Para todos os efeitos, os extraterrestres são um fato real. Não discutiremos esta premissa. Eles não são alucinações provocadas por drogas, muito menos visões na hora da morte. Sequer são transes mediúnicos… São pessoas de verdade, ainda que as investigações científicas não se atrevam a expor afirmações indiscutíveis.
Em conseqüência, certos fatos folclóricos sob o enfoque da crença extraterrestre deixam de ser considerados como simples efeitos da imaginação popular para se tornarem expressões concretas da existência desses seres do espaço. De certa forma, isso nos leva àquilo que os folcloristas norte-americanos chamam text-context (texto-contexto), cuja preocupação fundamental consiste em saber até que ponto é verdadeiro o contexto de um texto folclórico (de importância nos estudos de Folclore e História) e até que ponto o texto coletado se reflete no contexto que o informante quis comunicar (de importância na investigação de campo).
No caso específico do Folclore Extraterrestre, a dicotomia texto versus contexto nos coloca frente a contextos retroativos muito antigos, pois as lendas e mitos que vamos usar como testemunhos existem há muitos séculos, o que corrobora a teoria de que os ETs nos visitam já há centenas de anos. Certa vez, na reunião anual da American Folklore Society, celebrada em Pittsburg, em 1980, o autor fez suas primeiras alusões a estas idéias e os folcloristas conservadores se incomodaram. Apesar de tudo, continuam a crer que a ciência do folclore possui horizontes ilimitados e que seu papel entre as disciplinas espaciais será proeminente num futuro próximo.
Aceitamos a possibilidade do Folclore Extraterrestre ao considerarmos a existência do Folclore Bíblico, hoje em plena vigência e tranqüilamente incluído nos programas universitários. Um deles é de caráter paleontológico e o outro, espaçológico. Um trabalha com idéias já aceitas, enquanto que o outro, com idéias ainda por aceitar. Antes do estudo científico das glaciações, o que se conhecia eram as tradições orais do Dilúvio, sobretudo tradições em forma de mito.
Elas foram logo recolhidas da boca do povo pelos profetas, na Bíblia, os quais se denominavam os folcloristas daqueles tempos, investigadores de campo à sua maneira. O que parecia uma mentira, resplandeceu como verdade no momento em que os cientistas posteriores compreenderam o fenômeno das glaciações, dando razão aos registros bíblicos.
Se o estudo das glaciações é hoje uma questão pacífica, tendo um mito celebrado como testemunho de fatos reais — porém, naquela época, considerados imaginários não há razão para que não se percebam como reais os relatos orais referentes aos viajantes do espaço que descem à Terra. Na Bíblia abundam também casos desse tipo, o que nos conduz a observar que o Folclore Extraterrestre é, em grande parte, um capítulo do Folclore Bíblico ainda por se estudar ou já em processo.
Aceitamos a possibilidade do Folclore Extraterrestre ao considerarmos a existência do Folclore Bíblico, hoje em plena vigência e tranqüilamente incluído nos programas universitários. Um deles é de caráter paleontológico e o outro, espaçológico. Um trabalha com idéias já aceitas, enquanto que o outro, com idéias ainda por aceitar. Antes do estudo científico das glaciações, o que se conhecia eram as tradições orais do Dilúvio, sobretudo tradições em forma de mito
Ao lado da teoria do Folclore Extraterrestre ou Espacial, serão reproduzidos vários exemplos de fatos tradicionais, quase todos a nos afirmar a existência dos ETs. Nós os chamamos de mitos do pavor e, segundo a classificação dos folcloristas, terão aqui seus traços físicos comparados com os traços físicos dos ETs descritos por aqueles que os viram nos dias de hoje — e não somente em regiões muito afastadas da civilização, mas também nas grandes metrópoles.
Os mitos das águas também serão referidos em apoio às descrições modernas das supostas bases submarinas formuladas pelos ufólogos. Igualmente, os mitos do fogo – relatos sobre chamas ardentes que cruzam os céus e adquirem nova dimensão sob o enfoque de Folclore Extraterrestre. Definitivamente, os humildes informantes do folclore não são indivíduos mentirosos. Através dos séculos, ele nos têm prestado seus testemunhos de eventos que nem eles, como transmissores, nem nós, como receptores, tínhamos condições de entender.
Há quem suponha que muitos desses exemplos estão surgindo como resultado das leituras eruditas sobre as conquistas do espaço e, como tal, devem ser considerados Folclore da Ufologia, Para os escritores David Stupple e Abdollah Dashti, a existência dos homens de preto (conhecidos como men in black) não é folclore nascido das atuais teorias ufológicas. Igualmente, a existência de bases subterrâneas e da quarta dimensão, pela qual os ETs ficariam visíveis ou invisíveis a seu bel prazer. “Recente em sua origem e ainda em processo de desenvolvimento — afirmam tais autores — o Folclore dos discos voadores consiste num grupo de conceitos e lendas transmitidos oralmente e/ou através de folhetos e livros” (1).
Autores, como os citados acima, de mentalidade conservadora, querem negar a possibilidade da estruturação do Folclore Extraterrestre, como se fosse possível desconhecer que esse folclore de temas ufo lógicos não nasceu em nossos dias e sim que vem de tempos muito remotos, tendo sido receptados, em boa parte, pelos profetas bíblicos. Em outras palavras, muito antes da profissão de ufólogo ter sido criada e estabelecida como tal.
O Folclore Ufológico e o Folclore da Ufologia são duas coisas distintas entre si. Quanto mais incógnitas são a existência dos ETs e suas naves espaciais, mais se afirma o Folclore Ufológico ou Extraterrestre, ou ainda Espacial, como às vezes o chamamos. Logo, a teoria do insinuado Folclore da Ufologia não encontrará como se sustentar, por ser artificial.
Pode-se interpretar os fatos folclóricos por vários pontos de vista, sobretudo o linear e o interdisciplinar. O mito brasileiro Mão de Cabelo, sob uma interpretação direta, é simplesmente a imagem de um homem de mão peluda, visto em várias regiões do país. Porém, se enfocamos esse mito sob a visão ufológica, ele passa a corresponder às descrições atuais de um tipo de visitante espacial. Em outras palavras, esse homem é um ET. Assim procedendo, estamos implicitamente exercendo um juízo ocasionado por duas disciplinas que se uniram para complementar-se em suas indagações: a ciência da Ufologia com a ciência do Folclore.
