Desde os anos 50, na Eagle, popularíssima história em quadrinhos semanal britânica para jovens, a capa colorida e a segunda página eram invariavelmente dedicadas às aventuras fantástico-tecnológicas de Dan Dare, piloto do futuro, personagem aeroespacial magistralmente desenhado por Frank Hampson. Além de combater os guerreiros invasores venusianos Treen, seres de pele esverdeada guiados pelo cruel cientista macrocéfalo Mekon com seu sinistro Reino dos Robôs, o herói movia-se em sua astronave Anastasia. Via de regra, o cenário era de viagens extraterrestres em torno da Lua ou de Vênus dividido em dois hemisférios por um cinturão de fogo equatorial, respectivamente habitados pelos humanos Theron e pelos humanoides reptilianos Treen.
Também como fundo cenográfico, havia outros planetas de remotos sistemas solares, como Cryptos e Phantos, em guerra entre si. Viam-se expedições extrassolares antecipando a tecnologia de deslocamentos de velocidade de cruzeiro maiores do que a luz do norte-americano Star Trek, para Terra Nova e mais além. Entre as várias aventuras do corajoso coronel e piloto da frota espacial Dan Dare, uma merece, indubitavelmente, ser lembrada pela notável originalidade: a frota fantasma, que narra a inesperada e imprevista chegada ao nosso Sistema Solar de algumas naves espaciais alienígenas colossais, estruturalmente evocativas da imagem do Atomium, de Bruxelas. Depois da “amerissagem” dessas últimas nos vários oceanos terrestres e seu fracionamento em miríades de esferas, a situação aparece em toda sua clareza: as astronaves alienígenas são verdadeiras arcas cósmicas, tendo em seu interior os poucos sobreviventes (os Cosmobes) de uma civilização extrassolar anfíbia altamente avançada.
Constituída de diminutos seres humanoides que mediam apenas algumas dezenas de centímetros, os quais escaparam da destruição do seu planeta 1-Cos, quase inteiramente coberto pelas águas, após a explosão de uma supernova. Eles pedem asilo ao governo da Terra, além do direito de acesso aos nossos oceanos onde possam se instalar pacificamente, usando-os como novo habitat. Contudo, a situação não é tão simples, pois os pequenos e inócuos exilados alienígenas não estão realmente sozinhos. A poucos dias de navegação das suas arcas cósmicas, uma frota inteira de invasão se move em direção à Terra, com os Pescode a bordo — guerreiros expoentes de outra espécie alienígena, originária do mesmo planeta distante destruído. Uma raça aquática agressiva, violenta e determinada a fazer do desejado planeta Terra — com três quartos da sua superfície coberta por água — sua exclusiva e nova pátria.
Destruição dos invasores hostis
Suas naves colossais interestelares, de fato, arrasam inicialmente as defesas da frota espacial terrestre com potentes jatos de gás avermelhado altamente corrosivo — a terrível Morte Cremisi — que ataca os metais, destruindo por descompressão explosiva, quase que imediatamente ao contato, todo aparelho ou meio espacial. Não há, porém, necessidade de dizer que, junto dessa imensa erupção vulcânica submarina, induzida pela mesma Morte Cremisi na região de Krakatoa, a história terá, de qualquer modo, um final feliz com a total e catastrófica destruição dos invasores hostis e de suas naves. Todos os salmos acabam em glória…
Mais recentemente, com seu L’Universo Sul Fondo, o romancista norte-americano de ficção científica Allen Steele, nos propôs um cenário com muitos aspectos parecidos: alienígenas anfíbios e aquáticos. Uma perspectiva de ficção científica, para dizer pouco, sui generis. Mas 30 anos depois, Hollywood produziu, por outro lado, um filme de ficção conhecido pela trama muito particular, O Segredo do Abismo [1989], no qual os protagonistas participam de uma perigosa missão oceanográfica de resgate que os levará a uma descoberta absolutamente inesperada. No fundo do oceano, eles se deparam com uma base alienígena, uma grande instalação subaquática de seres extraterrestres de origem extrassolar, escondida nas profundidades abissais.
Só que a ficção cinematográfica do diretor americano James Cameron pode, junto com a supracitada história em quadrinhos inglesa de Dan Dare, corresponder à realidade muito mais do que se possa pensar. Inúmeras vezes os testemunhos de fenômenos ufológicos verificaram a aparente união dessas insólitas junções em cenários de tipo aquático (oceanos, mares, lagos e rios), e cada estudioso do problema é bem consciente disso, entrevendo acima de tudo um componente preciso, típico e recorrente em tais manifestações. Porém, como é sabido, desde 1947, em todo o mundo se fala de objetos voadores não identificados, OVNIs ou UFOs [Do inglês unidentified flying objects], e o fenômeno tem sido muitas vezes associado também a ambientes da hidrosfera terrestre.
Excetuando-se o volume Invisible Residents [The World Publishing, 1970], do conhecido biólogo norte-americano Ivan T. Sanderson, não se sabe que já se tenha sido escrito um livro específico e dedicado em sua totalidade à temática exclusiva dos assim chamados objetos submarinos não identificados, OSNIs ou USOs [Do inglês unidentified submarine objects] — veículos misteriosos cada vez mais vistos no ambiente marinho e, provavelmente, ligados à atividade ufológica.
Fontes seguras e respeitáveis
Portanto, o presente volume é caracterizado pela primazia de ser uma obra, no momento, única em seu gênero. De qualquer modo, exclusividade bibliográfica à parte, há duas razões para termos nos empenhado na redação deste texto. Primeira, para que não tivesse origem apenas no simples e comum fato de muitas vezes termos nos deparado com fenômenos semelhantes durante nosso trabalho de estudos e pesquisas no Centro Ufologico Nazionale (CUN), cujos arquivos consultamos também para este livro. Segunda, uma original e inteligente sugestão dos responsáveis pelo setor de livros da Editoriale Olímpia, bem conscientes do fato de que, no passado, diversos leitores de uma das publicações líderes da casa editorial florentina, a histórica e difundida revista do setor subaquático e marinho Mondo Sommerso, dirigida por Sabina Cupi, havia comunicado alguns episódios insólitos ligados a esta questão. Tanto é que também a revista do CUN, Ufo Notiziario, dirigida por este autor, sempre sob a visão daquela editora, não pôde ignorá-los.
