A hipótese das paleovisitas ou paleocontato — que advoga a intervenção alienígena no passado da humanidade — floresceu no final dos anos 60, alcançando seu ápice durante as décadas de 70 e 80, em grande parte por meio da divulgação feita por um de seus maiores expoentes, o investigador e escritor suíço Erich von Däniken. Alguns estudiosos chamam esta disciplina de Arqueoufologia ou Paleoufologia. Atualmente, a corrente vive um renascimento, especialmente graças ao interesse das novas gerações e aos impulsos recebidos do canal History Channel, que retomou a questão em sua famosa série de documentários Alienígenas do Passado — suas duas primeiras temporadas, de 2009 e 2010, já podem ser obtidas em DVDs através da Videoteca UFO [Veja publicidade nesta edição].
Hoje há muitos ufólogos que se dedicam à Arqueoufologia ou Paleoufologia, mas um escritor e pesquisador argentino se destaca na área por suas ideias originais e explicações coerentes para a ação de alienígenas no passado da Terra. Consultor da Revista UFO residente em Buenos Aires, o advogado César Reyes de Roa é um dos mais prestigiados defensores do paleocontato, e garante que os antigos astronautas que figuram em todas as tradições e culturas da humanidade nada mais eram do que seres extraterrestres. Referência na área em âmbito mundial, Reyes de Roa também é o fundador e diretor de um dos sites mais completos sobre o assunto [www.antiguosastronautas.com]. Em 1984, foi responsável por um marco histórico ao presidir o Primeiro Congresso Argentino de Astroarqueologia, evento que contou com apoio da prestigiada Ancient Astronaut Society [Sociedade do Antigo Astronauta, AAS], uma das instituições mais respeitadas do globo.
Uma ideia ousada
Assim, Reyes de Roa posicionou seu país como o primeiro da América Latina a difundir tal hipótese em um evento de grande porte. “Naquela época, o mundo não tinha internet e por isso as dificuldades eram enormes. Os livros sobre o assunto chegavam à Argentina com muitos anos de atraso, complicando a interação entre os pesquisadores”, diz. Para completar, o acesso ao boletim oficial da AAS, Ancient Skies, que era o principal veículo sobre o tema no mundo, era muito difícil — eram poucos os ufólogos argentinos que recebiam a publicação.
“A ideia de realizar uma conferência sobre este tema espinhoso no início dos anos 80 era somente uma aposta, com poucas possibilidades de êxito”, estimava Reyes de Roa. Na realidade, os ufólogos tinham seu interesse em casos ufológicos recentes, que contavam com eventos organizados por instituições também renomadas, como a Federación Argentina de Estudios de Ciencia Extraterrestre (FAECE). Assim, convocar pesquisadores a voltarem sua atenção para o passado remoto parecia bastante complicado — para dificultar ainda mais, o objetivo do evento era falar de visitas extraterrestres na antiguidade da Terra, sem, contudo, mencionar o Fenômeno UFO.
“Não foi fácil realizar o evento, mas o sucesso alcançado se deu graças à colaboração de reconhecidos estudiosos das paleovisitas e até mesmo de Ufologia contemporânea, como Fabio Zerpa, Pedro Romaniuk e Roberto Banchs, entre outros que também fizeram palestras”. O mesmo aconteceu com o público, que lotou o auditório, alimentando as questões apresentadas com mais perguntas. Estava lançada uma importante etapa da Ufologia Argentina pelas mãos do entrevistado desta edição. César Reyes de Roa recebeu cumprimentos por sua ousadia até mesmo de Däniken e de Gene Phillips, fundador e presidente da AAS.
Persistente e esforçado estudioso dessa difícil área da presença alienígena na Terra, Reyes de Roa conhece como ninguém a história da antiguidade e busca incessantemente vestígios deixados por ETs nos primórdios da humanidade. Seu site está no ar há mais de sete anos graças também ao valioso apoio que recebe de prestigiados autores de todo o mundo, muitos dos quais precursores da hipótese das paleovisitas, e também à maciça visitação que recebe. É nele que se vê que seu lema é “investigue conosco!” Ele não se limita a passar seu conhecimento adiante, mas também estimula as novas gerações para ingressarem nesta fascinante área.
O que levou um jovem estudante de direito a se interessar pela hipótese do paleocontato extraterrestre? Curiosidade é a melhor palavra para resumir tudo. Quando criança, eu era um grande questionador, destes que estão o tempo todo querendo saber o porquê das coisas, e com certeza a leitura teve muito a ver com isso. Sempre gostei de ler histórias fantásticas, relatos de aventuras e, na adolescência, lia livros de todo tipo, que tirava da biblioteca que havia em minha casa. Particularmente, meu interesse pelos enigmas do passado surgiu com a obra O Despertar dos Mágicos [Círculo do Livro, 1974], de Louis Pauwels e Jacques Bergier, quando eu tinha uns 14 ou 15 anos. Tive então aquela impressão, que conservo até os dias de hoje, de que minha curiosidade havia se deparado com uma fonte inesgotável de perguntas.
