mais curiosidade e confusão em suas experiências ufológicas do que terror. Soube de pessoas que foram abduzidas e superaram seu medo, mas isso é uma coisa arrepiante! Poderíamos levar a coisa filosoficamente ou cobrir levemente o ângulo do pavor, o que me obceca. É horrível pensar que, não importa onde se esteja, você está a mercê de ETs e poderá ser levado a qualquer momento, sem ter chance de controlar a situação. O segundo ponto de vista é mais pessoal: odeio ir ao médico e ser examinado numa sala de instrumentação clínica. Como então me sentiria se fosse eu um abduzido e tivesse que passar por um exame daqueles?…
Você tem algum novo projeto em andamento sobre Ufologia. além do Intruders e do Fogo no Céu? Alguns. Como você sabe, trabalhei intensamente no Fogo no Céu. que é baseado no livro The Walton Experience, escrito pelo próprio Travis Walton. O caso é uma história verdadeira que muita gente da Ufologia conhece. A diferença é que é um filme com enredo, onde o aspecto ufológico é secundário. Agora estou trabalhando num projeto para a Universal, sobre o qual não posso falar muito ainda. Trabalho também com Jacques Vallée, na produção de um filme baseado em seu livro Messengers of Deception [Editor: Mensageiros da Enganação]. Há alguma semelhança com Intruders, mas é meio humor negro, meio thriller urbano. Fazemos uma visão cínica e satírica do movimento ufológico da Nova Era. O resto é mais corriqueiro, direto.
Atores observam regressões reais
Durante a fase de preparo de Intruders, o diretor Dan Curtis queria que seus atores conhecessem melhor a questão ufológica. Assim, levou-os para assistirem uma regressão hipnótica em abduzido cm seu escritório. O objetivo é demonstrar aos atores o verdadeiro processo de regressão para que se identificassem com os papeis que iriam representar. A abduzida Cindy Vodovoz foi voluntária e foi regredida via hipnose com o auxílio do autor e pesquisador Budd Hopkins. Disse ela que somente compreendeu a natureza de sua experiência após uma sessão hipnótica.
Ainda que estivesse relativamente cônscia desses eventos desde a infância, só há 5 anos começou a explorar os incidentes em detalhe. Uma vez postos juntos na regressão hipnótica, sua história é vívida. \”Aos 7 anos de idade, estive a bordo de uma nave extraterrestre na Geórgia, no meio da noite. Eles implantaram um pequeno aparelho no meu palato. Ainda tenho a cicatriz de algo que foi um típico exame médico. Em 1973, estava no carro com minha mãe quando um aparelho pousou sobre o automóvel. Um raio branco iluminou meu rosto. Mamãe despertou uma hora depois no carro. Ela também foi abduzida\”, relatou Cindy. Sem ter prévio conhecimento ou interesse particular por UFOs, Cindy suspeitava que seu lapso de tempo perdido poderia ser um contato com extraterrestres, \”… mas esperava que não\’\’.
De acordo com os hipnoterapeutas consultados, a resposta plena de reticências numa hipnose a um abduzido é típica: a ansiedade produzida pela falta de mais lembranças é maior que o medo de se expor ao ridículo. \”Eu realmente não sabia se era verdade ou não a minha abdução\”, admite Cindy. Caden Chapman, hipnoterapeuta de Los Angeles que lida exclusivamente com casos semelhantes, confirma que a curiosidade ou a necessidade de saber é o primeiro passo para reintegrar o paciente à vida normal após um caso ufológico. \”Tentamos sugerir aos abduzidos observar o evento como se fosse um filme\”, explica ele, \”sem o que as pessoas não o suportariam. E uma experiência emocional intensa, geralmente não recordada em todos os seus detalhes\”. Caden explica que alguns abduzidos chegam até ele por uma razão diferente da abdução em si e começam a se lembrai\’ do evento de repente. Muito poucas pessoas se lembram disso conscientemente. Cindy relata que \”primeiramente, tenho que aprender sobre o assunto de modo a ligar alguns fatos de importante significado\”.