
Nascido em 09 de maio de 1924, em Vitória (ES), o ufólogo Fernando Cleto Nunes Pereira é um dos pioneiros da Ufologia Brasileira e um dos mais bem informados no que tange a assuntos oficiais. Isso graças ao estreito vínculo que sempre manteve com autoridades e altas patentes das Forças Armadas. Na noite de 16 ou 17 de julho de 1948, testemunhou as evoluções de um UFO nas proximidades da Enseada de Botafogo, no Rio de Janeiro. A partir desse fato, que mudou profundamente sua vida, começou se interessar por Ufologia, sem descuidar de sua família e de sua carreira de funcionário do Banco do Brasil e do Banco Central, pelos quais se aposentou.
Um de seus principais objetivos sempre foi despertar a atenção da sociedade para a urgência de se unificar os conceitos científicos – “sem os quais o homem não entrará na Era Estelar, já dominada pelos construtores dos discos voadores”, diz – às experiências de campo. Cleto despertou para tal necessidade em 02 de novembro de 1954, durante o 1º Inquérito Oficial Brasileiro para Estudar os UFOs, no Rio de Janeiro. A conferência de abertura do evento foi proferida pelo coronel-aviador João Adil de Oliveira, chefe do Serviço de Informações do Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA). Na platéia, estava o alto escalão das Forças Armadas – inclusive o chefe do EMFA, brigadeiro Gervásio Duncan, e o tenente-brigadeiro Eduardo Gomes –, técnicos, cientistas e convidados credenciados, entre eles Cleto e o repórter da extinta revista O Cruzeiro João Martins.
A reunião resultaria em um pronunciamento público, o primeiro da história mundial, em que um governo reconheceria oficialmente a existência dos UFOs. Isso graças às diárias evoluções de UFOs circulares e prateados sobre a Base Aérea de Gravataí (RS). No dia 26 de outubro, o Comando da Base Aérea de Porto Alegre, da 5ª Zona Aérea, liberou à imprensa um relatório detalhado a respeito, em que constam avistamentos em vários outros pontos do Rio Grande do Sul. Cleto pôde então perceber, muito admirado, que os homens presentes àquela reunião não conseguiam compreender, à luz da ciência, certos aspectos do comportamento das naves alienígenas. Desde então, vem aprofundando suas pesquisas para decifrar o enigma das inteligências não terrestres. Muitas foram as “coincidências” ao longo do caminho. Na manhã de 31 de dezembro de 1954, em visita ao coronel Adil, Cleto viu um disco voador sair de uma nuvem branca que pairava sobre o Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro.
Sem unificar os conceitos científicos, o homem não entrará na Era Estelar, já dominada pelos construtores dos discos voadores
Disco voador de madeira — Como se sabe, a história dos UFOs no Brasil começou no dia 07 de maio de 1952, quando o fotógrafo Ed Keffel e o citado repórter João Martins fotografaram um suposto disco voador sobrevoando as imediações da Pedra da Gávea, na Barra da Tijuca, zona sul do Rio. A Força Aérea Brasileira (FAB) começou a investigar o caso apenas três dias depois. Uma equipe de técnicos construiu uma réplica do disco em madeira e oficiais à paisana foram vistos pelos pescadores atirando o modelo para o ar no exato momento em que o disco original apareceu. Após diversos levantamentos e análises pelos militares, foi descartada a possibilidade de fraude. Os pescadores chegaram a afirmar a jornalistas estrangeiros que o artefato tinha sido arremessado ao ar, e eles apressadamente divulgaram que tudo havia sido uma brincadeira. A Força Aérea Norte-Americana (USAF) comunicou ao Serviço de Imprensa da Embaixada dos Estados Unidos no Rio que não considerava as fotos autênticas, pois as sombras no objeto não coincidiam com as das árvores.
O segredo em torno dos testes da FAB na Barra da Tijuca só foi parcialmente revelado durante uma conferência na Escola Superior de Guerra (ESG) em 03 de outubro de 1954, ocasião em que se reafirmou a veracidade das fotos. Cleto resgatou a documentação no Ministério da Aeronáutica e, com aval do coronel Adil, divulgou o conteúdo em uma série de 12 programas intitulada O Enigma do Espaço, exibida em 1959 pela extinta TV Continental. Foi talvez a única iniciativa brasileira inteiramente dedicada à Ufologia.
