Buscas por micróbios marcianos fossilizados poderão começar a partir de 2013. O melhor jeito de detectar vida em Marte é procurar pelos marcianos mortos – mais exatamente, por fósseis microscópicos junto à superfície do planeta, afirma o pesquisador Jack Farmer, da Universidade Estadual do Arizona. Farmer apresentou sua proposta, que difere radicalmente da abordagem mais comum – a caça por microorganismos ainda vivos, adotada, por exemplo, na missão das sondas Viking, nos anos 70 – em apresentação feita no encontro anual da Associação Americana para o Progresso da Ciência (AAAS), em San Francisco, e em entrevista, por e-mail, ao Portal Estadão. Farmer afirma que a busca por vida marciana atual envolve a busca por água em estado líquido, e que para encontrar depósitos de água será preciso perfurar vários quilômetros a baixo da superfície, algo que a tecnologia não permitirá, ao menos ao longo da próxima década.
A descoberta recente de características na superfície marciana que parecem indicar fluxos de água, anunciada em dezembro pela Nasa, não anima o pesquisador. “Os modelos (de vazamento de água para a superfície) estão sendo duramente contestados”, diz ele. “É óbvio que se houver vazamentos de água é para lá que deveríamos querer ir imediatamente… mas estou muito cético, agora, de que essas características representem água logo abaixo da superfície”. Ele diz que os modelos teóricos mais sólidos que apontam para a presença de água no subterrâneo marciano falam em vários quilômetros de profundidade.”Não se trata de pessimismo”, afirma o cientista. “O fato é que não existe nenhum sistema de perfuração por robô capaz de perfurar mais de um ou dois metros. O fato é que perfurar em profundidade requer seres humanos”.
A alternativa apontada pelo cientista é a busca de marcas microscópicas deixadas por seres vivos, em rochas de milhões ou bilhões de anos atrás, com robôs capazes de enxergar pedras em diversos comprimentos de onda, e com uma definição da ordem de centésimos de milímetro. Os rigores do clima marciano – com grandes tempestades de areia e o bombardeio constante de raios ultravioleta do Sol – não representam ameaça ao registro fóssil que possa existir perto da superfície, diz Farmer. “A radiação de superfície tem pouco efeito em assinaturas biológicas. Essas assinaturas estão incrustadas na rocha, e bem protegidas”.
Meteorito. Falar em fósseis de micróbios marcianos traz à memória o caso do meteorito ALH 84001, onde, segundo alguns cientistas, existem marcas que representam vida marciana. No entanto, a evidência do meteorito continua a ser duramente contestada. “A abordagem que defendo envolve, como primeiro passo, levar o equipamento certo ao lugar certo”, diz Fasrmer, lembrando que o meteorito chegou Terra “por pura sorte, e não graças a uma seleção cuidadosa”.”Trata-se de uma rocha… que foi fragmentada diversas vezes antes de ser ejetada de Marte e chegar à Terra”, lembra ele. Tendo origem vulcânica, o meteorito sequer representa o melhor tipo de rocha para buscar sinais de vida. “Seria muito melhor se fosse uma das rochas ricas em sulfatos detectadas” na planície marciana de Meridiani, diz Farmer. “Essas são unidades sedimentares, de baixa temperatura, que na Terra tendem a fazer um trabalho razoável de preservação de assinaturas fósseis”. Sobre quando a caça aos fósseis marcianos poderá começar, Farmer diz que tanto a missão Laboratório de Astrobiologia Marciana, prevista para a Nasa em 2016, quanto a européia ExoMars, prevista para 2013, poderão fazer o tipo de pesquisa que ele propõe.