
Um caminho ainda muito controverso e polêmico dentro da Ufologia atual é sem dúvida a fusão dos estudos mais objetivos e científicos sobre o Fenômeno UFO, dentro da linha científica, com os conhecimentos da chamada área espiritualista. Alguns pesquisadores já abraçaram este caminho por entenderem que não se construirá um modelo de compreensão da presença alienígena na Terra sem uma interação direta entre essas duas áreas de conhecimento, até porque parecem ser duas faces da mesma moeda, na concepção de muitos que estudam a questão. Essa nova visão da problemática ufológica surgiu causada pela sensação de que os limites entre tais áreas não são tão facilmente perceptíveis – na verdade, para alguns, seriam até inexistentes. Se estamos em um universo multidimensional, que contém desde a mais ínfima partícula até a criatura mais complexa, cada uma se manifestando em vários níveis de realidade, como podemos ter a pretensão de buscar respostas sem termos em mente a natureza transcendente desse universo, e, na verdade, de cada um de nós?
Alguns pensam que esse tipo de raciocínio é uma fuga para algo irreal. Mas se esquecem que, segundo nossa própria ciência, o universo material que observamos e podemos medir e estudar com nossos instrumentos mais modernos só se manifesta e se estrutura a partir de algo, uma força, que certamente não existe – pelo menos não no sentido material. É como um “espírito inteligente”, como gostava de denominar o físico Max Planck, que seria a base de tudo que existe. Ao estudarmos a manifestação de naves alienígenas em nossos céus, não é difícil perceber que estamos diante de veículos que se manifestam em diferentes níveis de realidade, e que as inteligências responsáveis por eles certamente estão muito tempo à nossa frente em suas percepções sobre a real natureza do universo, que eles co-habitam conosco.
O problema está no sistemático ocultamento de provas que instituições públicas, em seguidos governos, têm feito em nosso país ao longo desses 60 anos de Ufologia
Em nosso país já existem vários pesquisadores que perseguem a busca de uma compreensão mais completa da presença alienígena na Terra, partindo do pressuposto que tal realidade se manifesta em vários níveis. E um dos que mais se destaca, não só nessa área, mas por sua atuação intensa no meio ufológico, é o geógrafo e conselheiro especial da Revista UFO Fernando de Aragão Ramalho, entrevistado desta edição. Ramalho é formado em geografia pela Universidade de Brasília (UnB) e tem especialização em geoprocessamento cartográfico. Foi professor em instituições públicas e privadas do Distrito Federal entre 1990 e 1995, quando prestou concurso para uma vaga no Congresso Nacional, e hoje exerce o cargo de chefe da seção de apoio técnico da Coordenação de Projetos da Câmara dos Deputados. Entre suas funções está a assessoria técnica processual nas áreas de arquitetura, engenharia e cartografia.
Em 2000, Ramalho entrou definitivamente na Ufologia filiando-se à Entidade Brasileira de Estudos Extraterrestres (EBE-ET), na qual exerce os cargos de vice-presidente, eleito em 2004, e secretário executivo. É também membro atuante do Centro Brasileiro de Pesquisas de Discos Voadores (CBPDV), responsável pela UFO. Mas as atividades do entrevistado na área ufológica remontam aos anos 70. Ele começou suas pesquisas em 1978, aos 14 anos, após seu primeiro avistamento de um UFO de grandes dimensões que aterrissou numa propriedade de sua família. De lá para cá, sua vida não tem sido a mesma.
Ramalho cresceu num ambiente pouco propício à Ufologia. Teve formação religiosa e convivia com parentes envolvidos com o chamado A2, o temido serviço secreto da Aeronáutica. Mesmo assim, interessou-se em especial pela área de Ufoarqueologia e seus desdobramentos através das diversas formas de religião, pesquisando, nas principais obras que abordavam o tema, suas relações com as escrituras sagradas. Ao mesmo tempo, Ramalho tomava conhecimento do vasto material sobre UFOs recolhido em operações militares, especialmente aquela que viria a ser posteriormente divulgada como Operação Prato. Entretanto, nunca divulgou suas pesquisas, até que, após dois outros avistamentos ufológicos, ocorridos há alguns anos, percebeu que já era hora de atuar mais decisivamente na área, inclusive em termos públicos.
Nesta entrevista, Ramalho fala de vários temas, em especial da campanha UFOs, Liberdade de Informações Já, lançada pela Revista UFO, na qual atua como um dos integrantes da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU). A ele cabe, no movimento, o estudo dos aspectos legais que regem a tentativa dos ufólogos de liberar os documentos militares com registros ufológicos, infelizmente ainda secretos no país.
Você teve sua primeira experiência com UFOs ainda muito cedo, com 14 anos. E antes disso, você já pensava em discos voadores? Tinha uma visão superficial do assunto, sem qualquer base experimental própria, mas já nutria uma vaga noção sobre o fenômeno, que deslizava entre a ficção e a realidade, com aquela peculiar dificuldade adolescente de separar uma coisa da outra. Em 1978, muitos filmes e seriados de ficção científica passavam na TV e nos cinemas, que na maioria das vezes resvalavam no assunto Ufologia, discos voadores e seres extraterrestres. Foi na década de 70, com a chegada da televisão colorida, que foram exibidas séries como Jornada nas Estrelas, Perdidos no Espaço e Os Invasores, e filmes como O Homem que Caiu na Terra e o inesquecível Contatos Imediatos do Terceiro Grau. Todos eles exerceram grande fascínio sobre mim, como sobre qualquer jovem daquela época. Contudo, meu interesse nos UFOs se consolidaria para valer com o que viria a ocorrer no fim daquele inverno de 1978.
Como foi este seu primeiro avistamento e como sua vida foi modificada por ele? Nossa família era proprietária de uma chácara de suinocultura, e eu ajudava um dos meus tios na criação dos porcos. Numa tarde, após o trabalho, meu tio saiu com minha mãe para a cidade e eu fiquei no local, me divertindo soltando papagaio. Ao fundo da chácara encontrava-se a sede, ainda hoje existe uma estação distribuidora de energia das Centrais Elétricas Furnas. Já era por volta das 19h00 e meus parentes ainda não haviam voltado, foi quando tive a visão de um objeto voador não identificado. O crepúsculo estava no final e a noite já se mostrava estranhamente estrelada, porque algumas “estrelas” se movimentavam de forma completamente diferente de tudo que até então eu tinha visto. Não demorou muito e uma das tais “estrelas” desceu rapidamente como um bólido incandescente e pousou, ou pairou a centímetros do solo, lá ficando por alguns minutos. Era um objeto oval de uns 5 m de diâmetro.
O que houve, então? Fiquei ali olhando por uns instantes. A luminosidade do objeto era tanta que clareou toda a região na descida, e ao pousar, no meio do cerrado, as tortuosas árvores que ficavam entre eu e aquele objeto – uns 100 m – pareciam gravetos. Pouco antes daquele pouso, outros objetos também sobrevoaram a distribuidora de energia de Furnas, causando um apagão que atingiu a cidade de Taguatinga, próxima à nossa chácara. Totalmente amedrontado pela ocorrência, eu larguei a linha do papagaio, que ainda estava sendo enrolada numa lata, saí correndo para a pequena tapera e lá fiquei até que meus parentes voltassem, o que não demorou muito. Tanto minha mãe quanto meu tio também observaram o fenômeno de longe, quando já estavam a caminho da chácara. Em seguida, apareceram na área diversos carros com luzes chamativas, provavelmente da Companhia Energética de Brasília (CEB), do Corpo de Bombeiros e da polícia. Tudo foi muito estranho, porque, apesar dos jornais terem dito no dia seguinte que se tratou de um único meteoro, nada se falou sobre aqueles UFOs que sobrevoaram a região, pouco antes da ocorrência.
Ter uma visão como essa certamente mexe com um menino de 14 anos, não? O que a experiência provocou? Olhe, esse caso me impactou de uma forma muito especial, pois naquela época, obedecendo aos costumes de uma família predominantemente católica, eu cursava o catecismo e já estava indo para o quinto mês de aulas, todos os sábados e domingos. Quando comentei o caso com o padre e a freira, que eram os professores de catecismo, tentando saber mais sobre o assunto e se era verdade o que se vinha falando sobre ETs, eles simplesmente me ignoraram. Disseram que eu tinha tido algum tipo de visão. Essa postura, que para mim passou a ser algo “oficial” da igreja, me incomodou muito e modificou profundamente a visão que eu tinha sobre religião. Para o então adolescente, ficou claro que as ocorrências daquela década incomodavam a postura de uma igreja fechada a discussões que envolvessem Ufologia.
Você teve mais duas experiências recentes com o Fenômeno UFO. Poderia narrar como elas aconteceram? Na verdade, foram mais de duas. Mas uma delas, muito importante, foi a ocorrida durante uma vigília que montei nos arredores de São Thomé das Letras (MG), logo após participar do I UFO Minas, um congresso realizado pela Revista UFO na cidade vizinha de Varginha. Naquela ocasião, em setembro de 2004, eu e um colega conseguimos notáveis imagens de sondas fazendo evoluções sobre a região durante mais de 40 minutos, publicadas na edição 103. Contudo, as experiências que mais chamaram minha atenção ocorreram em Brasília, no centro da cidade, e ao que tudo indica tinham algum relacionamento entre si. No primeiro caso, em janeiro de 2000, eu voltava com minha família para casa, no fim da tarde, quando um UFO muito luminoso, com formato meio arredondado e semelhante a um tubo de TV emborcado, surgiu entre a Esplanada dos Ministérios e a Avenida L2 Norte. Estavam no veículo eu, minha esposa e três crianças. O objeto começou a se posicionar na frente do carro a uma distância que não soube precisar, mas certamente era maior que 500 m.