O médico e ufólogo Olavo Teixeira Fontes, falecido em 1967 e à época representante da Organização de Pesquisas de Fenômenos Aéreos [Aerial Phenomena Research Organization, APRO], escreveu e publicou um longo artigo no boletim da organização, em outubro de 1961, em que mencionou que os negativos da fotos de Keffel e Martins estavam no laboratório de reconhecimento da Aeronáutica. O tenente-brigadeiro Eduardo Gomes apresentou a um público seleto, no qual se incluía Cleto, os resultados de sua pesquisa oficial, e enviou cópias da reportagem e das fotos para a APRO, o que resultou na inclusão do caso no Relatório Condon [1969], que o classificou como “inconsistente”.
Entre os assuntos ufológicos aos quais se dedica destaca-se a propulsão dos discos voadores. Já em 1962, Cleto se preocupava com a identificação do grau cultural das inteligências que constroem estas naves. No seu entender, para que a “propulsão por campos” pudesse ser atingida pela civilização humana, seria imprescindível que a ciência desse um novo passo no campo teórico. Ele defendia que o Brasil, na ocasião ingressando na Era Espacial, devia aliar a pesquisa ufológica ao programa espacial. Isso porque, segundo o ufólogo, estava mais do que certo que os UFOs constituem um exemplo vivo e gritante de que a propulsão por campos já havia sido obtida de algum modo. E quem na Terra primeiro dominasse o segredo dessa propulsão teria supremacia sobre as demais nações. Por isso pensava que os nossos esforços deveriam desde o primeiro momento ser voltados para a pesquisa dessa forma de propulsão, o que daria ao Brasil independência no campo científico internacional.
Pneus de aviões furados — Cleto ressaltou que muita coisa estranha vinha ocorrendo com a aviação comercial nos últimos 20 anos. Naquela ocasião, dois aviões internacionais – da Alitalia e Air France – haviam tido os pneus furados na pista do Aeroporto do Galeão, no Rio, local que vinha sendo sobrevoado por UFOs. Acrescentou que os artefatos tinham inesperadamente levantado um carro do Corpo de Bombeiros, que capotou em seguida. Dois engenheiros, um químico industrial e outro eletricista, declararam à imprensa que discos voadores tinham provocado o acidente. Em 1970, na esteira do sucesso de Erich von Däniken e seu Eram os Deuses Astronautas? [Melhoramentos, 1968], Cleto lançou seu primeiro livro, produto de duas décadas de estudos: A Bíblia e os Discos Voadores: A Missão dos Astronautas Extraterrenos [Ediouro]. Atendo-se exclusivamente à interpretação do livro sagrado, o ufólogo apresentou-se como o primeiro autor a examinar a Bíblia como um todo, em ordem cronológica dos livros que a compõem, para então sustentar teses novas relacionadas à presença de seres extraterrestres entre nós. Estudou a história religiosa da humanidade para atribuir uma missão transcendental aos ufonautas.
Entre as teses que defende está o chamado Projeto Cristão, um plano feito fora da Terra para ser executado em nosso planeta. “Os materialistas encontrarão nesse livro maior número de elementos em favor de suas posições ateístas. Nós, porém, queremos afirmar a nossa fé na existência de um só Deus, que tanto é dos judeus como dos cristãos, budistas, islamitas e demais crenças”, explica o ufólogo. Para ele, “a humanidade é constituída de marionetes ou robôs que representam no palco do planeta atos de uma peça com objetivos superiores. Dentro do grande palco as futuras guerras já anunciadas pelos profetas serão inevitáveis e a desolação já se aproxima do mundo de forma irreversível”. Fernando Cleto Nunes Pereira é autor de outros dois livros referenciais da literatura ufológica brasileira: Sinais Estranhos [Hunos, 1979] e Que Ciência Constrói Discos Voadores? [Record, 1994].
O entrevistado recebeu os enviados da Revista UFO Cláudio Tsuyoshi Suenaga e Pablo Villarrubia Mauso para um longo e esclarecedor diálogo. Suenaga, mestre em história pela Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista (UNESP), tem se especializado em entrevistas com personalidades da Ufologia Brasileira. Mauso, jornalista residente na Espanha e autor do livro Mistérios do Brasil [Editora Mercuryo, 1997], percorre o mundo colhendo casos ufológicos. Ambos são consultores da Revista UFO, com vários trabalhos publicados.