E ao ingressar na área, o que fez? Em seguida, durante a faculdade, fui alternando a leitura de livros de direito com aqueles que tratavam da pesquisa do paleocontato, como os de Erich von Däniken, Robert Charroux, Peter Kolosimo etc, mas perguntando também qual era a versão oposta para os mesmos casos, lendo autores como Sejourné, Prescott, Waisbard, Leroi-Gourham, entre outros. Muito depois, quando finalmente adquiri uma visão própria, decidi escrever a respeito. No início dos anos 80, comecei a publicar meus trabalhos como autor freelance na extinta revista Flash, sob a direção de Roberto “Tito” Jacobson, que generosamente me abriu as portas. Ali começou meu trabalho na área, por assim dizer, e com isso a gratificante experiência de manter contato com os leitores, que felizmente continua até hoje.
Você também trabalhou na revista Cuarta Dimensión, referência na área dirigida por um dos ícones da Ufologia Argentina, o estudioso Fabio Zerpa, que entrevistamos recentemente [Veja edição UFO 173, agora disponível na íntegra em ufo.com.br]. Quais são suas lembranças daquela época? Sem dúvida nenhuma, guardo ótimas recordações da minha passagem pela Cuarta Dimensión. Há publicações que, como ela, são marcos históricos que dividem seus integrantes entre antes e depois. Fui um privilegiado em formar parte da equipe daquela revista. Em 1984, Zerpa [Consultor da Revista UFO] fez a gentileza de me convidar para integrar a coordenação documental da Cuarta Dimensión, na qual tive o prazer de trabalhar também com Juan Carlos Spadafora e Héctor Picco, aprendendo os “segredos da cozinha” de uma revista como aquela — foi a escola na qual tive o melhor ensino. Depois trabalhei em outras publicações, mas em nenhuma se respirava aquela magia que estava de forma natural no ambiente da Cuarta Dimensión. Foi uma época inesquecível na minha vida, tanto no âmbito profissional como no pessoal.
Hoje são muitos os membros da comunidade científica interessados por esta discussão sobre o nosso passado. Josep Blumrich, autor do trabalho sobre a visão do profeta Ezequiel, por exemplo, era engenheiro aeronáutico e recebeu uma medalha da NASA.
Você tem uma visão considerada muito objetiva sobre as paleovisitas. Acredita ser possível instalar a discussão sobre o tema dentro da comunidade acadêmica? Na realidade, hoje já são muitos os membros da comunidade científica interessados por esta discussão sobre o nosso passado. Josep Blumrich, autor do célebre trabalho sobre a visão do profeta Ezequiel, por exemplo, era engenheiro aeronáutico e recebeu uma medalha outorgada pela NASA por serviços especiais prestados à agência. Eu poderia dizer o mesmo sobre vários autores, como Stuart Greenwood, que tem doutorado em engenharia espacial pela Universidade de Maryland, ou Vladimir Rubtsov, que é doutor em filosofia, e muitos outros. Esse é o caso também do recentemente falecido Pasqual Schievella, fundador e presidente do Conselho Nacional de Análise Crítica (NCCA), dos Estados Unidos. Todos eles são pioneiros defensores da hipótese do paleocontato. Outro querido amigo que atuou na área, também falecido, era o prestigiado indigenista brasileiro João Américo Peret, que deu a conhecer ao mundo a lenda da tribo Kayapó sobre o mítico herói Bep-Kororoti. A lista é bastante extensa.
Apesar de tantos nomes de respeito, seria possível introduzir o tema nos círculos científicos, sempre refratários à questão? Creio que o tratamento sério do problema não é impossível ao mundo acadêmico, desde que se entendam os limites precisos que uma hipótese de trabalho apresenta. Supor um cenário possível sobre as paleovisitas não é o mesmo que despejar afirmações alegremente, como tantos pesquisadores fazem — um indício não é o mesmo que uma evidência e temos que entender qual é a diferença entre eles. Por outro lado, a negativa inicial de uma nova ideia é comum no mundo científico, comportamento que sempre foi motivo de acalorados debates e que muitas vezes está mais relacionado com o status quo e com o establishment do que com a nova ideia em si.
Para alguns pesquisadores, as manifestações ufológicas da atualidade são a confirmação da hipótese das paleovisitas. No entanto, para outros, essa possibilidade é rechaçada e só se considera como evidência da ação alienígena na Terra as visitas ocorridas no nosso passado. Qual é sua posição a respeito dessa controvérsia? É importante esclarecer que, além das diversas teorias que tentam explicar o Fenômeno UFO, a confirmação de ocorrências no passado a partir dos casos atuais corresponderia exclusivamente à hipótese extraterrestre — semelhante a que sustenta a teoria do paleocontato. Nesse caso, alguém poderia pensar que estabelecer um nexo assim fornece alguma prova, como se os extraterrestres que visitam a Terra hoje seriam os mesmos que a visitavam naquela época. Porém, a questão não é tão simples como somar dois mais dois. A princípio é preciso reconhecer que a maioria dos casos ufológicos encontra resposta em confusões e equívocos de vários tipos, em que aeronaves convencionais, protótipos militares, satélites, balões meteorológicos etc são tomados por naves alienígenas — mas esse problema obviamente não ocorria antigamente. Também não podemos evitar a evidente “contaminação cultural” que a sociedade moderna sofre por causa da abundante literatura de ficção, séries de TV e filmes de Hollywood que colocam os ETs na ordem do dia.