Logo, o Folclore Extraterrestre é indubitavelmente uma matéria interdisciplinar, tal
como suas irmãs, o Folclore Educacional e a Psicanálise, o Folclore Hipnótico e o Folclore Espírita. Foram estudadas todas essas disciplinas e submetido, por consideração a todas, o mencionado mito, o qual, visto pelo Folclore Educacional é um exemplo de fato parapsicológico, inaproveitável nas escolas. Visto pelo Folclore Marxista, é um fato que serve à exploração do homem pelo homem, visto pelo Folclore Psicoanalítico, é um exemplo de projeção da psique sob a crise edípica. Sob o ponto de vista do Folclore Hipnótico, é um fato que, se absorvido pelo sujeito, pode ser expulso do subconsciente mentalizando seus efeitos maléficos. Visto pelo Folclore Espírita, é a imagem de um espírito sem luz…
É importante compreender que a interdisciplinaridade da ciência do folclore com matérias afins não tira a validade da interpretação. Todas elas têm um fundo de verdade sob o enfoque correspondente. Essa diversidade não prejudica a compreensão do fato, ao contrário, ajuda-nos a entendê-lo. No mito Mão de Cabelo o vimos como sendo parapsicopatológico, a exploração do homem enquanto ser social, a projeção psíquica do complexo de Édipo, evento reprimido do subconsciente, ou visão de um espírito perturbado…
Pode ser também a expressão concreta de um visitante espacial. Esta última interpretação não nega as outras, muito pelo contrário, complementa-se com elas, pois todas reunidas adquirem sentido entre si. Através de tal variedade de formas, vislumbra-se a essência única e indivisível, o fato concreto é um só. A questão está em saber que fato é esse e se o contexto corresponde exatamente ao texto recebido da boca do informante.
REALIDADE E FANTASIA SE CONFUNDEM NO FOLCLORE EXTRATERRESTRE
As interpretações dadas sobre o folclore interdisciplinar estão organizadas pelo critério específico de cada disciplina: ética e estética cabem à Educação, a luta das classes sociais ao Marxismo, os símbolos à Psicanálise, a sugestão à Hipnose, a mediunidade ao Espiritismo e assim sucessivamente. O critério específico do Folclore Extraterrestre é a fantasia em relação à realidade, a primeira prevalecendo no Folclore e a outra, na Ufologia. O êxito da interpretação consiste em detectar ambas, para tomar, do fato folclórico, unicamente seus contornos reais a fim de compará-los com os testemunhos ufológicos de indivíduos que se tenham confrontado com ETs em nossos dias.
Vejamos um exemplo: o tema das cidades submarinas. Há registros delas no rio Gurupi, no lago Uaçú (PA), na Lagoa Santa (CE) e muitas outras regiões brasileiras. A informação transmitida pelo informante não dissocia a realidade da fantasia. O folclorista anota o fato como o recebe, porém, em seu gabinete de trabalho, já interdisciplinado e comparado, ele o passa por uma peneira. Desse modo, a cidade submersa do rio Gurupi, que de fato acha-se na desembocadura desse rio, tem uma gruta dentro de um rochedo submerso por onde se pode entrar na cidade e de onde se ouve o rumor de vozes quando o vento se desloca.
O restante da informação é fantasia e como tal não nos ajuda; existia uma cidade na superfície, tendo submergido por causa de uma inundação. Aqui é evidente o tom explicativo do homem que, a todo custo, quer achar uma causa lógica. Esta parte não serve ao Folclore Extraterrestre, porque não consta nos estudos ufológicos que os ETs tenham construído cidades à mercê dos caprichos da natureza. Suas cidades foram construídas em lugares seguros. A explicação referida é uma associação fantástica típica das lendas em geral. Também é uma associação fantástica, aludir às noites de luar, ao invés das noites sem nuvens.
Não consta que os ETs prefiram as noites de lua cheia para conversar. Faz mais sentido supor que suas vozes cheguem até nós através de uma atmosfera límpida. Em tal registro, como veremos nesta obra, também se faz alusão ao dobrar dos sinos. Porém neste caso, o motivo não é ufológico nem legendário, é simplesmente religioso, produto típico da influência da religião nas narrações populares. Também é possível que os informantes tenham escutado ruídos de metais e que, por sua conta, chamaram-nos de dobrar de sinos, devido à cultura a que pertencem.
Os fatos de caráter mitológico são narrados no presente, mas para efeito de Folclore Extraterrestre devemos interpretá-los no passado. Assim, quando o informante usar a expressão “aparece”, o folclorista deverá interpretá-lo como “apareceu”. Na lenda do Barco Iluminado da Amazônia, segundo registros, o barco aparece e desaparece, é iluminado, tem uma forma alongada, produz ruído de hélices e a pessoa que embarca nele não volta mais.
O informante, assim como ouviu, transmitiu a informação, no presente, como se o fato acabasse de acontecer. A força do tempo presente é emocional e ingênua, própria das crianças, as quais além de não saberem entender o tempo no passado, sentem mais prazer em imprimir ao fato perfis mais concretos. Sob o método do Folclore Extraterrestre, o dito barco amazônico, apareceu e desapareceu, era iluminado, tinha forma alongada, fazia barulho de hélice e quem nele embarcou não mais voltou.
É importante considerar este aspecto de tempo verbal, para que investigadores desavisados não compareçam em vão ao local onde se deu o fato, perdendo seu tempo, dinheiro e fé na tradição oral, passando a acreditar que são um punhado de mentiras. Não são mentiras, mas sim, distorções produzidas pela cultura e pela educação do indivíduo, além de sua imaginação como elemento natural e que incrementa a estética do seu relato. Aqueles que desejam iluminar a Ufologia com a ajuda da ciência do folclore, não devem ignorar suas bases. Os grandes descobrimentos arqueológicos induzidos pelas denúncias do folclore, somente puderam concretizar-se depois de estudos folclóricos levados a fundo.
A análise das variantes é tão importante quanto a do tempo verbal. O estudioso do Folclore Extraterrestre deve saber detectar a essência ufológica do fato registrado, evitando perder-se perante a enormidade das causas adicionais associadas pelas variantes. Cada variante traz um excesso que nos distancia de sua raiz, o mesmo provérbio popular já o diz: “Quem conta um conto aumenta um ponto”. Essa tendência em aumentar os fatos é própria do processo da folclorização.
Como vimos, o Folclore Extraterrestre apenas começou. Assim, não tem condições de testar o fato objetivamente, uma vez que não é ciência. Em conseqüência, necessariamente recorre ao chamado método inspirado (Inspirational Method). Sua utilid
ade, no momento, consiste em oferecer aos cientistas liberais, uma quantidade expressiva de dados ufológicos, folclóricos e místicos. E sob a cooperação do método científico com o método inspirado que o Folclore Extraterrestre abre seu caminho. Assim procedeu o mitologista escocês Lewis Spence, em seus estudos sobre a Atlântida.
