Não há segredo, por mais bem guardado que seja, que resista ao tempo. Abraham Lincoln celebrizou esse fato em uma de suas frases. “Pode-se enganar poucos por muito tempo; pode-se enganar muitos por pouco tempo; mas não se pode enganar a todos por todo o tempo”. E é exatamente o tempo – aliado à perseverança da sociedade – que está, aos poucos, corroendo o segredo oficial em torno da realidade do Fenômeno UFO. Trata-se de uma tendência verificada em praticamente todos os países do mundo. Mas também é fato que, não fosse um empurrãozinho de alguma personalidade corajosa, vez por outra, no lugar certo e no momento certo, esse prazo seria mais elástico. Melhor ainda quando essa personalidade traz consigo o respaldo de alguns milhares de votos, que, no regime democrático em que vivemos e pelo qual a sociedade brasileira tanto lutou, reforçam a representatividade e expressão do autor da façanha.
Foi assim que, numa matéria veiculada tarde da noite, sem estardalhaço e de forma bastante objetiva e séria, o apresentador de tevê e deputado federal por São Paulo, Celso Russomano, levou ao ar uma declaração histórica da Força Aérea Brasileira (FAB). Em seu programa Circuito Night and Day, na Rede TV, exibido em janeiro de 2002, Russomano mostrou o trabalho do Comando de Defesa Aéreo Espacial Brasileiro (Comdabra), complexo centro das operações de defesa da soberania aérea no Brasil. Acompanhado do major-brigadeiro José Carlos Pereira, na época comandante do órgão, o deputado mostrou as instalações do controle de tráfego aéreo em Brasília e esclareceu as diversas ações de vigilância e interceptação de vôos não autorizados ou não identificados coordenados pelas forças militares.
Creio que os seres humanos não são os únicos no universo e acredito em outras civilizações. Infelizmente, não tive nenhuma experiência com UFOs, mas gostaria muito de ter. Sou estudioso de parapsicologia e hipnose e através de outros hipnólogos tomei conhecimento de pessoas com relatos impressionantes
— Celso Russomano, deputado federal
Naves sendo monitoradas
Mas, desde o início, este não era o principal foco de interesse da matéria do deputado Russomano. Tanto que, no programa seguinte, casos de observações de UFOs envolvendo militares voltariam à pauta, numa entrevista com o coronel Ozires Silva, protagonista de uma parte do histórico evento de 19 de maio de 1986, batizado pelos ufólogos como “A Noite Oficial dos UFOs no Brasil”. Como se sabe, durante um vôo que realizava naquela noite, Ozires teve contato visual com uma das luzes que, minutos depois, seria estopim de uma fantástica perseguição aérea sobre os céus de Rio de Janeiro e São Paulo, até hoje sem explicação. Assim, durante o programa, depois de algumas questões sobre o excelente trabalho de monitoramento do espaço aéreo brasileiro desenvolvido pela nossa Aeronáutica, não demorou muito e Russomano foi direto ao ponto. “Brigadeiro, agora é a hora mais esperada por todos que estão assistindo ao programa: como é essa história de objetos voadores não identificados? Existem mesmo discos voadores? O que é que a Aeronáutica tem de concreto sobre esse assunto?”, questionou o apresentador.
A resposta, antecipada há anos pelos ufólogos através de alguns documentos confidenciais que conseguiram vencer a barreira do sigilo, finalmente foi dada de forma oficial, objetiva, e direta. O major-brigadeiro Pereira não apenas admitiu que “o Comdabra é o órgão central da Aeronáutica que cuida desse assunto”, como informou a existência de um formulário padrão no país para relatos de avistamentos de UFOs – que são chamados pela FAB de “tráfego hotel”. Na entrevista, ele confirmou ainda a existência de procedimentos de investigação dos casos reportados. Esses documentos, embora sigilosos, são conhecidos da Comunidade Ufológica Brasileira. Um deles é o famoso e polêmico documento NPA-09, do Ministério da Aeronáutica, emitido pelo Serviço Regional de Proteção ao Vôo do Rio de Janeiro, em 20 de agosto de 1990. Trata-se de um conjunto de procedimentos a serem adotados em caso de avistamento de objetos voadores não identificados por pessoal de companhias aéreas e militares. Inclui modelo de um questionário a ser aplicado nessas ocorrências.
Outro é a Diretriz Específica 04/89, também do Ministério da Aeronáutica, que estabelece os procedimentos a serem empregados quando forem relatados avistamentos de UFOs. Esse texto foi produzido sob forma de questionário de trabalho, como orientação a militares, pela Diretoria de Eletrônica e Proteção ao Vôo. E além deles há ainda o Regulamento para Salvaguarda de Assuntos Sigilosos, ou RMA 205-1, emitido também pela Aeronáutica, com base no decreto número 79.099, de 06 de janeiro de 1977. Ele apresenta a sistemática adotada para manuseio e registro de assuntos sigilosos adotada pelo referido Ministério, inclusive em casos envolvendo objetos voadores não identificados [Conheça esses documentos através do site de Ufo, ufo.com.br].
