Nenhum dos cientistas que se arriscam a prever o futuro sabe bem o que acontecerá daqui a algumas décadas, mas muitos deles já têm uma palavra para descrever o que vem por aí: singularidade. A idéia é que tecnologias de várias áreas evoluem cada vez mais aceleradamente, se integrando e mudando rapidamente a realidade. Em um dado momento, a curva da evolução ficaria tão vertical que ultrapassaria o limite do próprio gráfico. É impossível saber o que viria depois. Esse momento está previsto por esses teóricos para chegar entre 2010 e 2140. O termo foi emprestado da física, que designa fenômenos tão extremos que as equações não são mais capazes de descrevê-los. Um exemplo são os buracos negros, lugares de densidade infinita, que levam as leis da ciência ao absurdo. Ou seja, a singularidade é um nome bonito que exprime tudo o que está além da nossa capacidade de cognição e previsibilidade. A idéia surgiu em 1950, com o matemático húngaro John von Neumann, um dos criadores do computador e um dos maiores cientistas do século XX, que disse que as tecnologias poderiam chegar a um ponto além do previsível, onde “os assuntos humanos, da forma como os conhecemos, não poderiam continuar a existir“. Desde então, a evolução rápida de várias tecnologias é um dos argumentos de que a humanidade pode mesmo um dia chegar a esse momento da virada. Essa evolução parece seguir uma lógica. Um dos primeiros a notar isso foi o engenheiro Gordon Moore, um dos fundadores da Intel, que formulou aquela que ficou conhecida como a Lei de Moore. Segundo a mesma, o número de transistores em um mesmo espaço – e por conseqüência a capacidade de processamento dos chips – dobra a cada 18 meses. Ou seja, é uma progressão geométrica: cada vez o ritmo do avanço fica maior (se no primeiro período de 18 meses a tal capacidade aumenta de um para dois, no vigésimo ela crescerá absurdamente mais: de 524.288 para 1.048.576). Isso significa uma progressão absurda a partir de um ponto, cada vez mais tendendo ao infinito.
Não é só na informática que os especialistas vêem esse fenômeno. A nanotecnologia, a genética e a robótica têm evoluído em ritmo parecido, fornecendo umas às outras ferramentas para progredirem ainda mais. O resultado disso? “Por causa da taxa explosiva de desenvolvimento, o crescimento tecnológico no século XXI será equivalente a 20 mil anos de progresso na velocidade atual“, diz o inventor e empresário Ray Kurzweil, autor do livro The Singularity is Near [A Singularidade Está Próxima, Penguin USA, 2006]. O que ninguém sabe é qual evento desencadeará essa revolução nem como ela irá transcorrer, mas vários cenários já foram formulados. É claro que tudo isso é teoria. Há quem ache que nada disso acontecerá, pode ser que os cientistas encontrem uma barreira tecnológica intransponível, que não consigam muita coisa além de umas máquinas mais ligeiras, que não exista demanda para computadores mais avançados ou que todas essas pesquisas acabem em uma enorme tragédia. Qualquer que seja a alternativa, a única certeza é que a humanidade terminará este século muito diferente de como começou.