Confessou-se cansado de procurar fatos concretos com a finalidade de convencer os céticos, chegando à conclusão de que eles não se convenceriam, ainda que tivessem muitas provas. Essa conclusão concedeu-lhe a liberdade de que ele precisava, então usou como elemento de trabalho a memória-folk (folk-memory), conceituada no sentido junguiano, ou seja, aquela da recordação herdada. Enquanto alguns recorrem à tradição oral sem se preocupar com sua dimensão junguiana, e estes, à documentação escrita.
Don C. Donderi filiou-se à mesma corrente dos inspirados, entre outros grupos de ufólogos. Segundo ele, a maioria dos cientistas “não são inovadores, mas sim, resolvedores de problemas, sem a capacidade de usar de outros métodos, além dos já consagrados, e de outras ferramentas e materiais que não sejam os habituais. Tais cientistas conservadores, limitam-se a resolver os problemas deixados pendentes por outros cientistas já mortos”. E evidente, diz Donderi, que esses resolvedores de problemas não se sentem bem no campo da Ufologia, uma vez que este campo “não se enquadra em nenhum paradigma científico aceitável entre os já conhecidos”.
E Donderi continua: “A única explicação científica adequada à Ufologia requer um sistema de pensamento a respeito da natureza inteiramente novo, atitude que a maioria dos cientistas não pretende adotar. Pese o fato de que aumenta dia a dia a convicção de haver vida inteligente em outras partes do universo. Ainda que o número de planetas com vida inteligente não possa ser calculado com precisão, acredita-se que em nossa galáxia, a quantidade de estrelas com vida inteligente ultrapasse um milhão. Em razão disso, fica difícil negar a existência dos extraterrestres” (2).
Leo Sprinkle, falando especialmente aos psicólogos, traçou esta situação com as seguintes palavras: “Se o que os senhores procuram é a certeza, cuidado! Pois a investigação parece caracterizar-se pela controvérsia e o absurdo. Porém se os senhores forem curiosos e gostarem de explorar um bom mistério, então embarquem neste” (3). Como decorrência natural, esse é também o clima do Folclore Extraterrestre.
O MITO DO FIM DO MUNDO VISTO À LUZ DO FOLCLORE EXTRATERRESTRE
O Folclore Extraterrestre conta com numerosos exemplos. Aqui daremos mostras que pareceram bem representativas. Poderemos antever o brilhante futuro deste assunto, quando não apenas um só folclorista, senão vários, mostrarem mais dados e aperfeiçoarem a teoria. O mito do fim mundo — aqui entendido como o fim do planeta Terra —, é um dos tantos exemplos. Durante séculos a humanidade aguarda a grande tragédia final.
E se antes falava-se em inundação, hoje se fala em fogo e colisão de estrelas, tornando-se mais plausível a conotação ufológica de que a destruição virá dos céus. Mas quando? Como? Por quê? Ao redor deste poderoso mito giram outros menores, da mesma espécie, tais como a estrela cadente do folclore brasileiro. “Há no Folclore um misterioso respeito pelas estrelas” (4) observa Câmara Cascudo, ao registrar a Oração das Estrelas, considerada pelo povo uma oração forte:
“Valha-me a oração das estrelas, que são nove Que se unam as nove estrelas E que dêem nove abalos no coração de fulano Se estiver bebendo, que não possa beber Se estiver comendo, que não possa comer Se estiver conversando, que não possa falar Se estiver dormindo, que não possa dormir enquanto não vier falar comigo. Valha-me a oração das estrelas! E se não. E se não me valer, (aqui se faz um apelo religioso)…”
Câmara Cascudo acrescenta que o homem sertanejo tem gravada na alma a certeza de que o cometa anuncia calamidades. A expressão “Deus te guie” pode ser aplicada à estrela cadente para que caia no mar pois, segundo a tradição oral popular, “se cair na terra será o fim do mundo, o qual acabaria consumido pelo fogo”.
Da mesma forma que o pensador Erich Von Däniken recorreu à Arqueologia, com a finalidade de comprovar que os ETs habitaram a Terra desde tempos imemoriais, nós recorremos ao Folclore com o objetivo de alcançar a mesma meta. Os Charriots of Gods também estão presentes na tradição do povo.
O autor não faz mais do que repetir o testemunho daqueles que presenciaram os estranhos traços de fogo que cruzaram o espaço, ou ainda a existência de cidades submarinas e povoadas, a julgar pelas vozes que emergem das águas ou outros sinais. Ou ainda as pessoas que foram vítimas de atos ilícitos e que ainda foram submetidos ao juízo dos tribunais de nosso planeta, ou que se confrontarem com misteriosas criaturas vulgarmente conhecidas como de outro mundo ou acharam curiosos e inexplicáveis vestígios na Terra deixados por visitantes desconhecidos…
O próprio Erich Von Däniken alcançou, mesmo que brevemente, a estruturação do Folclore Espacial como disciplina metódica, ainda que não usasse essa terminologia e muito menos a expressão Arqueologia Espacial, que nós aqui usamos. Seu caso é parecido com o de Sigmund Freud, o qual, por faltar-lhe preparação no campo da ciência do Folclore, não chegou a formar a expressão Folclore Psicoanalítico5, tendo no entanto, aberto esse campo. Ele mesmo o confessou.
Para efeito de estudo, é possível fazer uma seleção entre o Folclore Extraterrestre, que é alimentado unicamente de testemunhos ufológicos, e o Folclore Espacial que encontra apoio em comprovações arqueológicas. Roy Stemman, tão rapidamente quanto Von Däniken, também recolheu material de estudo para o Folclore Espacial (6) ligado a possíveis testemunhos ufológicos. Alguns dos registros de Stemman estão a seguir:
A LENDA IRLANDESA DO POVO DE CLOERA
Numerosas versões enriquecem a lenda irlandesa do povo de Cloera, segundo Stemman, o qual nos relata o seguinte: “Isto aconteceu num domingo, durante a missa. Caiu do céu uma espécie de âncora, suspensa por uma corda. Um de seus dentes agarrou o arco da porta de entrada da igreja. O povo saiu da igreja e pôde ver no céu um barco com homens a bordo, flutuando por cima da corda. Ainda puderam observar um homem que, num salto, pulava ao chão como se tivesse descido para pegar a âncora. Deu-lhes a impressão de que o homem nadava sobre água. Então, as pessoas avançaram sobre ele e o aprisionaram.
“O padre proibiu os fiéis que mantivessem o homem preso, pois poderiam matá-lo. Então libertaram o homem, que correu de volta ao barco. Não obstante, a tripula&ccedi
l;ão já tinha cortado a corda e o barco desapareceu no céu. Apesar de tudo, a âncora ficou na cidade irlandesa e lá está, na igreja, como prova inequívoca”.