Diante da pergunta do entrevistador sobre a ocorrência de casos em que pilotos da FAB teriam seguido UFOs no Território Nacional, numa tentativa de minimizar a questão, Pereira afirmou que tais casos existiam, mas “normalmente esses pilotos terminam encontrando um gigantesco balão”. Frente à insistência de Russomano, o entrevistado admitiu o caráter inexplicável de algumas ocorrências, mas novamente minimizou sua importância, lembrando uma experiência pessoal em que o próprio major teria perseguido um reflexo na janela de seu avião, achando ser um UFO.
Relatórios sobre UFOs
Apesar das evasivas quanto à realidade do fenômeno ufológico, o depoimento do major-brigadeiro José Carlos Pereira reforçou o caráter extraordinário das manifestações de UFOs. Dian
te da obstinação do entrevistador em mostrar aos telespectadores algum documento que comprovasse o acompanhamento dos eventos ufológicos pela FAB, ele colocou em suas mãos um grande volume encadernado onde estariam registros de UFOs documentados no ano anterior – “noventa e poucos casos”, nas palavras do brigadeiro.
Apresentando a capa do relatório, Russomano comprometeu-se a não mostrar seu conteúdo, respeitando a orientação expressa já na parte externa do material: “Secreto”. Não foi apenas o Comdabra que abriu suas portas ao deputado. Outra entrevista fora gravada na Base Aérea de Anápolis, em Goiás, um dos centros nervosos da defesa do espaço aéreo brasileiro. Ali, caças da Força Aérea Brasileira (FAB) ficam 24 horas de prontidão aguardando serem acionados para interceptação de qualquer aeronave desconhecida que invada o espaço aéreo do país.
Recebido pelo comandante da instalação, coronel-aviador Antônio Franciscângelis Neto, Russomano conversou também com os instrutores tenente-coronel Almeida e capitão Arnaldo, e perguntou se em algumas de suas missões eles ou suas equipes haviam perseguido UFOs. A resposta de Almeida não poderia ser mais reveladora, embora curta: “Há registros no Comdabra. Mas os detalhes desses casos nós temos que reservar ao comando da Aeronáutica”. O piloto citou ainda um caso que teria ficado famoso no Rio de Janeiro, ocorrido com um piloto de caça F-5 que havia sido de sua turma. Segundo recordava-se o tenente-coronel, o oficial teria feito contato com um UFO através do radar de bordo. “Aqui nós não tivemos casos assim. Mas de visualização, com certeza [Já tivemos]. Alguns pilotos já viram objetos voadores não identificados”, revelou o oficial.
Segurança aérea
Comentando a matéria que produzira e seu interesse pelo tema ufológico, numa entrevista posterior, Russomano relatou que a idéia de abordar o assunto veio de sua atividade como parlamentar. “Fui membro da comissão que analisou o projeto SIVAM na Câmara dos Deputados e sempre me preocupei com a segurança do espaço aéreo brasileiro. Daí, surgiu o interesse de fazer um programa, mostrando para o povo brasileiro como a Aeronáutica fazia sua defesa. Naturalmente, não poderia deixar de perguntar quanto à invasão do espaço aéreo nacional por UFOs”, disse. E completou afirmando que acredita na possibilidade de vida em outros planetas. “Creio que nós, seres humanos, não somos os únicos no universo e diante disso acredito em outras civilizações. Infelizmente, não tive nenhuma experiência com objetos voadores não identificados, mas gostaria muito de ter. Sou estudioso de parapsicologia e hipnose e através de outros hipnólogos tomei conhecimento de pessoas com relatos impressionantes. Tenho consciência de que em estado hipnótico as pessoas não podem mentir, por isso acredito que seja verdade”, argumentou.
Outro parlamentar envolvido
Os dados levantados pelo deputado Celso Russomano não eram exatamente uma novidade para a Comunidade Ufológica Brasileira. O acompanhamento dos casos de UFOs no espaço aéreo brasileiro, por parte da Força Aérea Brasileira (FAB), já é do conhecimento dos pesquisadores do assunto há muito tempo. Desde a década de 70, diversos ufólogos que buscaram informações junto às Forças Armadas foram informados da existência do então Núcleo do Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Nucomdabra), precursor do atual Comdabra e com atribuições semelhantes. Mas esta era toda a informação disponível. Estranhamente, no entanto, na década de 90, a tendência do Governo brasileiro foi tentar apagar esse rastro. Diante das investidas de pesquisadores e outros interessados, a informação era de que não existia na Aeronáutica organismo algum dedicado ao estudo de UFOs.
Mas a cortina de fumaça começou a se desfazer no ano 2000, graças à iniciativa de outro deputado federal, João Caldas, de Maceió (AL), durante o processo de levantamento de informações para embasamento de seu Projeto de Lei número 2.324/2000. O projeto do deputado visava criar um mecanismo para que relatos de avistamentos de UFOs por pilotos de aeronaves civis e militares fossem informados ao Congresso Nacional. O projeto em si não foi aprovado, mas um documento do Comando Geral do Ar, endereçado ao parlamentar, mostrou-se revelador. A comunicação foi recebida graças ao Requerimento de Informações número 1.732/2000, mecanismo através do qual um ministério é obrigado revelar qualquer tipo de informação a um parlamentar. Como resposta, Caldas recebeu o Ofício número 015/CMDO/488, assinado pelo tenente-brigadeiro Henrique Marini e Souza.
