O entrevistado desta edição é um dos mais ativos ufólogos latinos na internet, conhecido por suas inconfundíveis, bem humoradas e às vezes apimentadas frases de efeito [Aforismos], que surgem ao acaso quando se debruça sobre uma nova investigação ufológica. Perito em informática, analista de sistemas e desenhista gráfico, tem grande credibilidade no meio e uma incomum capacidade para desvendar farsas virtuais, principalmente na perigosa área de imagens ufológicas, verdadeiro campo minado da Ufologia. Trata-se de um dos mais requisitados analistas técnicos de fotos e filmagens de supostos UFOs, membro distinto da Equipe de Análise de Imagens da Revista UFO, coordenada pelo conselheiro especial da publicação Inajar A. Kurowski.
Leopoldo Zambrano Enríquez nasceu em 1967 em Monterrey, no estado mexicano de Nuevo León, e desde cedo se interessou por tudo que era mágico e misterioso, o que lhe serviu de ponte para a Ufologia. Sua infância foi cercada por grandes doses de cultura, riquíssima em um país tradicional e místico como o México. Contando com o apoio do pai, tinha à disposição livros, enciclopédias e todo tipo de informação que lhe permitia abrir os olhos para um mundo que começava a conhecer. Essa liberdade para alimentar-se abundantemente de conhecimento ajudou a formar sua inquieta personalidade, fazendo-o concentrar-se em ficção científica e, em seguida, nos discos voadores, tanto na literatura como no cinema.
Literatura e prática
Ele conta que a maneira como chegou até o estudo da presença alienígena na Terra é uma longa história, e que foram vários os fatores que o levaram a abraçar de forma apaixonada a pesquisa dos objetos voadores não identificados. Desde 1977, a estréia do filme Guerra nas Estrelas já estimulava no então garoto a necessidade de saber se no espaço existia toda aquela abundância de vida que vislumbrava, extasiado, nas telas do cinema. A ciência entrou definitivamente em seu cotidiano com a série Cosmos, de Carl Sagan [1980], que tratou como nenhuma outra do fascinante mundo da exploração espacial. Zambrano, como é conhecido, não parou mais de pesquisar.
A presença alienígena na Terra suscita muito mais questionamentos do que oferece respostas, mas sua investigação deve ser centrada sempre no bom senso, com o repúdio a qualquer forma de extremismo. O Fenômeno UFO não é matéria de crença, mas de informação.
Em 1981, aos 13 anos, recebeu de um colega de colégio a fotografia de um suposto UFO — era a primeira que conseguia ver, ainda que apenas por um momento. Isso dirigiu sua atenção para o fenômeno. E em 1982, como se fosse um caminho traçado, assistiu Tron, filme que o apresentou ao mundo da tecnologia informática, fazendo com que decidisse se aprofundar em programação e desenho gráfico. As coisas se conectavam para Zambrano, que, através da leitura, também conheceu as mentes de Erich von Däniken, Jacques Bergier, Louis Pauwels, Charles Fort, Salvador Freixedo, Hans Holzer, Antonio Ribera, J. J. Benítez, Whitley Strieber, John Mack e muitos outros autores consagrados da Ufologia Mundial.
UFOs fortuitos ou fantasmas
Na universidade, Leopoldo Zambrano Enríquez integrou um grupo de estudos de parapsicologia — que não era sua meta, mas deu-lhe a oportunidade de lidar com pessoas e palestrar na Faculdade de Engenharia Mecânica e Elétrica de Monterrey, abordando a manifestação de UFOs na história. Sua familiaridade com sistemas de informática e a quantidade de imagens de UFOs que recebia fizeram-no aprender a analisar imagens em busca de casos legítimos. Isso transportou o entrevistado à investigação dos chamados UFOs fortuitos ou fantasmas — casos de objetos flagrados em fotos e filmes, mas não observados no momento. Ele então se especializou em desvendar as chamadas fakes e hoaxes [Falsificações] virtuais que literalmente invadiram a rede mundial. Esta área de trabalho o arrastou obrigatoriamente ao ceticismo, mas de forma sadia e consciente.
Atualmente, escreve a respeito de suas investigações e sobre o que a fenomenologia ufológica representa na atualidade, com o avançado progresso da era digital. Suas críticas e sua visão da Ufologia no século XXI são baseadas na forma como a proliferação da pesquisa virtual distorceu evidências e fatos. Em seu blog pessoal, Zambrano publica artigos e expõe suas descobertas [Endereço: http://meditacionesdeunfumador.blogspot.com]. Ele concedeu esta entrevista à Revista UFO via internet.
Minha primeira pergunta é sobre o que o fez ingressar na pesquisa da vida extraterrestre? Meu interesse pelos UFOs sempre existiu, surgindo quase que simultaneamente ao início da conquista do espaço. Naquela época, a ficção científica enchia meu mundo, e pensamentos de que o universo poderia estar cheio de vida rondavam minha mente. No entanto — e apesar de ainda ser um menino —, lia livros de ciência, enciclopédias e afins. Em 1980, aos 13 anos, meu panorama abriu-se ainda mais com Cosmos, de Carl Sagan. Eu não o conhecia, mas a partir de então, com ele descobri o fascínio pela pesquisa da vida extraterrestre.
E como você chegou a entrar no estudo dos discos voadores e seus tripulantes? Meu ingresso na Ufologia deu-se graças a este grande astrofísico. Mas o interesse pelo Fenômeno UFO cobrava muito mais de mim, a ponto de realizar investigações por conta própria já aos 15, 16 anos. Já tinha lido artigos de inúmeros autores sobre a presença alienígena na Terra, mas não posso negar que naquela época o que mais me movia era a necessidade de perscrutar o desconhecido. Foi então que tratei de comparar o que aprendi em Cosmos com a investigação de campo de casos ufológicos que li e que realizei, e isso me permitiu cunhar uma metodologia de trabalho de iniciante, que consistia apenas da coleta de dados, análise de depoimentos e recolhimento de evidências físicas. Apenas posteriormente passei a tentar definir o que eram os acontecimentos que estava estudando.