No centro de Brasília? O que aconteceu a seguir? Sim, no centro de Brasília! E toda vez que fazíamos um retorno ou desviávamos o veículo para tomar o rumo de casa, o UFO acompanhava o movimento do carro, posicionando-se longitudinalmente ao pára-brisa, como se quisesse dizer: “olhem, estamos aqui, sempre na frente de vocês”. Ao chegarmos perto de nosso bairro, distante 15 km do ponto de partida, antes de tomarmos a rua final que levava ao prédio em que residíamos, o objeto disparou numa velocidade enorme, desaparecendo entre os prédios do local. Era impossível aquilo ser um avião, helicóptero e muito menos balão. Dois dias depois, após uma chuva forte que durou a tarde e a noite, tive outro avistamento, novamente com minha família. Voltávamos para casa depois de jantarmos num restaurante da Avenida W3 Sul, quando um artefato surgiu no céu. Era provavelmente o mesmo UFO de dois dias antes, que apareceu mais uma vez do nada, passou sobre nosso carro e ficou pairando sobre o gramado, junto a um dos estacionamentos do Parque da Cidade. Resolvemos estacionar o carro e observá-lo, mas depois de uns três minutos estático, ele aumentou o brilho e desapareceu num estampido seco.
Até que ponto essas experiências o influenciaram a começar uma atividade mais definitiva na Ufologia e assumir publicamente sua posição de ufólogo? Elas deixaram todos nós bastante impressionados, especialmente a mim, porque já tivera outros casos, adorava ler livros sobre Ufologia e já associava o assunto às informações teológicas que tinha. Eu já possuía uma opinião bem fundamentada sobre o assunto, era assinante da Revista UFO e fazia parte de listas de discussões ufológicas na internet, mas não tinha revelado nada sobre minhas experiências. Esses dois casos, em tão curto intervalo, significavam muito para mim e foram decisivos para uma tomada de posição. Eu senti que era o mesmo objeto, e por alguma razão concluí que “aquilo” poderia estar querendo mostrar sua realidade a mim, a nós, como se tivesse a intenção de dizer: “e agora, você vai fazer alguma coisa?” Foi a partir de então que resolvi arregaçar as mangas e comecei a escrever sobre Ufologia, ir mais regularmente a palestras etc. Daí entrei para a EBE-ET e, algum tempo depois, passei a escrever para a Revista UFO. A vontade que eu tinha era de divulgar a Ufologia, especialmente aquilo que o governo esconde.
O UFO acompanhava o movimento do carro, posicionando-se longitudinalmente ao pára-brisa, como se quisesse dizer: ‘olhem, estamos aqui, sempre na frente de vocês’. Antes de chegarmos em casa, o objeto disparou numa velocidade enorme. Era impossível aquilo ser um avião, helicóptero e muito menos balão
Como foi que você iniciou na área da espiritualidade? Houve algum fato determinante para isso? Apesar de o lado cristão das famílias nordestinas ser intenso em minha casa, durante minha infância e adolescência, em minha família as questões que surgiam geralmente eram resolvidas levando-se em consideração postulados espíritas. Minha avó materna era uma católica que gerou 12 filhos, e meu avô assim se dizia, mas nos idos de 1920, tornou-se maçom, freqüentou diversos centros espíritas em Pernambuco e educou seus filhos com base nas suas experiências. Além do mais, alguns fatos paranormais ocorridos com membros da família pareciam sugerir que a vida aqui neste planeta não era exatamente como a normalidade religiosa oficial impunha. Todos os meus tios e tias tinham mediunidade, em maior ou menor grau. Os mais desenvolvidos conseguiam prodígios como premonições, avisos e até materialização de objetos. Foi assim que comecei meu caminho na área da espiritualidade, ainda criança.