Apesar disso, eram e são eventos rel
atados, mesmo através de fontes extremamente seguras e respeitáveis, quase que exclusivamente a título confidencial e anedótico. Às vezes por ouvir dizer e, raramente, através dos meios de informação. Embora, em geral, havia e há muito mais por trás deles. Sem dúvida, um episódio familiar. Como nos mostrou o amigo e colega Cesare Calamandrei, pegamos, como exemplo, o caso de pequena notícia, naturalmente não levada aos jornais e que aconteceu na costa toscana, nos arredores de Punta Ala, no início dos distantes anos 70. O evento refere-se à proprietária de um chalé da periferia, que, naquele tempo, escondeu a notícia no fundo da memória e não lembra mais o ano exato. Mas na verdade isto pouco importa. Em uma magnífica noite límpida, no chalé, na encosta com ampla vista para o Mar Tirreno, os hóspedes se entretinham depois do jantar em conversas no jardim — as luzes estavam apagadas para evitar as incômodas incursões de mosquitos e apenas as pontas vermelhas dos cigarros brilhavam na escuridão.
Elevando-se da massa escura do mar, as luzes haviam assumido respeitáveis dimensões, semelhantes às de um vagão ferroviário e entre o estupor e o medo dos espectadores havia uma enorme mancha alongada escura
Já se havia passado da meia-noite e, sob céu nítido e sem Lua, as estrelas pareciam maiores, perdiam-se ao longe, delimitando o horizonte do mar escuro e invisível. Em certo momento, um dos hóspedes fez uma observação banal ao notar que, ancorado muito longe, devia haver evidentemente um grande iate. De fato, via-se no mar uma série de pequenas luzes dispostas em fila e próximas entre si. Depois de alguns minutos de diversas considerações e suposições, a atenção geral sobre tal objeto se atenuou, mas, com certeza, os olhos de todos os presentes se encontravam sempre naquelas luzes, as quais repentina e estranhamente se tornaram maiores. Em seguida, ainda e cada vez maiores, como se a misteriosa embarcação se deslocasse pela superfície já não de forma normal, isto é, não seguindo a linha do horizonte, mas prosseguindo de lado em direção a terra, a fila de luzes acelerou rapidamente e efetuou súbita conversão, de encontro aos invisíveis observadores.
Compreensível perplexidade
Logo depois, elevando-se da massa escura do mar, as luzes haviam assumido as mais respeitáveis dimensões semelhantes às de um vagão ferroviário e, entre o estupor e o medo dos espectadores, uma enorme mancha alongada escura e compacta apagou em seguida, escondendo-as, um pedaço inteiro de estrelas na abóbada celeste proeminente, desaparecendo, por fim, atrás da colina nos seus ombros. Mas o que haviam observado os presentes? O que havia se elevado das vagas, majestosa e silenciosamente, sobrevoando-as sem dificuldades e indo embora em seguida para a terra firme? Depois de alguns momentos da mais compreensível perplexidade, todos se lançaram em conjecturas que alimentaram as posteriores conversas da noite, que terminaram mais de uma hora depois.
De tal modo, houve quem necessariamente falou dos misteriosos UFOs que, de maneira habitual, se notam no verão por causa das melhores condições meteorológicas e de visibilidade no céu, mas também houve quem falasse dos novos meios militares mais ou menos secretos da Marinha italiana ou da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Contudo, invocar a possível presença de algo de dimensões bem superiores às de um avião do tipo inglês Harrier teria sido impensável na época. Por outro lado, um veículo militar qualquer com decolagem vertical teria saído da ponta de um navio e, certamente, não parou o céu junto com toda a frota naval de suporte. Além disso, um show efetuado justamente nas proximidades da costa de Punta Ala, cheia de casas de veraneio, de barcos e iates particulares parecia muito pouco aceitável. É certo que a Marinha militar jamais efetua manobras próximos de estruturas e embarcações civis — por isso, todos foram dormir desconcertados pelo evento do qual foram testemunhas. Na manhã seguinte, finalmente, a dona da casa e alguns hóspedes foram acordados por uma série de vozes e sons inusitados.
UFOs no cenário marinho
Eles se levantaram e constataram surpresos que, no espelho d’água à frente, um navio da Marinha havia ancorado e colocado em terra um grupo de marinheiros e civis que, acompanhado por alguns policiais, parecia disposto a explorar atentamente todo o trecho litorâneo da praia à extremidade da costa e mais além. Uma parte dos presentes, porém, dirigiu perguntas a alguns marinheiros ocupados na operação, sem obter qualquer resposta. Essa gente estava ali evidentemente a serviço e por serviço, e o hermético silêncio era prova disso. “Eram marinheiros e policiais, quase que certamente assistidos por expoentes do serviço secreto a paisana. Mas estavam procurando as pistas de que coisa?”, perguntou um dos presentes. “Se fosse coisa deles, todas essas manobras de forças seriam inadequadas. Certamente, tratava-se de outra coisa, algo desconhecido”. Seja como for, depois de algumas horas, todo o grupo embarcou novamente na unidade militar no ancoradouro que logo zarpou e esse caso específico encerrou-se ali. Na verdade, não há nada para se espantar.
