No final de 2019 e começo de 2020, um dos assuntos mais comentados era a iminente explosão de Betelgeuse, um espetáculo celeste que seria inesquecível para nossa geração, só que ele não aconteceu. Agora, um estudo recém publicado parece ter encontrado as razões, e elas não nos são desconhecidas.
O mistério da recente e estranha diminuição no brilho da estrela Betelgeuse, a gigante vermelha da Constelação de Órion sobre aqual tanto se falou no começo de 2020 parece ter sido resolvido.
Segundo estudo publicado semana passada no site do The Astrophysical Journal Letters, a diminuição do brilho foi causado por manchas que cobriam temporariamente pelo menos metade da superfície da estrela.
Betelgeuse, que forma o ombro do caçador, é uma das estrelas mais famosas e familiares do céu noturno, e também uma das mais extremas. Ela é uma supergigante vermelha, 11 vezes mais massiva que o nosso sol e 900 vezes maior do que ele.
Só para se ter uma ideia do tamanho desse sol, se transportada para o centro do Sistema Solar, Betelgeuse engoliria Mercúrio, Vênus, Terra, Marte e o cinturão de asteroides. Mas isso é apenas uma brincadeira, a estrela está a cerca de 650 anos-luz da Terra e não pode nos fazer qualquer mal.
Escurecendo a “olhos vistos”
A gigante vermelha da Constelação de Órion. Credito: The Harpe
O estado inchado da estrela mostra que Betelgeuse está nos estágios finais de sua vida, que terminará em uma violenta explosão de supernova. E no outono passado, a supergigante começou a escurecer significativamente, levando alguns astrônomos a especular que sua morte poderia se iminente.
Mas Betelgeuse saiu da escuridão, recuperando seu brilho habitual em maio. Isso levou alguns astrônomos a postularem que o escurecimento da estrela havia sido causado por uma nuvem de poeira, que bloqueou uma grande parte da luz estelar.
Mas, agora, um novo estudo sugere que o escurecimento era inerente à própria Betelgeuse. Pesquisadores examinaram a supergigante em janeiro, fevereiro e março deste ano usando o Telescópio James Clerk Maxwell (JCMT) no Havaí, que vê o cosmos sob luz submilimétrica, um comprimento de onda invisível ao olho humano.
“O que nos surpreendeu foi que Betelgeuse ficou 20% mais escura durante o evento mesmo sob luz submilimétrica”, disse o principal autor do estudo Thavisha Dharmawardena, pesquisador de pós-doutorado no Instituto Max Planck de Astronomia, na Alemanha.
Inverno em Órion
A Constelação de Órion, como vista da Terra. Crédito: Starwalk.space
A equipe comparou esses dados com observações feitas nos últimos 13 anos, incluindo imagens obtidas pelo Atacama Pathfinder Experiment, um telescópio no Chile que também observa à luz submilimétrica.
Os dados combinados sugerem que o escurecimento de Betelgeuse estava associado a uma queda na temperatura média da superfície de cerca de 200 °C, disseram os pesquisadores. A temperatura usual da estrela é de cerca de 3.230 °C.
Mas é improvável que essa queda de temperatura tenha ocorrido simetricamente em toda a estrela, dado que imagens de alta resolução de Betelgeuse coletadas em dezembro de 2019 mostram intensidades de brilho decididamente irregulares.
“Juntamente com o nosso resultado, essa é uma indicação clara de enormes manchas estelares cobrindo entre 50% e 70% da superfície visível, cada uma com temperatura mais baixa que o restante da superfície”, disse Dharmawardena.
Nós e a poeira das estrelas
Nebulosas e poeira estelar Crédito: NASA
As manchas estelares são manchas temporárias escuras e relativamente frias na superfície de uma estrela que apresentam campos magnéticos muito fortes. Nosso Sol as possui.
Manchas solares servem como plataformas de lançamento para tempestades solares, como explosões e enormes erupções de plasma, conhecidas como ejeção de massa coronal.
Esses pesquisadores continuarão a estudar Betelgeuse com o JCMT ao longo do próximo ano para aprender mais sobre o supergigante, cuja morte terá um grande impacto em sua vizinhança cósmica.
“Embora não possamos prever quando a estrela explodirá, rastrear seu brilho nos permitirá não apenas entender melhor a evolução de uma classe interessante de estrelas, mas também ajuda a escrever uma página em nossa própria história cósmica”, disse um pesquisador.
As supernovas ajudaram a criar boa parte de tudo que conhecemos, inclusive nossos corpos e os corpos de outros povos. Todos nós somos feitos de poeira de estrelas, como dizia o grande Carl Sagan. Ao estudar as estrelas, estudamos a nossa própria existência.
Nunca é demais lembrar que Betelgeuse pode, sim, já ter explodido, mas como sua luz demora cerca do 650 anos para chegar até nós, apenas não sabemos disso ainda.
Fonte: Live Science
Assista, abaixo, um video espetacular do canal Viagem pelo Universo sobre a Constelação de Órion: