Após o acidente que paralisou os primeiros testes do Grande Colisor de Hádrons, LHC, em 19 de setembro de 2008, a Organização Européia para Pesquisa Nuclear (CERN) informou que as atividades do gigantesco acelerador de partículas serão retomadas e até o final deste ano os primeiros dados começarão a ser produzidos. Segundo o boletim divulgado pela organização, a falha ocorreu devido a um incidente nos módulos três-quatro e provocou um grande vazamento de hélio no túnel do acelerador. As investigações posteriores apontaram que o problema ocorreu em decorrência de pane elétrica relacionada ao controle de dois magnetos supercondutores. No total o LHC possui 1.232 magnetos desse tipo. Desde que ocorreu a falha, muitos progressos foram realizados e diversas técnicas para detecção de anomalias foram criadas. Segundo os técnicos do LHC, o sistema está mais seguro agora. “Nossa maior prioridade para 2009 é conseguir uma data para as primeiras colisões, mas tendo a precaução como o princípio guia“, disse Steve Myers, diretor para os aceleradores do Cern.
Ao contrário de outros aceleradores de partículas, o objetivo do LHC será colidir dois feixes de prótons que serão acelerados no interior do túnel até atingirem sete Tev (tera-eletrons-volt) de energia cada um deles. Quando isso ocorrer, trilhões de prótons estarão se deslocando a 99.99% da velocidade da luz e se chocarão entre si. A colisão ocorrerá em quatro pontos do túnel circular, onde quatro grandes detectores de partículas registrarão os impactos. Um desses detectores, chamado ATLAS, é do tamanho da metade da catedral de Notre Dame, em Paris.
O objetivo das colisões do LHC é simular condições semelhantes às que existiram logo após o Big-Bang e gerar um grande número de partículas elementares até agora nunca vistas, apenas teorizadas. Uma dessas partículas, chamada Bóson de Higgs, foi prevista há mais de 40 anos pelo físico Peter Higgs, mas até hoje não foi comprovada. Da mesma forma como os prótons e elétrons interagem com o campo eletromagnético existente em todas as partes do universo, os físicos acreditam que exista mais um campo, o de Higgs, que confere massa às partículas. A existência do Bóson de Higgs é o elo que falta para os físicos explicarem como as partículas fundamentais que compõe o Universo adquiriram massa. Apesar de intensa – a colisão irá gerar uma temperatura de 100 mil graus Celsius – sua duração será de apenas um bilionésimo de segundo, suficiente para revelar a existência da partícula de Higgs, que especula-se, tenha entre 100 e 200 vezes a massa de um próton. Chamado de Partícula de Deus, o Bóson de Higgs é tão instável que sua duração é de apenas um milionésimo de bilionésimo de bilionésimo de segundo, mas mesmo assim deverá ser detectada pelos instrumentos do CERN.