Meu ingresso na Ufologia deu-se graças ao grande astrofísico Carl Sagan. Mas o interesse pelo Fenômeno UFO cobrava muito mais de mim, a ponto de realizar investigações por conta própria já aos 15, 16 anos. Já tinha lido artigos de inúmeros autores sobre a presença alienígena na Terra, mas não posso negar que naquela época o que mais me movia era a necessidade de perscrutar o desconhecido.
Esta forma de trabalhar, primeiro a coleta de dados e evidências, e depois a análise dos fatos, dava bons resultados? Na maioria dos casos não se podia descobrir muita coisa, pois os relatos das testemunhas variavam muito em um mesmo acontecimento, e não havia como se certificar se estavam sendo precisos. A frustração inicial me levou a buscar um contato mais próximo com ufólogos mais experientes, e o destino me conduziu a uma palestra de J. J. Benítez, em 1988, quando apresentava seu livro O Testamento de São João [Editora Mercuryo, 1993], em uma livraria local. Naquela reunião também conheci um contatado agora famoso, o Rolando Quiroga, com quem fiz várias entrevistas que me proporcionaram fantásticas informações. Nesta etapa de meu trabalho, já contava com o depoimento “real” de um contato com seres de outros planetas — pelo menos era isso o que aquele homem assegurava, mas eu só tinha seu depoimento e nada mais.
Quando você passou a se relacionar mais concretamente com ufólogos e grupos de pesquisa? Quem primeiro me abriu as portas foi o pesquisador Alejandro Ruiz, membro de uma equipe de investigação ufológica fundada em Monterrey, em 1989. Ingressei nele no momento em que se escolhia um novo nome para o grupo, que acabou chamado de Fundação Cosmos, uma homenagem a Sagan. Naquela época, tivemos participações em programas de rádio e televisão que nos abriram ainda mais oportunidades para investigarmos o fenômeno. Passar a intercambiar informações através da internet foi o passo seguinte, quando estabelecemos correspondência com muitos ufólogos e nos filiamos a muitas listas de debates internacionais sobre o tema.
Poderia citar algumas destas comunidades virtuais aos nossos leitores? Sim. Entre elas estavam, por exemplo, a El Dragón Invisible de Carlos Alberto Iurchuk, da Argentina [Consultor da Revista UFO. Veja artigo seu nesta edição], a OVNI Net de Lucy Guzmán, de Porto Rico, o Institute of Hispanic Ufology de Scott Corrales, dos Estados Unidos, o Miami UFO Center de Virgilio Sánchez-Ocejo, também dos EUA etc. No México tínhamos relação com muitos grupos e ufólogos, entre eles Alejandro Franz Navarrete, Luis Ramírez Reis, David Tray Lucatero, Jaime Maussán [Correspondente internacional da UFO] e muitas outras pessoas a quem nos unimos nas primeiras pesquisas. Também é importante ressaltar que tive participação nas atividades desenvolvidas pelo Centro de Estudos UFO (CEUFO), de Oscar “Quique” Mario, de La Pampa, na Argentina. Todos eles me ajudaram a formar uma idéia geral do que era a Ufologia.
Com tantos contatos dentro e fora de seu país, certamente você adquiriu experiência rapidamente, não foi? Sim, e ainda dentro de meu próprio grupo ufológico exerci muitas funções, como a de secretário e coordenador de informática, e depois como membro do conselho diretivo da Fundação Cosmos, chegando então a vice-presidente, um cargo vitalício. Foi assim até que o grupo encerrou suas operações, em 07 de outubro de 2008. Mas, no dia seguinte, iniciei o Informe UFO, minha própria entidade.
Você é muito conhecido na internet da América Latina por seus aforismos e provérbios. Como eles surgem em sua mente, a partir da reflexão ou de circunstâncias concretas? Diria que de ambas. Às vezes, estou no escritório ou em casa, fazendo algo que nada tem a ver com o tema, e de repente me vem à mente uma idéia. Nesse momento, tomo nota para não esquecer, ou, se a inspiração vem com força, escrevo o que surge em meu pensamento. Mas quase todos os aforismos e provérbios que crio brotam como conseqüência de circunstâncias concretas da pesquisa ufológica, que uma reflexão posterior acaba polindo. Aliás, meu objetivo é a resolução de casos. Durante a revisão de um acontecimento, por exemplo, enquanto observo os detalhes, muitas idéias vão tomando forma em minha mente, sempre em busca de compreender uma determinada manifestação ufológica. É neste momento que uma nova frase surge. Assim, meus aforismos e provérbios são a essência de caso sob investigação, traduzidos no mais puro estilo dos refrãos ou ditos populares característicos do México.
Como “um momento para criar, uma eternidade para crer”, como você uma vez escreveu? Sim, mas alguns deles me parecem tão óbvios que é difícil pensar que não tenham sido escritos antes. Eles são uma espécie de “prontuário” que resume um acontecimento ou o estado em que se encontra minha busca por respostas. Por exemplo, quanto a esta frase específica, poderia dizer que foi criada diretamente por ter relação com um episódio concreto, que foi fabricado rapidamente por alguém, mas que nos tomará muito tempo de pesquisa. Refiro-me aos inúmeros vídeos falsos que circulavam pela internet, criados com as mais variadas intenções e que tanto estrago causam à Ufologia.
Vamos falar de alguns deles. Qual montagem virtual lhe chamou mais a atenção? Bem, poderíamos começar com a filmagem que chamo de “UFOs do Haiti” [Veja edição UFO 136, agora disponível na íntegra em ufo.com.br], de David Nicolas, conhecido como Número 6 no Partizan Labs, ou como Barzolff814 no site de vídeos Youtube. Essa montagem, que causou grande comoção na rede mundial, é muito bem feita. Mas Nicolas publicou também, mais recentemente, uma nova montagem digital de sua autoria, em que demonstra ter atingido uma habilidade espantosa. Também podemos falar do “Chupacabras Canguru” de John Merrill, que assina como Delirus42 na internet. A montagem é tão bem feita que até ufólogos conceituados, acreditando ser verdadeira, a apresentaram em conferências. Muitos destes vídeos se proliferam enormemente na rede mundial, transformando-se no que chamamos hoje de virais da internet e causando sério dano à Ufologia. Alguns são campanhas publicitárias que não tinham a finalidade de prejudicar a pesquisa séria, mas outros são feitos com esta intenção. E infelizmente, entusiastas da Ufologia, seja por desconhecimento, piada ou má-fé, promovem tais vídeos como legítimos na rede mundial e até mesmo na TV.