O fato não folclórico, correspondente à esta tradição é a aparição de um artefato aéreo sobre os céus de Bristol, Inglaterra, no ano de 1270, aproximadamente. Só agora se percebe no tal registro, sua dimensão ufológica, dado o desenrolar da Ufologia como disciplina. A lenda em questão especifica ainda que a multidão matou o visitante a pedradas, pensando que se tratava de um demônio. O cadáver foi incinerado. Cabe a nós, como estudiosos do Folclore Espacial, analisar todas as versões da tal lenda, registradas ou ainda por registrar, levando até o fim uma nova e extensa investigação de campo em Bristol. Personagens, ações, lugares e datas devem ser novamente investigados e comparados minuciosamente.
CAMPONESES DA INGLATERRA EMBARCAM EM NAVE
Conta-se que durante o reinado de Carlos Magno (742 a 814 d.C.) um artefato espacial transportou até o céu alguns habitantes locais, com o fim de proporcionar-lhes uma idéia de como vive o povo do espaço. Ao serem trazidos de volta à Terra, não foram reconhecidos como seres humanos, mas como uma raça do espaço. Na suposição de que eram feiticeiros, a multidão os aprisionou, torturou e matou alguns. Esta versão acha-se na obra de Brinsley Le Poer Trench, The Flying Saucer Story.
Devido à sua importância aqui a transcrevemos. Entre outros acontecimentos, uma vez, em Lyon, três homens e uma mulher foram vistos descendo de um desses barcos espaciais. A cidade inteira se reuniu aos gritos, dizendo que eram magos e que tinham sido mandados por Grimaldus, Duque de Beneventum, inimigo de Carlos Magno, com a missão de destruir as colheitas da França. Os quatro inocentes em vão se justificaram, dizendo que eram seres humanos que tinham sido transportados para longe por uns homens milagrosos, os quais mostraram maravilhas nunca antes imaginadas, pedindo a eles que difundissem a notícia.
Erich Von Däniken alcançou, mesmo que brevemente, a estruturação do Folclore Espacial como disciplina metódica, ainda que não usasse essa terminologia e muito menos a expressão Arqueologia Espacial, que nós aqui usamos. Seu caso é parecido com o de Sigmund Freud, o qual, por faltar-lhe preparação no campo da ciência do Folclore, não chegou a formar a expressão Folclore Psicoanalítico, tendo no entanto, aberto esse campo. Ele mesmo o confessou
O povo desejava queimá-los vivos, mas o Bispo de Lyon, Agobard, ente a acusação e a defesa, concluiu que os quatro não tinham caído do céu coisa nenhuma. Deu-se então o caso por encerrado e as vítimas foram libertadas. Para Stemman, “quanto mais olhamos para trás no tempo, mais impressionantes são as histórias que se descobrem”.
Convém observar detidamente as semelhanças entre esses dois fatos, o irlandês e o inglês pois, à primeira vista, dão a impressão de serem variantes um do outro. Isso é possível sob o ponto de vista puramente folclórico. O Folclore Extraterrestre, não obstante, deve resguardar-se da tendência de ver variantes onde quer que seja pois, de fato, as visitas dos extraterrestres têm ocorrido e continuam ocorrendo certamente em vários locais.
LENDA HINDU SOBRE OS VIMANAS
Quanto aos vimanas — artefatos espaciais equipados para a guerra e tripulados por deuses que lutavam nos céus —, estão descritos nos antigos textos em sânscrito, da Velha índia. Desmond Leslie e George Adamski, na obra Flying Saucers Have Landed, tomaram como modelo um desses textos, procedendo a comparação com os avanços da moderna tecnologia. O mesmo fez Raymond Drake em seu livro Gods and Spacemen in the Ancient East. A seguir estão alguns dos temas que figuram nesses manuscritos em Sânscrito:
O segredo da construção de aeroplanos:
1. Que não possam ser quebrados, cortados, incendiados ou destruídos.
2. Que se imobilizem.
3. Que as façam invisíveis.
4. Que permitam ouvir conversas e outros sons provenientes de aviões inimigos.
5. Que possibilitem tirar fotos do interior dos aviões inimigos.
6. Que possibilitem detectar a aproximação dos aviões inimigos.
7. Que façam com que as pessoas que se encontram nos aviões inimigos percam a consciência.
8. Que possam destruir os aviões inimigos.
Stemman perguntou-se se tais fontes de informação hindus — tão antigas como o Velho Testamento — são produto de escritores inspirados na ficção científica daquela época ou autênticos testemunhos de eventos inacreditáveis. Conclui que talvez as futuras investigações possam iluminar esse tema que nos tem causado tanta perplexidade.
Há ainda outros dados de testemunhos ufológicos ligados ao Folclore Extraterrestre. O estudioso Wilson Holiday comparou os capacetes dos ETs com os das Valquírias da mitologia nórdica, chegando à conclusão de que haja uma possível conexão entre ambas as realidades. Thor Heyerdahl, tão ciente de seu objetivismo a ponto de organizar a expedição Kon-Tiki, reforçou sua teoria recorrendo ao Folclore. Para ele, no Peru, habitaram na verdade, homens brancos e barbudos que influenciaram o desenvolvimento das civilizações das Américas, uma vez que as lendas não contradizem essa hipótese.
PROVAS ARQUEOLÓGICAS DO FOLCLORE EXTRATERRESTRE
As sutis referências de Von Däniken à mitologia que sustentam sua teoria, incluem a lenda boliviana da Grande Mãe da Terra. Tal lenda diz que uma nave dourada desceu das estrelas e dela saiu uma mulher que deu a luz a 70 criaturas terrestres, fundando assim a cidade de Tiahuanaco. Com base nesta tradição, Von Däniken explica porque foram feitos aqueles fabulosos projetos arquitetônicos naquela época, tais como a porta do sol na mesma cidade. Em outras palavras, a porta do sol foi edificada com a ajuda de visitantes extraterrestres.
A lenda de Tróia foi captada da boca do povo por Homero, que a projetou esteticamente nas narrações épicas da Ilíada e Odisséia. Tal lenda vinha transmitindo-se oralmente através dos séculos, até que Homero a pôs no papel. Os críticos e os leitores a consideraram como pura criação literária homérica, mas os arqueólogos pressentiram que por trás dela havia uma substância histórica. Deste modo, Henrich Shliemann, em 1871, foi escavar em Hissarlik, a noroeste da Turquia, com “Homero numa mão e a pá na outra”.