Diferentemente de quando acontece em terra firme em noite iluminada e clareada por inúmeras fontes que, na maioria das vezes, não oferecem visibilidade suficiente sobre qualquer corpo voador luminoso em movimento, as observações noturnas realizadas no mar, na ausência de reflexos indesejados e com escuridão absoluta, são caracterizadas por condições melhores de visibilidade. Eis porque, em geral, as observações efetuadas por marítimos e por pessoal da Marinha militar constituem as melhores sinalizações entre as tantas (além de 350, os dossiês oficiais dos atos até hoje) que, desde 1979, cabem ao Segundo Departamento do Estado Maior da Aeronáutica. Hoje o órgão foi renomeado Departamento de Segurança Geral, designado institucionalmente pelo governo italiano para acompanhar o Fenômeno UFO em nosso país, nem mais nem menos do que têm feito autoridades competentes de outras nações, como o Ministério da Defesa da Inglaterra, Estado Maior do Exército do Ar na Espanha, do comando da Aeronáutica da Bélgica e do Serviço de Investigação dos Fenômenos de Reentrada Atmosférica da França — esta última operante desde 1977, próxima do Centro Espacial de Toulouse.
Diversas de tais sinalizações estão inseridas justamente no cen&aa
cute;rio marinho. Por outro lado, não esqueçamos, a Itália é uma península contornada por várias ilhas e banhada por cinco mares. Em 1980, por exemplo, um objeto luminoso esbranquiçado transitou próximo de Versilia, em Camaiore de Lucca, às 20h00 de 21 de março. Em 17 de novembro, porém, às 19h15, um corpo de cor branca brilhante atravessou de norte a oeste o céu da ilha de San Paolo. E apenas cinco minutos mais tarde, Grottaglie, em Taranto, foi alcançada por um fenômeno análogo. Os relatórios oficiais relativos, redigidos pelo pessoal da nossa Marinha, foram enviados para o Departamento de Segurança Geral pelo próprio estado-maior da Marinha.
Tecnologia alienígena?
Disse-nos, em 1991, o comandante do navio de cruzeiro Eugenio C, da Costa Armatori: “Em navegação, para os homens do mar, de fato, é possível realmente observar de tudo nas melhores condições de visibilidade, nas trevas noturnas entre o céu e o mar. Navios e embarcações de todo tipo, aeronaves e meios aéreos em voo, fenômenos óticos e elétricos da atmosfera, satélites em trânsito, fenômenos astronômicos. E também manifestações extremamente insólitas que, de qualquer modo, estão destinadas a permanecer inexplicáveis. Todavia, tudo isto fica no máximo nos registros do livro de bordo. Muito dificilmente é filtrado para o exterior e tornado domínio público”. UFOs e OSNIs, portanto, se manifestam nos mares mais do que se pensa? De fato, tudo nos leva a acreditar nisto.
A partir dos anos 40, especificamente de 1947, os meios de informação começaram a relatar as recorrentes sinalizações de misteriosos corpos voadores não relacionados a qualquer evento conhecido. A partir de então, presentes nos céus dos continentes e dos mares de todo o planeta, sem limites de espaço, tempo e língua, a questão sempre foi notícia. Como se sabe, para dar explicação melhor para o fenômeno, há quem recorra à teoria extraterrestre, segundo a qual tais objetos viriam de outros mundos. Os céticos, fenômenos naturais mal interpretados e mistificações à parte, pensaram, porém, em armas secretas de uma das grandes potências vencedoras da Segunda Guerra Mundial — mas fazem objeção os defensores da teoria extraterrestre, qual arma secreta poderia permanecer misteriosa por seis décadas?
A partir de então, objetos voadores não identificados estão presentes nos céus de todos os continentes e dos mares de todo o planeta. Sem limites de espaço, tempo e língua, a questão sempre foi notícia em qualquer ponto da Terra
A questão já existia, exatamente como se apresenta hoje, antes de 1947, e um número crescente de fontes históricas e jornalísticas parece documentá-la bastante. Por outro lado, aumenta o partido dos que aceitam outras possibilidades, quanto mais a pesquisa retrospectiva se desenvolve, mais novos e inesperados elementos emergem. Até na Itália. Vejamos alguns casos neste e nos próximos capítulos, que nos mostram quão impressionante e ao mesmo tempo alarmante é descobrir que a presença alienígena na Terra pode se manifestar de tantas e tão impensadas formas.
Objeto de aparência metálica
Escreve Moreno Tambellini, presidente do Gruppo Ricerche Ufologiche Shado di Lucca (GRUSL): “No final de abril de 2000, fomos contatados por um senhor, morador da nossa capital, que, por conhecer um episódio ocorrido nas proximidades da cidade nos anos 40, queria nos falar sobre a história. Segundo ele, era sem dúvida interessante. Desejando evitar comprometimentos públicos, pediu por expresso que sua identidade não se tornasse conhecida, ainda que o fato em questão tivesse acontecido com um conhecido seu: um confiável comerciante de Lucca, infelizmente já morto”.
O autor continua, dizendo que era uma tarde de verão ensolarada. A violência do segundo conflito mundial, ainda no crepúsculo, dilacerava e ensanguentava as regiões. Os homens, os poucos remanescentes das casas, procuravam levar adiante a vida cotidiana, valendo-se de trabalhos úteis para a comunidade. Naquele dia, era isso o que estava fazendo em Coselli, pequena região nas proximidades de Guamo, a poucos quilômetros de Lucca, um senhor que chamaremos de Antônio. Então, como era hábito nos meses anteriores ao inverno, ele caminhava para o corte de lenha em um bosque próximo quando ouviu um agudíssimo sibilo produzido por algo não conhecido — deve-se pensar que, naquela época, especialmente nessa região, o silêncio reinava soberano. O sibilo durou alguns minutos, o suficiente para aborrecê-lo. Sem hesitação, encaminhou-se em direção ao curioso barulho, atravessando a vegetação espessa.