Como o senhor conheceu o repórter João Martins? Soube da versão de que ele e Keffel tinham ido fotografar um criminoso nazista que era visto com freqüência na Barra da Tijuca? Essa versão é mentirosa. Eles, na verdade, foram fazer uma reportagem sobre os casais de namorados e uma receita de camarão de um restaurante da Barra da Tijuca. Tanto que no negativo em que estão as fotos dos UFOs na Barra aparece o prato de camarão e um casal de namorados. O que ficou por debaixo dos panos é que Martins e Keffel eram muito amigos. O Keffel havia passado uma temporada no sul e há dois meses não vinha ao Rio. Assim que retornou, conseguiram ser escalados para uma reportagem sobre os namorados na Barra, ocasião em que poderiam pôr a conversa em dia enquanto saboreavam um delicioso camarão, e nisso apareceu o disco voador. Essa é a verdade. Quanto ao Martins, não houve uma apresentação formal. Ele e o coronel Adil foram os últimos a chegar à conferência [Abertura do 1º Inquérito Oficial Brasileiro para Estudar os UFOs], que já estava em andamento. Quando o evento acabou, entre os civis somente restaram ele, eu e o comandante de um navio. Aí começamos a conversar e fiquei sabendo que morávamos no mesmo bairro.
O fotógrafo Keffel deve ter recebido o copyright, o direito autoral pelas fotos. Não, não recebeu nada. O Cruzeiro entregou para a Força Aérea Brasileira (FAB), que trancou os negativos no cofre. E de lá ninguém sabe onde foram parar, porque eles dizem que queimaram tudo.
Fala-se muita mentira sobre as fotos da Barra da Tijuca. Na verdade, Keffel e Martins foram lá fazer uma reportagem sobre casais de namorados e uma receita de camarão de um restaurante da Barra da Tijuca. Tanto que no negativo em que estão as fotos dos UFOs na Barra aparece o prato de camarão e um casal de namorados
No dia 14 de setembro de 1957, o célebre colunista social Ibrahim Sued informou em sua seção no jornal O Globo ter recebido diversos fragmentos metálicos recolhidos por um pescador logo após a explosão de um disco voador nas proximidades da Praia das Toninhas, em Ubatuba, litoral norte de São Paulo. Os exames laboratoriais atestaram que se tratava de magnésio em alto grau de pureza. O que o senhor poderia acrescentar sobre o Caso Ubatuba, que foi pesquisado pelo seu amigo Olavo Fontes? O magnésio em estado de pureza já podia ser obtido em laboratório naquela época, embora a um preço bem elevado. Contudo, não se podia ainda chegar a um grau de pureza tão elevado quanto ao verificado nas amostras. Os fragmentos que examinei na minha mão, com a permissão do Fontes, tinham a forma de curvatura. Se você a ampliasse, ela assumiria o formato semelhante ao de um volante de automóvel. A informação que Sued recebeu foi a de que uma coisa veio voando rasante sobre o mar, e quando chegou perto dos pescadores deu uma subida e explodiu. Não era bem um disco voador, mas uma sonda que explodiu na frente deles, cujos fragmentos caíram no mar e na praia. Isso é o que eu posso acrescentar.
Parte desse material não teria sido enviada aos Estados Unidos para análises complementares? O Olavo Fontes enviou parte dele para que fossem feitos novos exames lá.
E parece que o material ficou lá, enquanto que a outra parte ficou com ele. Aí eu não sei. Eu conhecia a esposa dele. Ele me recebeu algumas vezes, mas era uma pessoa muito fechada.
O que o levou a escrever o livro A Bíblia e os Discos Voadores? Quanto mais estudava a Bíblia, mais ficava com medo porque acreditava estar indo contra as leis de Deus. Quando cheguei às muralhas de Jericó, eu tomei um susto. Porque a ordem de Deus para Josué era para que passasse na marra. E na parte em que ele dá as sete voltas, toca as trombetas, enfim, cheguei à conclusão de que um disco voador emitiu uma onda de choque sobre o território e derrubou os muros de dentro para fora. Quando cheguei naquele trecho, não tive coragem de ir em frente. Precisei tomar coragem, decidir se ia ou não. Meu lema era seguir meus pensamentos onde quer que me conduzissem, fossem quais fossem os resultados. No dia seguinte, quando meus filhos foram dormir, fechei a porta, sentei-me à mesa e abri o livro. Aí ouvi uma voz na minha cabeça dizendo: “Quebra a barreira de seus tabus religiosos. Você está certo. Quebre as muralhas de seus tabus religiosos. Nós estamos sobre a sua cidade e vamos dar uma prova disso agora”. Assim que a voz falou, o prédio estremeceu e eu fiquei meio abobalhado com aquela trovoada. Peguei um papel e escrevi: “Uma onda de choque sobre o Rio de Janeiro às 23h30”.
