Diferentemente do que havia sido divulgado pela NASA na última semana, o primeiro voo tripulado para a Lua, depois de mais de 50 anos desde a última missão, não será em 2025. Segundo novo relatório emitido pela agência espacial norte-americana, os planos foram adiados para muito além disso.
“Dado o tempo necessário para desenvolver e testar totalmente o HLS e os novos trajes espaciais, projetamos que a NASA excederá seu cronograma atual para pousar humanos na Lua no final de 2024 por vários anos”, afirma o relatório, divulgado na segunda-feira, 15 de novembro. O documento se refere à Starship Harmonized Landsat and Sentinel-2, uma variante do módulo lunar da nave espacial que transfere astronautas de uma órbita lunar para a superfície da Lua e vice-versa – um elemento fundamental do projeto da NASA de pousar pessoas em nosso satélite natural novamente, o programa Artemis.
Como se sabe, o programa depende de um conjunto de veículos complicados, todos trabalhando juntos para levar os astronautas com segurança à Lua, o que inclui o novo e complexo foguete chamado Sistema de Lançamento Espacial, ou SLS, que enviará pessoas ao espaço dentro de uma nova cápsula chamada Orion. Enquanto isso, a SpaceX está desenvolvendo sua Starship para transportar pessoas de e para a superfície lunar para a NASA – parte de um contrato de US$2.9 bilhões concedido à empresa em abril.
No entanto, a Starship está apenas nos estágios iniciais de desenvolvimento e ainda não foi lançada em órbita. SLS e Orion também não fizeram seu primeiro voo juntos. Por essas razões, o parecer do Escritório de Inspeção Geral (OIG), que ainda detalha todo o trabalho que resta a ser feito pelas equipes da missão Artemis, considera a data de desembarque ainda muito distante. Ao anunciar o adiamento para 2025, na semana passada, a NASA atribuiu o ajuste a vários fatores, como os atrasos causados pela pandemia de Covid-19, mudanças no escopo de alguns dos programas, bem como um entrave judicial em andamento que sufocou o desenvolvimento do módulo lunar da SpaceX.
Trata-se do processo que a empresa espacial rival, Blue Origin, moveu contra a agência, já que também esperava firmar um contrato para desenvolver uma sonda lunar. Enquanto não saía a decisão do litígio (que foi desfavorável à empresa de Jeff Bezos), a NASA e a SpaceX foram impedidas de trabalharem juntas no módulo de pouso. Embora reconheça que o processo teve um impacto significativo no cronograma geral, o OIG ressalta que o cronograma de desenvolvimento da nave espacial da SpaceX é excessivamente otimista. O CEO da empresa, Elon Musk, continua fazendo previsões ousadas para o primeiro grande teste de lançamento do Starship, alegando várias vezes que estaria pronto para voar para a órbita pela primeira vez ainda este ano.
Protótipo SN20 da Starship, desenvolvida pela SpaceX, para o programa Artemis, da NASA, de retorno do homem à Lua.
Fonte: SpaceX
No entanto, o relatório do OIG estima que o primeiro teste de voo orbital da nave espacial ocorrerá apenas no segundo trimestre de 2022. O documento reconhece que a SpaceX pode economizar tempo devido ao seu ritmo veloz de testes em comparação aos programas anteriores de voos espaciais da NASA. Mas diz que ainda há muito trabalho a ser feito após o teste de voo orbital da nave estelar. Por exemplo: o veículo precisaria ser reabastecido enquanto em órbita, a fim de ter propelente suficiente para chegar à Lua – e a SpaceX ainda precisa testar essa capacidade, algo que nunca fez antes.
Além disso, destaca o relatório, a Starship terá que realizar um pouso não tripulado antes de fazer um com as pessoas a bordo. Todos esses marcos, combinados com muitos dos outros programas que precisam ser concluídos, fazem o OIG estimar um pouso lunar tripulado para, pelo menos, 2026 – se tudo correr bem. Não é apenas a programação da SpaceX que está equivocada aos olhos do inspetor geral da NASA. O documento também diz que a missão Artemis I, por meio da qual o combo SLS/Orion voará por uma semana ao redor da Lua, sem tripulação, não poderá acontecer em fevereiro de 2022.
Para o OIG, esse voo inaugural do sistema só será possível no segundo semestre. Um atraso pequeno, já que, originalmente, era para ter sido no início de 2017. Talvez a descoberta mais chocante do relatório seja o alto custo do programa. O OIG estima que a NASA terá investido US$93 bilhões no Artemis entre 2012 e 2025. E cada voo do SLS com o Orion no topo custará cerca de US$4.1 bilhões – mais que o dobro da estimativa do Escritório de Administração e Orçamento da Casa Branca, que afirmou que o SLS custaria US$2 bilhões para voar a cada vez. Isso acontece, de acordo com o relatório do OIG, por causa da forma como se deu o contrato do SLS e do Orion. Os veículos estão sendo construídos pela Boeing e Lockheed Martin, respectivamente, sob um tipo de acordo conhecido como cost-plus. Esse método permite que a NASA tenha supervisão substancial no processo de desenvolvimento e continue a fornecer fundos adicionais para os contratantes se as despesas ultrapassarem o orçamento.
Por outro lado, a nave estelar da SpaceX está sendo construída por meio de um contrato de preço fixo. Nesse caso, a NASA tem menos supervisão e fornece uma única quantia para o desenvolvimento do veículo, enquanto a contratada investe recursos próprios. O OIG observa que a adesão a contratos de preço fixo pode ajudar a NASA a economizar custos. “Com os recursos emergentes fornecidos por parceiros comerciais, a agência pode ter opções futuras que podem ajudar a controlar os custos para cumprir suas metas de exploração”, afirma o relatório.