Pensar na existência de objetos que façam parte de nosso “conjunto habitacional” além de Plutão é um belo desafio, mas cientistas da Universidade do Norte do Arizona, do Instituto Carnegie e do Instituto de Astronomia do Havaí, todos nos Estados Unidos, descobriram um exemplar tão, tão distante que foram necessários aproximadamente dois anos para confirmarem que se tratava, realmente, de um “morador” desta região no espaço.
O 2018 AG37, designação oficial do corpo celeste, concedida pelo Minor Planet Center em Cambridge, Massachusetts, finalmente tomou o lugar de seu antecessor, o FarOut [Muito Distante], e se tornou, momentaneamente, o residente mais afastado do sistema solar. Localizado atualmente cerca de 132 UA, medida equivalente à distância entre a Terra e o Sol, o FarFarOut [Muito, Muito Distante], apelido dado ao astro em questão, possui um caminho orbital incrivelmente distorcido, grande, alongado e lento, chegando ficar a 175 UA na sua posição mas longínqua e a apenas 27 UA quando mais perto do Sol.
Scott Sheppard, um dos pesquisadores responsáveis pelo achado, conta que é necessário um longo tempo de observação de trajetórias para se chegar a qualquer conclusão, o que impediu a equipe de divulgar a notícia até então. “Tudo o que sabíamos era que o objeto parecia estar muito distante no momento da descoberta”, complementa. Com todos os dados necessários em mãos, a expectativa do time é de que logo receba a análise, a confirmação de outras instituições e o nome oficial. Além disso, não descarta a possibilidade de que ele seja classificado como um planeta anão como Plutão, às vezes quatro vezes mais perto do Sol que o novo exemplar.
Uma das hipóteses que poderia explicar seus caminhos tortuosos é, justamente, a interseção entre sua órbita e a de Netuno, pois interações gravitacionais bagunçariam as coisas. Outras suposições estão na mesa, como formação e tamanho. Pelo brilho que apresenta, estima-se que tenha cerca de 400Km de diâmetro e seja rico em gelo. Um ano em FarFarOut dura um milênio na Terra.
Netuno e Tritão, fotografados cinco vezes pelo Telescópio Espacial Hubble, em agosto de 2002. O gigante gasoso poderia ser responsável pela estranha órbita do FarFarOut.
Fonte: NASA/ESA/STScI
Chad Trujillo, da Universidade de Northern Arizona, sugere que o 2018 AG37 é capaz de fornecer aspectos da formação e evolução de seu “vizinho”. “O FarFarOut foi provavelmente lançado no sistema solar externo por ficar muito perto de Netuno no passado distante. Ele provavelmente interagirá com o gigante gasoso novamente no futuro”, ressalta. Além disso, Sheppard defende que o que conseguiram é um bom indicativo da capacidade de mapeamento das bordas do sistema solar.
A evolução tecnológica, por sua vez, teve papel fundamental nessa história, segundo Sheppard: “Somente com os avanços de grandes câmeras digitais em telescópios enormes tem sido possível descobrir, com eficiência, a existência de objetos muito distantes como FarFarOut. (…) Ele é apenas a ponta do iceberg”, diz o pesquisador, e ele sabe do que fala. Afinal, tanto o FarOut quanto um planeta anão distante apelidado de Goblin já faziam parte das conquistas da equipe da qual ele participa.
Por fim, é preciso fazer uma ressalva. Outros objetos, como o planeta anão Sedna, chegam a ir muito mais longe, só não estão agora. Além disso, cientistas acham que há trilhões de cometas na Nuvem de Oort de nosso sistema solar, que começa a cerca de 5 mil UA. O ranking, como alguns que conhecemos, muda a todo momento – mas é bom comemorar, mesmo que a alegria não seja definitiva.