Como escreve J. V. Luce, em The End of Atlantis, os arqueólogos conservadores o ridicularizaram até o momento em que Tróia surgiu das escavações: “É uma imprudência menosprezar o valor histórico das lembranças populares”. A descoberta de Schliemann, em 1871, inspirou
o arqueólogo Arthur Evans, que após 36 anos foi escavar Creta e a encontrou, dando razão a Homero e a seu registro da Lenda de Knossos e do Minotauro de Creta. Em outras palavras, esses episódios da tradição oral tinham sido uma história verdadeira há 4.500 anos antes de Homero.
Dentro da metodologia da ciência do folclore, a lenda da Atlântida e sua comprovação histórica, ou a de Tróia e outras tantas do mesmo tipo, pertencem hoje ao campo interdisciplinar do folclore. Os norte-americanos chamam este campo de Folclore e História Tradicional (Folklore and Tradilional History). Quando os ETs forem de fato comprovados como realidade palpável, o Folclore Extraterrestre não deixará de ser considerado um campo de Folclore Histórico.
Da mesma forma que os registros e projeções estéticas de Homero sobre Tróia e Creta são os de Platão referentes à Atlântida. A única diferença é que ainda não se descobriram os vestígios arqueológicos desta última. A tradição oral da Atlântida sobreviveu ativamente por 9.200 anos aproximadamente, até que Platão conseguiu o primeiro registro pela boca de um informante, divulgando-o logo a seguir sob a forma que hoje chamamos de projeção estética.
Com efeito, a versão platônica foi uma das primeiras projeções estéticas que se conheceu no mundo das letras. E como o teatro era uma expressão predominante naquela época, Platão criou sua projeção na forma de diálogo com cenas e cenários. Os personagens principais eram: Sócrates, o filósofo. Timeus, um astrônomo italiano. Crítias, poeta e historiador. Hermócrates, um general de Siracusa. A peça foi dividida em dois atos, respectivamente intitulados, Timeus e Crítias. Por ter ficado inacabado, os estudiosos pensaram que o manuscrito encontrado correspondia a um esboço.
A atuação transcorre na casa de Crítias, onde conversam sobre um relato tradicional antigo, proveniente do Egito. A certa altura, Crítias afirma que “Atlântida é uma história certamente verdadeira, ainda que extraordinária” e Sócrates complementa: “Atlântida oferece a grande vantagem de ser um fato e não ficção”. Esse testemunho, colocado na boca de personagens, demonstra o grande respeito do recompilador pela tradição oral. Não creio que se deva duvidar, ou como se diz na linguagem moderna, não creio que Platão tenha escrito uma invenção folclórica.
Quando a Atlântida Platônica for escavada do oceano, muitos enigmas ufológicas serão resolvidos, pois tendo por base a visão psíquica desse continente perdido, pelo médium Edgar Cayce, ficou reforçada a idéia de ter existido uma íntima conexão entre os ETs e o tal continente. O Folclore Extraterrestre viria corroborar tal conexão ao reunir vários outros dados de cidades submarinas vigentes na tradição oral.
Hoje em dia, é difícil encontrar quem não dê importância à ciência do folclore. Levou um bom tempo para que se desvanecesse a idéia de que o folclore é um amontoado de infantilidades. A profissionalização neste ramo do conhecimento humano tem demonstrado o quanto é valioso seu estudo para o homem como ser individual ou enquanto membro da sociedade.
No que concerne ao Folclore Extraterrestre, basta que percebamos que os espaçólogos mais famosos estão apelando ao registro folclórico em apoio a suas hipóteses e teorias. Ainda que o montante de exemplos que tenham utilizado seja pequeno e incompleto — uma vez que não são folcloristas — só o fato de recorrer à voz do povo confere ao Folclore Extraterrestre alta hierarquia. Mesmo Von Däniken realçou a observação de que a exploração do espaço acrescentou uma nova dimensão ao passado do Homem. Ou seja: “Agora podemos examinar os relatos tradicionais de nossa mais remota História sob a luz de nossas novas experiências”.
Ante esta afirmação, percebe-se que, de fato, as perspectivas interpretativas mudaram. E os mitos da maior parte das culturas que descreviam os deuses descendo dos céus, que muitas vezes eram episódios interpretados como símbolos, hoje em dia são testemunhos de raças de outros planetas que habitaram a Terra no passado, uma vez que se observam notórias coincidências entre descrições atuais supostamente objetivas e as descrições mitológicas. Von Däniken, inclusive, chega a desconfiar que é a memória latente dessas visitas que nos leva a elaborar programas espaciais em massa com o propósito de restabelecer contato.
Não é demais, no estudo do Folclore Extraterrestre e para facilitar o trabalho, elaborar amostras classificadas dos paralelos ufológicos e folclóricos. Tais paralelos tornam-se expressivos sobretudo nas repetições de palavras e frases, na coincidência funcional dos fatos, e na coincidência de seus motivos.
Assim como os hipnoterapeutas se interessam pelos sonhos repetitivos (Recurrent Dreams) porque eles encerram rasgos reprimidos que a mente deseja expelir, o Folclore Extraterrestre deve dedicar atenção às palavras e frases repetitivas da linguagem diária, uma vez que as mesmas poderiam ter conexão com os ETs. “Deus” é uma dessas palavras. Ainda que muitas pessoas sintam devoção ao pronunciá-la, milhões nem se apercebem de seu conteúdo religioso. Pronunciam o nome de Deus movidos por hábito ou por força compulsiva com que o fator oral-tradicional se transmite ou pelo impacto causado em nossos antepassados pela presença dos primeiros visitantes extraterrestres.
“Oh, meu Deus!”, “Ajuda-me, Deus!”, “Maldito seja Deus!” e outras expressões deste tipo seriam, assim, a manifestação oral da impressão de um passado remanescente no subconsciente da humanidade. A própria Ufologia conclui que alguns deuses das Américas pré-colombianas não foram senão, visitantes extraterrestres. Sabe-se, hoje em dia, aliás, que os ETs não queriam ser considerados deuses e que lutaram contra essa insistência por parte dos humanos. Para eles, Deus está acima de toda a criatura viva do universo. Um ET de nome Hoova expressou ao professor Puharich que “os humanos têm tendência ao pânico, à adoração, e a reagir de modo anormal frente a nós”. E que esta é uma das razões porque eles não se arriscam a aterrissar em massa (7).
Convém observar Vladimir Propp para que possamos en
tender a coincidência funcional narrativa entre os fatos folclóricos e os ufológicos (8). Propp conceituou as funções como elementos constantes e invariáveis. As mesmas que se repetem nos contos e que aliás, servem de ponte entre os diferentes episódios de cada história. Eis aqui exemplos de funções em quatro contos de diferentes assuntos.
• O rei dá de presente a um herói, uma águia; a águia leva o herói a outro reino.
• Um avô dá um cavalo de presente a Suchenko; o cavalo leva Suchenko a outro reino.
