Já diz o ditado: “O mundo é dos espertos”. Em todos os meios sempre haverá aqueles que irão se aproveitar da boa-fé alheia. Por outro lado, existem indivíduos que nasceram para ser enganados. Elas gostam disso. E até pagam para assim ser. Masoquismo ou ignorância? Provavelmente os dois. Assim, envolvendo um clima místico e a inocência das pessoas, sempre teremos aquele que saberá trabalhar a mente dos incautos, tirando para si tudo de seu interesse, principalmente financeiro. Todos os dias, ao abrirmos os jornais, temos notícias de que alguém aplicou algum tipo de golpe e isso é registrado sempre através da História.
Então, a vítima faz a queixa na delegacia e as autoridades tomam as devidas providências. Normalmente a situação envolve estelionato, que é definido como a obtenção, para si ou para outrem, de vantagem patrimonial ilícita em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento.
Os estelionatários bem-sucedidos estão sempre se atualizando. Aplicam golpes antigos com uma roupagem nova. E sempre tem aquele que cai. É incrível como o ser humano pode ser manipulado e como ele é um alvo fácil na mão desses golpistas. Muitos, quando caem na real, acabam se calando, não dando queixa as autoridades por medo ou por vergonha.
Na Ufologia também temos muitos oportunistas. Alguns são casos de polícia e deveria existir uma lei específica. No Brasil e no exterior, constantemente, aparecem utilizando-se de truques e mentiras, e acabam por enganar e extorquir milhares de pessoas. Alguns falam bem, outros têm carisma. Sempre dizem que são contatados. Inventam viagens alucinantes em discos voadores. Dizem que os extraterrestres lhes deram poderes paranormais. Outros afirmam ainda que têm uma missão muito especial na Terra. Esta missão normalmente envolve a ajuda ao próximo e a preparação do eu interior para algo maior que está iminente.
Dizem que não têm interesse algum, muito menos financeiro, mas as doações são sempre bem vindas. Sempre inventam que estão ajudando entidades filantrópicas pobres. Assim, esses oportunistas vão enriquecendo às custas da ignorância e da fé das pessoas crédulas e ingênuas. Como os incautos não denunciam seus atos, esses aproveitadores vão agindo livremente, fazendo milhares de vítimas. E a maioria delas se sente satisfeita por encontrar em seu caminho uma espécie de semideus, que cobrou “baratinho” por uma consulta só para dizer que os extraterrestres informaram-lhe que ela será muito feliz e que poderá também fazer contato com os ETs, basta ser generosa nas doações.
Oportunismo específico – Essas são as atitudes de oportunistas de um modo geral, mas considero uma em especial. A de um senhor que apareceu no cenário ufológico há uns três anos. Seu nome é Urandir Fernandes de Oliveira. Conforme o artigo de A. J. Gevaerd, com o título Seitas ufológicas se proliferam, publicado na Revista UFO 52, em julho de 1997, Urandir já foi mágico profissional, diz ser contatado e paranormal, e se utiliza de luzes de canetas laser, alegando ser sondas ufológicas. Em suas expedições, ele sempre cobra uma diária de um certo valor, das centenas de pessoas que mensalmente vão à Colônia Boa Sorte, no Mato Grosso do Sul, para ver discos voadores.
Compete às autoridades julgarem se é ou não crime a prática deste senhor. A mim cabe informar o que vi nas várias participações de Urandir no programa Brasil Verdade, na TV Bandeirantes, dirigido por Wilton Franco. É certo que qualquer programa vive de audiência, mas deveria ser evitado o sensacionalismo. A Imprensa, muitas vezes, parte para essa forma de linguagem, usando as pessoas das mais diversas maneiras, chegando a cenas dantescas. Mas de quem é a culpa? Do responsável pela produção ou de quem a consome?
Assim, o programa passou a fazer várias chamadas, dizendo que iria apresentar um grande paranormal, com cenas inéditas do instante em que ele foi abduzido por um enorme disco voador. Que sensacional! Imaginem, uma grande nave se aproxima bem lentamente, Urandir se afasta das pessoas, e permanece embaixo de um grande cone de luz, emitido pelo aparelho. As pessoas, boquiabertas, vêem-no flutuando dentro daquela misteriosa luz e sumindo dentro do disco voador, que se afasta lentamente.
Foi essa a “imagem” passada aos milhares de telespectadores. Pela primeira vez uma equipe de televisão consegue um furo dessa natureza. Poderiam vender essas cenas para todo o mundo. Provavelmente, a TV Bandeirantes ficaria muito mais rica do que a Globo. A partir das primeiras chamadas pela emissora, recebi diversas ligações telefônicas de vários pontos do país. Entrei em contato com a direção do programa e falei sobre o flagrante que a TV Educativa, em Campo Grande (MS), o editor desta revista e Lúcio Barbosa deram em Urandir, na ocasião em que dois de seus amigos faziam um show com luzes vermelhas, provenientes de canetas laser, dizendo que eram sondas ufológicas. Após mostrar a reportagem completa da Revista UFO, compareci ao programa como convidado.
