Fred Taylor, professor emérito de física na Universidade de Oxford, disse ao The Daily Galaxy que nossa Lua pode abrigar pistas de que Vênus pode ter tido um ambiente semelhante à Terra com água e uma atmosfera delgada bilhões de anos atrás. Suas descobertas seguem estudos recentes que sugerem que nosso planeta irmão pode ter sido o primeiro planeta habitável do sistema solar.
Os cientistas conjecturam que Vênus pode ter se parecido com a Terra durante seus primeiros três bilhões de anos, com vastos oceanos e possivelmente até microrganismos. Astrônomos especularam que estranhas manchas escuras que foram recentemente detectadas flutuando dentro das nuvens de Vênus, podem ser microrganismos extraterrestres que capturam grandes quantidades de radiação solar. Os supostos microrganismos existiriam na atmosfera superior de Vênus – a localização mais semelhante na Terra, em termos de pressão atmosférica, seria no cume do Monte Kilimanjaro.
“Vênus teve muito tempo para desenvolver vida por conta própria”, disse Sanjay Limaye, do Centro de Engenharia e Ciência Espacial da Universidade de Wisconsin, observando que “(…) alguns modelos sugerem que Vênus já teve um clima habitável com água líquida em sua superfície por cerca de 2 bilhões de anos. É muito mais tempo do que se acredita ter ocorrido em Marte.” Os astrônomos Sam Cabot e Greg Laughlin dizem que “(…) pedaços de Vênus – talvez bilhões deles – provavelmente caíram na Lua.” Asteroides e cometas colidindo com Vênus podem ter desalojado até 10 bilhões de rochas e as enviado para uma órbita que se cruzou com a Terra e sua Lua. “Algumas dessas rochas podem ter caído na Lua como meteoritos venusianos”, disse Cabot, principal autor do estudo. Cabot observa que impactos catastróficos como esses acontecem apenas a cada 100 milhões de anos ou mais – e ocorreram com mais frequência bilhões de anos atrás.
Há evidências diretas de que alguns meteoritos que caíram na Terra se originaram de outro planeta vizinho, Marte. Milhares de meteoritos foram encontrados na Antártica devido ao seu contraste com o fundo branco imaculado. Pelo menos 100 desses meteoritos têm composições químicas que combinam com a paisagem marciana, sugerindo que algum asteroide atingiu o planeta vermelho em um passado distante e ejetou detritos marcianos para o interior do sistema solar. É altamente provável que algo semelhante tenha acontecido com Vênus, enviando rochas venusianas em trajetórias de longo prazo que cruzaram a Terra e a Lua.
Um fenômeno semelhante pode ter ocorrido na Terra há 66 milhões de anos, quando um asteroide atingiu a Terra com um impacto equivalente a 100 bilhões de bombas de Hiroshima. O impacto do asteroide Chicxulub, na península de Yucatan, liberou o equivalente a 100 milhões de megatons, criando um buraco de 30Km de profundidade e 180Km de largura, esterilizando os 270 milhões de quilômetros quadrados restantes e matando a maioria das espécies na Terra. Foi comparável a um impossível terremoto de magnitude 12 – força suficiente para mandar o Monte Everest ao espaço em velocidade de escape, potencialmente espalhando fragmentos de ossos de dinossauros na Lua.
A superfície infernal de Vênus impossibilita, no presente momento, que sejam colhidas amostras. Mas e se pudermos achar rochas em outro lugar, como a Lua?
Fonte: Russian Academy of Sciences
“A Lua oferece proteção para essas rochas antigas”, disse Cabot. “Qualquer coisa de Vênus que pousou na Terra está provavelmente enterrada muito fundo, devido à atividade geológica. Essas rochas seriam muito melhor preservadas na Lua.” Muitos cientistas acreditam que Vênus pode ter tido uma atmosfera semelhante à da Terra há 700 milhões de anos. Depois disso, Vênus experimentou um efeito estufa descontrolado e desenvolveu seu clima atual. A atmosfera venusiana é tão densa hoje que nenhuma rocha poderia escapar após um impacto com um asteroide ou cometa.
Laughlin e Cabot citaram dois fatores que sustentam sua teoria. A primeira é que asteroides que atingem Vênus geralmente estão indo mais rápido do que aqueles que atingem a Terra, lançando ainda mais material. A segunda é que uma grande fração do material ejetado de Vênus teria chegado perto da Terra e da Lua. “Há uma comensurabilidade entre as órbitas de Vênus e da Terra que fornece uma rota pronta para que as rochas lançadas de Vênus viajem para as vizinhanças da Terra”, disse Laughlin, que é professor de astronomia e astrofísica em Yale. “A gravidade da Lua, então, ajuda a puxar alguns desses visitantes venusianos.”
As próximas missões à Lua podem dar a Cabot e Laughlin sua resposta. Os pesquisadores disseram que o programa Artemis, da NASA, é a oportunidade perfeita para coletar e analisar quantidades sem precedentes de solo lunar. Laughlin disse que existem várias análises químicas padrão que podem localizar a origem das rochas lunares, incluindo qualquer uma que venha de Vênus. Diferentes proporções de elementos e isótopos específicos oferecem uma espécie de impressão digital para cada planeta do sistema solar.
“Um antigo fragmento de Vênus conteria uma riqueza de informações”, disse Laughlin. “A história de Vênus está intimamente ligada a tópicos importantes na ciência planetária, incluindo o influxo passado de asteroides e cometas, histórias atmosféricas dos planetas internos e a abundância de água líquida.” Em uma iniciativa separada, a Breakthrough Listen está financiando um estudo de pesquisa sobre a possibilidade de vida primitiva nas nuvens de Vênus. O estudo é inspirado na descoberta, anunciada no ano passado, do gás fosfina, considerado uma bioassinatura potencial, na atmosfera do planeta. A equipe científica será composta por físicos, astrônomos, astrobiólogos, químicos e engenheiros de classe mundial, liderados por Sara Seager, astrofísica e cientista planetária do Instituto de Tecnologia de Massachusetts.