• Um mago dá de presente um barco a Ivan; o barco leva Ivan a outro reino.
• A princesa presenteia um anel a Ivan, do anel surgem alguns homens que levam Ivan a outro reino.
Agora então, consideremos as funções da lenda de São Tomé, tão popular no folclore paraguaio:
• São Tomé era um homem branco e barbudo.
• Veio de longe.
• Ensinou lições morais e materiais.
• Desapareceu tão misteriosamente como surgiu.
• Deixou sobre a Terra numerosos vestígios de sua passagem.
Esta mesma seqüência de coisas aparece nas versões de Kukulcan dos Maias, Quetzacoatl dos Toltecas e Astecas, Virococha dos Incas e em todas as lendas do ciclo do Deus Branco. A coincidência funcional desse grupo de lendas e mitos com os relatos de testemunhos ufológicos coletados pelos estudiosos da Ufologia é surpreendente. Há pequenas diferenças quanto ao motivo do retorno, no que diz respeito a como e quando. Mas continua presente, de qualquer forma, a idéia do retorno: “O filho de Deus voltará”.
A que se deve esta correlação funcional folclórico-ufológica? Ao fato de que os ETs foram bons durante suas visitas? À imaginação incontrolável da mentalidade folk ou vulgus? Ao registro de tais fenômenos na matriz de encontro? Alvin H. Lawson, ufólogo profissional, encontrou uma resposta em sua teoria da matriz de encontro (9). Para ele, o testemunho folclórico sobre os ETs não começa na experiência do contato e sim, nas expressões verbais determinadas pelo fato de que tanto o folclore como a impressão da visita ufológica se acham registrados na matriz de encontro do indivíduo. E têm sido aí arquivados devido às semelhanças que têm entre si.
É necessário que tais fenômenos sejam arquivados nesse mesmo compartimento da mente para que se possa deduzir se há semelhanças entre eles. Indubitavelmente são parecidos, por isso, a visão dos UFOs, as visões alucinatórias dos drogados, as dos “mortos” que regressam à vida, e os testemunhos folclóricos sobre os ETs, que Lawson insiste em não serem arquétipos do inconsciente coletivo e sim, fenômenos que de fato aconteceram e apenas por suas semelhanças foram arquivados na matriz de encontro.
Haveria muitas outras repostas? Ainda é cedo para fazermos esta pergunta. O importante é valermo-nos da correlação funcional como elemento que justifica a nossa preocupação com o paralelo Ufologia versus Folclore. Se existe semelhança entre eles, deve haver um motivo. Tais semelhanças entre um testemunho folclórico e um testemunho ufológico são temas que só podem explicar-se aceitando a teoria do close encounter, quer dizer, de um contato pessoal. Este é o fundamento primordial do Folclore Extraterrestre como ramificação dos conhecimentos humanos.
Alvin H. Lawson é um ufólogo que aplicou o critério das funções ao fato ufológico, assim como Propp procedeu com o Folclore. Percebeu que as seguintes funções são comuns aos fatos narrados por pessoas em regressão hipnótica, aos fatos relatados por indivíduos sob a ação de drogas e às descrições daqueles que tiveram a “experiência de morte”.
1. Eles vêem uma luz brilhante.
2. Ouvem um som, geralmente musical.
3. Sentem-se sair do próprio corpo.
4. Deslocam-se para dentro de um túnel.
5. Aproximam-se de uma porta ou fronteira.
6. Encontram-se com uma espécie de ser vivo, que geralmente aparece flutuando no espaço.
7. Mantêm comunicação telepática com o tal ser.
8. Vêem fatos de sua vida serem repassados rapidamente, como num cinema.
9. São submetidos a “exame” de natureza física (nos raptos por ufonautas) ou moral (nas alucinações por drogas ou experiência de morte temporária).
10. Recebem uma “mensagem” que nos relatos ufológicos é uma promessa do ET regressar, ou são sugestões aplicadas ao raptado para que esqueçam o ocorrido.
11. Voltam à vida na Terra.
12. Sofrem uma mudança pessoal após esse encontro com um ET, às vezes adotando “uma nova atitude frente à vida”.
A coincidência de motivos surpreende mais do que as repetições de palavras e frases e mais do que as coincidências funcionais das ações. Pode-se elaborar com essas coincidências toda uma lista de paralelos, uma espécie de índex de Motivos do Folclore Extraterrestre: íngua, amnésia, enxofre, bases planetárias, capacete, danos físicos, diabo, anões, fogo, lições, linguagem estrangeira, marcas, olhos luminosos, palavras-chave, raça, raptos, roupa branca, telepatia, teletransporte etc.
A Ufologia e o Folclore nos dão notícias extremamente coincidentes sobre pessoas que têm sido vistas entrando e saindo das águas dos rios, lagos e mares. Ou pessoas vivendo sob as águas, os chamados “companheiros do fundo”: cidades ocultas nas selvas ou subterrâneas. Mortes infligidas, voluntariamente ou não, por desconhecidos. Fogos que cruzam os espaços celestes, idiomas estranhos, grandes ensinamentos morais e práticas ministradas por visitantes de outras raças. Pegadas deixadas por eles nas rochas, caminhos e até no fundo do mar. Palavras-chave pronunciadas para conseguir seus desejos, raptos, uso de roupas brancas. Transmissão de pensamentos, transporte de pessoas e/ou objetos por invisibilidade — invisibilidade induzida — assim denominada nos estudos ufológicos e aparições de pessoas que têm um físico estranho.
Nesta obra não nos detivemos para considerar todos os motivos em seus pormenores. Preterimos, por exemplo, o estudo pormenorizado das palavras-chave, a telepatia, o diabo, o enxofre. Eis aqui uni breve exemplo ufológico do emprego da palavra-chave. Eles me deram um pequeno disco, do tamanho de uma moeda. E me disseram que | quando quisesse entrar em contato com eles deveria apertar esse disco em minha mão, ligar o rádio e repetir três vezes a palavra “Kazik”. Tal recomendação foi feita a Albert K. Bender, fundador do International Flying Saucer Bureau, por três misteriosos visitantes extraterrestres.
Uma das mais expressivas correlações folclóricas de tal relato ufológico é o clássico conto de Aladim e a Lâmpada Maravilhosa. Esse conto contém os mesmos elementos do relato supracitado: uma lâmpada
correspondendo ao disco, funcionando como talismã, Aladim, correspondendo a Albert K. Bender, ambos funcionando como o Homem da Terra, e o Gênio ou ET. Dois outros motivos complementam as coincidências: a concentração mental na formulação do desejo e o uso da palavra-chave. As coincidências funcionais da narrativa são as seguintes:
1. ET entrega um disco a Bender corresponde a Gênio entrega uma lâmpada a Aladim.
2. ET diz a Bender como apertar o disco quando quiser fazer contato e também que deve ligar a TV para poder vê-lo, Gênio diz a Aladim como firmar o pensamento e esfregar a lâmpada.