E o que aconteceu? Fui para cama me sentindo esmagado. Não havia dúvida de que tinha acontecido aquilo. Às 01h30 minha mulher me chacoalha dizendo: “Cleto, Cleto, acorda, houve um terremoto no Rio de Janeiro. O povo está na rua de camisola e pijama”. Eu falei que já sabia daquilo. Durante três dias a imprensa ficou noticiando e discutindo a onda de choque, mas não foi propriamente isso. Houve um geólogo que chegou a afirmar que no Rio não havia possibilidade de haver terremoto, e que, portanto, só podia ser uma onda de choque provocada por algo que tivesse explodido no ar. Daí não tive mais dúvidas. O que aconteceu comigo em 1962 foi uma verdade indiscutível. Daí, mergulhei no estudo da Bíblia quase que teleguiado, dirigido por esse fenômeno. Fui em frente e escrevi o livro.
O que seria o Projeto Cristão, defendido pelo senhor? O Projeto Sêmen foi o primeiro projeto. Seres extraterrestres teriam inoculado uma semente nova para acelerar a evolução na Terra. Então trouxeram os judeus e os fizeram seus escravos. Invadiram o Vale do Canaã, mataram e destruíram. Mas sempre tinham um objetivo por trás: o dízimo. Quando Jesus atacou os vendilhões do templo, ele quis acabar com as oferendas, os sacrifícios, o assalto à Terra. O Projeto Cristão é um projeto feito fora da Terra para não ser mais exclusivo dos judeus. Esse teria sido o objetivo.
Voltando à A Bíblia e os Discos Voadores, o senhor teve dificuldades para publicá-lo? Terminei de escrever a obra em 1968, mas só o publiquei em 1970. Nesses dois anos fiquei criando coragem. Até que encontrei um grande astrônomo e matemático que foi a uma reunião da Ordem Rosacruz que eu freqüentava. Tinha uma porção de gente lá. Assim que entrei na reunião, adivinhe quem estava sentado na cadeira de balanço: o matemático Malba Tahan, rindo, simpático [Pseudônimo do escritor, professor e matemático carioca Júlio César de Mello e Souza, falecido em 1974, autor de 56 livros, entre eles o famoso O Homem que Calculava (1938), que conta a história de um árabe que usa a matemática para resolver qualquer tipo de problema]. Aí tive aquela intuição. Eu estava levando uma vida muito asceta nesse período. Passei seis anos estudando a Bíblia, passei a viver uma vida de sacerdote, comecei a conhecer todas essas obras místicas. Estudei parapsicologia e psicologia. Quando entrei, vi aquele homem ali, e temi que ele estivesse ali para me destruir. Ele começou a falar e não deixou mais ninguém falar. Notei que ele conhecia muito bem a Bíblia e todo mundo começou então a me provocar: “Como é Cleto, vai falar ou não vai?”
E acabou falando? Desculpei-me com o professor Malba Tahan dizendo que não me sentia à vontade para palestrar na presença dele, porque não sabia que ele conhecia tão bem a Bíblia. Mas já que era assim, não precisaria ficar explicando certos aspectos e poderia ir direto às minhas proposições. Mencionei meia dúzia de passagens em ordem cronológica, do Gênesis ao Apocalipse. Quando cheguei no ponto-chave, que era a Estrela de Belém ou a Astronave de Belém, como eu a chamo, ele ficou olhando espantado para mim. Já tinha dado a ele cinco ou seis elementos para balançar. A Astronave de Belém iluminou o Menino Jesus e mais adiante largou superastronautas na superfície, que foram anunciar o nascimento do Messias. Depois, prosseguindo, a Estrela de Belém voltou para carregar Jesus na ascensão do Senhor. Aí ele interrompeu e falou: “Chega, o senhor destruiu todos os meus 60 anos de vida. Realmente abalou todas as minhas convicções e eu vou lhe pedir seis meses pra rever tudo isso. Eu vou me retirar”. Assim que ele saiu, o pessoal místico começou a me aplaudir, porque todos sabiam que ele tinha ido lá para me destruir. E isso me deu uma força muito grande para publicar A Bíblia e os Discos Voadores. Eu não queria magoar ninguém. Tanto é que, na abertura do livro, advirto aqueles que professam alguma religião para que não o leiam, sob risco de perderem sua fé.
O senhor era católico? Sim, católico. Sofri muito com tudo aquilo. Sofri muito para me acostumar à idéia.
Avançando um pouco no tempo, qual a avaliação que o senhor faz da pesquisa ufológica desenvolvida atualmente nos Estados Unidos? Ela não está servindo de exemplo para ninguém, e não serve de modelo para nós. Acho que é fantasia demais. A série Arquivo X, por exemplo, espalhou muitas inverdades.