Suas experiências na área ufológica, em especial aquela ocorrida quando você tinha 14 anos, tiveram alguma influência em sua decisão de abraçar um pensamento espiritualista, apesar de sua formação católica? Sim. Aquela ocorrência e os seus desdobramentos foram fatos determinantes para uma reviravolta conceitual em mim. Serviu-me como “passaporte” para um lado da realidade que até então eu só tinha experimentado superficialmente. Quando eu narrei aquela história aos meus tios, um deles, aquele que era oficial da A2 e teve acesso às filmagens da Operação Prato, foi gradualmente me informando sobre a realidade do Fenômeno UFO. Ele também me falava da relação entre os ETs e o mundo espiritual. Os primeiros livros que li sobre Ufologia eram muito especiais e me foram cedidos por este tio, que me incentiva a ler e estudar o assunto. Mais para frente, as experiências em 2000 reforçaram minhas idéias e ainda me deram outras.
Você testemunhou outros fenômenos inexplicáveis que o levassem a consolidar sua opinião quanto à ligação da espiritualidade e os seres extraterrestres? Bem, ao longo desses quase 30 anos em que venho me dedicando ao assunto, tenho condições de afirmar hoje, com grande margem de acerto, que muitas das experiências que investiguei não podem ser explicadas em padrões exclusivamente científicos. Que tipo de método científico explicaria, por exemplo, movimentos inteligentes, complicadíssimos para nossa física ou mecânica, como os efetuados por UFOs? Eu mesmo já presenciei algumas manobras “impossíveis” dessas naves, registrando-as em fotos e filmes. Ou ainda, como explicar a comunicação, que muitos mantêm, com entidades que existem em outras dimensões, confirmada depois nos trabalhos de campo? Também pesquisei casos de materialização de artefatos estranhos ao ambiente onde apareceram, alguns utilizados em magia; movimentação de objetos físicos em residências, sem que alguém os tocasse; previsões acertadas e curas espirituais, entre outras ocorrências insólitas. Como explicá-las? Estes são alguns exemplos de fatos e registros reais, mas que, infelizmente, não podem ser repetidos e experimentados cientificamente. Contudo, na Ufologia e na parapsicologia praticadas com menos radicalismos metodológicos, que fundem conceitos milenares das filosofias orientais ao conhecimento científico moderno, sem qualquer vínculo com o cientificismo, os resultados são muito promissores – ainda que não consigam explicar tudo, como querem alguns colegas ufólogos da ala mais ortodoxa.
Como você entende a dificuldade de alguns colegas em fazer a fusão da Ufologia Científica, tradicional, com conhecimentos da área espiritualista? Vejo isso com muito pesar, mas como uma coisa natural entre seres em nosso patamar evolutivo. Certamente, essa dificuldade tende a se extinguir na medida em que novos conhecimentos teológicos e tecnológicos, advindos da física quântica, por exemplo, forem gradativamente sendo desvendados. A Ufologia, como uma ciência nova que tem como objeto de estudo um fenômeno que foge completamente à normalidade, deveria ter esse conceito muito bem claro na expressão de suas entidades representantes e na consciência de seus estudiosos. Pelo menos, assim fazemos na nossa Entidade Brasileira de Estudos Extraterrestres (EBE-ET), nos pensamentos e estudos desenvolvidos por seus membros.
Você tem se destacado por uma atividade intensa na área da chamada Ufoarqueologia. Qual foi sua fonte de inspiração para mergulhar nela? Para mim, assim como a filosofia representa a mãe das demais ciências, a Ufoarqueologia é talvez a base e a fonte original de informações que servem de guia para a Ufologia Moderna nos seus diversos ramos. A inspiração que me levou a esta conclusão veio dos textos sagrados, bem como das obras de dezenas de escritores, desenvolvidas ao longo dos séculos de nossa história conhecida, e até antes dela. Veja você, Petit, que desenvolveu uma excelente teoria sobre a possibilidade de nosso planeta ser um laboratório de inteligências extraterrestres, desde os primórdios da criação humana. Como você teria chegado às suas conclusões se não fosse pela inspiração trazida por informações contidas nos textos sagrados hindus, cristãos, budistas e muçulmanos? Isso sem contar as histórias passadas através das descobertas das civilizações suméria, maia, inca e das tribos indígenas africanas e brasileiras. Indiscutivelmente, todos os focos que indicam surgimento e organização social humana, em qualquer uma das diversas raças que compõem o atual Homo sapiens, têm algum tipo de relato ufoarqueológico.
Até que ponto você considera importante a Ufoarqueologia para a compreensão da presença alienígena na Terra? Creio que ele é fundamental. Sem o entendimento, a análise acurada das descobertas arqueológicas e a releitura dos textos antigos, analisados a partir da ótica ufológica, a história oficial da humanidade apresenta hiatos incompreensíveis, e a Ufologia Moderna fica capenga, órfã. Na abordagem que eu proponho, a Ufoarqueologia encontra um terreno muito fértil para preencher as lacunas deixadas pela ciência acadêmica. Segundo essas fontes de informações antigas, a humanidade convive com ciclos históricos semelhantes desde sua organização em sociedades, com a ascensão e queda de impérios, civilizações e reinados. E lá nos registros estão os UFOs, seus tripulantes e suas façanhas. É com base nesse fato que podemos hoje compreender alguns aspectos de ordem existencial, tais como quem somos, como viemos parar aqui e qual é nosso destino.
