Nem esfriou a polêmica em torno do vídeo de supostos UFOs no Haiti – como mostramos na edição UFO 136 – e uma nova controvérsia se instala no ambiente onde a Ufologia cresce mais rapidamente, a internet. O vídeo fabricado, que mostra objetos não identificados sob o pôr-do-sol na ilha caribenha, arrematou mais de meio milhão de acessos no site Youtube, configurando-se num dos artigos ufológicos mais vistos até hoje. Só que, infelizmente, era fraude. Agora, ainda que em menor intensidade, o fenômeno se repete, mas com a diferença de que as filmagens que estão causando polêmica no momento foram produzidas no Brasil, mais precisamente no interior de São Paulo.
Os vídeos de Araraquara têm sido intensamente debatidos nos últimos tempos. O primeiro deles, que teria sido produzido em janeiro, mostra o que seriam dois discos voadores fazendo manobras impossíveis para qualquer avião ou helicóptero, sobre uma área residencial. Logo em seguida surge um pequeno objeto que, erguendo-se do solo, parece voar até um dos que lá já estavam e entra no mesmo, como se tratasse da recuperação de uma sonda por uma nave maior. A seguir, os dois “UFOs” disparam e desaparecem rapidamente.
O segundo vídeo, supostamente obtido em fevereiro na mesma cidade do interior paulista, é ainda mais impressionante, pois mostra outro “disco voador” que aparece bem nítido passando entre prédios do centro do município, inclusive projetando sua sombra em um deles. Vozes parecendo espantadas são ouvidas ao fundo, e a seguir o UFO dispara e passa muito perto da casa de onde teria sido realizada a gravação, caso fosse verdadeira. Tudo não passa de computação gráfica. No caso do segundo vídeo, um interessado na Ufologia um pouco mais informado nota imediatamente que a nave é simplesmente idêntica ao famoso “modelo esportivo” descrito pelo desacreditado físico Bob Lazar, que alegou ter trabalhado na Área 51. Esse disco está, inclusive, disponível como kit plástico para montar, podendo ser adquirido pela internet.
Os vídeos de Araraquara se tornaram uma febre na rede mundial. Tanto que a Revista UFO, em menos de três semanas, recebeu mais de 500 e-mails a respeito e cerca de 100 cópias das gravações. Felizmente, o próprio produtor do vídeo entrou em contato com o veterano ufólogo Claudeir Covo, co-editor da publicação, e logo foi esclarecido que as filmagens são montagens com fins publicitários. Por sinal, foi justamente a sombra do UFO sobre um dos edifícios que denunciou o vídeo como uma fabricação. O dia estava nublado e sem Sol, ou seja, um objeto real não emitiria sombra alguma no ambiente.
Necessários vários testes — Segundo o autor da computação gráfica, Guilherme Paiva, tudo não passou de um trabalho para uma nova agência de publicidade de Araraquara, a Smash [www.mundosmash.com.br]. Ele explicou a Covo, fornecendo informações detalhadas, que os vídeos foram compactados e enviados a três pessoas, para que postassem o material no Youtube e lhe emprestassem a maior autenticidade possível. “Mas a compactação acabou trazendo uma perda de qualidade, responsável pela falha na sombra e outras. Foram necessários vários testes até chegarmos ao produto final”, disse Paiva. No caso da segunda montagem, o UFO foi criado com o uso do programa Autodesk 3DS Max.
É importante frisar que, tecnicamente, os vídeos não podem ser considerados fraudes, já que foram elaborados como parte de uma campanha publicitária, não com a intenção de fazer as montagens passarem por filmagens legítimas. A idéia das gravações partiu dos alunos Diego Piccoli Ramos e Gleidson Golvêia da Silva, do curso de publicidade e propaganda do Centro Universitário de Araraquara (Uniara), responsáveis pela Smash. O mais espantoso neste novo episódio da Ufologia é, novamente, a reação das pessoas ao descobrirem que os vídeos foram produzidos por computação gráfica. Não raro, as respostas são agressivas ou desapontadas – e, às vezes, há quem até ameace processar os responsáveis pela montagem. Este é um efeito social já visto antes. E se ele já causa polêmica, é bom se preparar, porque os publicitários estão produzindo um terceiro vídeo, também parte da mesma campanha.