Qual é o caso mais recente de montagem virtual de que você tem conhecimento? A última e mais discutida é uma montagem produzida na Galícia, Espanha, por isso chamada de “UFO Galego”. O vídeo é parte de uma campanha promovida pelo site Terra da Espanha para celebrar o décimo aniversário da empresa e o 71º do programa radiofônico A Guerra dos Mundos, de H. G. Wells. Ele ganhou vida e se converteu em um dos mais assistidos truques ufológicos da história da internet.
Em sua opinião, quais são os efeitos e conse-qüências dessa modalidade de fraude? Não devemos menosprezar o poder de propagação da internet. A paixão de um grupo cada vez maior de incautos entusiastas do Fenômeno UFO e o apogeu de oportunistas que se aproveitam da falta de boas técnicas para determinar a autenticidade de vídeos fizeram que se espalhassem pela rede mundial um universo de fraudes, algumas excepcionalmente bem elaboradas, tornando a Ufologia um assunto de mero entretenimento. Isso é lamentável. No caso do “UFO Galego”, apesar dos esclarecimentos dos próprios produtores da farsa — que chegaram a elaborar outro vídeo para explicar como foi feita —, a montagem até hoje é apresentada em palestras como um exemplo de caso real. Quem tem um mínimo de experiência com o tipo de informação que circula na rede mundial sabe muito bem que vídeos de supostos UFOs devem ser vistos com extrema cautela, para se evitar a distribuição de material duvidoso.
Você acredita que a inexperiência de muitos ufólogos contribua para piorar esta situação? Sim. Como hoje se vê na Ufologia, parece haver uma pressa tresloucada dos ufólogos para serem os primeiros a publicar certos fatos. A maioria deles argumenta que é necessário informar o grande público sobre coisas que outros meios não publicam, como casos ufológicos. Mas as pessoas não se dão conta de que isso causa mais dano do que benefício à Ufologia, fazendo com que a internet se pareça mais com um veículo sensacionalista do que com um canal sério de informações. Isso além de situações ainda mais embaraçosas, como a de se publicar uma nota sensacionalista para impactar o leitor, simultaneamente com a promessa de que logo se veiculará um estudo definitivo sobre aquele tema, que muitas vezes nunca ocorre — e quando é assim, geralmente os responsáveis ainda alegam que uma investigação levaria muito tempo para ser completada…
Não devemos menosprezar o poder de propagação de dados da internet. A paixão de um grupo cada vez maior de incautos entusiastas do Fenômeno UFO e o apogeu de oportunistas que se aproveitam da falta de boas técnicas para determinar a autenticidade de vídeos fizeram que se espalhassem pela rede mundial um universo de fraudes, algumas excepcionalmente bem elaboradas, tornando a Ufologia um assunto de mero entretenimento. Isso é lamentável.
Isso tudo deve confundir ainda mais aqueles que estão iniciando seus estudos agora, não é? Sim, exato. E o pior é que tais notas sensacionalistas inflam blogs e sites sobre Ufologia e quase nunca são retificadas, de tal maneira que para um leitor distraído verá uma montagem digital de 3, 5 ou 10 anos atrás, nunca retirada do ar, e acreditará que é verdadeira. Isso gera uma falsa crença em torno de algo que já se desmitificou, mas que o novo leitor não conhecerá por não acompanhar a Ufologia com mais assiduidade — além do que, são poucos os blogs e sites que publicam esclarecimentos sobre tais montagens digitais [O Portal da Ufologia Brasileira, no endereço ufo.com.br, é um dos que prima por isso]. As matérias explicativas, nas quais se mostra que determinado vídeo era apenas produto de uma campanha viral, um relato exagerado ou uma farsa proposital, nunca viajam na internet na mesma velocidade de casos ufológicos legítimos. Quer um exemplo? Até hoje recebo e-mails de pessoas perguntando sobre a veracidade do vídeo “UFO do Haiti” ou do “UFO Galego”. É impressionante! Assim, uma criação artística acaba por se converter em uma crença arraigada e muito difícil de esclarecer. É daí que vem minha frase “um momento para criar, uma eternidade para crer”.
É verdade. E eis aqui outro de seus aforismos: “O problema de alguns ufólogos de hoje é que eles se esquecem do que certos ufólogos do passado já resolveram”. Aí está. A Ufologia é muito rica em informação e material de primeira-mão, registrado nos anais da história. Por exemplo, poderíamos mencionar os excelentes trabalhos de investigação dos espanhóis Vicente-Juan Ballester Olmos [Consultor da Revista UFO] e Ricardo Campo no Projeto Fotocat, um catálogo digital de imagens de UFOs [Endereço: http://fotocat.blogspot.com/]. Eles conseguiram explicar como muitas fraudes ufológicas propositais foram feitas, assim como os enganos ocorrem — casos em que os autores das imagens não tiveram intenção de fraudar alguma coisa. Outro exemplo de material informativo de qualidade, ignorado por muitos ufólogos da atualidade, é a classificação dos tipos de contatos imediatos cunhada nos anos 70 pelo doutor J. A. Hynek. Até o texto Os 10 Princípios da Ufologia, do cético Philip J. Klass, pode ser considerado como bom exemplo.