3. ET fala a Bender a palavra-chave que deve ser dita três vezes, Gênio diz a Aladim como repetir a palavra-chave “Protetor, ajuda-me” (conforme as variantes folclóricas, a palavra-chave é modificada).
4. ET se materializa na presença de Bender, Gênio se materializa na presença de Aladim dizendo: “Que deseja, meu amo? Ordene!”.
Continuamente encontramos amostras de transmissão de pensamento ou telepatia tanto nos relatos ufológicos como no folclore. Somam-se milhares os testemunhos que afirmam que os ETs se comunicam telepaticamente entre si. Nos contos tradicionais do ciclo Riddes Tales (Ratselmarchen — em alemão, Ji nongonongo — em angolês) aparece o adivinhador do palácio. O rei não tomava nenhuma decisão sem consultá-lo primeiramente. Telepaticamente esse adivinhador contatava seus protetores. O tema interessa igualmente ao estudo interdisciplinar do Folclore Extraterrestre, como ao estudo do Espiritismo, na hipótese de que os ETs sejam espíritos ou vice-versa.
A força atávica desse costume é de tal magnitude que até Napoleão e Hitler tinham seus adivinhadores, com os quais se consultavam antes de cada batalha. São coincidências como essa que imprimem maturidade ao Folclore Extraterrestre levando-nos a pensar que, na realidade, o motivo da palavra-chave é uma aproximação da Ufologia ao Folclore, quer dizer, os humanos a receberam dos extraterrestres. Daí podemos explicar o provérbio “A voz do povo é a voz de Deus” e outros do mesmo gênero, que querem dizer que “isso é verdade pois nos foi ensinado por Ele”. Quem é esse Ele senão o visitante? Não vejo razão para que a alusão a Ele deva ser um fragmento de contextos unicamente religiosos.
Até agora só não foram encontrados nos testemunhos ufológicos aquele tipo de adivinhador velhaco de tanta incidência no Folclore, como Pedro Malas-artes (do Folclore Espanhol) que ao exclamar “Merda!” estava apenas acertando por puro acaso o conteúdo de um embrulho feito com jornal.
A UFOLOGIA ESPÍRITA DEVE SER CONSIDERADA SERIAMENTE
Foram as coincidências de certas ações e motivos que abriram a possibilidade de distinguir as interdisciplinas da Ufologia das do Espiritismo: ETs e espíritos podem materializar-se e se desmaterializar, em questão de segundos podem cobrir grandes distâncias, comunicam-se telepaticamente etc. No entanto, é apenas um grupo de ufólogos que está aberto a essas indagações, enquanto os demais seguem buscando provas físicas. Ou como diz Roy Stemman: “Uma parte trabalha sob a premissa do ver para crer, enquanto a outra apela ao ocultismo na tentativa de achar explicações para os muitos incidentes impressionantes que circulam ao redor dos casos ufológicos”.
Um dos mais notáveis ufólogos espíritas é John Keel, autor de UFOs: Operação Cavalo de Tróia (UFOs: Operation Troian Horse). Tão somente pelo título o leitor é induzido a pensar que os ETs estão se infiltrando na Terra sem levantar a menor suspeita, talvez para incorporar à sua tática a surpresa. Keel acredita que os Extraterrestres e os Espíritos são uma coisa só. Não haveria propriamente aquelas entidades que nos acostumamos a imaginar em obediência à doutrina do Espiritismo. Até os chamados espíritos de baixo astral, brincalhões e falsos que “baixam” nas sessões espíritas, coincidem com determinado tipo de ETs dispostos a nos confundir.
Continuamente encontramos amostras de transmissão de pensamento ou telepatia tanto nos relatos ufológicos como no folclore. Somam-se milhares os testemunhos que afirmam que os ETS se comunicam telepaticamente entre si e conosco, quando nos contatam em suas inúmeras aparições em praticamente todos os países do mundo. O tema interessa ao estudo interdisciplinar do Folclore Extraterrestre, como ao estudo do Espiritismo, na hipótese de que os ETs sejam espíritos ou vice-versa
Conforme as observações de Keel, os UFOs têm como características, entre outras, as de que possuem poderes superiores e vivem numa extensão de nosso mundo. Vivem, no entanto, numa escala temporal totalmente diferente da nossa.
São invisíveis por natureza, podendo, contudo, materializar-se em nosso mundo. Podem adquirir qualquer forma e empreender viagens enormes a uma velocidade inacreditavelmente rápida. Acrescenta ainda que os contatados — chamados médiuns, no Espiritismo — passam a sofrer pesadelos e alucinações peculiares depois de um contato. Que os fenômenos poltergeist invadem seus lares e que seus telefones e TVs começam a funcionar sozinhos. E ainda que a regressão hipnótica nos revela terem tido, eles, contato com ETs.
À medida que a Ufologia Espírita (ou Espiritismo Ufológico) for se desenvolvendo como disciplina, obteremos respostas para várias incógnitas atuais. Saberemos, por exemplo, por que razão os ETs ainda não se apresentaram oficialmente a nós, humanos. Supõe-se que seja por causa do atraso espiritual dos humanos, que com tantas guerras está caminhando direto para uma catástrofe nuclear. Os médiuns, por sua vez, adquirirão uma nova postura, desde que a mediunidade passe a ser olhada como forma de comunicação ufológica. Então o chamado Hipnotismo Espiritual, cujas bases encontram-se nas obras de Peter D. Fraucuch, também se modificará. Podemos, por hora, ensaiar uma lista de fatores ufológico-espirituais, tal como fizemos em relação aos fatores ufológico-folclóricos.
É surpreendente como essa lista nos revela uma extrema semelhança entre seus fenômenos, o que não nos autoriza afirmar, no entanto, que espíritos sejam ETs ou vice-versa. Há espíritos que são realmente espíritos, e há ETs que foram considerados espíritos em virtude da coincidência de seus traços, sendo muito fácil isto ocorrer, uma vez que ambos estão em níveis similares. Eis aqui a lista: Clarividência Auditiva, Deus, Espírito, Fotografia Espírita, Materialização sem ectoplasma, Possessão.
CLARIVIDÊNCIA AUDITIVA E OUVIR VOZES DE ESPÍRITOS
É a faculdade mediúnica de ouvir vozes. Os espíritos contatam com os médiuns murmurando-Ihes mensagens. E o que também ocorre na Ufologia, havendo milhares de testemunhos a respeito. Na obra de Andrija Puharich, intitulada Uri, os exemplos são vários.
