Ao consultar disciplinas optativas oferecidas pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG), uma matéria se destaca: “A Vida no Contexto Cósmico”, que desperta curiosidade em muitos alunos. Mas se você imagina que lá se estudam figuras como as dos filmes E.T.– O Extraterrestre ou Marte Ataca, repense seus conceitos. O professor Augusto Damineli, criador da disciplina, fala com paixão sobre sua profissão, explica a origem da vida como quem conta um \’causo\’ e faz questão de dizer: “O mais legal de ministrar essa matéria é desmistificar as idéias dos alunos. Muitos acham que vão procurar seres complexos como nós fora da Terra, ou que vão aprender fórmulas que fornecem o número de civilizações na galáxia com as quais poderíamos estabelecer comunicação, mas não é nada disso”.
Damineli, natural de Ibiporã, norte do Paraná, se enveredou pela área acadêmica, pois em sua família, enquanto se fazia o dever da escola, não precisava ir para a roça. “Então eu caprichava muito na tarefa, refazia várias vezes. E acabei percebendo que o lápis era muito mais leve que a enxada”. Fazer faculdade foi, para o professor, mais uma fuga do trabalho pesado do que uma escolha consciente. Fez física na USP e o interesse pela astronomia surgiu durante a graduação, ao assistir uma conferência sobre supernovas, cujo assunto o fisgou na hora. “Não achava que podia trabalhar olhando para o céu, só para o chão”. Ao ser chamado para fazer iniciação cientifica, conta que ficou nas nuvens. “Para mim, trabalhar era uma coisa sofrida, mas na iniciação científica eu era pago pra fazer o que gostava!”, relata o professor, que é um fã confesso de livros de ficção, pois segundo ele, a realidade sempre foi muito dura, e em tais histórias, pode-se ler o mundo de uma maneira mais livre (e leve).
Quando resolveu criar a disciplina “A Vida no Contexto Cósmico”, nos idos de 2000, foi visto pelos astrônomos clássicos como “pirado”. Hoje diz que a receptividade é totalmente diferente, já que encontrar vida (biológica, e não complexa como a que conhecemos) é a grande busca da astronomia atual, além de ser um campo de trabalho muito promissor. Aliás, destaca que ver alunos se especializando nesta área é um orgulho, já que muitos querem ser engenheiros ou físicos, mas quando cursam essa matéria, que é optativa, acabam fazendo dela sua profissão. Uma de suas ex-alunas pesquisa vida em ambientes extremos (o que inclui espaços extraterrestres) na Agência Espacial Norte-Americana (NASA).
Mas ele acredita em ETs, tais como os imaginados pela crendice popular? “Não”, responde, para logo depois completar, com um sorriso, “Mas nem desacredito”. Quanto ao famigerado episódio de Varginha, faz graça. “Dizem que os ETs foram roubar energia elétrica! Eu duvido. Se eles vieram roubar alguma coisa de lá, foi o pé-de-moleque, que não tem igual!”, finaliza.