Sim, são textos bem interessantes e ricos,que contêm informações valiosas sobre a presença alienígena na Terra. Do que mais você se lembra e pode mencionar? Naturalmente, há também o Relatório 18 da National Aviation Reporting Center on Anomalous Phenomena [Centro Aeronáutico Nacional de Registros de Fenômenos Anômalos, NARCAP] e muitos textos de organizações como o National Investigations Committee On Aerial Phenomena [Comitê Nacional de Investigações de Fenômenos Aéreos, NICAP]. Também recomendo a documentação da Mutual UFO Network [Rede Mútua de Pesquisas de UFOs, MUFON] e de outras entidades congêneres. Algumas das latinas também precisam ser mencionadas, como o Centro de Investigações OVNI (CIOVI), que contribuiu com materiais de estudo como O Manual do Pesquisador, de Lucy Guzmán e Orlando Pla, ou Elementos da Ovnilogia, de Milton W. Hourcade. Hoje estes textos sequer são levados em conta porque a “nova Ufologia” parte de uma premissa diferente, a de que os UFOs já estão aqui e que podemos provar isso. Os novos ufólogos simplesmente se esqueceram da máxima que rege qualquer investigação: pesquisar antes de afirmar qualquer coisa.
Sim, parece haver uma pressa em se oferecer informações a todo custo à Comunidade Ufológica Mundial, sem que haja uma cuidadosa checagem de dados antes. É verdade. O conceito de ufólogo hoje é bem diverso de antigamente — de ser um estudioso do fenômeno, ufólogo passou a ser alguém que crê em qualquer coisa relacionada com extraterrestres sem um meticuloso estudo. Esquecemo-nos que a aprendizagem nem sempre vem de casos espetaculares, mas também dos pequenos episódios da Ufologia Mundial, que são infinitos.
Poderia citar um clássico da Ufologia Mundial? Sim. Um caso interessante, que ficou nos anais do Projeto Blue Book, é o ocorrido em 02 de agosto de 1965, em Tulsa, Estados Unidos. Trata-se de uma foto bastante interessante de um suposto UFO. Em meus estudos sobre isso, ressaltei que a solução de uma ocorrência ufológica não se dá na mesma velocidade em que ocorre o relato original, ou simplesmente na velocidade com que se publicam informações a respeito.
E quanto à idoneidade das testemunhas de ocorrências ufológicas, o que comenta? Igualmente, na descrição da maioria dos incidentes ufológicos não se faz referência à confiabilidade de uma testemunha, que se poderia obter com vizinhos, por exemplo. Por último, os estudos fotográficos de fotos de UFOs somente são confiáveis se acompanhados de mais dados sobre o fato em questão — e quem os realiza não pode empregar idéias preconcebidas. Também temos que levar em conta que nem sempre haverá uma solução para um caso específico, se os dados a seu respeito são escassos. E assim, não havendo elementos para julgar, não devemos etiquetar um episódio como extraterrestre — ele pode, no máximo, ser qualificado como uma ocorrência de UFO, em seu mais estrito significado, ou seja, de um objeto voador não identificado.
Mas qual foi a conclusão a que você chegou sobre o caso de Tulsa? Ele foi esclarecido graças à revisão do estudo fotográfico da imagem, quando se resolveu solicitar fotos posicionadas no negativo antes e depois da que motivou a análise. Simples assim. O resultado foi que a fotografia, tida como feita em Tulsa em agosto de 1965, tinha sido obtida em dezembro! O artefato que aparece na imagem é apenas um lustre colorido que iluminava uma árvore de Natal, registrado sem flash. E como este caso há vários outros, antigos, que continuam sendo apresentados como evidências ufológicas legítimas por muitos ufólogos — mesmo que sobre eles não existam sequer informações de data e local. Isso me leva a mencionar uma frase costumeiramente usada para criticar o ceticismo, que agora uso para me referir à cegueira ufológica: “A árvore não deixa ver o bosque”. Alguns ufólogos estão tão determinados em confirmar uma crença, que analisam muitos casos por alto, sem levar em consideração contradições, falhas na metodologia, tecnicismos e até exageros nos relatos.
Onde estariam os verdadeiros ensinamentos compilados pela histórica Ufologia? Há muitos conceitos importantes compilados nas pesquisas ufológicas do passado, mas eles não são conhecidos pelos entusiastas que hoje abundam na internet — que, pelo simples fato de registrarem um caso, de comparecerem ao local onde ocorreu ou de carregarem uma câmera, se sentem ufólogos. E quando são criticados por sua superficialidade, se sentem vítimas de ataques injustificados, sendo que eles próprios é que se colocam na linha de tiro quando não buscaram explicação para os fatos que alardeiam
além da sua própria verdade.
Infelizmente, o público em geral só entende o sentido pejorativo da palavra ceticismo, aquela que os ufólogos desonestos veiculam de forma a defender suas fraudes dos verdadeiros questionamentos. Eles denigrem a posição dos reais céticos para expô-los como um perigo à Ufologia, que evidentemente não são. E basta que você tenha uma linha de pensamento diferente da imposta pela maioria, na qual uns cobrem os outros, para ser visto como uma ameaça. Responder aos seus ataques também não leva a lugar algum — quando alguém não tem um bom argumento para refutar o que tentamos explicar, recorre ao descrédito e ao insulto.
Você é um cético imparcial e que demonstra uma posição de dúvida sadia diante dos fenômenos anômalos. Um cético que tenta explicar seu ponto de vista sem o impor. Como se define? Considero-me um cético no sentido literal, para quem, para se provar algo, são necessárias evidências palpáveis ou argumentos mais válidos do que simplesmente dizer “tenho 500 casos iguais a esse”. Mas, infelizmente o público em geral só entende o sentido pejorativo da palavra ceticismo, aquela que os ufólogos desonestos veiculam de forma a defender suas fraudes dos verdadeiros questionamentos. Eles denigrem a posição dos reais céticos para expô-los como um perigo à Ufologia, que evidentemente não são. E basta que você tenha uma linha de pensamento diferente da imposta pela maioria, na qual uns cobrem os outros, para ser visto como uma ameaça. Responder aos seus ataques também não leva a lugar algum — quando alguém não tem um bom argumento para refutar o que tentamos explicar, recorre ao descrédito e ao insulto. Minha idéia de investigação ufológica não é seguir jogos estúpidos, praticado por pessoas que desejam fazer prevalecer seus pontos de vista sem uma base consistente, defendendo fotos borradas e facilmente explicáveis como se fossem o Santo Graal.