Nesta próxima fase, a Smash realizará a distribuição de panfletos nas ruas, com atores fantasiados de aliens. Ramos e Silva já estão fechando contratos com empresas de toda a região de Araraquara para a realização de trabalhos semelhantes. O símbolo da agência, obviamente, será um ET. O que agravou a popularização destas montagens, conferindo excelentes resultados à agência, foi o fato de estarmos em meio a uma onda ufológica sem precedentes no interior do estado de São Paulo, cujo epicentro foi o Caso Riolândia [Veja matéria nesta edição]. Os ufólogos da Equipe UFO, que estiveram presentes investigando os fenômenos na região, registraram um clima dividido entre euforia e medo. Novos testemunhos vêm a toda hora de cidades vizinhas, separadas de Riolândia por dezenas e até centenas de quilômetros. E já se chegou ao ponto de qualquer anormalidade em plantações de cana de açúcar ser atribuída a discos voadores.
Onda ufológica mundial — Mas que fique bem claro que nenhum ufólogo sério afirmou que o estranho amassamento da cana em Riolândia, ao lado da Pousada Piapara, foi pura e simplesmente provocado por uma nave alienígena. Se não houvesse tamanha quantidade de valiosos depoimentos – todos coerentes com a interpretação dos fatos –, a marca no canavial jamais seria desconsiderada um caso ufológico. De qualquer forma, redes de TV de todo o país têm dado contínuo destaque aos episódios paulistas, e certos rumores, embora não confirmados, parecem indicar que a onda ufológica se espalha pelo mundo. Os recentes avistamentos no Texas, também entre janeiro e fevereiro, são apenas um exemplo.
A Ufologia trabalha com muita cautela, tendo em mente que fatos como as montagens de Araraquara parecem atrair mais a atenção das pessoas do que filmagens verdadeiras. Neste momento, é muito importante repetir que nem tudo que brilha no céu é disco voador, principalmente para a internet, onde circula um gigantesco volume de informações e imagens, boa parte das quais, lamentavelmente, é falsa. Como se vê, a pesquisa ufológica se constitui numa atividade multidisciplinar, que envolve diversas áreas das ciências exatas tanto quanto das sociais, e deve ser exercida por pessoas sérias e comprometidas. Ela visa sempre o bem maior, que é informar a sociedade a respeito de um fenômeno muitíssimo complexo, com potencial de alterar absolutamente tudo o que conhecemos e tomamos como certo sobre cada aspecto da vida neste planeta.
Desta forma, devemos encarar vídeos como os de Araraquara – e até mesmo
os do Haiti – como oportunidades para expandirmos a credibilidade da investigação ufológica, explicando seus mecanismos para a sociedade e mostrando sua efetiva utilidade para o presente e para os dias que virão. Uma das ferramentas de que dispõem os ufólogos brasileiros para isso é justamente a campanha UFOs: Liberdade de Informação, Já, que visa obter do Governo Federal abertura e acesso aos documentos ufológicos mantidos secretamente pelas nossas Forças Armadas. Isso trará, inexoravelmente, esclarecimento definitivo sobre as visitas alienígenas.
Queiramos ou não, os alienígenas chegaram para ficar – e também na propaganda. Quem não se lembra do extraterrestre do portal Terra? Ou do recente e extremamente bem produzido alienígena da Petrobrás? Vários outros exemplos podem ser encontrados sendo veiculados nas redes de TV e em comerciais de jornais e revistas, como a publicidade do Ford Focus, em que uma garota dá carona a um rapaz que fica observando fascinado todos os equipamentos do carro. A moça então pergunta: “você nunca esteve em um Focus? De onde você é, de outro planeta?” O rapaz nada diz, mas se vira para o outro lado e, sem que ela veja, exibe duas antenas. Lá fora, o carro passa por uma placa: “Varginha, 14 km”.
Criatividade e empreendedorismo — Outra campanha muito divertida é a do automóvel Gol, em que “verdades” sobre o modelo são apresentadas aos espectadores. Uma delas diz que “alguns extraterrestres juram terem sido abduzidos pelo Gol”. Publicada em grandes revistas semanais, a peça traz o carro com uma nave pousada sobre o teto. Como se vê, o processo de popularização da Ufologia é contagiante e irreversível. Então, cabe novamente aos ufólogos separar o joio do trigo e alertar as pessoas sobre o que há de real na área, mesmo que, a princípio, isso traga manifestações de desapontamento. Com uma onda ufológica em andamento no interior paulista, isso é ainda mais essencial. E aos publicitários da Smash, nossos parabéns pelo atrevimento de confiarem no próprio talento e serem bem sucedidos por isso num país em que ter iniciativa, ser criador e empreendedor é uma grande proeza.