Segunda, 11 de fevereiro de 2002, às 04h30, começa a clarear o céu na zona de Bijakovici, em Medjugorje, dentro do território da Bósnia Herzegovina. Pátria fruto de uma das mais cruéis guerras separatistas que nossa geração presenciou, dividindo a Iugoslávia em nações que guardam rancores irreconciliáveis entre elas. Medjugorje [Que significa entre montanhas em croata] é o local que, a partir de junho de 1981, despertaria o interesse católico de todo o mundo. Ali, diariamente e sempre depois das seis da tarde, a Virgem Maria começaria suas aparições para seis crianças, onde hoje é uma importante igreja nas imediações dos montes Podbrdo e Krizevac. Elas se converteram em mensageiras durante mais de duas décadas, ininterruptamente, e hoje também estão separados, tal como sua pátria. Nessa mesma cidade, o italiano Giorgio Bongiovanni, conhecido mundialmente pelos seus estigmas, espera pela mensagem que seria entregue pela Virgem Maria. Desde a tarde de 10 de fevereiro, o estigmatizado se preparou para o encontro com a santa.
Em 05 de abril de 1989, aos 26 anos, Giorgio Bongiovanni saiu de seu trabalho em Porto Sant’Elpidio, Itália, quando, repentinamente, uma intensa luz do outro lado da rua lhe chamou a atenção. A luminosidade que pouco a pouco revelava uma silhueta feminina, o atraiu e dirigiu-se a ele com uma familiaridade inusitada. A visão se identificou como Virgem Maria e teria anunciado que o italiano deveria se preparar para cumprir uma missão. A partir de então, os encontros tornaram-se freqüentes. Bongiovanni começou suapreparação para o que ele mesmo não suspeitava que aconteceria meses depois. Em 02 de setembro de 1989, ele atendeu ao primeiro chamado da Virgem para que fosse à praça de Fátima, Portugal, onde em 13 de maio de 1917, a Virgem apareceu para três pastores da zona de Leiría, num dos eventos marianos mais espetaculares de todos os tempos.
Ali, debaixo do mesmo céu, em 13 de outubro de 1917, havia mais de 70 mil testemunhas reunidas, sendo, literalmente, secas da chuva pelo Sol que surgiu, como consta na crônica Coisas Espantosas do diário O Século de 14 de outubro daquele mesmo ano, além de algumas fotografias da época. Aos pés do monte onde as aparições iniciaram, ele presenciaria a sétima visão. No meio da praça, a Virgem Maria teria anunciado que ele “receberia um sinal que todo o mundo veria”. Bongiovanni pensou que poderia tratar-se de um novo milagre do Sol, dada a sua aproximação com o Fenômeno UFO e o contatado italiano Eugenio Siragusa [Ver Ufo 85], muito famoso e polêmico nos anos 70. Entretanto, recebeu os estigmas nas palmas das mãos que, a partir de então, começaram a sangrar cotidianamente até serem perfuradas. Sua figura, muito criticada por relacionar Ufologia com religião, tornou-se o centro das atenções, com espaço privilegiado em praticamente qualquer lugar do mundo onde se apresentasse através da mídia.
Estigmatização Múltipla — Dois anos depois, em 02 de setembro de 1991, os estigmas se manifestaram, em forma de duas cruzes nos pés. Novamente, a dor e a espontânea laceração foram presenciadas por diversas testemunhas e documentadas em vídeos e fotos. Diferentemente das mãos, as feridas perfuraram os pés desde o início, tanto no dorso como na planta. No dia 28 de maio de 1992, em Montevidéu, Uruguai, o fenômeno se manifestou do lado esquerdo de suas costas e novamente foi registrado. Em 27 de julho de 1993, Bongiovanni recebeu o último estigma, também em forma de cruz, impressa sobre sua fronte. Isso ocorreu na zona de Salto, na estância La Aurora, também Uruguai, famosa pelos supostos avistamentos de UFOs e ocorrências paranormais que se manifestam constantemente.
A cruz perfeitamente delineada marcaria este homem para o resto de sua vida, ou pelo menos até 11 de fevereiro de 2002, quando, depois de quase uma década, ela sumiria. Cabe registrar que existe um antecedente quase desconhecido em torno desse estigma. Um dia depois de sua aparição, a cruz desapareceu completamente, sendo que ele foi fotografado no momento posterior a esta que poderia definir-se como uma antimanifestação. Entretanto, ela sumiria temporariamente, para pouco depois ficar impressa de forma permanente.