Há um consenso no meio ufológico de que o confronto entre céticos e crédulos é um dos mais antigos e perniciosos à Ufologia. Você concorda? Sim. Entrar no ringue com os crédulos equivale a pôr em risco a Ufologia, o que não ajuda a compreender a presença alienígena na Terra. Não sou a favor do confronto, mas do diálogo aberto. Mas também sei que, para um bom diálogo, devem-se estabelecer suas bases antes. Um dos maiores erros que tenho visto hoje é o pensamento de que, invalidando um caso, se está querendo invalidar a Ufologia em geral, e não é assim.
O que pensa sobre a manifestação ufológica na Terra após seus muitos anos de pesquisas? Com J. A. Hynek aprendi que o Fenômeno UFO não é um monólito, mas algo multifacetado, com muitos ângulos. Existem casos parecidos que, após investigados, podem ajudar a explicar outros, mas todos deverão ter explicação. Meu interesse não é convencer crédulos, mas mostrar-lhes essas diferenças e fazê-los ver que um ceticismo nascido da conjunção da curiosidade com a honestidade é a melhor ferramenta que podemos ter para pesquisar os UFOs. De que adianta um ufólogo se enganar ou enganar os outros, se assim ele apenas estará longe de conhecer a verdadeira essência da manifestação ufológica? Por isso, diante de um caso interessante, eu o investigo a fundo, colho minhas conclusões e publico o que achar necessário. Caso contrário, se não houver o que publicar, mantenho a experiência como um ensinamento a mais.
Você alicerçou sua experiência ufológica desmistificando muitas crenças. O que isso lhe proporcionou? Há anos, acompanhando programas de televisão no México em que eram comuns os confrontos entre crédulos e céticos, conheci o outro lado da moeda. O debate parecia muito sedutor, a princípio, apesar das ofensas e dos disparates. Mas logo percebi que eles apenas promoviam o distanciamento dos dois grupos, impedindo que trabalhassem juntos por um bem comum e fomentando a discórdia, o insulto e o descrédito da Ufologia. O público leigo não entende as diferenças entre os grupos, e acaba se alinhando com uma ou outra parte, o que também não ajuda em nada. Nessa disputa, só quem ganha são os programas de TV em que os debates ocorrem, que auferem mais audiência. A Ufologia perde terrivelmente.
Quais são seus estudos mais recentes e de que maneira você decidiu realizá-los? Primeiro, deixe-me dizer que não afirmo nem nego qualquer caso ufológico sem uma investigação. Quando me refiro a um acontecimento de natureza não identificada, trato-o com o máximo cuidado. Na maioria dos episódios que investiguei com tal metodologia, não encontrei fatos inexplicáveis significativos que fizessem mudar meu pensamento sobre o tema. Só encontro suposições geradas pelo estudo de seus efeitos, mas nada sobre as causas. Em 2006 me afastei da Ufologia para um ano de reavaliações e acabei iniciando um estudo sobre os chamados UFOs fortuitos ou fantasmas, casos de objetos flagrados em fotos e filmes, mas não observados no momento. Ele ainda está em desenvolvimento. Essa área me permite fazer experimentações com metodologias novas, o que a maioria dos ufólogos parece deixar de lado. Como parte desse estudo, publiquei em 2009 um artigo sobre os chamados rods, em que eu explico os casos analisados de maneira natural. Em breve publicarei outro sobre os igualmente curiosos orbs. Ambos os fenômenos são peças fundamentais da atual mitologia que circunda o Fenômeno UFO e o universo paranormal [Veja edições UFO 109 e 118, agora disponíveis na íntegra em ufo.com.br].
Como você avalia a atividade de investigar o Fenômeno UFO? Ela pode ser considerada uma paixão ou uma tarefa objetiva? Em Ufologia, uma das coisas mais claras para mim é de que este não é um assunto de crer ou negar, mas sim de pesquisar. E para que uma investigação seja objetiva, não se deve ter em mente uma idéia pré-estabelecida. Ainda não temos noção do que significa o Fenômeno UFO ou o que está por trás dele, tanto que existe uma infinidade de teorias quanto à sua origem — o problema é que todas são tendenciosas. Há os que tratam a questão dos discos voadores como assunto de fé, o que torna a Ufologia uma espécie de religião da qual cada um retira o que deseja, confirmando teorias, buscando verdades próprias e contribuindo com seu conjunto de crenças. Já outros pecam pelo excesso de ceticismo neste campo, a pretexto de serem objetivos.
Há alguém com razão nesta disputa? Tanto um lado como outro desrespeitam os cânones estabelecidos pela própria Ufologia. Por isso, a experiência me ensinou que em Ufologia não deve haver bandeiras, cores, paixões, idéias, preconceitos e nem predisposição para se aceitar ou rejeitar qualquer coisa sem uma necessária e isenta averiguação. Ao ufólogo cabe levantar os fatos e buscar avaliá-los, deixando para o leitor de suas conclusões a tarefa de formar sua opinião com os elementos apresentados — e não dizer-lhe o que deve ou não pensar. A opinião do pesquisador conta, é claro, mas ela tem que ser vista apenas como ela é, ou seja, sua opinião pessoal. No meu caso, o que me levou a pesquisar os discos voadores foi a curiosidade, o que me transforma em uma espécie de detetive em busca de respostas. Isso é motivado por minha própria necessidade de saber do que se trata um determinado caso ufológico.
