Mais uma etapa da vitoriosa campanha UFOs: Liberdade de Informação Já chega ao seu fim. No início de setembro foram enviados à coordenação regional do Arquivo Nacional, em Brasília, cópias daqueles que, segundo os comandos da Aeronáutica, do Exército e da Marinha, seriam os últimos arquivos ufológicos em posse do Ministério da Defesa. As pastas foram enviadas pelo Centro de Documentação e Histórico da Aeronáutica (CENDOC) e são referentes aos anos de 2000 a 2009. Elas se juntam às demais enviadas anteriormente, abrangendo os últimos 60 anos da Ufologia Brasileira oficial e representando, segundo os militares, o fim das grandes remessas em lotes.
Porém, esta etapa não significa o fim da campanha. Ao contrário, indica apenas que ela atingira uma parte dos seus efeitos práticos, suscitando novas e prenunciadas ações da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU). São iniciativas que, como já foi descrito em edições anteriores desta publicação, só poderiam ser efetivas após o final da catalogação de documentos pelo CENDOC e seu envio ao Arquivo Nacional, cobrindo as seis décadas passadas [Veja artigos A Informação Controlada Pelas Elites e a Verdade Sobre os UFOs, de UFO 167, e O Governo Libera a Década de 80, de UFO 160].
A suposta desclassificação geral de informações ufológicas por parte do Governo, estendida até o ano 2009, em outras palavras, indica que o Ministério da Defesa não terá mais nada a enviar ao Arquivo Nacional. Por esta razão, os arquivos da primeira década do novo milênio representavam muito mais pela expectativa que vinham gerando no meio ufológico e na imprensa do que por seu conteúdo propriamente dito. Este lote, em comparação com os das outras décadas, é muito menor e não passa de 250 páginas, enquanto que os anteriores, com exceção do primeiro — anos 50 e 60 —, contiveram de 600 a 900 cópias de documentos por vez.
O que se esperava na Comunidade Ufológica Brasileira é que, junto com os documentos da última década, finalmente surgissem no último lote outras pastas que ainda estariam em processo de tratamento, devido à sua idade e fragilidade. Afinal, pelo menos desde o início de 2008 cópias dessas informações estariam sendo preparadas para ser disponibilizadas ao público no Arquivo Nacional. Entretanto, qualquer cidadão minimamente informado sobre o assunto sabe que grande quantidade de documentos sobre a presença alienígena na Terra continua sendo camuflada e mantida em segredo nos porões das Forças Armadas.
Expectativas frustradas
A esperança de jornalistas e dos ufólogos brasileiros em torno desse lote derradeiro vinha principalmente das respostas dadas pelo próprio ministro da Defesa Nelson Jobim ao Requerimento de Informações da Câmara dos Deputados (RIC 4470/2009), solicitado pela Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) ao deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ), como já tratamos aqui. Desde que o conteúdo e as respostas ao requerimento foram divulgados pela Revista UFO, especulações sobre a possível abertura de alguns dos casos mais famosos da Ufologia Brasileira, agora frustradas, entraram na pauta de importantes órgãos da imprensa do país. As expectativas aumentaram de intensidade quando a Portaria 551/GC3, da Força Aérea Brasileira (FAB), foi publicada no Diário Oficial da União, em 10 de agosto — e logo em seguida anunciado o envio dos documentos dos anos 90 ao Arquivo Nacional [Veja UFO 170].
Apesar de já ter sido abordada anteriormente no noticiário nacional, foi só após a edição da citada portaria que a imprensa, em peso, teve seu interesse atraído pela grande quantidade de material sigiloso já disponibilizado no Arquivo Nacional — como resultado direto da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já. A partir de então, o assunto teve grande destaque no país durante os meses de agosto, setembro e outubro. Só nas redes de televisão foram dezenas de minutos em horário nobre, o que, como conseqüência, deixou a Nação inteira informada de que o Governo trata da questão e pretende parecer transparente quanto à ela.
Nas respostas ao Requerimento de Informações 4470/2009, o ministro Jobim não deixou dúvidas quanto à existência de arquivos ufológicos classificados nos quatro graus de sigilo legal no Ministério da Defesa, reservado, confidencial, secreto e ultrassecreto. “Todos os documentos relativos ao assunto foram desclassificados por decurso de prazo”, sentenciou o ministro nas respostas dadas à Câmara dos Deputados. Ou seja, em outras palavras, Jobim afirmou que todos os materiais referentes à Ufologia deviam ser enviados ao Arquivo Nacional. Tendo isto em mente, os interessados pela abertura de tais informações esperavam que as décadas de 90 e os anos 2000 contivessem pelo menos o Caso Varginha, cuja documentação foi gerada, classificada e arquivada nos registros do Exército no final dos anos 90. Note-se que em uma das cópias de ofícios trocados entre o comando do Exército e o comando da Defesa, constante como anexo às respostas ao referido Requerimento de Informações, pela primeira vez o Exército confessou a geração de documentos sobre as ocorrências no sul de Minas Gerais, em 1996.
