Uma tradução de Mário Fontão.
A França tornou-se, no dia 22 de março, o primeiro país do mundo a colocar em aberto os seus arquivos oficiais sobre os objetos voadores não identificados (óvnis), num exercício inédito de transparência, visando dissipar acusações de dissimulação, lançadas por certos apaixonados. A curiosidade dos internautas era tal, que o CNES, realizador do projeto, ficou engasgado no dia.
“É uma premiére mundial”, sublinhou Jacques Patenet , responsável do grupo de estudos e informações sobre os fenômenos aero-espaciais não identificados (GEIPAN), do CNES. De fato, é verdade: “nos Estados Unidos podemos pedir estas informações caso a caso. Mas nós fizemos ao contrário colocando à disposição do público o conjunto da informação”, esclarecer Patenet.
1600 casos observados
Para já, os arquivos contêm cerca de 400 dossiês, ou seja, 25% dos 1600 casos observados na França após os anos de 1950, embora haja outros mais antigos. “Nós empregamos uma pessoa a tempo integral, para manter em linha a totalidade dos nossos arquivos de agora até ao fim do ano”, assegurou ele. O GEIPAN conta integrar também e progressivamente, fotos e vídeos.
“O princípio que nos anima, é que nada haja, do que vamos colocar em linha, senão com uma única reserva : a proteção da vida privada. Não há nos arquivos da CNES documentos classificados como proibidos e não recebi qualquer instrução particular sobre o assunto”, afirmou Patenet.
Para o essencial, os documentos apresentados são processos verbais da Polícia, com ausência de dados pessoais das testemunhas. Os ufólogos (apaixonados por discos voadores) não encontrarão nesta base, ou casos inéditos ou desconhecidos, preveniu ele. O principal problema encontrado pelos cientistas é a delicadeza da maior parte das testemunhas. Assim, uma testemunha poderá assegurar que viu um objeto voador com a forma de um rolo de papel higiênico, mas terá muito menor precisão quando for necessário calcular o seu ângulo azimutal.
Nem o mínimo início de prova
Quando o anterior responsável por estes fenômenos, no seio do CNES se deixou arrastar em discussões no que se refere a UFOs, Patenet assegurou que o organismo ficaria apenas numa aproximação puramente científica. “Não temos a mínima prova inicial de que os extraterrestres estariam por detrás das manifestações sem explicação. No caso contrário, também não”.
O site, de utilização fácil, permite buscas por região (ou departamento), por datas ou por palavras-chave. Também é possível selecionar por categorias: “A”- elucidado e demonstrado. “B”- explicação provável, sem prova formal. “C”- informações insuficientes. “D”- inexplicável, apesar de testemunhos sólidos e de indícios corretos (cerca de ¼ dos dossiês).
A numeração permitiu reagrupar num mesmo dossiê, os testemunhos até agora arquivados separadamente. Os 800 depoimentos coletados desde 5 de Novembro de 1990, quando a entrada (provada), na atmosfera, de um fragmento de foguetão, ficaram assim unidos; portanto, para fazer subir a percentagem de dossiês não elucidados, até agora calculada em 14%.
Cada ano, entre 50 a 100 casos são participados ao CNES, dos quais 10% são objeto de um inquérito complementar. “Mas apenas algumas dezenas, nos últimos 30 anos, merecem o nome de óvnis”, segundo Patenet.
O site do GEIPAN inacessível
Sobrecarregado por uma quantidade inacreditável de petições, o site do GEIPAN ficou inacessível até segunda feira dia 26 de março, pelo menos, houve um pedido de desculpas do Centro Nacional de Estudos Espaciais.