Você se especializou na área de análise técnica de imagens de supostos discos voadores, um tema espinhoso. Por quê? Participo de vários grupos de análises de imagens sediados em países como Argentina, Porto Rico e Brasil — a Equipe de Análise de Imagens da Revista UFO —, e há pouco tempo ingressei também em uma entidade norte-americana que tem membros em todo o mundo. Quando recebo material de estudos, fotos e vídeos, a primeira coisa que faço é revisá-los atentamente, porque estes itens são considerados na Ufologia como “a melhor evidência” da presença alienígena na Terra. No entanto, o estudo de imagens me permitiu ver que existe um grande desconhecimento, por parte dos ufólogos, sobre os efeitos que se pode encontrar em material fotográfico, coisas que nada têm a ver com UFOs e ainda são tomadas como evidências legítimas deles. Em primeiro lugar, não leio o relato do caso até que a análise da imagem me force a isso, pois eu a estudo objetivamente e sem levar em consideração o que eventuais testemunhas têm a dizer. Apenas depois é que me informo de seus relatos e comparo o que dizem com o que descobri analisando a imagem. À medida que se avança na investigação do material fotográfico vão surgindo muitas teorias que deixam o panorama mais claro, terminando por enquadrar a história do episódio muitas vezes de forma oposta ao que a testemunha afirma.
A experiência me ensinou que em Ufologia não deve haver bandeiras, cores, paixões, idéias, preconceitos e nem predisposição para se aceitar ou rejeitar qualquer coisa sem uma necessária e isenta averiguação. Ao ufólogo cabe levantar os fatos e buscar avaliá-los, deixando para o leitor de suas conclusões a tarefa de formar sua opinião com os elementos apresentados — e não dizer-lhe o que deve ou não pensar. A opinião do pesquisador conta, é claro, mas ela tem que ser vista apenas como ela é, ou seja, sua opinião pessoal.
Como vemos, o exame de imagens requer um elaborado e minucioso processo. Do que um candidato a desenvolver este trabalho precisa? Para quem conhece algo de fotografia — o que inclui o uso de softwares de edição de imagens —, a análise de imagens não é algo muito complicado. Conceitos básicos ajudam a eliminar de imediato a maioria das fotos e vídeos que recebemos. Por exemplo, é óbvio que uma foto produzida com uma câmera digital comum, como a que qualquer pessoa pode comprar em uma loja, só capta luz, não calor. Isso nos leva a fazer um tipo de análise em tais imagens. Já as câmeras óticas antigas, da época em que se usavam negativos, assim como as digitais mais modernas, requerem outro tipo de trabalho. Também há programas populares de edição fotográfica, como Picasa e Photoshop, que têm filtros que podem ajudar a definir alguns detalhes, mas nunca farão todo o trabalho sozinho. Enfim, o exame de imagens de supostos UFOs requer algum conhecimento de fotografia. É necessário saber o que é uma aberração cromática, um campo energético, a má convergência de uma lente etc. Porém, infelizmente, em um mundo em que se deseja crer a qualquer custo, mesmo um borrão colorido e sem forma em uma foto ou filme poderá significar o inferno para o analista. Ao fim de seu exame, ao informar que encontrou uma explicação para aquilo que lhe chegou às mãos, vai ser taxado de cético e talvez até ofendido.
Qual é o maior problema que você enfrenta ao fazer suas análises de imagem? As testemunhas ajudam ou atrapalham?Muita gente pensa que análises simplórias de efeitos óticos podem levar a determinar que objetos de formas estranhas registrados em fotografias sejam naves alienígenas. Certamente, não é assim. Mas, felizmente, hoje há uma mudança de postura por parte de muitos ufólogos, que descartam análises superficiais. E nem podemos culpar as testemunhas, pois muitas vezes elas agiram de boa-fé ao nos enviarem imagens para análise, mesmo que acreditem que nelas tenham registrado discos voadores. O problema está nos maus ufólogos, aqueles que vêem em qualquer borrão em uma foto ou vídeo uma evidência da ação de misteriosos seres de outros mundos…
E os ufólogos envolvidos em análises de imagens, ajudam ou atrapalham? Um problema adicional que temos é o causado pelos analistas que pouco conhecem as técnicas necessárias. Eles deformam ainda mais as evidências para provarem seus pontos de vista. Aqui é onde surge o técnico, tratando de explicar a verdadeira natureza das coisas registradas em fotos e filmes. Infelizmente, estes analistas pouco experientes abusam do termo UFO de maneira enganosa, ainda que se refiram a certos artefatos como objetos voadores não identificados. Daí, a serem tripulados inteligentemente por outras espécies cósmicas é outra história. Entre os erros de identificação mais comuns que encontramos nestas análises estão pássaros, aviões, lixo espacial, insetos, reflexos solares, manchas e pó na lente, poeira iluminada pelo flash e muitos outros itens que se somam aos fenômenos associados às câmeras, olimpicamente ignorados pelos nada zelosos “analistas”…
Realmente, a questão do diagnóstico de imagens é o calcanhar de Aquiles da Ufologia. Sim, mas tem mais. Mesmo não havendo confirmação alguma de que um determinado objeto fotografado não seja nada conhecido, como referi a pouco, ainda há ufólogos sensacionalistas que partem logo para o verdadeiro embuste se referindo ao tal artefato como nave alienígena e até definindo que são pilotadas por seres avançados — algumas vezes, dão até detalhes de sua natureza e procedência…
Por que há tanta resistência ao trabalho daqueles que buscam esclarecer os casos ufológicos, a ponto de a palavra cético ser sinônimo de ofensa? Bem, quem trata do tema UFO como crença — seja por malícia, ignorância, dinheiro ou fama —, certamente se ressente do trabalho dos ufólogos que têm uma visão mais objetiva e realista do Fenômeno UFO. Tratar do assunto desta forma, como uma verdadeira crendice que não necessita de investigação, leva os “ufólogos” que assim agem a ter mais sucesso e maior penetração nos meios de comunicação do que àqueles que desvendam falsos mistérios. Qualquer pessoa que tentar explicar racionalmente um caso inserido em uma fenomenologia que mexe com tantas emoções, como os UFOs, atrairá a ira dos deuses. Imagine, então, se este caso for parte do trabalho de algum conferencista ou pesquisador famoso na Ufologia, que sabida ou inadvertidamente o está usando para defender a legitimidade de seu trabalho?! Não somente ele, mas também seus leitores, seguidores e fãs, por contágio, também odiarão quem quer que ouse dar a referida explicação. Já vi isso ocorrer em programas de debate na TV. E pior: é muito comum que o tal conferencista ou pesquisador famoso, ao ter finalmente que admitir que o fato defendido é falso, atribua a culpa a outra pessoa, dizendo-se enganado por suas fontes, testemunhas etc.