E quanto ao Caso Roswell, registrado em 1947 no estado norte-americano do Novo México? Não seria uma ocorrência ufológica autêntica? Não considero o Caso Roswell verdadeiro. A minha idéia é a seguinte: se a Força Aérea Norte-Americana (USAF) nega e esconde o fato, como é que vou afirmar que é verdade? Não há como! Então, desde aquela época eu alertava meus colegas ufólogos para que, se admitíssemos tal possibilidade, estaríamos dando margens a todo tipo de especulações. E foi justamente o que aconteceu.
O ex-agente da Marinha Norte-Americana Milton Cooper e o piloto da USAF John Lear garantiram que existia um governo secreto supervisionando as abduções efetuadas pelos ETs considerados nefastos. E que o governo dos Estados Unidos teria recuperado dezenas de naves acidentadas entre os anos 50 e 60. O que o senhor pensa disso? É tudo fantasia. Você vê que a base dessas afirmações é George Adamski. Até o disco que Cooper e Lear descrevem é baseado nas histórias de Adamski, inclusive o detalhe de que ele roda de um lado e do outro. Sinceramente, há apenas dois contatados que eu respeito um bocado, Adamski e Daniel Fry [Adamski alegava ter avistado durante cinco minutos um objeto escuro, em forma de charuto e semelhante a um gigantesco dirigível, sobre os céus de San Diego, em 09 de outubro de 1946. Depois disso passou a realizar vigílias e tirou fotos controversas de supostos UFOs
ETs teriam inoculado uma semente nova para acelerar a evolução na Terra. Trouxeram os judeus e os fizeram seus escravos. Invadiram Canaã, mataram e destruíram. Mas sempre tinham um objetivo por trás. Quando Jesus atacou os vendilhões do templo, ele quis acabar com as oferendas, os sacrifícios, o assalto à Terra. Assim, o Projeto Cristão é um projeto feito fora do planeta
Mas que elementos poderiam atestar a veracidade do que Adamski e Fry alegavam? Veja, é quase impossível forjar o tipo de fotografia que Adamski tirou dos discos que viu. É inacreditável que alguém que queira forjar um disco voador bata uma fotografia mostrando certos detalhes tão de perto. Não sei se vocês repararam, isso eu não falei a ninguém, mas vou dar um exemplo. O disco do George Adamski é uma cúpula que fecha, e embaixo tem três bolas. Essas esferas giram para os lados. Se fossem fotografadas girando em alta velocidade, se transformariam no disco da Barra da Tijuca, o primeiro fotografado no mundo, em 07 de maio de 1952, enquanto o de Adamski só foi registrado em 20 de novembro de 1952. Adamski, de tão desacreditado que foi, chegou a pirar um pouco. Ele sofreu uma distorção de personalidade e, mais adiante, passou a sentir necessidade de inventar as coisas.
O senhor disse que uma vez encontrou uma pessoa loira no Cine Metro, no Rio, que era idêntica a misteriosa Dolores Barrios, que até hoje inspira interrogações. Dolores teria sido uma ET infiltrada num congresso de Ufologia dos anos 50, em Monte Palomar, na Califórnia. Era idêntica sim. Naquele dia fiquei até tarde escrevendo, estava com a cabeça até aqui de discos voadores… Foi o último dia, depois de três meses, do inquérito militar sobre UFOs. Pouco antes tinha visto um objeto sair de uma nuvem, e então resolvi ir ao cinema com minha esposa para esquecer esse negócio. E no Cine Metro aconteceu justamente o contrário. Minha esposa também notou a semelhança entre a pessoa que vimos lá e a Dolores. Ela ficou apavorada, quis fugir. Um ou dois meses depois fui à Sociedade Teosófica Brasileira (STB), e alguém lá, no final da palestra, disse ao João Martins que aquela estranha mulher do Monte Palomar, que ele havia fotografado, era de Agartha, um mundo subterrâneo. Fiquei curioso e disse ao Martins que havia acompanhado todas as reportagens dele no O Cruzeiro, exceto aquela. Por sorte ele tinha um exemplar no carro e me entregou a revista aberta na página que trazia a foto da Dolores. Assim que vi a foto, meu cabelo e todos os pêlos do meu corpo ficaram arrepiados. Só aí é que compreendi o que tinha ocorrido no cinema.
O senhor acha mesmo que Dolores Barrios era uma extraterrestre? Não poderia ser uma espiã ou qualquer coisa assim? Estou convencido de que ela era uma extraterrestre. Como é que pode aparecer uma mulher como ela no Monte Palomar, e logo em seguida aparecer um homem com a mesma fisionomia no Cine Metro, fazendo o que fez? Acho que eles são o mesmo ser.