Essa é a principal diferença entre as duas vertentes? Sim. Eu, por exemplo, não tenho uma postura antagonista quanto aos UFOs terem origem extraterrestre. Pelo contrário! Se confirmado que os objetos voadores não identificados dos quais falamos sejam de fato naves tripuladas por exploradores de outros mundos, e especialmente se ocorresse um contato definitivo com eles, tal fato teria um profundo significado para o futuro da humanidade — seria, sem dúvida, uma experiência transcendental para o nosso desenvolvimento como espécie. Contudo, no momento, pretender que a casuística ufológica sirva como evidência para sustentar a hipótese das paleovisitas me parece incoerente e sem nenhuma sustentação. É absurdo e sem valor científico apoiar uma hipótese apoiando-se em outra hipótese.
Alienígenas do Passado
Durante os anos 70 e 80 a hipótese das paleovisitas viveu seu maior momento, mas sofreu um declínio posterior por causa de críticas de setores científicos. Agora, assistimos ao renascimento dessa discussão estimulada especialmente por um dos canais de mais prestígio em todo o mundo, o History Channel. Como você vê esse ressurgimento? De forma geral, toda série Alienígenas do Passado, que o History vem apresentando desde 2009, me parece muito interessante, na medida em que reaviva a curiosidade do público pela possibilidade do paleocontato. É inegável que atraiu a atenção da sociedade, algo que venho comprovando pessoalmente com o enorme aumento de visitas que meu site tem recebido depois desses documentários [www.antiguosastronautas.com]. Agora, se isso vai servir para que as novas gerações olhem para o passado com outra perspectiva, além do êxito momentâneo do modismo, é algo que só o tempo poderá dizer. A série apresenta a tese extraterrestre como situação dominante quando se trata de desenterrar velhos mistérios arqueológicos, especialmente aqueles vinculados à antiguidade do continente norte-americano. Eu pessoalmente acho excessiva essa visão e, sinto dizer, até mesmo prejudicial.
O que você vê de bom e o que vê de ruim na série? Ela é muito positiva quando se observa o ressurgimento da hipótese das paleovisitas na sociedade em geral. O tratamento visual e a alta qualidade das imagens de Alienígenas do Passado superam muito a estética dos inesquecíveis documentários dos anos 70, baseados nos livros de Däniken. Mas ver apenas esta diferença seria como julgar a qualidade de um livro pela capa ou por suas ilustrações a cores, sem levar em conta o conteúdo do texto. A meu ver, capítulos inteiros da série dedicados à questão ufológica, ao Triângulo das Bermudas e a outros temas atendem apenas às necessidades da produção televisiva — eles desviam a atenção do cenário central das paleovisitas, algo que considero prejudicial e que pode levar a uma confusão babélica. E em determinados episódios da série há também alguns erros e omissões, como, por exemplo, no que diz respeito à Cova de Tayos, no Equador, no qual sequer se menciona o nome de Juan Moricz, seu descobridor e principal investigador. Comparativamente, é como falar da escavação arqueológica de Troia sem mencionar o nome de Heinrich Schliemann. Poderíamos ir longe com as críticas, mas não é esse o caso. Não devemos esquecer que a série Alienígenas do Passado é um produto para televisão, cujo primeiro objetivo é entreter as pessoas.
Você já publicou uma centena de trabalhos sobre as paleovisitas, mas um de seus mais conhecidos é sobre a visão do profeta Ezequiel, que você sustenta ter testemunhado a descida de um veículo com tecnologia muito além da existente naquela época. Pode falar um pouco sobre sua tese? Estudos de arqueologia bíblica têm demonstrado que é razoável considerar os relatos do Velho e do Novo Testamentos como vera narratio [Narração verídica], e que, portanto, a verdadeira história contada na Bíblia pode ser interpretada de forma diferente, sem prejudicar as considerações teológicas, religiosas e espirituais que outros queiram fazer a respeito. Como também é evidente que o contra-argumento a isso dado pelos exegetas bíblicos está infundido pelo misticismo, algo que se entende e se aceita respeitosamente. Mas temos que considerar, pelo lado do pensamento científico, que a crítica não aponta a negação definitiva do fato em si que Ezequiel descreve em seu livro — ao contrário, explica o que o profeta viu como um fenômeno meteorológico.
Outro querido amigo que atuou na área das paleovisitas foi o prestigiado indigenista brasileiro João Américo Peret, que deu a conhecer ao mundo a lenda da tribo Kayapó sobre o mítico herói Bep-Kororoti. A lista de estudiosos é bastante extensa.
Como assim? Uma tentativa de explicação da visão de Ezequiel baseada em um suposto acontecimento meteorológico seria algo positivo para a Paleoufologia? Não é bem isso. É que quando um astrônomo conhecido, como Donald Menzel, sustenta que o que Ezequiel viu foi um parélio [Fenômeno óptico atmosférico associado principalmente com a reflexão e refração da luz solar por pequenos cristais de gelo provenientes de nuvens], ele está admitindo implicitamente a realidade do acontecimento. Isso permite uma discussão sobre os fatos, o que é muito diferente da negativa fechada de um estudioso das escrituras sagradas, que simplesmente diz que Ezequiel teve uma visão divina e mais nada.
A visão de Ezequiel é uma das evidências do paleocontato? Sim, tanto que muitos estudiosos fizeram trabalhos a respeito. Por exemplo, o engenheiro aeronáutico Josef Blumrich chegou a patentear, em 1974, uma roda multidirecional baseada nas palavras do profeta, que viveu há 2.600 anos. E que tal roda girar hoje em uma versão melhorada usada no monociclo U3-X da empresa Honda, é algo que, a meu ver, merece ser considerado como um respaldo significativo à hipótese das paleovisitas.