Depois de alguns passos, entreviu, pousado no chão em uma clareira, um objeto de aparência metálica de forma elipsoide com diâmetro de aproximadamente 10 a 12 m e com cor de alumínio. Parecia muito luminoso, mas ele não relatou se o efeito se devia ao próprio objeto ou se era reflexo do Sol. E as surpresas ainda não haviam acabado, pois Antônio viu muito bem dois indivíduos próximos ao objeto que, aparentemente, pareciam dispostos a consertá-lo. Nesse momento, a distância que o separava dos dois seres não era mais do que 50 a 60 m. Não viu se os personagens saíram do disco, tendo-os observado já fora deste, atentos ao trabalho e, de qualquer modo, não se espantou muito — afinal, estavam em guerra e logo pensou em um avião alemão ou aliado, de nova concepção, já que na época falava-se muito de armas secretas, em especial no caso dos nazistas.
Paisagem selvagem
Por outro lado, os dois seres vestiam macacão do tipo usado pelos pilotos militares. Não tinham nenhum capacete ou boné. Suas formas anatômicas eram praticamente iguais às nossas, pelo menos por aquilo que Antônio podia ver. Pela lógica, podiam ser, portanto, justamente dois pilotos militares, tanto de um lado como do outro. Nesse ponto, Antônio concluiu que o objeto devia ser uma máquina secreta que, com certeza, estavam escondendo de civis. Procurando não chamar a atenção, retornou lentamente, chegando de novo ao seu lugar de trabalho. Nesse meio tempo, o sibilo se interrompeu. O homem não viu o objeto levantar voo, pois a mata era muito densa, nem voltou ao lugar da aterrissagem nos dias seguintes — pelo menos foi isso que relatou a testemunha aos familiares, o mesmo q
ue informou a Tambellini.
É importante salientar que a cidade de Coselli foi palco de um insólito encontro, em 1929, fato do qual encontramos pistas no volume UFO in Itália, de diversos autores, publicado em 1974. “Em seguida às informações colhidas verbalmente”, prosseguiu Tambellini, “equipou-se um grupo para inspeção, cujo objetivo obviamente não era encontrar pistas ou provas de qualquer natureza, mas fotografar o local para ilustração da exata conformação do território, objeto da nossa investigação”. Reencontrar o lugar não foi tarefa fácil para o grupo. Uma vez identificado, providenciou-se a verificação das condições do território que, como disse um habitante da região, não era muito diferente de quando ocorreu o episódio. A região, de fato, se apresentava, e se apresenta ainda hoje, desprovida de quaisquer habitações em um raio de vários quilômetros, inserida em paisagem completamente selvagem, com a clareira em questão rodeada por árvores do tipo pinheiro mediterrâneo e abetos.
Recentemente, ainda de acordo com observações de Tambellini, verificaram-se alguns episódios dos quais emergiram fatos e circunstâncias que remontam aos chamados arquivos fascistas, relativos aos UFOs dos anos 30 e 40, e essa interessante documentação vai, obviamente, enriquecer a já nutrida fileira de avistamentos obtidos dos anos 50 em diante. O caso em questão entra na estatística do período bélico, mostrando características que não divergem dos sucessivos casos ufológicos de contatos imediatos de terceiro grau, a sexta e última categoria em ordem progressiva, segundo cânones da classificação de eventos ufológicos, elaborada pelo pai da Ufologia — o saudoso astrônomo norte-americano Joseph Allen Hynek.
Agora, o caso é bastante conhecido e suas fases importantes são todas respeitadas: a descoberta, o contato, a aparente indiferença da testemunha e das próprias entidades, voltam de qualquer forma aos anais mais clássicos da já histórica Ufologia, constituído desde avistamentos extremamente concretos de objetos à inequívoca aparência das máquinas. O que dizer em especial sobre esse caso específico? A maior aflição é, obviamente, a de não se ter podido falar com a testemunha direta, o que não nos permite expressar qualquer parecer definitivo, pelo menos em relação à fidedignidade da testemunha.
Antes da Segunda Guerra Mundial
De qualquer modo, fica o fato de todas as pessoas que entrevistamos demonstrarem ser plenamente dignas de fé, e o mesmo disseram elas, concordantemente, sobre o protagonista falecido. “Devemos, portanto, arquivar esse caso como muito crível e seguramente como uma peça complementar que, na ausência de eventuais outros elementos, há de somar-se ao gigantesco quebra-cabeça da Ufologia”, conclui Tambellini, autor, entre outros, do interessante livro Alieni in Itália [Edizioni Mediterranee, 1966], dedicado aos contatos imediatos de terceiro grau na nossa península.
Entre 1996 e 2000, o Centro Ufologico Nazionale (CUN) recebeu, a mim endereçados, um conjunto de documentos originais enviados por correspondente mantido anônimo, ligado a um dos componentes de certo órgão secreto presidido pelo senador Guglielmo Marconi e constituído pelo governo italiano nos anos 30: o Departamento RS-33, em que RS significa Pesquisas Especiais, em italiano, e 33, o ano da sua constituição, 1933. Foi criado por vários estudiosos com o objetivo de examinar no nível de retroengenharia ou engenharia reversa, os vários avistamentos de misteriosos objetos voadores discoides recolhidos na península italiana. São relatórios reservados sobre aviões não convencionais que haviam violado o espaço aéreo da Itália fascista — o regime de Mussolini, considerando-os novos revolucionários aviões espiões franceses ou ingleses, pretendia copiar como tecnologia aeronáutica.
Os documentos em questão, depois de análises e verificações feitas por mim e pelo colega Alfredo Lissoni, foram objeto de específica investigação técnica elaborada pelo perito do Tribunal de Como, doutor Antônio Garavaglia. Demonstraram-se genuínos e realmente da época, autenticando assim, por um lado, os avistamentos do que depois seriam chamados discos voadores no céu de Mestre, em 1936, e, por outro, os inúmeros sobrevoos de máquinas voadoras não identificadas entre 1933 e 1939, na Itália e na Albânia. Os estudos conduzidos sobre uma forma de aviação superior pelo Departamento RS-33 deviam, então, ser conhecidos do aliado alemão no final da Segunda Guerra Mundial.