A partir das constantes viagens de Bongiovanni pelo mundo, inclusive ao Brasil, onde esteve várias vezes, a comunidade científica foi seduzida pela presença perene dos estigmas, que aparentemente não afetaram sua saúde, com exceção da dor intensa. Desta maneira, médicos da Itália e depois de outros países se aproximaram do italiano para analisar tanto as feridas como sua personalidade. Assim, o doutor Stanis Previato iniciou suas investigações psicológicas, para verificar se as marcas eram psicossomáticas ou se decorriam de ideoplastia [Fenômeno de materialização mediúnica]. Suas conclusões falam sobre um homem são e muito equilibrado, que não poderia se lesionar, infringindo-se estas feridas ou criando situação alguma.
Posteriormente, fizeram-se estudos mais elaborados sobre o sangue e as marcas, pela doutora Carmen Recalde de Fernandez. Ela foi a primeira que realizou uma análise hematológica detalhada de Bongiovanni. Ao estudar características sanguíneas do fluído hemáceo, a doutora Carmen percebeu a inusitada limpeza do mesmo, já que seus níveis de eosinófilos, basófilos, monócitos e leucócitos estavam abaixo do normal. Isto é o contrário do que se espera de um homem que tem chagas abertas, dia após dia, durante anos. Seguindo a lógica, ele deveria apresentar um quadro anêmico agudo e prejudicial, além de infecções massivas. Entretanto, Bongiovanni tem o sangue mais saudável que a maioria das pessoas. Ademais, os momentos em que o sangramento ocorre pela manhã ou tarde, algumas vezes em ambos os períodos, acompanhado de um intenso perfume floral, tornou-se um desafio para a cientista, que não obteve uma explicação satisfatória para esse fenômeno e nem para a presença das feridas que não cicatrizam.
Estudos Hematológicos — O México seria a etapa seguinte da investigação. A partir de uma viagem de Bongiovanni ao país, em abril de 1994, os estudos hematológicos, psicológicos e psiquiátricos realizados, mostraram resultados surpreendentes. O doutor Sergio Alba Briseño, colaborador do Serviço Médico Forense da cidade do México, analisou amostras de sangue retiradas tanto dos estigmas, como das veias [Sangue periférico], chegando a interessantes descobertas. Não somente o doutor Briseño pôde confirmar as conclusões da sua colega Carmen, como também se surpreendeu a
o constatar que o sangue dos estigmas e das veias, apresentava o mesmo tipo e características, mas se comportava de forma diferente. Os tempos de coagulação entre eles eram distintos, questão de segundos nas feridas e cerca de 15 minutos no sangue das veias. Este fator é impossível em condições normais e não existem registros ou antecedentes desta natureza. O reconhecido psiquiatra Giuseppe Amara também realizou intensos estudos sobre a personalidade do italiano, logo após uma longa avaliação das capacidades mentais do estigmatizado. Em 15 de abril de 1994, Amara afirmou que Bongiovanni não sofria de nenhuma enfermidade ou transtornos histéricos que criassem condições de gerar tais feridas. Novamente, o italiano foi definido como um indivíduo são e emocionalmente equilibrado. Depois desses testes, o renomado profissional da investigação dos fenômenos paranormais Berthold Schwarz chegou à conclusão de que se tratava de um caso autêntico.
Em diferente ocasião, a rede norte-americana Telemundo, direcionada ao público latino daquele país, realizaria estudos hematológicos para um programa em que o estigmatizado seria o convidado principal. Os resultados confirmaram e complementaram todas as análises realizadas anteriormente. Entretanto, pesquisadores, estudiosos da área e incrédulos afirmaram, através dos meios de comunicação, que não somente Bongiovanni, mas a maioria ou totalidade dos estigmatizados são fraudes, que teriam somatizado suas feridas para impressionar os incautos. Esses detratores se manifestam em diferentes níveis, mas raramente se teve notícia de que um deles fez qualquer investigação dos estigmas de quem atacam.