Qual você acredita ser a origem daqueles antigos astronautas que nos visitaram na antiguidade? Bom, pessoalmente considero uma grande aventura falar de uma procedência para eles — qualquer que seja —, já que ainda não se pôde demonstrar sua existência, em termos científicos. Vale sempre a pena recordar que hipóteses são somente hipóteses, e que na hora de falar delas a prudência é sempre bem-vinda.
Há outras possibilidades para explicar os antigos astronautas? Quais? Talvez alguém se anime a indicar a Constelação de Órion como origem deles, com base na conhecida teoria de Robert Bauval sobre a estrutura das três estrelas que compõem o Cinturão de Órion — idêntica à configuração das três pirâmides de Gizé. Aliás, no outro extremo do mundo, a estrutura dessas três estrelas da Constelação de Órion também guarda extraordinária semelhança com as três colinas do San Francisco Peaks, onde se originaram os primeiros índios Hopi, como demonstra Gary A. David em seu livro The Orion Zone [Adventures Unlimited Press, 2007]. Alguém também pode alegar que os antigos astronautas poderiam vir do sistema estelar de Sirius, a estrela mais brilhante do céu noturno, por causa da surpreendente mitologia da tribo Dogon, da África, que afirma que seus conhecimentos dos períodos orbitais de tal astro lhes foram comunicados pelos deuses a quem chamavam de Nommo.
A hipótese da viagem no tempo serviria para explicar a origem dos antigos astronautas? Ou seja, seríamos nós no futuro viajando ao nosso próprio passado? A dilatação do tempo proposta por Einstein em sua Teoria da Relatividade implica que toda viagem interestelar a altíssima velocidade é, ao mesmo tempo, uma viagem no tempo. E nem seria necessário falar aqui das incríveis possibilidades teóricas que apresentam os buracos negros ou buracos de minhoca, tema surgido após as formulações do brilhante cientista, que seriam uma espécie de atalho espaço-temporal no universo. Assim, podemos pensar que as paleovisitas não seriam alheias aos efeitos da viagem no tempo, de um modo ou de outro. De fato, é interessante que em antigas lendas se tenha aludido a este conceito da dilatação temporal. Esses relatos seculares parecem inspirados naquele típico exemplo conhecido como Paradoxo dos Gêmeos, ao qual recorrem com frequência os autores de ficção científica para explicar ao leitor leigo certos aspectos da dilatação do tempo. O paradoxo trata do caso de dois irmãos gêmeos que se separam porque um deles, astronauta, empreenderá uma viagem espacial a alta velocidade, enquanto o outro permanecerá na Terra. Decorridos alguns anos, quando o astronauta regressar e visitar o irmão, notará que este já estará idoso, enquanto ele continua tão jovem como no dia de sua partida.
A que você atribui o surgimento da teoria do paleocontato? Penso que o surgimento da Ufologia, a partir de 1947, foi um gatilho que também serviu para olhar certos enigmas do passado sob uma perspectiva diferente, dando espaço à hipótese extraterrestre como uma maneira de atar certos fios soltos. Antes disso, o trabalho de Charles Fort [Escritor e pesquisador norte-americano falecido em 1932] pode ser considerado valiosa fonte de dados e inspiração, uma espécie de motor para as investigações que seguiram.
Discussão multidisciplinar
Antes dos autores pioneiros que você mencionou, sabe se mais alguém chegou a aventar a hipótese das paleovisitas, ainda que com outro tipo de abordagem? Sim, poderia citar vários, como por exemplo, o jornalista inglês Harold T. Wilkins, o autor norte-americano Morris K. Jessup e com certeza os soviéticos Matest Agrest e Alexander Kazantsev. Mas a hipótese do paleocontato propriamente dito começou a se consolidar de maneira independente da Ufologia nos anos 60, a partir dos trabalhos de Louis Pauwels, Jacques Bergier, Robert Charroux e, depois, mais categoricamente com Erich von Däniken e com a fundação, em 1973, da Ancient Astronaut Society. Esta entidade abriu espaço para uma discussão multidisciplinar do tema, na qual muitos de seus membros, com graus acadêmicos em diversas áreas, contribuíam com palestras em conferências mundiais e também com textos publicados em seu boletim oficial, Ancient Skies.
A que você atribui a falta de ação, até hoje, de arqueólogos, paleontólogos, historiadores e antropólogos com relação a um assunto tão importante? Antes de qualquer coisa, temos que compreender as regras do mundo científico e saber que nele não há caminho fácil para novas ideias. Veja a história de Thomas Alva Edison, quando tentou apresentar seu primeiro fonógrafo diante da Academia de Ciências de Paris — ele foi acusado de impostor por um membro da instituição, que estava firmemente convencido de que a voz humana que saía do aparelho era devido às artimanhas de um ventríloquo. Também podemos ler em A Conexão Cósmica [Artenova, 1976] que Carl Sagan passou por grandes dificuldades com seus colegas quando tratava da questão extraterrestre, devido a um verdadeiro e indigesto conservadorismo.
A história contada na Bíblia pode ser interpretada de forma diferente, sem prejudicar as considerações teológicas, religiosas e espirituais que outros queiram fazer a respeito. O contra-argumento dos exegetas bíblicos está infundido pelo misticismo.