Considerando as atividades históricas dos UFOs, como você vê a crescente presença dos discos voadores no planeta e o desenvolvimento belicista na primeira metade do século passado? As duas grandes guerras mundiais, mais especificamente a segunda, chamaram a atenção da indústria bélica para o antigo e intrigante fenômeno dos iscos voadores, registrados desde tempos bíblicos, mas que então passaram a assumir novos contornos devido ao progresso científico advindo daqueles conflitos. Face à modernização das máquinas voadoras terrestres e dos sistemas de detecções, como radares e sonares, além de potentes câmeras e telescópios, começou-se a registrar de tal forma o fenômeno que não se podia mais ignorar. Sem muito alarde, particularmente após a década de 1940, dedicados esforços das mais diversas áreas científicas foram postos à prova por vários governos, principalmente o dos EUA, no intuito de descobrir o que “eles” significavam e que conseqüências poderiam trazer às nações, caso elas viessem a saber que não estamos sós no universo. Surgia então a Ufologia Moderna, e com ela, aos poucos, grupos de obstinados investigadores.
Você acredita que ocorreu nessa fase da história o nascimento da chamada Ufologia Militar e das políticas de acobertamento? Sim. Começou também nessa época a guerra pela informação, envolvendo negativas, sabotagens, contra-informação, coação etc, uma guerra que prossegue até hoje em vários países, sempre visando esconder a verdade sobre o Fenômeno UFO. Essa política é capitaneada, de um lado, por chefes de cientistas e investigadores, por militares e ocupantes de altos cargos em diversas esferas do poder estatal, que, embora na maioria das vezes não tenham caráter nem formalidades oficiais explícitas, são regidos pela burocracia e pelas normas de salvaguarda dos seus respectivos órgãos governamentais. Por outro lado, temos os pesquisadores independentes, organizações ufológicas civis reservadas,às vezes ligadas a religiões ou seitas, algumas visando o lucro e outras com fins meramente investigativos.Neste outro lado estão também alguns militares da ativa e da reserva, geralmente os que participaram de algum tipo de operação sigilosa ou que tiveram acesso a relatórios oficiais, e que resolveram assumir uma postura?discordante em relação a seus comandos. Tais militares, assim como organizações governamentais de países menos rígidos, tornaram-se importantes fontes de informações. Entretanto, analisando friamente ambos os lados da questão, vemos que a balança que mede a qualidade, a quantidade e a confiabilidade da informação ufológica pende radicalmente para um lado, e este lado é o lado oficioso, governamental.
Quer dizer que há um desequilíbrio de forças e que os ufólogos civis estão defasados em relação aos governos quando o assunto é Fenômeno UFO? É verdade, mas nem tudo é desanimador neste desequilíbrio entre informação e desinformação, que leva à grande desvantagem dos ufólogos civis e independentes. Pois há casos em que a informação, dependendo de sua origem, abordagem e forma de estudo, chega antes e com maior consistência aos estudiosos livres. E estes, por não seguirem doutrinas dogmáticas ou crendices religiosas, nem muito menos estarem subordinados aos procedimentos de ressalva adotados nos gabinetes governamentais, revestem determinada ocorrência com um escudo de credibilidade, sendo assim tratada com extrema seriedade nos meios científicos. E por mais que sejam desencadeadas manobras de descredenciamento e ridicularização posteriores, protagonizadas pela Ufologia Militar, a informação continua consistente e passível de comprovação, bastando que, para tal, haja vontade, coragem e independência na investigação. Este é o ponto positivo dos ufólogos civis.
Por que você acha que os esforços governamentais e militares, tão insistentes ao longo da história, não foram suficientes, até agora, para arrefecer a fenomenologia ufológica? Porque, indiferente a essa guerra de informação e da pressão governamental e dos quartéis, os UFOs continuaram incólumes e desafiadores em sua crescente escalada de registros, criteriosamente catalogados nos últimos 60 anos, além de até hoje não discriminarem locais de ocorrência nem testemunhas – os avistamentos ocorrem em todos os lugares e a todos os tipos de pessoas. Isso os tornam impossíveis de serem negados. Qualquer ufólogo razoavelmente bem informado e livre de preconceitos deve ter isso em mente, uma vez que o estudo cuidadoso e dedicado de registros contidos na arqueologia, na Bíblia e no período clássico da Ufologia Científica, após os anos 40, conservam uma relação íntima entre si. Portanto, a busca por novos casos, dados e fontes confiáveis, bem como a comparação destes com os registros antigos, e principalmente a luta para que todas as informações confiáveis sejam levadas a público, configura-se no papel primordial de um bom ufólogo.