Enquanto tais estudos permaneciam no nível puramente teórico na Itália, o Terceiro Reich, que havia começado a produzir as secretas Vergeltungswaffen nazistas, ou armas V — da V1 até a V9 — na esperança de virar a sorte do conflito, tentou sem sucesso a realização prática de alguns protótipos de asas rotatórias sobre projetos de Miethe, Belluzzo, Schriever e outros. De qualquer modo, o importante do ponto de vista histórico é salientar o fato de que os modernos UFOs já eram conhecidos nos anos 30 na Itália, e que o governo fascista, antecipando em mais de 14 anos os Estados Unidos, constituiu a primeira comissão de estudos sobre o fenômeno no mundo, chamada Nihil Sub Sole Novi.
Lembranças comuns da guerra
Em todo caso, se os UFOs estavam presentes antes do segundo conflito mundial, é possível que outros avistamentos desse período venham à tona de um momento para outro. E relacionado não apenas com o universo aéreo, mas também, alcançamos assim o tema específico desta edição, o mundo da água. Em 1952, eu era um menino de oito anos muito precoce e — ainda filho único — era levado periodicamente por meu pai à barbearia, na época na Viale Don Mizoni, perto da nossa primeira casa florentina da
Via Leonardo da Vinci. Naquele ano, depois de ter cortado meus cabelos, enquanto lia Topolino, a revista do Mickey Mouse, esperando por meu pai, o barbeiro e um cliente também à espera conversavam sobre lembranças comuns da guerra. Começaram assim a discutir as épicas ações de sabotagem efetuadas pelos intrépidos invasores da nossa Marinha com os míticos meios subaquáticos conduzidos por homens-rãs, os chamados porcos, carregados com potente carga explosiva contra a frota britânica.
Desta forma, forçavam com sucesso os portos ingleses de Suda, Malta e Gibraltar. Eram todas histórias de coragem e heroísmo, sem conotação política, que não podiam despertar interesse em um menino como eu. Em especial, a de um homem que havia estado nos submarinos que, em um certo ponto, passou a entoar nostalgicamente e em voz baixa La Canzone dei Sommergibili [A Canção dos Submarinos], um hino do corpo de marinheiros que eu, realmente, já conhecia por ter ouvido minha avó paterna Emma, que me era muito próxima na época, cantarolar anteriormente. Porém, fui interrompido de repente pelo homem que, com olhos brilhantes e ar incrédulo, levantou-se da cadeira, abraçou-me e beijou meu rosto, comovido. Eu não esperava mesmo. “Muito bem, menino”, disse, fixando-me nos olhos, quase chorando. “Mas quem te ensinou?” Respondi: “Minha avó e seu filho, isto é, meu tio, Piero, que foi marinheiro de submarino”. Disse que vovó Emma me havia feito conhecer Julio Verne e, para estimular minha fantasia de menino, fizera a leitura do famoso Vinte Mil Léguas Submarinas com as mirabolantes aventuras do Nautilus e do capitão Nemo.
Falei que meu tio havia embarcado e que meu pai também havia prestado serviço militar na Marinha durante o conflito. Lógico, portanto, que eu fosse profundamente apaixonado por submarinos. A partir de então, um gostoso diálogo transcorreu. “O senhor estava nos submarinos durante a guerra?”, perguntei. “Sim, e poderei lhe contar histórias gloriosas e incríveis desse período”. E contou o homem um fato realmente estranho que lhe marcou mais do que qualquer outro durante o período do seu embarque. “Um dia, meu submarino estava em missão de guerra. Estávamos no Atlântico à caça dos comboios anglo-americanos exatamente como os U-Boat da Marinha alemã, então nossa aliada. O Sol havia acabado de se pôr, o mar estava mais agitado e o tempo era tudo, exceto bonito. Justamente por esse motivo, em vez de seguirmos a cota periscópica, navegávamos havia vários minutos em emersão para distinguir melhor, a distância, o navio inimigo no crepúsculo”.
“Estranho espetáculo”
E a história continua interessante: “Investigando as águas pelo binóculo em certo ponto da torre, meu comandante, ao lado do qual eu estava de sentinela, indicou-me algo no mar a bombordo. Olhei e vi no horizonte uma faixa de mar bem definida que parecia estranhamente iluminada pelo fundo. De impulso, pensei em um submarino adversário. ‘O inimigo’, disse imediatamente. ‘Damos o alarme?’ O comandante replicou que não sabia se seria o caso de ordenar o posto de combate: ‘Olhe que não é navio nem submarino. Observe bem’”. E prosseguiu o homem: “Continuamos assim a seguir o estranho espetáculo, até que uma grande massa luminosa arredondada pareceu sair das vagas para, em seguida, em saída vertical da superfície em direção ao céu, desaparecer nas nuvens próximas, mergulhando e desaparecendo de vista”. Ao perguntar- lhe o que teria sido aquilo, ele disse que era algo sólido, mas não um submarino. E parecia menos ainda com um avião.
No final, o comandante pensou que talvez se tratasse de um fenômeno ótico, uma miragem, e disse que, de qualquer maneira, não era o caso de se abalar. “Mas eu não via assim. Era algo mais do que visão ou efeito ótico. Porém, no passar de um minuto, o espetáculo já havia acabado e a superfície do Atlântico se tornara profundamente cinzenta e silenciosa, enquanto caía a noite. Sem pista de nada. Mas, para mim, algo de concreto havia se elevado do mar e realmente voado por entre as nuvens. E não era, claro, o Holandês Voador”. Fiquei chocado com a narração, mas não fiz comentários. Alguns minutos depois, meu pai entrou na barbearia, cumprimentando a todos. Recebeu do homem uma série de exagerados elogios sobre mim, pagou o corte de cabelo e me levou para casa, onde lhe contei o acontecido. O episódio, que não teve nenhuma sequência, permaneceu, porém, vividamente impresso em minha memória de menino — lembro-me de que naquele mesmo dia o jornal noturno da rádio RAI, Radiosera, deu a notícia de um disco voador e seu suposto “piloto marciano” haverem sido fotografados em uma geleira, em Berna.