Você crê que o problema da aceitação do paleocontato seja exclusivamente deste conservadorismo científico? Não. Colocar toda a culpa na visão limitada de alguns cientistas não seria honesto. Diria que há uma responsabilidade compartilhada nessa situação e que é necessário reconhecer também erros metodológicos que nos tornam igualmente culpados da falta de aceitação científica da teoria das paleovisitas. A verdade é que no campo da também chamada paleoseti, ou seja, a busca por sinais de vida extraterrestre inteligente no nosso passado — em referência ao Projeto SETI, que faz o mesmo ouvindo as estrelas — caímos algumas vezes em argumentos equivocados, que acabaram confundindo os verdadeiros limites de nossa hipótese de trabalho. E para piorar as coisas, atualmente a internet facilita a qualquer indivíduo lançar e manter um blog onde se afirma o que quiser, gerando assim uma nociva multiplicação de velhos e novos erros a respeito das paleovisitas e tornando cada vez mais difícil o diálogo construtivo com o mundo acadêmico.
Seriam muitos os equívocos na teoria dos antigos astronautas? Poderia nos citar os mais graves? Sim, são inúmeros. Em meu site há um espaço onde chamo a atenção dos visitantes sobre alguns desses erros, como em meu artigo O Extraterrestre e a Flor de Lótus, em que me refiro à absurda tendência de confundir com aliens a simples representação pictográfica de flores de lótus na tumba do conselheiro real egípcio Ptah-Hotep. Ou outro trabalho que se refere a uma suposta nave extraterrestre vista no Mar do Japão, em 1803, que se conhece como Utsuro Bune. Separar primeiro o joio do trigo é a melhor maneira de esclarecer o que vamos semear e colher no futuro da investigação da presença alienígena no passado da Terra. Assim, talvez se consiga finalmente a atenção do mundo acadêmico, quando estivermos desprovidos de certos preconceitos que têm mais a ver com sensacionalismo do que com pesquisa — embora tal sensacionalismo não invalide a necessidade de atenção científica sobre alguns indícios da ancestralidade da ação extraterrestre em nosso planeta.
Por que a ciência não pesquisa de uma vez por todas alguns desses vestígios, que são tão evidentes? Os patrocinadores das pesquisas e as equipes de investigação estão diretamente relacionados com determinados interesses de um ou vários setores. Em consequência, a ausência de tais investidores influi diretamente na falta de interesse em novas opiniões que permitam contemplar e julgar o passado de um modo renovado, como Goethe disse uma vez. No ambiente acadêmico, as perguntas e respostas sobre o passado do mundo estão nas mãos exclusivas dos historiadores, arqueólogos, paleontólogos, etnólogos e antropólogos, e enquanto eles não sentirem que é necessário reescrever parte da história universal, não o farão. Simples assim.
Como modificar isso? Não vejo ocorrer mudança radical nessa situação tão cedo. Porém, felizmente, há jovens arqueólogos de carreira que hoje experimentam uma sadia curiosidade por algumas indagações que permeiam a hipótese do paleocontato — alguns já até me escreveram. Mas, em linhas gerais, o problema de se opor ao status quo e seguir na contramão do dever ser que a comunidade científica espera de seus membros é para eles o mesmo que jogar pelo ralo sua credibilidade. E isso tem relação com o que eu disse antes sobre equívocos e erros grotescos que cometemos.
Deixando de lado os equívocos, quais são os principais vestígios da presença alienígena no passado terrestre que você gostaria de mencionar? Poderia começar com as provocativas pinturas rupestres de cabeças redondas encontradas em Tassili, na Argélia, e os deuses Wondjina, da Austrália, bem como os estranhos espíritos sagrados desenhados em paredões de Barrier Canyon, em Utah. A insistente menção de carros celestiais sulcando os céus, que são descritos de maneira semelhante em mitos, lendas e livros sagrados, tanto na Bíblia como em diversos textos sânscritos, crônicas chinesas etc, também merecem destaque. Além, é claro, da presença no passado de seres portadores de muita cultura, como Quetzalcoatl, no México, ou Oannes, na Babilônia. Quem eram eles?
Parece uma longa lista… Sim, a lista seria longa e teríamos que nos aprofundar em alguns conceitos aqui, mas creio que mais importante do que assinalar pontualmente um ou outro indício da presença alienígena no passado da Terra, o que contribui de verdade para a construção da hipótese das paleovisitas extraterrestres é a universalidade de tal presença. Diferentes culturas separadas por um abismo de tempo e de espaço — e, portanto, sem qualquer relação entre si —, contam histórias semelhantes sobre deuses e seus prodígios. Comparativamente, se todos os testemunhos concordam que um indivíduo em questão tem bigodes, orelhas e rabo de gato, é bastante possível e provável, pelo menos, que se trate de um gato.
Entre os casos de paleovisitas narradas na Bíblia, qual você considera o mais importante e revelador? O relato do profeta Ezequiel é, no meu julgamento, o mais significativo. Não há dúvidas de que ele foi um observador atento e que o poder de suas palavras outorga à sua narrativa milenar um valor testemunhal inegável. Quando Ezequiel se refere, por exemplo, às asas artificiais do artefato que observou e, em seguida, compara o ruído que elas faziam com o de muita água ou de uma grande multidão, ele deixa claro que há ali um funcionamento técnico ou mecânico que não se pode negar. Ou ainda quando detalha o aspecto das estranhas rodas que pousam no solo, assinalando que eram “como uma roda dentro de outra roda”. Recordemos uma vez mais que o engenheiro aeronáutico Josef Blumrich patenteou em 1974 uma roda multidirecional inspirada precisamente nessa descrição de Ezequiel — que é, em si mesma, evidência incontestável da utilidade prática da interpretação tecnológica de um escrito de 2.600 anos de antiguidade.
