Os cientistas responsáveis pela missão da sonda Huygens à maior Lua de Saturno, Titã, estarão a partir de agora estudando os dados enviados à Terra para verificar se encontram sinais de vida no local. No momento, já foi descoberto que a atmosfera do satélite é rica em gás metano, até mesmo em forma líquida. Os pesquisadores dizem que, como o metano é destruído constantemente pela luz ultravioleta, em Titã deve existir alguma fonte para manter o reabastecimento da atmosfera. Eles acreditam que este hidrocarboneto pode ser proveniente de determinadas formas de vida — embora alguns cientistas considerem essa hipótese improvável — ou de processos geológicos, como a chamada serpentinização — processo pelo qual minerais originais se transformam em elementos hidratados como serpentina, brucida, talco e anfibólio, cuja formação pode ser unicamente explicada pela introdução de oxigênio e hidrogênio nas rochas ultramáficas — que é um tipo de rocha vulcânica.
Os minerais, que comumente predominam como resultado deste processo de transformação são as serpentinas e por esse motivo dão origem ao nome do procedimento. Na Terra implica a transformação mineral dos ferromagnesianos — que apresentam em sua composição teores expressivos de ferro e de magnésio, sendo que o termo também pode ser aplicado para rochas magmáticas ou delas derivadas — na serpentina, mineral dominante nas rochas. Para o doutor François Raulin, um dos três pesquisadores da missão, embora a superfície de Titã esteja demasiadamente fria, muitos microorganismos poderiam sobreviver em seus oceanos. Os cientistas acreditam que a atmosfera de Titã, onde predominam o nitrogênio, o metano e outras moléculas orgânicas, seria parecida com o planeta Terra de 4,6 bilhões de anos atrás. Chuvas de metano líquido caem nas crateras localizadas entre as montanhas de gelo e estima-se que no subsolo possam ser encontradas reservas do hidrocarboneto.
“Não podemos afirmar que não haja nenhuma possibilidade de vida no local, a não ser na superfície atmosférica, pois é muito fria e não há registro de água. Mas, sondas no interior de Titã revelam que possa existir um oceano de 100 a 300 quilômetros abaixo da superfície”, afirmou Raulin. Se os modelos estiverem corretos, esse oceano poderia ser composto principalmente por água líquida, com cerca de 15% de amoníaco a uma temperatura de aproximadamente -80 °C. “Com isso teremos em Titã o necessário para criar a vida”, disse o pesquisador. Se esse local fosse habitado por microorganismos que produzissem metano, os cientistas poderiam detectá-los através das formas isótopas dos carbonos — C12 e C13.
“Células vivas incluem preferencialmente o C12, pois nos compostos produzidos por algumas formas de vida geralmente não há nenhuma quantidade de isótopos como o C13, considerados mais pesados”, disse. Os pesquisadores poderiam medir a proporção de C12 e C13 através de dados enviados pelo cromatógrafo a gás e espectrômetro de massa — GCMS, sigla em inglês — dentro da sonda Huygens. De acordo com um dos membros da equipe, Sushil Atreya, professor de ciência planetária da Universidade de Michigan (EUA), os cientistas ainda não comprovaram isso, mas já estão trabalhando no caso. “Acreditamos que a hipótese mais confiável para a possível fonte de metano em Titã seja mesmo um processo geológico como a serpentinização”, afirmou.