Os cenários da atualidade, principalmente os relacionados aos objetos voadores não identificados, vêm impactando a sociedade e a comunidade dedicada à sua investigação. O avanço da astronáutica traduz um dos maiores ímpetos do homem, o de extrapolar sua dimensão do conhecimento à medida que amplia o seu raio de investigação, estendendo a percepção das fronteiras do universo. Laboratórios, centros de pesquisas e fóruns de debates sobre exobiologia e astrobiologia inclinam governos a se posicionarem na direção da abertura dos arquivos secretos sobre a presença alienígena na Terra, e a verdade encapsulada começa a se espraiar.
O Governo Federal, através da Força Aérea Brasileira (FAB), promove a liberação gradual de grande volume de notícias sobre ocorrência ufológica, registradas desde a década de 50, apresentando uma nova geografia dos fatos. Essa postura não foi por acaso, mas de incessante e persistente luta dos ufólogos brasileiros, aglutinados na Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), cujos membros estão de parabéns. Todavia, é enaltecedora a atitude da Aeronáutica de liberar seu acervo aos estudiosos da fenomenologia ufológica, que agora poderão analisar e interpretar os acontecimentos com outra ótica. O Comando da Aeronáutica, com sua visão estratégica, disponibilizou esses dados para que pudesse contar com parceiros potenciais entre os ufólogos, a maioria afiliados à CBU, para análise e interpretação de eventos nos céus brasileiros, e assim ter a opinião de especialistas, antes de qualquer aparato de defesa aérea.
Novo paradigma, antigas soluções
Mas ainda falta o clímax desta jornada, a busca do trabalho conjunto entre civis e militares. Estamos falando da reativação do Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani), extinto em 1972 [Veja edição UFO 156]. Essa decisão virá ao encontro da Estratégia Nacional de Defesa, aprovada recentemente, e que vê a defesa nacional suportada pelo complexo militar, industrial e acadêmico. Neste cenário, o Fenômeno UFO, por ter origem ainda desconhecida, é classificado como ameaça, e como tal, reclama um estudo multidisciplinar, resvalando naquelas três vertentes.
No entanto, cabe à CBU manter seus quadros com atitude coerente, observando o princípio da razão. Posturas psicóticas e crédulas em demasia, às vezes partindo de pessoas bem intencionadas, podem comprometer todo um trabalho sério. As últimas medidas da Aeronáutica na convocação dos ufólogos ao Comando de Defesa Aérea Brasileira (Comdabra) e ao Centro Integrado de Defesa e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta 1), em maio de 2005, além da recente liberação dos arquivos confidenciais sobre UFOs, traduzem a reputação que a comissão adquiriu junto às nossas elites. O momento é de atenção no trato de todo esse relacionamento.
Contradições no discurso oficial
Por outro lado, a FAB, ativando um organismo de estudo compartilhado com os ufólogos, nos moldes do antigo Sioani, estabelecerá uma rede de informações indispensáveis à Segurança Nacional. Tal decisão não seria exclusiva, já que forças aéreas de outros países têm seus órgãos oficiais de pesquisa, ainda que alguns sinais, às vezes, não sejam captados por instrumentos instalados em plataformas voadoras ou mesmo fixos no solo. A tecnologia dos mais recentes veículos aéreos não tripulados ou vants, e mesmo de aeronaves invisíveis a radares, pode dar margem a vetores aéreos de nações hegemônicas rastrearem nossas riquezas e instalações estratégicas. Parece até absurdo, mas o compartilhamento das informações dos ufólogos, dada sua prática da observação celeste, implicará na probabilidade de redução da vulnerabilidade existente nos mais sofisticados sistemas de vigilância.
A propalada Noite Oficial dos UFOs no Brasil, ocorrida em maio de 1986, não teria sentido dúbio, por parte dos órgãos federais – de acordo com a liberação dos documentos até então confidenciais –, se tivesse havido um setor similar ao antigo Sioani na Aeronáutica. Por mais que algumas vozes participantes das buscas naquela noite digam hoje que nada avistaram nos céus, sendo os sinais registrados apenas plots de radar, não foi o que revelaram os documentos oficiais daquela época, em que pilotos confirmaram contato visual de luzes, como agora temos em mãos.
“Não saber” ou “desconhecer algo” que aparece diante de nós, principalmente em vôo, talvez seja uma afirmação mais coerente do que a externada por algumas autoridades, que “nada viram”. As atuais observações astronômicas, quer em telescópios espaciais ou em fixos, e mesmo por astronautas, estão repletas de interrogações. A opinião dos ufólogos sobre as manifestações inteligentes das luzes noturnas, de acordo com o relatório de ocorrências de 1986, emitido pelo então Comando de Defesa Aérea (Comda), por certo daria outra direção às suas conclusões [Veja artigo nesta edição].
O coronel-aviador João Adil Oliveira, com autorização de seus superiores, já nos anos 50 ouviu os pareceres dos ufólogos diante da crescente presença alienígena na Terra. O major-brigadeiro-do-ar José Vaz da Silva e o major-aviador Gilberto Zani de Mello também procederam desta forma, com os instigantes vetores que surgiram nos céus do Brasil, no final da década de 60. O mundo mudou, principalmente devido aos atuais arranjos relacionais envolvendo os setores público e privado. O novo paradigma é o farol das parcerias e vinculações institucionais a eclodirem na sociedade do conhecimento. A efervescência da informação global, trazendo a reboque a Ufologia, não pode mais ser preterida. Ao se olhar o Sol de frente, as sombras se projetam para trás. Guardando as devidas proporções, analisar o desconhecido, como a Ufologia, é talvez o processo inovador na vigilância do espaço aéreo.