E em tempos mais recentes, qual seria o caso mais curioso de todos? Outro indício que tem chamado especialmente minha atenção é a intrigante e sensacional lenda dos índios brasileiros kayapós sobre seu mítico herói tribal Bep-Kororoti, que em 1972 o indigenista João Américo Peret divulgou ao mundo em seu artigo para a extinta revista O Cruzeiro, intitulado Bep-Kororoti o Guerreiro do Espaço. O ponto mais relevante desta lenda, e que a diferencia de outras semelhantes, é o fato de que os nativos falam de maneira direta e inequívoca de um estranho indivíduo que chegou do espaço, ou seja, não meramente do céu — eles não deixam dúvidas quanto a isso. A narração dos kayapós também é completamente descritiva, a ponto de nos permitir acompanhar um pouco da evolução do contato inicial entre eles e esse estranho visitante que apareceu de repente na aldeia, vestido da cabeça aos pés com um volumoso traje e empunhando uma poderosa arma que lançava raios.
Podemos ler em seu livro A Conexão Cósmica que Carl Sagan passou por grandes dificuldades com seus colegas quando tratava da questão extraterrestre, devido a um indigesto conservadorismo.
Os indígenas kayapós descrevem que a arma chegou a ferir, com raios, alguns guerreiros que tentavam abordar o forasteiro espacial. É verdade, e em consequência disso Bep-Kororoti foi considerado, a princípio, como um intruso perigoso — os bravos guerreiros kayapós o enfrentaram durante bastante tempo. Somente depois de reconhecerem nele certas atitudes é que ele passou a merecer o respeito de todos, e foi finalmente incorporado como membro da tribo. A similaridade daquele traje com a vestimenta de um astronauta fica patente no ritual que os kayapós mantêm até hoje para homenagear Bep-Kororoti, representando-o com uma roupa de palha, ao mesmo tempo surpreendente e sugestiva.
Como César Reyes de Roa contaria a história da raça humana com estas intervenções extraterrestres? Diferente de outros pesquisadores com inclinação para determinadas elucubrações, eu penso que para construir um edifício sólido é indispensável que os tijolos estejam primeiro bem assentados. Para mim, inclusive levando em conta a quantidade de indícios que apontam para a possibilidade de visitas extraterrestres no passado, é bom recordar e ter sempre presente que nos referimos a uma hipótese de trabalho, isto é, aquela que se estabelece provisoriamente como base de uma investigação, e que pode depois confirmar ou negar sua validade. Qualquer relato pessoal que eu pudesse fazer da história humana na perspectiva paleoseti não passaria, por enquanto, da categoria de ficção. Animo-me a pensar que, talvez, uma provável presença alienígena na Terra pode ter contribuído com pequenos estímulos ao desenvolvimento social de algumas culturas embrionárias.
A derradeira aceitação
Quando você acha que a teoria das paleovisitas finalmente produzirá provas irrefutáveis e aceitas pela comunidade acadêmica? Uma prova incontestável, falando em termos científicos, tem que ter caráter definitivo, isto é, ela afirma ou nega algo sem restrição. Na questão paleoseti, uma prova assim poderia ser a descoberta de um objeto de procedência alienígena comprovada. Talvez um aparelho de algum tipo, como uma sonda ou uma ferramenta, cuja avançada tecnologia estivesse fora de toda e qualquer dúvida. Assim, a teoria se converteria em um fato comprovado e a discussão acadêmica tomaria um rumo muito diferente, sem dúvida. Enquanto isso não ocorre, seguiremos debatendo o assunto como até agora.
O conceito de prova também não deveria ser modificado? Talvez, mas gostaria de adicionar algo que vem ao caso e considero oportuno esclarecer. Os oponentes da hipótese do paleocontato falam muito da inexistência de evidências que provem a presença extraterrestre no passado da Terra. Longe de ser bem fundamentada, essa alegação é contraditória. Embora se costume responder a isso com aquela máxima que diz “a ausência de evidência não constitui evidência de ausência”, o que é verdadeiro, eu prefiro dar ênfase à incongruência da alegação dos críticos, recordando que o significado de conceitos como prova ou evidência dá clara certeza de algo que não pode ser duvidado. Portanto, se esse fosse um requisito exigível desde o início, não existiria nenhuma hipótese de trabalho ou teoria favorável a qualquer explicação preliminar sobre qualquer fato problemático. Isto é, se essas evidências ou provas reclamadas com tanta insistência estivessem sempre ao alcance, não estaríamos falando de uma hipótese ou teoria, mas sim de um fato comprovado que não seria mais objeto de controvérsia — por isso que falo de indícios ou vestígios, e não de provas ou evidências.
Qual é o futuro que você vislumbra para a investigação do paleocontato? Não há nada no momento que me permita conjecturar grandes mudanças para melhor no futuro imediato na pesquisa do paleocontato, mas podemos dizer o mesmo sobre a exploração espacial e o Projeto SETI, por exemplo.
