De todas as palestras, apresentações e workshops que fizeram do III Fórum Mundial de Ufologia, de 11 a 14 de junho de 2009, um evento do qual se falará por muito tempo, sem dúvida o momento mais significativo foi o que já está sendo conhecido como “A Manhã dos Militares”. Desde o início dos trabalhos, na tarde do dia 11, os bastidores do evento ferviam em expectativa pelo sábado, 13 de junho. Mesmo os participantes estrangeiros confessavam estarem ansiosos por esse encontro. Chegada finalmente a data, às 09h00, Rafael Cury começou a convidar para a mesa oficial os seus componentes. Primeiro veio o professor Wilson Picler, seguido pelo brigadeiro José Carlos Pereira. O comandante do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta II) coronel Leônidas Medeiros Júnior, acompanhado logo após pelo coronel Antonio Celente Videira, e finalmente o cientista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), consultor da Revista UFO e membro da Comissão Brasileira de Ufólogos(CBU), Ricardo Varela.
Cury, ao lado do editor da Revista UFO A. J. Gevaerd, entregou aos presentes diplomas em referência a este acontecimento, e concedeu a palavra a Picler. Este manifestou a opinião de que, no momento de maior necessidade, a sociedade brasileira estará bem servida pela Comunidade Ufológica Brasileira, pela quantidade e qualidade dos pesquisadores a seu dispor. Também enfatizou que, na busca pelo contato final com nossos visitantes, a humanidade terrestre precisa evoluir e abandonar a violência. A seguir, Gevaerd disse que o contato com as civilizações extraterrestres pode levar nossa sociedade planetária a evolução efetiva, literalmente criando um novo tipo de ser humano. A. J. [Ey Jey, em inglês] – como é chamado pelos estrangeiros – comentou que algo de especial deve existir, que chama a atenção dessas civilizações para a terceira rocha a partir do Sol.
Começando a primeira palestra, brigadeiro Pereira afirmou que o reconhecimento, a credibilidade e a aceitação são os passos a seguir, levando a cooperação essencial da sociedade para que o enigma dos discos voadores possa se aproximar finalmente de sua solução. Pereira disse que, mesmo que ainda não existam provas irrefutáveis no sentido de confirmar que alguns os UFOs são naves extraterrestres nos visitando, já existem teorias bem fundamentadas e instrumentadas que conduzem ao caminho correto. “Há diferença entre crença e certeza. O movimento ufológico deve evitar a argumentação pela fé”. O militar comentou a importância da evidência real, consistente, nos traços físicos deixados pelos UFOs, na evidência testemunhal – obviamente mais valiosa, quanto maior for o preparo e cultura da testemunha – , documental, como estamos todos podendo examinar diante da liberação dos arquivos antes secretos, e mesmo derivadas – as obtidas por meio de reconstituições.
Pereira citou o saudoso Carl Sagan: “A ausência de evidência não é evidência de ausência”. Também manifestou a opinião de que o estudo ufológico é muito similar à perícia criminal, com a diferença de que os “criminosos”, neste caso, são certamente muito mais evoluídos e inteligentes que nós, deixando poucos traços físicos de sua presença. Disse que a Ufologia deve buscar seu destino final, o de preparar a humanidade para o contato, mas que este depende fundamentalmente “deles”. Encerrou dizendo: “O mais importante é a credibilidade, mantenham a ética e a sistemática que o contato final virá, e até os extraterrestres irão elogiar”. Mais ninguém se surpreenderá ao saber que “nosso” brigadeiro foi aplaudido de pé!
A seguir, subiu ao seu lugar o coronel Celente, dizendo que desde os tempos antigos, o ser humano tem olhado para o céu. Ele traçou a trajetória da fascinante história da pesquisa ufológica dentro da Força Aérea Brasileira (FAB), começando pelos esforços do então coronel, e depois major brigadeiro João Adil Oliveira, chefe da primeira comissão de investigação sobre discos voadores. Celente mencionou suas palestras na Escola Superior de Guerra (ESG) em 1952, e em 1954 na Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG), citando ainda sua opinião de que Adil era movido pela queda que teria ocorrido em Roswell, no Novo México, em julho de 1947, chegando inclusive a visitar os EUA na época. Adil era apoiado pelo Alto Comando, da parte do tenente brigadeiro do Ar Gervásio Duncan de Lima Rodrigues, e pelo tenente brigadeiro do Ar Eduardo Gomes. Celente salientou como o apoio de autoridades militares é fundamental na questão ufológica, o que também explica os recentes sucessos da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já. Descreveu a seguinte abertura, ocorrida no Brasil, por iniciativa do major brigadeiro do Ar José Vaz da Silva, criando o Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (SIOANI) em 1969. Através de uma apresentação visual, mostrou a sofisticada organização do SIOANI, uma rede ramificada e que permitia que qualquer caso fosse rapidamente investigado pelos militares. Contatos com outras nações, igualmente, chegaram a ser feitos, a fim de implementar mudanças na estrutura organizacional.
