O dia em que Milton Nascimento e o guitarrista Pat Metheny avistaram um disco voador em Belo Horizonte

No último dia de desfiles do Carnaval carioca, Milton Nascimento foi homenageado pela Portela com o enredo “Cantar Será Buscar o Caminho que Vai Dar no Sol”. Em um carro alegórico dourado, decorado com um sol brilhante, Bituca surgiu como “o grande astro da música popular brasileira”, nas palavras dos carnavalescos André Rodrigues e Antônio Gonzaga.

C. Andrade CIFE
Pat Metheny e Milton Nascimento — Foto: Reprodução

Foi a primeira vez que a agremiação azul e branca celebrou um artista em vida. “Eu achava que já tinha vivido de tudo, mas essa homenagem da Portela foi diferente de qualquer coisa. É até difícil de explicar tanta emoção. O carinho e o respeito com que as pessoas me receberam foi maravilhoso”, disse o cantor à GQ Brasil.

O ícone brasileiro, no entanto, não foi recebido com o mesmo respeito na cerimônia do último Grammy, em fevereiro, em Los Angeles. Milton e a cantora e contrabaixista norte-americana Esperanza Spalding concorriam ao troféu de melhor álbum vocal de jazz com o disco “Milton + Esperanza”. Porém, para surpresa de ambos, apenas ela foi chamada a se sentar em uma das mesas para convidados principais.

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A jazzista contou à GQ Brasil que solicitou à organização que o colocasse ao seu lado, mas seu pedido foi negado. Em um primeiro momento, Esperanza pensou em desistir de ir à premiação, mas depois resolveu comparecer e protagonizar um protesto público, levando um cartaz com a foto de Milton e a frase: “Essa lenda viva deveria estar sentada aqui”.

Quando pergunto a Milton o que sentiu após o episódio, ele responde: “Olha, não sei nem o que dizer, tamanho é o absurdo”. Nascimento ganhou cinco estatuetas do Grammy ao longo dos mais de sessenta anos de carreira, mas, em seu lar, essas honrarias vivem um mau momento. “O Grammy está em baixa por aqui”, resume Augusto Nascimento, filho e empresário de Milton.

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Milton Nascimento em ensaio para a GQ Brasil de abril — Foto: Reprodução

O reconhecimento da grandeza do artista fica evidente no documentário “Milton Bituca Nascimento”, que estreou em 20 de março nos cinemas. Produzido pela Gullane, Nascimento Música e Canal Azul, o longa acompanha sua turnê mundial de despedida, “A Última Sessão de Música”, que passou por Brasil, EUA e Europa e terminou com um inesquecível show para 60 mil pessoas no estádio do Mineirão, em 2022.

“Se há alguma novidade no documentário é talvez o tamanho do impacto de Milton em artistas internacionais. O reconhecimento é real. Ele virou referência, e isso se mostra muito mais importante do que o desagradável episódio do Grammy”, atesta a diretora do filme, Flavia Moraes. “Testemunhamos cenas inacreditáveis. Por exemplo, Steve Jordan de joelhos diante de Bituca no camarim em Nova York.”

A produção entrevistou mais de quarenta personalidades nacionais e do exterior, incluindo Quincy Jones, Herbie Hancock, Wayne Shorter, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mano Brown, João Bosco e Criolo, que dão a dimensão do alcance de sua obra. Com um estilo difícil de classificar — não é considerado jazz nem bossa nova, rock ou música regional, embora conte com elementos de todos —, Milton foi enquadrado, no exterior, na categoria genérica de world music. Entre aqueles que gravaram suas canções aparecem nomes do naipe de Sarah Vaughan, Paul Simon e Björk.

No documentário, o cantor explicou seu processo de criação para OSGEMEOS, convidados para retratá-lo em sua última turnê. “Teve música com que eu sonhei. Chegou de manhã e ela estava pronta”, contou o compositor aos irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo. “Por que será que a gente canta, a gente pinta, a gente dança? Você não se sente meio alienígena?”, perguntaram os gemeos. “Um pouquinho”, respondeu Milton.

Seu interesse por seres extraterrestres vem de longa data. Quando o questiono sobre seus relatos de avistamento de objetos voadores não identificados, ele destaca um episódio ocorrido durante uma visita do guitarrista norte-americano Pat Metheny ao Brasil. Os dois saíram com amigos para uma viagem de carro de Belo Horizonte a Ouro Preto.

No caminho, pararam para admirar o pôr do sol. Com a empolgação do grupo, o músico estrangeiro tirou sarro: “Nossa, mas como brasileiro é emocionado. Pôr do sol existe em qualquer lugar”. “Ele mal acabou de dizer isso e, minutos depois, apareceu na nossa frente uma nave iluminada, em formato de garfo, incandescente. Aquilo ficou parado uns dez segundos, bem na nossa cara. Assim que a coisa sumiu, olhei para o Pat e perguntei: ‘E isso aí também tem em todo lugar?’”, diverte-se.

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Editor do CIFE -Canal Informativo de Fontes/Fenômenos Extraterrestres e Espaciais - Scientific Channel of UFOs Phenomena & Space Research.