Como sempre, então, a polarização não parece estar entre casos ufológicos bons e maus, mas entre ufólogos bons e maus? Ou, no fim das contas, entre céticos e crédulos? Em termos. E aqui gostaria de esclarecer um pouco mais do que mencionei antes sobre ambos os grupos crédulos e céticos. Veja, estes não são termos que eu gosto de usar, pois não pretendo fomentar a idéia errônea de que a Ufologia é um assunto de crença ou disputa. Mas são termos necessários. Porém, note que há uma diferença entre pesquisadores que buscam suas verdades e aqueles que buscam a verdade. Esta é absoluta, impessoal. O problema, no entanto, é que o grande público está no meio de ambos os grupos, e é ele que toma partido de um ou de outro. Seja como for, em geral, a imagem de um ufólogo para a população leiga é bem distorcida, e é daí que temos o problema da falta de credibilidade da Ufologia.
Parafraseando você novamente, “basta um parágrafo para difundir uma mentira, mas nem o volume de 10 enciclopédias restabelecerá a verdade quando se deseja crer”. Este é o grande problema da Ufologia? Sim. Cunhei esta frase com base na máxima de Friedrich Nietzsche: “O que me preocupa não é que me tenhas mentido, mas que, doravante, já não poderei crer em ti”. A credibilidade da Ufologia está em jogo quando se lida com a verdade de maneira inconseqüente. Isso me preocupa, pois para mim a verdade é um valor muito importante. Como comentei anteriormente, quando ingressei na Ufologia, eu tinha o desejo de saber o que havia por trás do Fenômeno UFO e passei a me corresponder com muitos ufólogos, a ler muitos livros e artigos, e a inteirar-me da questão. Mas o que mais encontrei eram manifestações do tipo “eu acho que…” ou “fulano disse que…” etc. As bases da Ufologia eram muito pouco consistentes, pois muitas vezes estavam alicerçadas em relatos de testemunhas, que podiam ter sido mal colhidos ou interpretados, ou na opinião pessoal dos pesquisadores. Ora, a investigação ufológica é uma busca da verdade, não uma forma de confirmar idéias pré-estabelecidas, que só servem para encher livros ou teatros.
E as alegações que circulam na rede mundial a respeito de desastres cósmicos ou da chegada de seres extraterrestres ao planeta, o que diz? Há mentiras na Ufologia que não importam ou não causam danos sérios. Mas há outras que têm conseqüências muito dramáticas, como esta de que estamos diante de um iminente desastre planetário, a ocorrer em 2012. Muitos suicídios coletivos e guerras tiveram início em crenças fanáticas como esta. Hoje vemos o tempo todo constantes avisos surgirem alertando que está perto a chegada na Terra de seres do espaço. E não precisamos ir longe: veja que recentemente, em 14 de outubro de 2008, foi “prevista” e se espalhou pela internet a notícia da chegada de Ashtar Sheran, um alienígena criado por Eugenio Siragusa, em 1962, com quem ele assegurava ter contato. Desde os anos 60 o tal Sheran tem “anunciado” sua chegada, e os crentes têm dito que ele virá evacuar a Terra diante de um nefasto final dos tempos…
Sabemos que H2O é água, aqui, na Lua ou em Marte. Isso é ciência. Mas, em Ufologia, se perguntarmos aos ufólogos como são os extraterrestres, teremos causado um debate sem fim, pois cada um tem sua opinião. No entanto, se dermos uma rápida olhada na história da Ufologia, veremos que as formas físicas dos ETs têm mudado radicalmente de uma década para outra, ao sabor dos acontecimentos que vão se sucedendo. Isso não tem razão de ser. Ora, nós, seres humanos modernos, não mudamos nada em pelo menos 60 mil anos. Ou seja, o que mudou na forma como se vê os ETs, desde os anos 40 até agora, é apenas isso, a forma como se vê os ETs — e ela é pessoal de cada ufólogo.
A internet parece ser justamente um dos agravantes deste já complexo problema… Sim. Sófocles dizia que “uma mentira nunca vive até ficar velha”. Eu diria que ele escreveu isso porque não conhecia a internet. As mentiras não só ficam velhas, como ainda crescem, se multiplicam e se reinventam.
Destaquei mais uma frase sua: “Os maiores detratores da Ufologia são os entusiastas e os próprios ufólogos”. Pode explicar? Sim. É que tenho lido informações de todo tipo sobre a presença alienígena na Terra, tanto partindo de entusiastas que se movem por paixão pelo assunto como pelos que exercitam uma postura excessivamente racional quanto a ele. E cheguei à conclusão de que ambos os grupos são os culpados pela Ufologia ser vista com tanto descrédito. Veja, sabemos que H2O é água, aqui, na Lua ou em Marte. Isso é ciência. Mas, em Ufologia, se perguntarmos aos ufólogos como são os extraterrestres, teremos causado um debate sem fim, pois cada um tem sua opinião. No entanto, se dermos uma rápida olhada na história da Ufologia, veremos que as formas físicas dos ETs têm mudado radicalmente de uma década para outra, ao sabor dos acontecimentos que vão se sucedendo. Isso não tem razão de ser. Ora, nós, seres humanos modernos, não mudamos nada em pelo menos 60 mil anos. Ou seja, o que mudou na forma como se vê os ETs, desde os anos 40 até agora, é apenas isso, a forma como se vê os ETs — e ela é pessoal de cada ufólogo. Infelizmente, para corroborar estas opiniões, não temos nenhum ET por perto para avaliar seu formato físico. Aliás, até agora não temos sequer um “alô” escrito com tinta alienígena, de modo que qualquer explicação sobre eles fica no campo da especulação.