Da Marinha e do Exército, nada
Nestes dois últimos lotes, ainda em análise pelos ufólogos, já se sabe também que não foi disponibilizado para consulta qualquer caso da Marinha, e muito menos informações da Aeronáutica que já haviam sido dadas como faltantes, tais como os disputados filmes da Operação Prato — o que desencadeou um desapontamento geral nos que esperavam algo nesse sentido. A frustração foi tamanha que chamou a atenção de uma servidora do Arquivo Nacional, que nos informou que um dos jornalistas interessados no material, especificamente da Folha de S. Paulo, após pagar o valor cobrado pelo Governo pela cópia de documentação desse tipo — em torno de R$ 360,00 —, ao perceber que nada do Caso Varginha saíra nos últimos lotes, simplesmente não acreditava nas intenções palacianas de agir com transparência.
A nova etapa da campanha
Como já foi comentado algumas vezes nesta publicação, a ausência de informações de casos ufológicos com prazo de sigilo vencido no Arquivo Nacional, justamente daqueles que constituem os pilares do movimento UFOs: Liberdade de Informação Já, era quase que uma certeza dos ufólogos da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU). Tais dados já deveriam ter sido enviados ao órgão há anos por força de petição amparada em lei vigent
e e explícita no Dossiê UFO Brasil, não se admitindo, em hipótese alguma, a mínima suposição de que tal material continue escondido do público, esteja onde estiver [Veja artigo O Andamento do Dossiê UFO Brasil em UFO 147]. Mas, para não sermos levianos — como bem aconselhou um dos militares que mais tem colaborado com o processo de abertura —, antes de agir intempestivamente, acusando de omissão esse ou aquele órgão do Governo, os ufólogos da CBU aguardaram a data final do envio dos documentos, estipuladas pelo Ministério da Defesa em 31 de agosto.
Agora sim. Com o vencimento deste prazo e a constatação factual de que temos apenas a “ponta do iceberg” disponibilizado para consulta pública, torna-se inevitável a cobrança aos responsáveis por uma resposta concreta quanto à ausência do resto do esperado material. Enfim, nisto se resume a nova etapa da campanha UFOs: Liberdade de Informações Já. E neste sentido já está em fase final de elaboração um novo Requerimento de Informação da Câmara dos Deputados, dessa vez mais específico e incisivo quanto aos casos faltantes — e são vários. Ao mesmo tempo em que a CBU tem tratado do assunto com a assessoria do deputado Chico Alencar, que se incorporou ao movimento, já foram firmados contatos com jornalistas e consultores jurídicos de outras entidades, visando também o acionamento do Superior Tribunal Militar (STM), onde se encontram os primeiros documentos sobre o Caso Varginha. Dessa forma, o novo passo do movimento entra na sua fase mais delicada, quando as ações, além de envolverem o Poder Legislativo, acionarão o Poder Judiciário, objetivando o cumprimento da Constituição Federal.
Cópias negadas aos ufólogos
Por uma questão de datas, mais uma vez a liberação dos documentos militares não proporcionou à Comunidade Ufológica Brasileira condições para uma análise mais profunda. Até o fechamento desta edição não dispúnhamos de cópias em formato eletrônico dos arquivos liberados, como sempre é fornecida pelo Arquivo Nacional, e nenhuma fotocópia dos papéis foi permitida durante nossa visita ao órgão. Estranhamente, no entanto, um fato que causou constrangimento foi descobrir que a Rede Record de Televisão teve acesso aos arquivos dos anos 2000, exibindo-os em seu noticiário noturno antes mesmo de outros veículos e dos próprios ufólogos da entidade que pleiteou a abertura. Resta saber como, dentro de uma repartição pública, uma emissora teve o privilégio de registrar tudo em vídeo, enquanto os solicitantes que acionaram a Presidência da República para que tais documentos fossem abertos ao público não puderam obter sequer uma foto dos mesmos.
As informações que temos do lote de documentos ufológicos dos anos 2000 foram recolhidas manualmente, e delas constam casos interessantes. De maneira semelhante às liberações anteriores, estes documentos também estão divididos em 10 pastas, uma por ano, conforme a tabela do texto. A maioria dos casos está descrita como “Relatórios de Tráfego Hotel”, com uma média de duas páginas por caso. Mas também há outros tipos de relatórios, como transcrições de gravações de conversas e um ofício em resposta a um requerimento do ex-deputado federal João Caldas. Dentre todos os relatos, merecem destaque três casos em que há o envolvimento de pilotos:
• Transcrição de gravação de diálogo entre uma aeronave em vôo da empresa de cargas Varig Log e a torre de controle do Aeroporto de Curitiba, ocorrida em 07 de agosto de 2003. A tripulação do Boeing da companhia aérea comunica a existência de um UFO multicolorido que acompanhou a aeronave por aproximadamente três horas, em vôo paralelo.
• Relato de tráfego hotel preenchido por militar da Força Aérea Brasileira (FAB), narrado por um piloto da companhia aérea Tam a bordo de uma aeronave que fazia o trajeto entre Santarém e Belém, em 01 de outubro de 2007. O radar do avião acusou um UFO que foi posteriormente avistado pela tripulação, obrigando o piloto a fazer manobras evasivas. O mesmo objeto foi avistado por outro piloto da Varig Log que completava o trajeto entre Miami, nos Estados Unidos, e Manaus.
• Relato de tráfego hotel preenchido por militar da Força Aérea Brasileira (FAB), narrado por piloto da empresa aérea Gol, corroborado por mais três testemunhas em terra, dando conta de um UFO esférico perseguindo um avião civil em vôo entre Santarém e Belém, também no Pará, em 17 de outubro 2008.