Uri disse-lhe um dia: “Depois de você ter ido embora, fui tomar banho, almocei e fiz vários telefonemas. Exatamente às três horas da tarde, recebi um telefonema. Não era uma voz humana, ainda que falasse um inglês perfeito. Parecia algo assim como a voz dos robôs dos filmes, bastante mecânica. Disse-me: \’Pegue a câmera fotográfica que Andrija lhe deu de presente, use um filme colorido, vá até a rua Arlosoroff, do outro lado do rio Ayalon. Então observe o céu, que o senhor verá nossa nave. Tire uma foto”.
Deus é tão constante na Ufologia, quanto no Espiritismo. Quando Puharich contatou com um ET chamado Hoova, Puharich perguntou-lhe se a alma existia. E a resposta foi: “Claro! Ainda duvidas?”. “E qual a natureza da alma?”, perguntou Puharich. O ET respondeu: “Ela habita diferentes mundos em diferentes épocas de sua existência. Quando o corpo físico morre, sua alma regressa inteira a seu próprio mundo, onde dará prosseguimento à próxima etapa de sua existência, indo a outros espaços ou regressando à Terra em outro corpo terrestre, o que os humanos denominam reencarnação. Altos poderes dividem as almas e são os que decidem para onde têm que ir. A meta de toda a existência é caminhar até Deus. No entanto, a ninguém é permitido conhecer Deus. Somente somos capazes de conhecê-lo em forma de idéia, não fisicamente (…). Ocupamos nossos corpos físicos ao longo de um milhão de anos (…). Também nós, extraterrestres, como almas que somos, caminhamos até Deus. Tudo o que existe está em movimento”.
O profeta Ezequiel, um dia pôde ver uma criatura vivente a qual chamou Espírito, “dentro de uma coisa que emergia de um fogo. E esse fogo veio sobre uma grande nuvem, ambos impulsionados por um vento tempestuoso”. Mais adiante em seu relato, Ezequiel acrescentou que “esse Espírito se assemelhava a um homem e que a coisa se parecia com animais. Quando os animais andavam, também andavam as rodas presas a seus pés. Se os animais se elevavam sobre a terra, as rodas também se elevavam, aonde quer que o Espírito quisesse ir, deslocavam-se com ele”. Essa descrição, que a Bíblia salvou do esquecimento, tornou-se clássica hoje em dia nos anais da Ufologia, pois ela corresponde à forma e à função de uma nave espacial.
Os espiritistas têm obtido milhares de fotos em que aparecem as linhas de um ou mais espíritos atrás das pessoas fotografadas. Isso é comum também na Ufologia, por exemplo, um advogado, ao fotografar sua filha, no jardim, pega a figura de um visitante espacial atrás dela.
Expressivo exemplo de materialização sem ectoplasma — algo como sombra — também se encontra registrado. No dia 28 de novembro de 1954, na Venezuela, dois caminhoneiros tiveram que parar seu veículo em plena estrada, porque uma esfera luminosa de 10 pés de largura bloqueava a passagem, flutuando a 6 pés de altura do chão. Um dos caminhoneiros desceu e foi interceptado por um anão peludo, que tinha garras e olhos brilhantes. Tiveram uma discussão e o caminhoneiro foi atirado longe, a 15 pés de distância. Então sacou uma faca para se proteger, atingindo o anão. Percebeu que as facadas penetravam o vazio. O outro caminhoneiro correu para chamar a polícia.
Eis aqui outro caso. Em 1957, em Birminghan, Inglaterra, uma dona de casa de 27 anos, declarou ter sido visitada por um homem do espaço. Não desceu de nenhum disco voador e nem mesmo os vizinhos o viram bater a porta. Emitindo um som sibilante, simplesmente se materializou na sala de visitas da senhora Cynthia Appleton. Alto e simpático, vestia uma roupa justa parecida com plástico. Comunicou-se telepaticamente com a senhora Appleton e produziu uma imagem como de televisão, tratando de explicar-lhe como era seu disco voador e a nave-mãe correspondente. Disse ter vindo de um lugar harmonioso e pacífico. Depois dessas e de outras visitas, simplesmente desapareceu.
Albert K. Bender, fundador do International Flying Saucer Bureau (IFSB), conta ter recebido, certo dia, uma chamada telepática dizendo que era para pôr fim a suas investigações ufológicas. Um objeto luminoso permaneceu em sua casa no momento da mensagem e, ao partir, deixou no ambiente um cheiro de enxofre. Um dia, quando Bender ia ao cinema, percebeu que veio sentar-se a seu lado um indivíduo “preto com dois olhos estranhos que brilhavam como se fossem focos elétricos”. Após o ser desaparecer, surgiu outro do lado oposto. Bender chamou o gerente do cinema e ao regressarem, não mais encontraram o misterioso indivíduo.
Alguns meses depois, ao voltar de uma festa, Bender encontrou a porta de sua casa aberta. Havia uma estranha luz azulada dentro dela. Bender armou-se com uma vassoura e entrou. A luz ficou em um canto de onde dava para ver um objeto em seu interior. Bender ficou furioso e disse: “Vamos acabar com esse jogo. Vá embora!”. A luz desapareceu devagar, mas o cheiro de enxofre permaneceu por alguns minutos. Essas visões ocorreram numerosas vezes e de diferentes maneiras na vida de Albert Bender, como constam em seu livro Os Discos Voadores e os Três Homens (Flying Saucers and the Three Men).
Um exemplo de possessão, apesar de não deixar claro se é espírita ou ufológico, também ocorreu com Bender. No dia 15 de março de 1953, ao integrar uma corrente psíquica, com o propósito de estabelecer contato com ETs, teve a sensação de estar levitando, como se sua alma tivesse deixado seu corpo e estivesse olhando para baixo. Alguns dias depois, apareceram umas luzes em sua casa. Teve vertigens e se deitou na cama. Seu corpo começou a gelar e ele se sentiu dominado pelo poder de alguém ou de alguma coisa.
A respeito de possessões ufológicas, Colin Wilson adverte que “se tais fenômenos são causados por forças externas, não há dúvidas de que algumas possam ser hostis aos seres humanos” (10). Assim como o espiritismo se introduz na Ufologia, ele também o faz na Ufologia Folclórica. Quer dizer, dentro desse campo há um capítulo especial que bem pode se chamar Folclore Extraterrestre Espírita. E por que não, se já existe o Folclore Espírita como disciplina?
A obra O Folclore segundo o Espiritismo (Folklore According to Spiritism) demonstra como muitos fatos folclóricos são fatos espíritas e não simples fantasias que se transmitem pela tradição oral. Sob o enfoque da Ufologia Folclórica Espírita — Fo