Tratava-se do famoso Caso Monguzzi, do qual a imprensa ocupou-se amplamente, logo destinado a ser indicado como falsidade fotográfica. Na ocasião, perguntei a meu pai o que era um marciano. Ele me explicou serenamente, com extrema consistência e sem julgamentos, que se tratava do suposto habitante de Marte, um planeta provavelmente não muito diferente da Terra, perdido no infinito céu estrelado como o nosso. Um planeta de onde, talvez, viessem esses discos voadores dos quais, em todo caso, os jornais haviam começado a falar com insistência há alguns anos, como revolucionárias máquinas voadoras. Constatei isso com extrema atenção e seriedade. E em minha mente não pude, portanto, fazer menos do que ligar, de algum modo, os dois episódios. Contudo, minha intuição de criança então devia, em seguida, demonstrar-se extremamente aguçada.
Mistério na batalha de Capo Matapan
Observações misteriosas, de fato, sempre caracterizaram os mares e os oceanos de todo o mundo. Voltando ao período da Segunda Guerra Mundial, a conhecida e infeliz batalha de Capo Matapan foi, para a Marinha italiana, um evento triste que provoca até hoje profunda dor, mesmo passados tantos anos. Naquele longínquo 29 de março de 1941, no combate com a frota britânica, 2.308 marinheiros italianos encontraram a morte e repousam no grande mar, ao sul do Peloponeso. Foram perdidas cinco unidades navais italianas: os cruzadores Fiume, Pola e Zara, e os contratorpedeiros Alfieri e Carducci. Já se escreveu muito sobre a batalha. Muitos foram os livros, os coment&a
acute;rios, as reconstituições, as comemorações e as críticas — mas esse evento está e estará sempre presente nas mentes e nos corações dos italianos.
Em tempos mais próximos, a revista Marinai d’Itália, no 55º aniversário da batalha, comemorou o evento no número de março de 1996, publicando dois fatos absolutamente singulares. O que se segue é a prestação de contas de um dos dois episódios, publicado no jornal Tirreno, de 11 de fevereiro de 1955, do almirante Aldo Cocchia, o qual foi informado do fato por uma testemunha ocular: o marinheiro Giovanni Pinta. Durante a última guerra, Pinta estava embarcado no cruzador Fiume, quando este foi duramente atingido pelo fogo dos encouraçados britânicos no decorrer da trágica batalha. Resultaram inúteis as tentativas de apagar os incêndios ocorridos a bordo e o comandante deu a ordem de abandonar o navio, se deixando, então, afundar com ele. Um grupo de sobreviventes, vagando à deriva sobre uma jangada sem água e sem víveres, foi recolhido depois de cinco dias.
Mas no amanhecer do segundo dia… “Foi um pouco antes que o Sol aparecesse”, relata Pinta ao almirante Cocchia. “Mar, apenas mar, um mar calmo e oleoso. Não tínhamos nada para beber nem para comer e alguns de nós já eram tomados pelo desespero, mas o navio, todos nós o avistávamos a umas quatro ou cinco milhas. Despontava do mar, primeiro os mastros, a chaminé, o torreão de comando. Qual de nós não teria reconhecido o Fiume? Surgiu a ponte de comando, depois surgiram os canhões. Surgiu quase até a ponte, mas com uma lentidão de matar. Alguém gritou, mas naquele casco de navio surgido no mar havia algo que não dava alegria, algo que aterrorizava em vez de alegrar”.
E continua a interessante narrativa: “Por um longo instante, nos convencemos de que o Fiume se aproximaria, que viria nos pegar, que nos tiraria da agonia em que vivíamos. O navio, porém, permaneceu parado ali durante um tempo, sem fazer nada. Depois, pouco a pouco, quase friamente, desapareceu”. Esse episódio, narrado por Pinta a seu superior, dava conta de alguns homens perdidos no mar que reviam seu navio afundado duas noites antes. Um episódio vivido, certamente, em um estado particular, de necessidade e de angústia, mas confirmado por todos aqueles que, junto com Pinta, foram os desafortunados protagonistas. Mas esse fenômeno do cruzador Fiume não foi o único fora do comum verificado durante a tragédia de Capo Matapan — no mesmo artigo do almirante Cocchia, foi relatado outro fato inexplicável, ocorrido um pouco antes.
Imobilizado no meio do mar
Durante a batalha, o primeiro a ser atingido foi o cruzador Pola, que, tomado pelas chamas, ficou imobilizado no meio do mar. Em seu socorro, moveram-se os cruzadores Fiume e Zara, escoltados por quatro contratorpedeiros. Porém, os dois navios se disseram em socorro ao Pola e ignoravam que estavam sendo percebidos imediatamente pelos radares adversários, aparelhos que os italianos não tinham. Os ingleses, portanto, perceberam os navios italianos e, em seguida, primeiro pelos radares e depois diretamente, quase como batedor da formação italiana, delinearam um cruzador tipo Colleoni na proa dos dois maiores: Fiume e Zara. “Dos navios britânicos, todos o viram”, escreve Cocchia. “Viram-no e dispararam contra ele, que, incendiado, não se afastou do campo de batalha”.