Encontrei um ambiente todo cheio de mistério. Várias pessoas estavam lhe assistindo. Uns diziam que Urandir tinha sido abduzido pelo UFO e sumiu por 24 horas. Outros que as imagens gravadas desapareceram como por encanto. E Urandir já estava lá sendo assediado por todos os espectadores. Um perfeito clima de “mágica”.
Finalmente, tinha chegado a hora. Os produtores do Brasil Verdade iriam colocar no ar as imagens que mostravam Urandir sendo abduzido por um disco voador. Depois de todo o suspenso, milhares de telespectadores na maior ansiedade, as imagens foram veiculadas. Que decepção! Surgiram seis pontos de luz, alinhados em círculo, contra um fundo totalmente escuro, sem nenhum referencial. Ouviu-se uma voz: “Cadê Urandir? Ele sumiu! Foi abduzido…”.
Rapidamente conversei com o cinegrafista e com o iluminador da equipe que estava no local da suposta abdução. Eles não estavam mentindo. Estavam convictos de que era um disco voador e de que Urandir realmente é um grande paranormal e um contatado por entidades extraterrestres. A platéia em peso também mostrava-se convencida dos poderes daquele senhor. Não havia clima para se participar de um programa desse gênero. Se eu falasse que era um simples truque, certamente seria linchado no ar, ao vivo e em cores, para todo o Brasil.
Mentalizando objetos – Nos programas seguintes, Urandir iria demonstrar suas habilidades paranormais. Novas decepções. Num deles, o “contatado” pediu para uma das apresentadoras pensar em um perfume. Então, passou algo em suas mãos e ela confirmou que realmente era o perfume em que havia pensado. Depois pediu para a apresentadora mentalizar o ozônio. De imediato, o Urandir passou novamente a
lgo em sua mão, e ela confirmou que era cheiro de ozônio. O curioso é que lá havia dezenas de pessoas, e somente a apresentadora confirmou as fragrâncias…
Em nenhum instante alguém da produção pediu para outras pessoas confirmarem os aromas, para então saber se não era um simples caso de sugestão. Após esse fato, veio a cena das moedas. Urandir colocou cinco moedas em cima da mesa, memorizando a posição, bem como suas faces (cara e coroa) e também para que lado que cada uma delas estava direcionada. Então Urandir as “energizou”, chamou alguém, virou de costas e pediu para que essa pessoa pegasse a moeda por três segundos e depois a repusesse sobre a mesa. Essa operação faria a moeda “mudar de vibração ou energização”. O “paranormal” virou-se, sentiu a “vibração” dos metais e disse qual foi a moeda que havia sido tocada. Ridículo! Um truque infantil.
Colocar duas pequenas bolas de papel sobre a mesa para que ele adivinhasse qual teria sido tocada foi a outra façanha. Com silêncio absoluto no estúdio, um pouco antes dele se manifestar, ouviu-se alguém dar uma tossida. Aí o “contatado” fez surgir uma pequeníssima porção de metal dourado ao esfregar um pedaço de papel, dizendo transformá-lo em ouro. Ora, se Urandir deseja ficar milionário – como já confidenciou ao contatado Lúcio Barbosa -, então que transforme papéis em ouro e os venda. Dessa forma, não seria necessário cobrar diária para as pessoas assistirem a seus shows com laser.
Nas várias seções de energização, muitos se sentem bem. Dizem até que foram curados. E um processo de autoindução, de poder da mente e fé, que podem sanar, embora sejam processos um pouco perigosos. Uma mulher que tem um pequeno caroço no seio, por exemplo, procura um médico, o qual constata tratar-se de um tumor maligno e afirma que, se retirar a mama doente, ela poderá viver por muitos anos. A paciente, por sua vez, acreditando em falsos curandeiros, não segue a medicina convencional, e quando “acorda”, é tarde: o câncer já tomou todo o corpo e ela corre risco de vida.
Diversos membros da platéia do Brasil Verdade, durante as energizações, entortaram metais. O curioso é que com várias câmeras no palco, nenhuma conseguiu até agora mostrar o instante em que o metal foi entortado. Assim, lamentavelmente, a produção do programa está promovendo Urandir, às custas do ibope acarretado pelo sensacionalismo. Milhares de pessoas que crêem nos falsos truques de Urandir continuam a procurá-lo. E pagam valores exorbitantes.
Os produtores televisivos deveriam convidar mágicos e parapsicólogos de verdade, e revistar toda a roupa de Urandir, antes dele pôr em prática sua paranormalidade. Mas o que irá acontecer? Absolutamente nada. O “contatado” vai simplesmente declarar, em sua própria defesa, que os entendedores do assunto não estão com “boa energia”. É lamentável.