Celente expressou a opinião de que o final do Projeto Blue Book da USAF, em 1969, pode ter contribuído para o encerramento do SIOANI em 1972, e lamentou, segundo ele, que mais de 90% dos membros da FAB, hoje em dia, desconheçam por completo essa impressionante trajetória. Apresentou os países onde existem organismos de pesquisa ufológica oficial, normalmente ligados ao setor de Inteligência, dando como exemplos a França e o Instituto Avançado de Estudos da Defesa Nacional [Institut des Hautes Etudes de Defense Nationale – IHEDN], o Peru com o Grupo de Investigação de Fenômenos Aeroespaciais Anômalos [Oficina de Investigación de Fenómenos Anómalos Aeroespaciales – OIFAA], no Chile o Comitê de Estudos de Fenômenos Aéreos Anômalos (CEFAA), a Inglaterra com o UFO Desk, do Ministério de Defesa britânico (MoD), e o Uruguai com a Comissão Receptadora e Investigadora de Denúncias de Objetos Voadores Não Identificados (Cridovni). O coronel ainda comentou que em uma conversa com o brigadeiro Pereira, este lhe havia dito que estava preocupado com relatórios mais recentes a respeito de casos de Tráfego Hotel – UFOs no jargão militar – dos quais os ufólogos ainda não tem conhecimento.
Celente lamentou que, em pleno período em que a campanha pela liberdade de informações esteja obtendo os primeiros e auspiciosos resultados, a FAB não possua um órgão de investigação do assunto. A seguir, surpreendendo a muitos dos presentes, cobrou das autoridades a reativação do SIOANI, recomendando que sejam estreitados os laços entre ufólogos e FAB, com o intuito de trazer a sociedade para o debate sobre a questão dos UFOs. Concluiu dizendo que a cooperaç&ati
lde;o entre os seres humanos nos levou das cavernas às fronteiras do oceano galáctico, em uma nova era de navegações. “Um Novo SIOANI deve ser criado, para que a sociedade e a Aeronáutica possam trabalhar juntos na decifração dos enigmas do universo”, afirmou com veemência. A palestra foi encerrada com o logotipo verde e amarelo do novo SIOANI, ladeado à esquerda pela sigla da FAB, e à direita pela da CBU. Novos e estrondosos aplausos, ovação total e público boquiaberto, em êxtase.
Finalizando a jornada histórica, chegou a vez do coronel Leônidas Medeiros Júnior, que apresentou uma palestra bastante técnica, mas de fácil compreensão, a respeito da história do sofisticado sistema de controle aéreo brasileiro, totalmente integrado inclusive com software nacional – motivo, sem dúvida, de orgulho para todos nós – , com ênfase na instituição que comanda, o Cindacta II. Leônidas comentou que nos anos 70 havia três radares de controle aéreo, cobrindo principalmente o Sul e Sudeste do país. O Cindacta I entrou em operação em Brasília, nos anos 80, seguido pelo II e III, para no final do século XX serem comissionados ao Cindacta IV e o Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM). O Cindacta II, que comanda, responde pelo controle de quase metade de todo o tráfego aéreo brasileiro, cobrindo os estados do Sul, parte de Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, além de São Paulo, Rio de Janeiro e parte do Espírito Santo. O coronel comentou que recentemente nosso sistema foi avaliado por uma entidade de auditoria internacional, que classificou o controle aéreo brasileiro no primeiro lugar do mundo, empatado com o Canadá, país dessa entidade, comprovando a elevada eficiência do sistema. Os próprios EUA, antes dos atentados de 11 de setembro de 2001, não possuíam um sistema comparável, demorando nada menos que 17 minutos até que uma avaliação de ameaça resultasse em ordem de lançar aviões interceptadores. No Brasil, de acordo com Junior, esse tempo não passa de três minutos. Foram comentados interesses de algumas correntes políticas em retirar o sistema das muito capazes mãos de nossos militares, desmembrando-o, o que foi unanimemente criticado por todos, pelo retrocesso que representaria.
A seguir, o coronel apresentou o relato de uma missão de interceptação da qual tomou parte, no final de 1993. Foi-lhe ordenado que decolasse com seu caça de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, e entrasse em vôo supersônico a fim de investigar um contato radar desconhecido sobre São José dos Campos. Contudo, o céu da região estava tomado por ameaçadoras nuvens cúmulos, o que o impediu de prosseguir, sendo que não conseguiu observar nada de estranho, nem visualmente nem pelo radar de bordo. Entretanto, o suposto UFO foi detectado pelo radar em terra, e mais tarde ele conversou com o controlador, que vinha a ser seu amigo pessoal. Este disse a Junior que a velocidade do contato não pôde ser medida, pois este dava a impressão de simplesmente desaparecer de um lado da tela do radar, e reaparecer do outro. O coronel a seguir comentou que é difícil para a autoridade aeronáutica falar sobre UFOs, pois a palavra da FAB é muito forte, e é necessário possuir certeza absoluta em qualquer manifestação, a fim de que sua credibilidade não corra riscos. Contudo, disse que só traria benefícios uma cooperação entre a Aeronáutica e os ufólogos, fazendo a ciência da Ufologia progredir a passos cada vez mais largos. Acompanhar essas fascinantes apresentações foi sem dúvida uma das mais fortes emoções do Fórum, ainda mais tendo a certeza de estar testemunhando um momento histórico. Que venha o novo SIOANI sem demora, com apoio irrestrito de toda Comunidade Ufológica Brasileira e população em geral.