Nonsiamosoli — Em 27 de fevereiro de 2002, Bongiovanni apareceu no programa italiano La Vita in Diretta¸ a primeira ocasião, em quase uma década, que ele se apresentou sem a característica cruz na testa, atraindo imediatamente a atenção dos telespectadores. Esse fato, com certeza, teria se repetido no Brasil, já que em suas constantes entrevistas aos meios de comunicação nacionais, o italiano sempre foi visto com o estigma da fronte. Pouco depois de sua aparição, Bongiovanni e sua equipe de trabalho emitiram um comunicado através da revista Nonsiamosoli [www.nonsiamosoli.org], da qual é editor, relatando a história da peregrinação a Medjugorje, o encontro com Maria e o desaparecimento do estigma frontal.
Outro aspecto relevante da vida de Giorgio Bongiovanni é sua relação com o Fenômeno UFO. Ele é um dos mais reconhecidos investigadores do tema na Itália, tendo praticamente crescido ao lado do contatado Eugenio Siragusa. Além disso, há uma singular quantidade de avistamentos documentados nos lugares que Bongiovanni visita. O que mais chamou a atenção ocorreu na noite de 06 de março de 2002, quase um mês depois do encontro de Medjugorje. Centenas de pessoas avistaram o sobrevôo de pelo menos 20 UFOs em Godijevo, Montenegro. Diversas testemunhas filmaram e gravaram os objetos. Os moradores correram para as ruas depois de escutarem uma série de explosões. Observaram enormes artefatos suspensos sobre as casas, iluminados de forma especial, diferente de tudo que viram antes.
O jornal Vijesti assinalaria que “…muitas testemunhas afirmavam que os UFOs trocavam de forma antes de distanciar-se definitivamente”. A reportagem apontava que a polícia local estava investigando as numerosas gravações do acontecimento, sem condições de oferecer explicações satisfatórias. Algumas testemunhas, como o senhor Sead Hodzic, declararam ao jornal que “o céu havia se iluminado sobre suas cabeças em uma área de centenas de metros, depois da grande comoção produzida pelos poderosos estrondos”.
A biografia de Bongiovanni apresenta situações muito particulares, jamais vistas em outro caso de estigmatização da história. Não somente pelos numerosos exames a que foi submetido ou pelos múltiplos encontros com personalidades políticas, culturais, religiosas ou militares. Sua relação com a fenomenologia ufológica, sobretudo a abertura dos meios de comunicação, e a falta do característico segredo e isolamento são ingredientes não encontrados anteriormente em ocorrências similares, inclusive nos contemporâneos. O episódio do italiano consegue reunir todas essas características. Entretanto, o fim parcial ou total de uma estigmatização, apesar de não ser um elemento exclusivo dele, é algo bem mais raro dentro desta fenomenologia e merece, sem dúvida, atenção e abertura para realizar uma nova investigação. Lembro que numa ocasião, na América do Sul, eu estava conversando com Bongiovanni quando ele comentou que dificilmente as pessoas olhavam em seus olhos devido à presença do estigma na testa, e sempre acabavam por desviar o olhar para a ferida. Tenho a impressão de que os poucos que conseguiam admirar os olhos do italiano notavam uma profundidade que representa alguém que encontrou uma existência além da nossa compreensão.
Prerrogativa — Enquanto escrevo estas linhas, imagino se agora essa dificuldade continuará sendo a mesma de antes, já que não há mais o estigma. Questiono-me o que aconteceria se um dia as feridas desaparecessem totalmente, já que ele afirma que nada lhe foi imposto e que em todos os momentos sua liberdade de decisão foi respeitada, mantendo este direito inalienável como sua prerrogativa. Esse fato parece ter sido confirmado em 11 de fevereiro de 2002, quando em Medjugorje ele solicitou à Virgem que a chaga da testa fosse retirada, mantendo apenas a dor que ela produzia.
Giorgio Bongiovanni desafiou totalmente as leis físicas e orgânicas conhecidas. E, sobretudo, tem mantido uma postura digna de ser respeitada, sem mudar sua experiência ou seus ideais. Para muitos investigadores do Fenômeno UFO, essa é uma valiosa oportunidade para reavaliar este caso, que além de toda a dúvida, incredulidade ou fanatismo, é uma das ocorrências mais documentadas e estudadas da história contemporânea da humanidade. Um dos poucos em que o protagonista é uma evidência viva de sua própria experiência.