Realmente, a questão da obtenção e do processamento da?informação ufológica?é um problema grave.?Fale um pouco mais a respeito. Pois é, o cerne da questão documental, que julgamos ser o principal problema no polêmico embate da desinformação versus informação, é reflexo do desequilíbrio entre o que a Ufologia oficiosa governamental sabe e o que ela passa à sociedade por meio dos seus diversos mecanismos, e o que investigadores independentes estudam e divulgam. O x da questão reside justamente no sistemático ocultamento de provas que instituições públicas, em seguidos governos, têm feito em nosso país ao longo desses 60 anos de Ufologia. É lamentável que esse processo ocorra exatamente no sentido oposto ao que deveria seguir dentro de uma democracia, como no caso da França. Lá, a própria instituição governamental responsável pelo estudo dos UFOs, apesar de lentamente, está efetivando um progressivo trabalho de liberação de seus arquivos. Um dos anseios do Movimento Ufológico Brasileiro, desde seu nascedouro, sempre foi a abertura à sociedade de todos os registros secretos das Forças Armadas sobre o assunto, contenham eles mitos, enganos, embustes ou realidade. Apoiar tal conduta é?obrigação de quem tem compromisso com a verdade, é a finalidade precípua da campanha UFOs, Liberdade de Informação Já, iniciada em 2004 pela Revista UFO.
O movimento que você cita tem raízes que completaram 10 anos. O que falta para ser totalmente bem sucedido? Bem, apesar desse objetivo principal – a liberação dos documentos oficiais secretos – ser inerente à própria Ufologia, no Brasil ele só veio a ser efetivamente posto em prática, sob forma organizada e documentada, visando a manifestação do Governo Federal, a partir do I Fórum Mundial de Ufologia, promovido em Brasília em parceria entre a Revista UFO e a Legião da Boa Vontade (LBV), em dezembro de 1997. Naquele ano, dezenas de ufólogos brasileiros e estrangeiros presentes no maior ciclo de debates sobre o assunto ocorrido em todo o mundo,?redigiram a Carta de Brasília, entregue a três autoridades do Governo – um representante político e dois militares presentes no encerramento do evento. Endereçado diretamente ao então ministro da Aeronáutica, o documento refletia de forma integral e concisa o que a maior parte dos ufólogos pensam sobre o Fenômeno UFO, qual a forma de estudo a ser empregada e o tipo de tratamento que deve ser dado à informação ufológica, e continha ainda um pedido de abertura de dois arquivos específicos da casuística ufológica brasileira, os quais se encontram nas dependências do Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Comdabra). São eles os registros da Operação Prato, de 1977, e da chamada Noite Oficial dos UFOs no Brasil, de 1986. Contudo, muitos anos se passaram e nenhuma providência foi tomada para que ao menos alguns dos objetivos da Carta de Brasília fossem atingidos. Sequer soubemos se ela foi realmente entregue a quem estava destinada…
Você sabe que, na prática, as autoridades que receberam a Carta de Brasília, apesar dos discursos feitos frente ao público do I Forum Mundial de Ufologia, nada fizeram de concreto, seguindo o triste padrão político que o povo do nosso país já está cansado de ver. Qual foi o passo seguinte daqueles que já lideravam o processo contra o acobertamento? Diante do quadro de total desinteresse, tanto por parte das autoridades que receberam a Carta de Brasília – um deles o então líder do Governo no Senado e hoje governador do Distrito Federal José Roberto Arruda – quanto do Governo Federal, os ufólogos que redigiram o documento mudaram de estratégia. Em 2004, uma nova comissão de ufólogos foi reunida e surgiu então a Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), que decidiu por retomar as reivindicações de maneira mais incisiva e estratégica. Assim teve início, em fevereiro daquele ano, a campanha UFOs, Liberdade de Informação Já. Semanas depois ela já tomava o corpo de um verdadeiro movimento da Ufologia Brasileira, baseado numa ampliação da Carta de Brasília, que passou a incorporar, entre os casos cujos registros oficiais pedíamos ao Governo, a captura de seres não terrestres em Varginha. O documento reivindicatório passou a se chamar Manifesto da Ufologia Brasileira e foi endereçado simultaneamente ao então ministro da Defesa, ao comandante da Aeronáutica e ao próprio presidente da República.