Fale-nos sobre aquele caso que o senhor pesquisou em 1966, de um senhor português residente em Brasília, que diz ter viajado a Marte em outubro de 1957. Ele estava nas proximidades do Pico do Jaraguá, em São Paulo, quando foi levado. Ele viu 200 seres iguais a Dolores Barrios em Marte. Disseram a ele que a Bíblia foi escrita sob inspiração deles e baseada no Deus único conhecido por eles. Tenho impressão de que isso realmente aconteceu. Mas era português, com sotaque bravo. No dia em que fui entrevistá-lo em Brasília, ele era dono do bar e garçom ao mesmo tempo. Ficou com medo que eu o raptasse, porque mostrei a ele a foto da Dolores, e ele achou que eu estava ligado a ela.
O que o senhor sabe sobre o evento ufológico protagonizado pelo autor espanhol Alberto Sanmartin em 17 de novembro de 1954? Estive com ele duas vezes em São Paulo. Lembro que fizeram uma novela para TV em que a Pedra do Espaço foi mostrada. Orientei a autora e novelista Janete Clair sobre a história da pedra, e ela foi inserindo o caso na novela. No final, a Janete queria que eu representasse o cientista que apareceria decifrando os sinais do artefato. Não aceitei porque aquilo era uma novela e eu, um ufólogo sério, não quis misturar realidade com fantasia. De qualquer forma, dei muito crédito ao caso. Tanto que mandei fazer uma réplica em bronze da Pedra do Espaço.
De que tipo de material era feita a pedra? Ela me pareceu ser feita de um material orgânico meio roxo. Uma massa esquisita.
E Alberto Sanmartin, era uma testemunha idônea? A mim me pareceu. Eu só tive uma dúvida com relação a ele. É que a parte que mais me interessou na sua história não foi a Pedra do Espaço com seus sinais gravados, os quais interpretei como sendo a pedra filosofal, mas a mensagem dos seres que teriam lhe entregado a pedra. Era uma espécie de “lei universal”. E quando lhe indaguei sobre a mensagem, ele falou que tinha certeza de tudo, menos da tal mensagem. A história dele é até certo ponto verdadeira, mas, no meu entender, como se sentiu desorientado, a partir de certo momento começou a perder a compostura.
Qual foi a melhor filmagem de discos voadores que o senhor analisou? Foi um filme feito à beira da Lagoa Rodrigo de Freitas, de frente para a Pedra da Gávea, no Rio, a uns quatro quilômetros de distância. Comprei os originais desse filme na TV Tupi. Levei o coronel Adil e o João Martins na casa do Olavo Fontes, na Avenida Atlântica, para mostrar o filme a eles. Mas no momento de passar o filme, o projetor quebrou. Alguém então sugeriu que passasse o filme na mão mesmo, quadro a quadro. Ora, o filme projetado normalmente durava uns dois minutos e mostrava apenas uma bolinha pulando para lá e para cá. Quadro a quadro, porém, mostrava uma bolinha que virava duas, e depois quatro, e depois oito, e em seguida se transformavam em um colar de pérolas, que virava um cacho de uva…
O que aconteceu? Catorze anos depois, a professora Irene Granchi [Presidente de honra do Conselho Editorial da Revista UFO] telefonou-me pedindo um trabalho científico para levar ao astrofísico e ufólogo J. Allen Hynek, dos Estados Unidos. Resolvi então aproveitar os dois mil fotogramas do filme. Não tinha equipamentos profissionais, de modo que fiz tudo na mão mesmo. Pegava uma luzinha e olhava, aí escolhia uns pedaços e cortava. Fiz o diapositivo em séries de 16 quadros por segundo. E observei que uma luz cruzava o céu de lado a lado à 75.000 km/h. Pela angular, a luz se aproximava a até 1.250 m de distância. E numa fração de segundo, a luz corta um quadro. Lá nos Estados Unidos, entretanto, não deram importância. Aí publiquei o trabalho em O Jornal. Foi a única vez que o doutor Walter Bühler [Fundador e presidente da extinta Sociedade Brasileira de Estudos de Discos Voadores, SBEDV] me ligou. Ele me parabenizou dizendo que era o maior trabalho de Ufologia que ele já tinha visto.
Alguns ufólogos defendem a hipótese de que os UFOs roubam eletricidade. Não roubam. Eles inundam a região de onde se aproximam com um campo eletromagnético tão intenso que anulam os campos elétricos. Cheguei a essa conclusão por uma série de razões, mas ninguém tem coragem de tocar no assunto.