Em alguns casos bem pesquisados pela Ufologia, o conteúdo de contatos imediatos parece se relacionar diretamente com o passado humano e sua interação com seres avançados vindos de outros planetas. Essa conexão pode ser levada em consideração? Sim. Diversos casos de contatos imediatos com naves e seres têm notável semelhança com referências que apuramos do passado da humanidade. Isso poderia indicar, consequentemente, uma correlação entre os fatos de antes e de agora. Ainda dentro do marco teórico com que devemos analisar estes acontecimentos, as coincidências são impressionantes e deveriam ser levadas em consideração.
Onde é que a Ufologia contemporânea se cruza com a teoria paleoseti? Sem dúvida, na questão da hipótese da origem extraterrestre como explicação de um fenômeno, entendido como coisa extraordinária e surpreendente. Ao que parece, isso tem perdurado de maneira semelhante por milênios.
Quais aspectos da Ufologia você considera mais relevantes? Sou particularmente interessado por aqueles casos que têm como testemunhas principais pilotos de aeronaves, sejam eles comerciais ou militares, e depois as ocorrências envolvendo astronautas. Não é que eu despreze depoimentos de “pessoas comuns”, mas a contaminação midiática, principalmente com a internet, tem gerado um cenário cada vez mais confuso, onde o que parece ser ganhou mais terreno do que o que verdadeiramente é. E isso é alarmante. Hoje é muito comum, por exemplo, usar a expressão “suposto UFO” em artigos e publicações, e francamente eu não entendo o que isso significa em termos de investigação.
Qual é a sua opinião sobre o Projeto SETI? Acredita que ele um dia encontrará formas de vida extraterrestre inteligente no universo? Quero crer que o SETI nos surpreenderá em um futuro não muito longínquo com um sinal inteligente inquestionável, de procedência extraterrestre — como o derradeiro Sinal Wow, que foi detectado pelo projeto SETI em 1977, mas agora sem a menor margem de questionamento [Veja edição UFO 189, agora disponível na íntegra em ufo.com.br]. Mas temo que, se as coisas seguirem como estão até agora, as próximas décadas não trarão melhores resultados do que os obtidos durante o meio século anterior, a não ser que tenhamos um golpe de sorte. Não se trata de uma posição pessimista de minha parte, mas opino, como fez Einstein, que não se podem conseguir resultados diferentes fazendo as coisas sempre da mesma maneira. Até hoje os cientistas escanearam somente uma quantidade limitada de astros a uns 100 anos-luz da Terra, aproximadamente, e a Via Láctea, somente, é imensamente maior do que isso. E mais, eles estão sempre procurando obstinadamente sinais na frequência do hidrogênio, sem qualquer resultado positivo.
Seria a hora de mudar os métodos praticados? Talvez. Quem sabe outras civilizações pensem em outras frequências, ou em outras tecnologias de comunicação que deveríamos considerar no futuro. Essas objeções são bem conhecidas e vêm sendo expressas regularmente por diferentes cientistas renomados. Em todo caso, não pretendo com isto tirar méritos da louvável tarefa que o SETI vem realizando, mas gostaria de ver alguma mudança de rumo no projeto. Penso que as atuais tecnologias que usamos hoje, ou que poderemos aplicar mais adiante, não nos permitirão fazer contato com nenhuma civilização bem mais adiantada do que a nossa. No máximo, esses vizinhos cósmicos, que eventualmente encontremos, serão mais ou menos como nós.
Contato cósmico inevitável
Como você vê esse eventual contato com tais vizinhos cósmicos? Como um fato interessante. Digo isso sem tirar qualquer importância desse contato, que sem dúvida seria valioso e muito significativo, mas que não implicaria em outras mudanças na humanidade além das filosóficas, falando em amplo sentido. Quero dizer com isso que uma civilização bem mais avançada não estaria precisamente ao alcance das tentativas pueris de nossa atual tecnologia. É de se supor que suas vias de comunicação, se desejarem se comunicar, sejam tão diferentes das nossas como eram, por exemplo, os sinais de fumaça que os índios usavam em comparação com e-mails ou simples ligações com um telefone celular.
Uma hipótese de trabalho é aquela que se estabelece provisoriamente como base de uma investigação. Talvez uma provável presença alienígena na Terra pode ter contribuído com pequenos estímulos ao desenvolvimento social de algumas culturas embrionárias.
Há um esforço semelhante ao SETI realizado pelos russos e coordenado pelo cientista Alexander Zaitsev, nos arredores de Moscou, que tenta obter sinais inteligentes de outras civilizações por métodos alternativos. O que pensa dele? Sinto por Zaitsev [Consultor da Revista UFO] o maior respeito por sua elevada estatura científica, além de um grande apreço pessoal. Como editor de site de pesquisa, tenho traduzido para o espanhol e publicado vários trabalhos seus, e publico cada um de seus textos com todos os pontos e vírgulas. Para mim, seu projeto Messaging to Extraterrestrial Intelligence [Mensagem para Inteligência Extraterrestre, METI] é fundamental — isso se existir entre as autoridades, de fato, alguma honestidade intelectual no discurso de busca com intenção de contato efetivo com outras inteligências extraterrestres. Lembro que em 2010, Stephen Hawking expressou uma ruidosa advertência quanto à emissão de sinais ao espaço, argumentando sobre o possível perigo que poderiam representar certas civilizações extraterrestres hostis que os captassem — ele fez uma comparação com o risco que correram as culturas nativas americanas com a chegada de Colombo.