O avistamento e a ação que se seguiu a isso foram anotados em relatório oficial pelo almirante Cunnigham, comandante da formação britânica. Mesmo os sobreviventes do Pola, que assistiram inertes ao combate, afirmaram que viram um Colleoni abandonar o campo em chamas. Porém, das várias fontes históricas que minuciosamente relataram tudo o que aconteceu durante a batalha, resulta, com absoluta certeza, que naquela noite, naquelas águas, nenhum outro navio esteve presente, além dos ingleses e dos dois italianos que navegaram em socorro ao Pola. “Não só isso. O estranho é que justamente naquelas águas do mar Egeu, cerca de oito meses antes de Matapan, o cruzador Colleoni foi afundado, combatendo, corajoso, o Sidney britânico”, prosseguiu Cocchia. Logo, não podia ser o Colleoni. Nenhuma outra unidade naval italiana se encontrava naquelas águas.
Então, contra quem os ingleses dispararam? E o que se afastou deles, incólume, apesar das canhonadas recebidas? Não sabemos. Mas, evidentemente, tratava-se de um corpo sólido e flutuante, das mais respeitáveis dimensões de um cruzador de batalha. Episódios como esses lembram, por alguns aspectos, os relatados por foo-fighters, misteriosos caças inflamados observados durante a fase final da última guerra no front europeu. Estes últimos, notadamente isolados ou em formação, seguiam os aviões aliados sobre a Alemanha e Japão, mas sem jamais atacá-los. Pensou-se, então, em um novo tipo de aviões do Eixo de Guerra. Contudo, depois, descobriu-se que os alemães e os japoneses também os haviam visto, pensando por sua vez que fossem meios aéreos norte-americanos ou britânicos de novíssima geração. É, de qualquer maneira, apenas nos anos 50 que, em paralelo às contínuas aparições de UFOs nos céus de todo o mundo, começam também a ser vistos na hidrosfera terrestre os OSNIs, versão aquática dos UFOs.
Os incidentes do Estreito de Bass
Era pleno verão de 1942 quando um avião militar da Real Força Aérea Australiana [Royal Australian Air Force, RAAF] estava patrulhando o Estreito de Bass, entre a Austrália e a Tasmânia, à procura de algumas provas sobre estranhas luzes noturnas vistas por pescadores na região. Em pleno dia, pouco antes das 18h00, o piloto se encontrou diante de um incrível objeto voador oval de aparência metálica, compacto e com reflexos bronzeados, com 50 m de comprimento e 15 m de largura, munido do que parecia uma cúpula de acrílico. Por alguns momentos, o objeto se pôs ao lado do avião, seguindo em voo paralelo a este. Depois, fez uma repentina conversão de rota e se dirigiu para a superfície do oceano, mergulhando em grande velocidade e desaparecendo por entre as ondas. Que não devia se tratar de um acidente foi demonstrado pelo fato de que, segundo o relato do piloto, o intruso efetuou um splash down suave, seguindo as normas aeronáuticas — mesmo em grande velocidade, mergulhando no mar sem qualquer impacto destrutivo.
Depois, o objeto submarino não identificado fez uma repentina conversão de rota e se dirigiu para a superfície do oceano, mergulhando em grande velocidade e desaparecendo por entre as ondas. E daí nunca mais foi visto
Nenhum fragm
ento emergiu na superfície. Foi como se um “submarino voador” houvesse mergulhado no oceano. Quase dois anos depois, na mesma região, em fevereiro de 1944, um bombardeiro do tipo Beaufort da RAAF estava voando a 400 km/h na cota em torno de 1.400 m quando foi ladeado à distância de 30 m por certa massa escura, caracterizada por espécie de esteira aparentemente causada por seu sistema propulsor. O objeto ficou emparelhado com o Beaufort durante 20 minutos, não acelerando e, portanto, não se distanciando do avião a bordo do qual, por toda a duração do encontro, o rádio e os sistemas de navegação pararam de maneira inexplicável. Curiosamente, durante a Segunda Guerra Mundial, ainda na região do Estreito de Bass, vários aviões em missão não deram mais notícias e foram considerados perdidos, embora a atividade inimiga fosse totalmente inexistente.
Espécie de brincadeira trágica
O expansionismo japonês, de fato, havia se direcionado para a Austrália, mas as limitadas ações de guerra nipônicas só haviam interessado à Nova Guiné e às zonas de mar ao norte do continente austral. Muitos anos depois, a mesma região do Estreito de Bass tornou-se, porém, palco de um episódio aéreo, cuja dramaticidade logo rodou o mundo. 19h06 de 21 de outubro de 1978. O jovem piloto Frederick Valentich se encontrava em voo sobre a região no comando de um avião Cessna 182 quando, de repente, comunicou à torre de controle do aeroporto de Melbourne que seu avião estava sendo seguido por um grande aparelho munido de quatro luzes brilhantes. O objeto em questão não apresentava asas, propulsor ou leme e tinha forma alongada. E depois de ter ladeado o Cessna, começou a se exibir em uma espécie de brincadeira. Veja no box desta matéria, momento a momento e em transcrição integral, o texto do diálogo de seis minutos pelo rádio entre o piloto e a torre de controle.
Logo no momento final do contato de Valentich com os controladores de voo, segue-se um prolongado barulho metálico e, enfim, o contato pelo rádio se interrompe. De Frederick Valentich não se soube mais nada, assim como do seu avião. Foram inúteis as buscas imediatas na região: os meios aéreos e navais não encontraram a menor pista. Nada! O piloto foi considerado missing, perdido — mas também a ideia de colisão em voo com o misterioso avião desconhecido parece irreal, considerando que nenhum destroço ou fragmento jamais foi encontrado pelos socorristas.
“Sumiram no nada”, comentaram os responsáveis pela operação de socorro. Seja como for, o comunicado de Valentich é perfeitamente coerente com as precisas descrições, na mesma região, feitas por pilotos militares da RAAF em 1942 e em 1944, relativas ao encontro com aeronaves desconhecidas em condições de amerissar e seguir em incrível mergulho. Mas em matéria de anomalias aéreas, o Estreito de Bass não tem exclusividade.