E quanto às 12 fotos de um UFO tiradas por um repórter fotográfico da redação do jornal O Globo, em 1974, o que o senhor tem a dizer? Devo acrescentar que antes desse repórter bater as fotos, uma amiga da professora Irene Granchi, que até namorou um de meus filhos, filmou o UFO vindo da Pedra da Gávea e passando pelo Cristo Redentor. O filme também capta vários automóveis parados na entrada do Túnel Rebouças, com os motoristas pasmos observando o UFO. E do outro lado, o repórter de O Globo bateu as 12 fotos. Mostraram essas fotos ao astrônomo Ronaldo Mourão, e ele classificou o UFO como sendo um meteoro ou um cometa. Como um astrônomo pode dizer uma besteira dessa? Fui até a redação de O Globo e o repórter me deu as 12 fotos. Ele até mandou me entrevistar e nisso esculhambei o Mourão. Anos depois nos encontramos e ele se tornou meu amigo.
O senhor também contestou o Caso Vasp Vôo 169, envolvendo um Boeing 727 da antiga companhia paulista, pilotado pelo comandante Gerson Maciel de Britto, em 08 de fevereiro de 1982. Por quê? Se eu não estivesse afastado da Ufologia na época, esse caso jamais seria considerado verdadeiro. Houve uma reunião aqui no Bairro do Botafogo para discutir o caso. Só fui até lá a pedido da professora Irene e para mostrar as 12 fotos ao Mourão, que também foi convidado. O Britto prometeu que iria, mas acabou não comparecendo. Havia também dois engenheiros de vôo da Pan Air ali presentes – eu cheguei a trabalhar na Pan Air antes que fosse liquidada – que provaram que o UFO visto pelo Britto e pelos passageiros não passava do planeta Vênus. Provaram mostrando que o objeto estava seis graus abaixo da asa esquerda, e naquela posição estava exatamente o planeta Vênus. Os tripulantes e passageiros do Vôo 169, a quatro quilômetros de altitude, viam Vênus sobre a asa. E como a asa do avião faz sempre dois movimentos, parecia que Vênus subia, descia, ia para frente e para trás. Como apresentava brilho intenso naquela época do ano, também acabou confundindo. Perdi a conta de quantos ufólogos e pessoas me levaram para ver um disco voador, e quando chegava lá tinha de explicar que na verdade era apenas Vênus.
Vênus é o objeto astronômico que mais confunde… Sim, o que mais confunde, a ponto de, no Caso Vasp Vôo 169, o comandante Britto ter até tentado entabular uma conversação telepática com os tripulantes do UFO, ou melhor, de Vênus. Depois de conversar muito com Vênus telepaticamente e de alimentar a certeza de que era um UFO, ele acabou entregando o comando ao co-piloto e pegou o microfone para chamar a atenção dos passageiros e pedir que olhassem através das janelas do lado esquerdo do avião. Se todos os passageiros tivessem seguido sua recomendação e se levantado ao mesmo tempo para se dirigirem ao lado esquerdo, certamente teriam criado uma instabilidade no avião. Por sorte muita gente não acreditou, entre eles o cardeal-arcebispo de Fortaleza, dom Aloísio Lorscheider. O Mourão fez questão de repetir o mesmo vôo no dia seguinte e constatou que era Vênus. Note que o UFO só mudou de posição quando Britto virou o avião para pousar no Rio de Janeiro. Aí ele foi baixando e o “disco” sumiu. Lógico, Vênus estava baixo no horizonte. Por causa disso, como vocês sabem, Britto acabou afastado pelo comando da VASP.
O senhor também foi testemunha de uma ocorrência ufológica em 1975, na cidade de Guarapari, Espírito Santo. Como tudo aconteceu? Tive a impressão de que o UFO ia me pegar. A luz já estava bem perto quando se desviou e partiu, quebrando a barreira do som. Esse caso conto em detalhes em meu livro Sinais Estranhos.
Ele jogou um foco de luz sobre o senhor? Como uma das chamadas “luzes sólidas”? Jogou um foco que era transparente. A luz não era como essas de farol, mas parecia compacta. Não digo que fosse sólida, mas quando chegou pertinho, deu uma guinada para o outro lado.
Um documento oficial que o senhor possui, assinado por alta patente das Forças Armadas, corrobora a veracidade do Caso Tiago Machado, atestando que cerca de 500 moradores de Pirassununga (SP) saíram para ver um UFO na manhã de 06 de fevereiro de 1969. Dizem que, depois de ter sido atingido na perna pelo raio disparado por um dos ufonautas, Tiago foi levado pela Aeronáutica. O que o senhor diz deste caso? Que eu saiba, O Tiago foi apenas levado ao hospital para tratamento. A FAB, tendo à frente o brigadeiro José Vaz da Silva, ouviu mais de 300 testemunhas, inclusive o médico que examinou Tiago, e todos foram coerentes no que relataram. Quando estava escrevendo sobre esse caso para o meu livro Sinais Estranhos, um antigo amigo me ligou e marcou um encontro comigo. Coincidentemente, me contou mais detalhes a respeito e me forneceu as fotos e os documentos que publiquei. Até o Exército se meteu no caso. Os telefones da cidade ficaram mudos durante duas horas – este foi o primeiro caso ufológico no Brasil em que os telefones ficaram mudos.