Você acha que a nova estratégia empregada na campanha foi o melhor caminho a ser seguido pela CBU? Sim, além, é claro, do barulho que muitos integrantes da Ufologia Brasileira fizeram, e não apenas os integrantes da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), à frente da campanha. Por exemplo, ao longo de 2004 fizemos tanta divulgação em Brasília que o movimento atingira quase todos os gabinetes públicos da cidade, através da publicação dos detalhes da campanha em jornais e revistas, do envio de e-mails a interessados, de programas de TV etc. Primamos pela abordagem direta da população, por meio de exposições montadas em pontos estratégicos de grande concentração populacional em Brasília.
Seria bom se houvesse engajamento semelhante de tantos integrantes ativos da Comunidade Ufológica Brasileira, que não se mexeram… Pois é, seria. Mas acabamos recebendo apoio de outros setores. Veja você que, simultaneamente aos esforços dos ufólogos na divulgação da campanha, surgiram pressões populares estimuladas por professores de história, políticos e grupos defensores dos direitos humanos, como o Tortura Nunca Mais e o Movimento Nacional de Diretos Humanos, para que o Governo liberasse informações sobre a tortura de presos políticos, provenientes dos arquivos formados no período da ditadura (1964 a 1985). As pressões foram motivadas por fatos envolvendo a publicação em jornais de grande circulação, em Brasília e em todo o Brasil, de fotos de um suposto torturado no regime militar, o jornalista Vladimir Herzog, que saíram de arquivos sob guarda do Exército. Isso ajudou nosso movimento, pois as autoridades e a população estavam mais suscetíveis. Posteriormente, em dezembro de 2004, foi divulgada pelo programa Fantástico, da Rede Globo, a queima de documentos sigilosos na Base Aérea de Salvador, criando um grande alvoroço entre militares, imprensa e população. A reportagem deixou em suspenso, mas com uma suspeita bem clara, que a intenção dos responsáveis por aquele ato visavam o sumiço de documentos comprometedores. Esses acontecimentos evidenciaram ainda mais a necessidade de se criar um instrumento legal regulamentador da guarda e do acesso a documentos sigilosos no país, entre os quais se encontram milhares de registros ufológicos. E, por outro lado, arranharam bastante a imagem da Aeronáutica perante o público. Assim, estava aberta uma brecha para que nossos esforços encaixassem o seu primeiro golpe na indiferença governamental.
Sem uma análise acurada das descobertas arqueológicas e a releitura dos textos antigos, analisados a partir da ótica ufológica, a história oficial da humanidade apresenta hiatos incompreensíveis, e a Ufologia Moderna fica capenga, órfã. Na abordagem que eu proponho, a Ufoarqueologia encontra um terreno muito fértil para preencher as lacunas deixadas pela ciência acadêmica
Considerando os objetivos que já foram atingidos?com essa?campanha, quais você acha que ainda faltam acontecer? Depois da grande exposição na mídia, o Poder Executivo resolveu agir, tendo em vista que o primeiro episódio – as fotos do torturado — resultou na destituição do então ministro da Defesa, José Viegas, depois de uma queda de braço entre ele e o ministro do Exército, Francisco Albuquerque. A queda de Viegas se deu por divergências internas quanto ao destino dos registros oficiais e, inclusive, pela recusa do Ministério do Exército em prestar explicações e pedir desculpas por declarações dadas à época, no mínimo ofensivas aos direitos dos parentes dos torturados. Já o segundo episódio, envolvendo a Aeronáutica, desnudou o risco que corriam os arquivos ainda em poder dos militares, posto que, segundo a Lei, quem comanda uma instituição que promove ou executa a queima de documentos incorre em crime. Além do mais, havia uma premente necessidade da Aeronáutica de reparar o estrago feito em sua imagem. E este reparo deveria ser feito da mesma forma e com a mesma intensidade com que foi feito o estrago, ou seja, no programa Fantástico. E com o mesmo e influente repórter que fizera a reportagem sobre a queima dos documentos em Salvador, o jornalista Luiz Petry, um grande aliado da Ufologia Brasileira e da Revista UFO há muitos anos.
Estes fatos geraram alguma medida realmente efetiva, que tenham tido como resultado a modificação no tratamento dos documentos considerados de acesso restrito? Acredito que sim. Acho que tais fatos é que motivaram a edição da Medida Provisória 228/2004, no final daquele ano, visando a normatização dos trâmites legais para tratamento e acesso a documentos sigilosos, compatibilizando-os com o inciso 33º do artigo 5º da Constituição Federal, com leis complementares e decretos-lei decorrentes dele. Certamente, os atos seguintes do Governo vieram em decorrência daqueles fatos, inclusive o convite feito pelo Ministério da Aeronáutica aos integrantes da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), para que, juntamente com o jornalista Petry, visitassem as dependências do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta) e do Comdabra, o que ocorreu em 20 de maio de 2005, com ampla divulgação na mídia. A Aeronáutica queria deixar bem claro para a população que nada tinha a esconder, mesmo que isso envolvesse documentos ufológicos.