O diálogo entre o piloto Frederick Valentich e a torre de controle
Exatamente quando passava sobre o Cabo Otway, a caminho da Ilha King, por volta das 19h00, Frederick Valentich comunicou-se com o Centro de Controle de Tráfego Aéreo de Melbourne para informar sua posição e dar mais dados sobre seu voo. Ele então confirmou que se encontrava a cerca de 1.500 m de altura sobre o mar. Nesta ocasião, as condições de tempo estavam perfeitas, com ventos bem suaves, ar morno e céu sem qualquer nuvem. Veja a seguir a transcrição da conversa entre o jovem piloto Valentich e o controlador de voo Steve Robey, afirmando que estava vendo um objeto voador não identificado que girava sobre seu avião e o apavorou. A transcrição foi ligeiramente editada para melhor compreensão.
– 19:06:44
Valentich — Melbourne, aqui é Delta Sierra Juliet. Há algum tráfego abaixo de mim a 5 mil pés [1.650 m]?
Torre — Delta Sierra Juliet, não há nenhum tráfego conhecido em sua área. Confirme.
Valentich — Parece ser uma grande aeronave que está abaixo de mim a 5 mil pés [1.650 m].
Torre — Que tipo de aeronave é essa que você vê?
Valentich — Eu não posso precisar. Apresenta quatro luzes, como as luzes de pouso de uma aeronave.
– 19:07:31
Valentich — Melbourne, aqui é Delta Sierra Juliet. A aeronave acaba de passar sobre mim a pelo menos mil pés.
Torre — Delta Sierra Juliet, roger [Compreendido]. E é uma grande aeronave? Confirme?
Valentich — Desconheço devido à sua velocidade. Existe alguma aeronave da Força Aérea nas vizinhanças?
Torre — Não há nenhum tráfego nas vizinhanças.
– 19:08:18
Valentich — Controle de Melbourne, confirmo que aquilo está se aproximando agora, vindo do leste na minha direção.
– 19:08:41
[Microfone aberto por dois segundos. Foi a primeira vez que isso ocorreu, mas voltaria a se repetir, alertando os ufólogos.]
– 19:08:48
Valentich — Aqui é Delta Sierra Juliet. Parece que a coisa está jogando algum tipo de jogo. Está voando duas ou três vezes a minha velocidade. Eu não posso identificar…
– 19:09:00
Torre — Delta Sierra Juliet, roger. Qual é o seu nível atual?
Valentich — Meu nível atual é de 4,5 mil pés. Repito: quatro, cinco, zero, zero.
Torre — E você confirma que não pode identificar a aeronave?
Valentich — Afirmativo.
Torre — Delta Sierra Juliet, roger. Aguarde uns instantes…
– 19:09:27
Valentich — Melbourne, aqui é novamente Delta Sierra Juliet. Aquilo não é uma aeronave. Aquilo está [Microfone aberto por
mais dois segundos].
– 19:09:42
Torre — Delta Sierra Juliet, você pode descrever a aeronave?
Valentich — Sim, quando passa, parece ser enorme, comprido [Microfone aberto por mais 3 segundos]. Eu não posso identificar, mas aquilo é muito rápido [Microfone aberto por mais 3 segundos]. E está bem na minha frente agora, Melbourne.
– 19:10:00
Torre — Delta Sierra Juliet, roger. Por favor, informe agora qual é o tamanho estimado que o objeto que você vê pode ter.
– 19:10:19
Valentich — Melbourne, aquilo parece que está estacionário. O que eu estou fazendo agora é orbitar, e a coisa está orbitando sobre mim também. A coisa tem luzes verdes e algum tipo de superfície metálica, pois toda ela brilha por fora.
Torre — Delta Sierra Juliet, roger.
Valentich — Delta Sierra Juliet Agora aquela coisa simplesmente desapareceu de minha vista.
– 19:10:46
Valentich — Melbourne, vocês saberiam informar que tipo de aeronave é aquela? Seria uma nave militar da Força Aérea?
Torre — Confirme que o aparelho desapareceu.
Valentich — Repita, por favor.
Torre — Delta Sierra Juliet, a aeronave ainda está aí com você?
Valentich — Está! Ah, não [Microfone aberto por mais dois segundos]. Ela está agora se aproximando
rapidamente, vindo de sudoeste.
Torre — Delta Sierra Juliet…
– 19:11:50
Valentich — O aparelho que estou vendo é muito estranho. Agora eu o tenho a 23 ou 24 [Graus]. E a coisa está…
Torre — Delta Sierra Juliet, roger. Qual é a sua direção neste instante? Por favor, reporte.
Valentich — Minha direção é para a Ilha King, Melbourne. Mas, aguarde… A estranha aeronave está me sobrevoando agora. Está bem acima de mim novamente [Microfone aberto por mais dois segundos]. Está acima de mim e não é uma aeronave…
Torre — Delta Sierra Juliet…
– 19:12:28
Valentich — Melbourne [Microfone aberto por mais dois segundos].
E assim, precisamente às 19:12:55 ocorreu o fim das comunicações entre Frederick Valentich e Steve Robey, operador do Centro de Controle de Tráfego Aéreo de Melbourne, após 70 segundos de ruídos metálicos de origem desconhecida, que nunca foram suficientemente explicados. Valentich manteve a conversa ativa por tanto tempo para informar cuidadosamente sua posição e dar mais dados sobre seu voo. Era visível seu estado de pânico com o que estava acontecendo. O piloto, que mantinha seu Cessna 182-L a cerca de 1.500 m de altura sobre o mar, relatou o aparecimento de um estranho objeto voador não identificado com luzes verdes e nunca mais foi visto. Até hoje seu caso permanece um mistério, apesar de as autoridades australianas terem aberto os arquivos secretos do incidente.