Quer dizer que a investigação ufológica é uma experiência muito subjetiva? Sim, ela é. E isto se deve ao fato de que nossas opiniões variam em função de nossas crenças, suposições ou idéias. Esta é uma de minhas teses na área, que me levou a ver que a maioria dos ufólogos buscam apenas a sua verdade particular sobre o Fenômeno UFO. Por isso vemos ufólogos especializados em abduções alienígenas, mutilações de animais, flotillas [Frotas de UFOs], sondas ufológicas etc, como se estas áreas fossem campos de especialização na Ufologia, algo similar ao que a pediatria e a oftalmologia são para a medicina. Claro que cada ufólogo escolhe o tema que lhe chama mais atenção, mas a Ufologia não deve se restringir a uma única visão do fenômeno, nem descartar o grande potencial psicossocial que cada relato contém.
Compreendo. Você teve alguma experiência pessoal com o Fenômeno UFO? De que natureza foi ela? Poderia explicar? Foi uma experiência pessoal ocorrida no verão de 1991, compartilhada com o colega Ernesto Estrada Bustos, do grupo ao qual pertencíamos, a Fundação Cosmos. Na época se dizia que no cume do Morro Las Mitras, nos arredores de Monterrey, podiam ser vistas luzes não identificadas durante a noite, e fomos lá conferir. Estávamos em oito pessoas nesta expedição e decidimos nos dividir em quatro grupos de dois pesquisadores cada. A idéia era subir o morro e realizar uma vigília em uma das grutas do cume. A ascensão até lá levou quase quatro horas, e durante o trajeto, de repente, eu e meu parceiro vimos uma esfera com um brilho branco azulado intenso que se movia sem ruído algum. Era como uma bolha de sabão vista do nosso ponto de observação, indo rumo à cidade e já quase sobre ela. É difícil calcular tamanhos e distâncias, mas estimamos que a esfera tinha entre 80 e 100 cm de diâmetro, e se encontrava uns 300 m à nossa frente. Os demais grupos que vinham atrás e iam adiante não a viram.
O que ocorreu então? Você teve a confirmação de que se tratava de algo inexplicado? O evento durou alguns segundos, talvez 30, quando a esfera passou de um lado para outro, regressou alguns metros e ficou estática por um momento. Depois fez um giro semicircular e se dirigiu ao poente em velocidade média, saindo de cena entre as árvores e posteriormente depois da montanha. Ficamos petrificados, mas ao mesmo tempo com grande curiosidade por saber o que tinha sido aquilo. Nada vimos senão a luz, que tinha aparência sólida e brilhava muito. O que podíamos ver definitivamente era sua forma esférica. Não ouvimos qualquer som perceptível nem vimos qualquer mudança no ambiente. Nunca quis contar esta experiência a ninguém, para guardá-la como uma espécie de “seguro” para quando topasse com um caso similar. Mas já se passaram quase 20 anos do fato e não voltei a ver algo parecido, por isso então revelo o acontecimento.
Ficamos petrificados durante a observação, mas ao mesmo tempo com grande curiosidade por saber o que tinha sido aquilo. Nada vimos senão a luz, que tinha aparência sólida e brilhava muito. O que podíamos ver definitivamente era sua forma esférica. Não ouvimos qualquer som perceptível nem vimos qualquer mudança no ambiente. Nunca quis contar esta experiência a ninguém, para guardá-la como uma espécie de “seguro” para quando topasse com um caso similar. Mas já se passaram quase 20 anos do fato e não voltei a ver algo parecido.
Muito interessante. Diga-nos, você tem algum caso ufológico preferido na vasta literatura que cobre o assunto? Bem, antes era o Caso Vidal, até que se descobriu que na verdade ele nunca ocorreu, que foi uma jogada mercadológica para o filme argentino Che OVNI, de 1968 [Veja edição UFO 106, agora disponível na íntegra em ufo.com.br]. Mas outro episódio que considero significativo é um clássico da Ufologia ocorrido em 29 de dezembro de 1980, quando duas mulheres e um menino tiveram um avistamento a caminho de casa — o UFO produziu queimaduras nas testemunhas, parece que devido a uma emissão radioativa. Este é o famoso Caso Cash Landrum, ocorrido no Texas. O episódio me fascina porque envolve um grupo de helicópteros negros que seguiam de perto o UFO observado, aparentemente de militares norte-americanos escoltando o artefato. Das três testemunhas, Betty Cash foi a mais atingida pelas queimaduras, pois tinha saído do carro para observar melhor aquilo e recebeu de forma mais direta a emissão radioativa, confirmada uma semana depois por seu médico. Ela faleceu aos 71 anos de idade, em 29 de dezembro de 1998, 18 anos após a experiência.
Você sempre realizou investigações de campo como parte de sua rotina de trabalho na Ufologia. O que diz dos ufólogos que nunca sujaram os sapatos na lama? Estou exatamente há 25 anos lidando com o tema UFO, dos quais 15 foram dedicados à investigação de campo. Não que eu me incomode com quem não faz investigação de campo, mas é importante que isso ocorra a qualquer pessoa que pretenda se dizer um ufólogo — e há muitos que até chegam a ir a campo, mas nada ou muito pouco contribuem para o esclarecimento do assunto. Ou seja, a investigação de campo é importante, mas não é tudo. Por isso, narrar minhas andanças no deserto de meu país, passando calores agonizantes ou sofrendo o ataque de mosquitos, não será Ufologia. Ufologia, isso sim, é o estudo do resultado de uma investigação de campo, não a narração de um depoimento ou a odisséia que foi obter uma foto.
Para finalizar, diga aos leitores da Revista UFO quais são as pequenas coisas da vida que mais lhe dão prazer. Gosto muito de ler, mas minha paixão é o cinema, sem ser um crítico experiente. Também aprecio a pintura. Gosto de um café com os amigos, de conversar por horas e de tentar entender o mundo. Mas o que mais me apaixona é o intercâmbio sadio de opiniões. Aproveito para encerrar com uma frase minha: “Dizer o que se quer ouvir faz mais dano do que a verdade”.