Hawking foi infeliz em sua analogia? Os temores de Hawking não se diferenciam do de outros cientistas que levantaram bem antes a triste bandeira da fobia ao SETI. Convenhamos que esse tipo de comparação, que sugere olhar para nossas próprias ações para tentarmos adivinhar o que poderiam fazer outras inteligências superiores, não são nada além de uma vã extrapolação de nossas próprias mazelas enquanto espécie. Definitivamente, medos geram isolamento e o isolamento leva primeiro à falta de expansão de uma civilização e, depois, à sua total extinção. O METI de Zaitsev rompe esta marca, mudando o que se chamou de Grande Silêncio, e nos coloca em uma atitude verdadeiramente participativa na busca de outras civilizações. Portanto, a fobia a essa iniciativa não é mais do que um registro de profunda ignorância, temerosa e quase obscurantista.
Mas e se Hawking tiver razão… Ou seja, que lá fora haja alguma monstruosa civilização de ogros que queira cravar seus dentes em nossa doce carne humana? Ora, neste caso nós não estaríamos aqui falando desse perigo, já que a probabilidade de tal civilização detectar os sinais de radar que utilizamos diariamente somente para o estudo de planetas e asteroides do Sistema Solar é, em comparação, “um milhão de vezes maior que o número total de transmissões utilizadas para o envio de mensagens METI a hipotéticas civilizações”. Essas são palavras do próprio Alexander Zaitsev.
As últimas estimativas astronômicas nos apontam que somente em nossa galáxia parece haver dezenas de bilhões de planetas com potencial para abrigar vida, contrariando todas as expectativas anteriores. O que diz a respeito? É verdade, e tais estimativas aumentam semanalmente, cada vez que temos um novo achado. Já está até fácil perder a conta da quantidade de exoplanetas já descobertos pelos cientistas, de tantos que o são a cada dia. Lembro-me de um tempo não tão longínquo em que se pensava que os planetas do Sistema Solar eram uma autêntica raridade. Hoje as mudanças nos cálculos demonstram uma média de 1,6 planeta por estrela somente em nossa galáxia — assim, segundo creio, chegará logo o momento em que a Equação de Drake, criada por ele em 1961 para estimar o número de civilizações na Via Láctea, será uma tímida aproximação da realidade.
Essas descobertas, agora comuns, estão ajudando a quebrar diversos paradigmas e comprovando nossa insignificância no cosmos. No entanto, as evidências das paleovisitas e também da realidade do Fenômeno UFO continuam sendo ignoradas. O ego humano obrigará o homem a descobrir a vida extraterrestre lá fora primeiro, antes de aceitar que ela já esteve aqui há tanto tempo? Além de certos excessos desnecessários, tanto na corrente paleoseti como na Ufologia, nota-se que determinadas objeções científicas se baseiam principalmente nas limitações conceituais próprias de nosso pequeno mundo azul. Nesse sentido, afirma-se que visitantes de outros planetas não poderiam vir até aqui agora, nem tê-lo feito boi passado, porque as distâncias interestelares são enormes e as velocidades necessárias para tanto seriam impossíveis de se alcançar. Entre outros argumentos do gênero. Em resumo, o ser humano observa o universo com um olho timidamente entreaberto no telescópio, enquanto tem o outro bem aberto e mirando seu próprio umbigo. Mas, para responder finalmente a sua pergunta, permita-me modificar humoradamente a célebre frase de Einstein: “Há duas coisas infinitas, o universo e o ego humano, e quanto ao universo não estou tão certo”.
Já recolhemos pedaços de metais incomuns no local da queda, em outras escavações. Agora, na quarta expedição, esperamos encontrar mais. Usaremos peneiras, detectores de metais, medidores de campo magnético e radar para análises subterrâneas.
Ou seja, para a ciência os seres extraterrestres terão que descer e se apresentar em praça pública? Prefiro pensar que por enquanto não farão tal coisa, porque o país dono dessa praça iria de imediato pensar que se converteu no dono do mundo — a ideia de ser um eleito se equipara bem com o ego, e também com a estupidez.
Segundo investigações já realizadas no campo do paleocontato, antigos astronautas podem voltar no futuro para fechar um ciclo iniciado há milênios? É possível que regressem, bem como é possível que nunca tenham ido embora e simplesmente estejam nos observando neste instante, estudando nossas reações como fazem nossos cientistas com as cobaias de laboratório.
O que você recomendaria às novas gerações que estão começando somente agora o estudo da paleovisitas? Que iniciem a partir da dúvida, colocando um ponto de interrogação nas coisas que aparentemente são certas. Que desconfiem especialmente daqueles que costumam escrever a palavra verdade com maiúsculas, sejam eles de onde forem. Que saibam que toda moeda tem dois lados e que é importante sempre conhecer ambos antes de julgar. Que entendam que o paleocontato ou as paleovisitas não são uma certeza, mas uma hipótese de trabalho que se estabelece como base de uma pesquisa. E que não se esqueçam do que disse Confúcio: “O estudo sem pensar é em vão, e o pensar sem estudo é perigoso”.
Para finalizar essa entrevista, nossa pergunta não poderia ser outra: eram os deuses realmente astronautas? Com toda segurança, a possibilidade de os antigos deuses mitológicos serem astronautas extraterrestres é digna de consideração. Se efetivamente a Terra foi visitada há milênios por navegadores de outros mundos, tecnologicamente mais avançados do que podemos imaginar, como defendemos, é lógico pensar que a glorificação desses seres e sua elevação à categoria de deuses tenha sido mais ou menos semelhante ao acontecido em outros momentos históricos mais recentes.