Se eu não estivesse afastado da Ufologia na época do Caso Vasp Vôo 169, ele jamais seria considerado verdadeiro. Houve uma reunião aqui para discutir o episódio. Fui até lá a pedido da professora Irene Granchi, mas o comandante Gerson Maciel de Britto, que prometeu que iria, não compareceu. Tínhamos provas de que o UFO visto por ele e seus passageiros não passava do planeta Vênus
Os ufonautas levaram ou não o maço de cigarros que Tiago jogou na direção deles, segundo ele descreveu? Não levaram.
Que importância o senhor confere a este caso? Considero o Caso Tiago Machado o mais importante da Ufologia Brasileira, o mais balizado em documentação, pelo menos até o dia em que estava escrevendo o livro. Queria abrir Sinais Estranhos com um episódio incontestável para logo em seguida abrir a minha guarda e contar os fatos ocorridos comigo, mistérios que aconteceram ao longo de minha vida pessoal.
Mas o regime militar conseguiu encobrir muitos casos ufológicos, não? Os únicos que vazaram e vieram a público parcialmente foram os ataques do chamado chupa-chupa na Amazônia, por ter sido uma coisa regional demais, perdida no norte do Brasil. Mas não valia a pena jogar aquilo para o grande público, pois o negócio era meio assustador [Veja detalhes nas edições de UFO 114 a 117].
O senhor teve acesso ao material resultante das pesquisas oficiais dos ataques do chupa-chupa, lá em Brasília ou em Belém, onde elas aconteceram? Não. Só recentemente um amigo me enviou cópias do relatório da Operação Prato. Tomei um susto quando recebi. Não podia nem imaginar que aquilo existia. Mas não me deram as fotografias, mas os filmes tentarei conseguir no Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Comdabra).
O senhor iniciou seu mais recente livro, Que Ciência Constrói os Discos Voadores?, reproduzindo o relatório confidencial que entregou ao Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA), em 1974. Por quê? Na ocasião, fui a Brasília conversar com o chefe do Serviço de Informações da Aeronáutica (SIA) e coloquei os discos voadores como um problema de segurança nacional. Sei que esse trabalho foi muito bem recebido lá, mas pelo que sei também, nunca o aplicaram. Então, abri o livro com uma síntese do que recomendei ao EMFA, e no capítulo 2 abordei os questões teóricas. Já no 3 fiz uma mistura de Ufologia e cosmologia, jogando os enigmáticos círculos nas plantações da Inglaterra.
Quem era o chefe do SIA na época? Era o brigadeiro Milton Vassalo. E ele falou assim: “Você mandou isso para mim e achei ótima a sua idéia. Mas eu vou ter que mandar ao EMFA. Então, por que você não vai direto ao EMFA?” E ele me destacou um oficial do gabinete do ministro, aqui do Rio de Janeiro, para me ajudar num episódio específico que eu estava pesquisando, o Caso Edílcio Barbosa [Que alegou que um UFO pousaria na cidade fluminense de Casimiro de Abreu, em 07 de março de 1980,, atraindo imensa multidão estimada em 25 mil pessoas]. Eu queria comprovar com a ajuda da FAB que o mesmo era uma fraude. Precisava do apoio dos militares para isso, e apurei que era falcatrua do Barbosa. A Rede Globo veio aqui e gravei uma entrevista na véspera. Esse Barbosa era mesmo um falsário.
O que aconteceu a ele? Acabou morrendo.
Mas ele teve que fugir da cidade quando o tal UFO não pousou? Isso eu não sei. O Barbosa ficou vários meses falando que via discos voadores, falava em militares de alta patente, citava a Aeronáutica e uma porção de coisas. Aos poucos, fui dando corda até que marquei um encontro com ele na porta do Ministério da Aeronáutica, mas ele nunca apareceu. Aí peguei a ficha dele e descobri que nunca foi da Aeronáutica, nunca foi nada, que era tudo mentira, fantasia dele. Ele acreditava que conversava com extraterrestres todos os dias, todas as horas. Foi um desses casos de desanimar mesmo, mas que a gente aprende pesquisando.