Mas os militares que receberam os ufólogos lhes mostraram alguns documentos e prometeram que os encontros continuariam, e no entanto eles não aconteceram mais. Você acha que mesmo assim algum dos objetivos do movimento UFOs: Liberdade de Informação Já foram atingidos? Sim, foram atingidos parcialmente dois dos três principais objetivos da campanha, e pudemos fazer a consulta dos documentos originais da Operação Prato e da Noite Oficial dos UFOs no Brasil. Faltou aos militares nos mostrarem informações sobre o Caso Varginha. Entretanto, nossa meta não foi atingida em sua plenitude, pois os documentos relativos à Operação Prato estavam incompletos. Temos informações seguras de que o relatório possui muito mais que as 200 páginas apresentadas, e que mais de cinco horas de filmes das naves alienígenas também fazem parte do acervo dessa missão militar. Nada disso nos foi mostrado. Além do mais, tivemos apenas acesso a essas duas pastas, e outra de um avistamento relatado por um piloto civil em 1954, mantidas a sete chaves dentro do Comdabra, sem que nos fosse permitido fotografá-las ou copiá-las. A negativa às nossas intenções de tirar fotocópias se deveu a normas internas de ressalva ao acesso de documentos classificados com algum grau de sigilo, no caso o confidencial, o que é normal em instituições militares. A respeito disso, o oficial responsável pelos contatos que resultaram no encontro histórico, major Antonio Lorenzo, informou-nos que o acesso oficializado, com direito a cópias autenticadas dos documentos, deveria ser feito de forma legal, quando estes fossem enviados ao Arquivo Nacional, assim como estava sendo providenciado pelas organizações de direitos humanos, no caso dos arquivos da ditadura. É esse nosso objetivo agora: acionar as leis para ter em mãos não só as pastas mostradas, mas também pastas da Marinha e do Exército, incluindo o?Caso Varginha?e?outros tantos que forem de interesse da Ufologia.
Como você acha que a campanha pela liberdade de informações deve agir agora, usando a legislação para ter acesso a documentos sigilosos? Bem, a filosofia do estado de direito de qualquer nação democrática diz que é facultado a todo cidadão o conhecimento dos atos do seu governo, por meio do corpo de leis existentes. Em nosso país, tal fato jurídico está estampado na Constituição Federal de 1988, de onde se conclui que, se “todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos diretamente, nos termos desta Constituição”, logo o direito à informação produzida por esse poder é de sua propriedade.
Agora, o objetivo da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já é acionar as leis para termos em mãos não só as pastas já mostradas aos ufólogos da CBU no Comdabra, mas também arquivos da Marinha e do Exército, incluindo o Caso Varginha e outros tantos que forem de interesse da Ufologia
Você não acha muito utópico acreditar que o Governo vai liberar informações ufológicas, se este mesmo Governo esconde da população fatos de gravidade ainda maior? Em termos. Vejamos o que dizem algumas determinações das leis vigentes quanto aos interesses do movimento UFOs, Liberdade de Informação Já, e que atestam essa máxima constitucional. Por exemplo, no inciso 33º do artigo 5º da referida Constituição Federal está dito que “todos têm o direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”. Está na lei, deve ser cumprido. E se é assim, temos que lutar por nossos direitos [Veja informação sobre as leis no Portal UFO, ufo.com.br]. A questão aqui não é utópica, mas sim de se provar ao Governo que a divulgação da informação ufológica não traz nenhum risco à segurança da sociedade e nem do Estado. Vamos fazê-lo, nem que para isso, tenhamos que apelar ao Supremo Tribunal Federal.
Certamente. Esta luta está apenas começando. Não podemos esmorecer nem desanimar aos primeiros obstáculos. Já demos grandes passos e daremos outros ainda maiores e mais bem sucedidos. O importante é cada um de nós – independente de nossas visões pessoais sobre a presença dos discos voadores e seus tripulantes – entendermos que toda essa situação de acobertamento da presença alienígena na Terra não pode mais continuar. Estamos preparando na Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) uma nova intervenção em termos legais e jurídicos. Como disse há pouco, algo realmente mudou em minha vida após minhas experiências pessoais: elas trouxeram uma nova percepção das coisas. E isso que aconteceu comigo já havia acontecido antes com outros companheiros, e continuará acontecendo com muita gente em termos planetários. Fazemos parte de algo realmente importante. Assim, a nova etapa de nosso movimento terá significado ainda mais profundo, porque parte de um compromisso que os ufólogos brasileiros têm com a história de nosso tempo, e continuará até que seus objetivos sejam alcançados.