O documento revela que “o órgão responsável pela matéria é o Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Comdabra), um comando combinado com sede em Brasília e subordinado diretamente ao Comandante Geral do Ar”. O ofício explicava ainda que o Comdabra “efetua o acompanhamento e investigação de tráfegos desconhecidos”, e que as informações sobre o que o órgão chama de “tráfego hotel” deveriam ser repassadas pelas organizações militares da Aeronáutica diretamente ao órgão ou ao posto de controle de tráfego aéreo mais próximo, através de formulário padrão. Tais formulários passam então a receber tratamento sigiloso, segundo o ofício, “como forma de proteger a identidade do informante”.
No Comdabra, as informações são analisadas, catalogadas e arquivadas para compor um banco de dados de referência. No entanto, o comando pode entrar em contato direto ou intermediado com o informante para esclarecer dúvidas ou “ampliar os níveis de informação”, ainda de acordo com o documento. O deputado recebeu também estatísticas sobre o tal “tráfego hotel” registrado pelo órgão nos três anos anteriores. O campeão em registros foi o ano de 1998, com 37 relatos, contra apenas 18 em 1999 e 35 em 1997. Separados por Estados, os dados indicavam que o Paraná registrara o maior índice de ocorrências, com 30 no total, seguido de 22 no Distrito Federal.
É necessário que se crie um movimento nacional de esclarecimento sobre o Fenômeno UFO, que pode culminar com uma audiência pública no Congresso Nacional. As pessoas da área precisam se mobilizar a respeito, fazendo pressão com argumentos plausíveis para sensibilizar o Governo
— João Caldas,deputado federal
Ares de abertura
Embora os dados quantitativos não indiquem qualquer pista para a diferenciação de registros causados por aeronaves convencionais entrando clandestinamente no espaço aéreo brasileiro, fenômenos naturais ou efetivamente desconhecidos, sua divulgação já apontava uma mudança de comportamento no âmbito das autoridades governamentais, com novos ares de abertura rondando a “caixa de pandora” da Ufologia Brasileira. “Mas a Operação Prato eles não querem revelar de forma alguma”, enfatizou o deputado João Caldas, referindo-se ao programa secreto de investigação de avistamentos de UFOs no Pará e na Amazônia, nos anos de 1976 e 1977 [Veja matéria em Ufo 54].
Mesmo assim, a informação do Comando Geral do Ar ao deputado acabou desmentindo outra, padrão, que vinha sendo oferecida à imprensa e aos ufólogos nos últimos anos, quando o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica (Cecomsaer) negava a existência de um setor que tratasse ou investigasse UFOs. Em e-mail recebido por este autor para uma matéria produzida à época, o Cecomsaer informava apenas que “…situações esporádicas como essa [Registros de alvos não identificados] decorrem, por exemplo, de anomalias eletromagnéticas que, dependendo da intensidade, chegam a sensibilizar os receptores do radar, produzindo momentaneamente um alvo não identificado na tela do monitor”.
Assim, diante das negativas aos pedidos de informações, a matéria apresentada pelo deputado Celso Russomano no programa Circuito Night and Day revestiu-se da maior importância pela forma transparente com que a FAB pareceu estar disposta a lidar com o tema. A atitude trouxe uma nova esperança quanto à abertura dos arquivos secretos das Forças Armadas brasileiras, a exemplo da tendência internacional que tem sido verificada nas iniciativas de países como a Espanha, França, Inglaterra, Chile, Uruguai, Bélgica e em parte até nos EUA, ainda que através de processos judiciais com base na Lei da Liberdade de Informação.
Um novo parceiro da campanha nacional
O Portal Revista Vigília, no ar desde 1996, foi o primeiro do gênero no Brasil a levar para a internet informação sobre o Fenômeno UFO com uma abordagem jornalística. Com reportagens exclusivas, matérias, fotos, fóruns de discussão e um chat online, continua sendo uma das principais referências na rede mundial de computadores para quem busca informação de qualidade e credibilidade em língua portuguesa – e agora é parceiro da Revista Ufo nessa campanha. “Desde o início, nossa intenção não era simplesmente montar um site de Ufologia, mas usar a experiência jornalística para fazer uma ponte entre ufólogos e internautas”, explica Jeferson Martinho, editor do portal e consultor de Ufo. Essa característica faz com que, antes de serem publicados, os temas abordados na Vigília sejam repercutidos junto a especialistas de outras áreas, muitas vezes não ligados ao Fenômeno UFO e até mesmo céticos. O portal pode ser acessado através do endereço www.vigilia.com.br, e o chat funciona como Canal UFO da rede Brasnet de IRC.