Uma especialista em busca de vida extraterrestre acha que o rover Perseverance está procurando nos lugares errados as formas de vida que ela acredita estarem em Marte.
Por Paul Seaburn
“Você pode andar na mesma paisagem por quilômetros e não encontrar nada. Então, talvez porque a inclinação mude em uma fração de grau, a textura ou a mineralogia do solo é diferente porque há mais proteção contra os raios ultravioleta. De repente, a vida está aqui. O que importa em mundos extremos para encontrar vida é entender os padrões resultantes dessas interações”, diz a doutora Nathalie Cabrol.
Nathalie, que é Diretora do Centro de Pesquisa Carl Sagan do Instituto SETI, tornou-se uma especialista em busca de vida em Marte procurando por vida em um lugar extremo da Terra – o altiplano chileno, um platô frio e árido no alto dos Andes. O que ela aprendeu é que a busca por formas de vida em Marte deve começar bilhões de anos atrás, quando Marte se tornou o ambiente extremo que ainda é hoje.
Dessa perspectiva, ela agora acredita que não é suficiente apenas procurar por água – rovers, helicópteros, satélites e humanos devem olhar para a interação total entre a fina atmosfera marciana, sua radiação ultravioleta, salinidade do solo, vento, flutuações de temperatura, e muito mais – é o que ela chama de motor ou biosfera que mantém a vida microbiana funcionando.
As condições da superfície do planeta podem causar um leque enorme de padrões diferentes que dificultem a busca por vida de uma forma mais direta.
Fonte: Tetyana Milojevic
E, se você não vê na superfície, você olha nos lugares mais difíceis. “É importante ressaltar que os mecanismos de dispersão ainda existem hoje e eles conectam o interior profundo à subsuperfície”, diz. Nathalie crê que é preciso mais do que minúsculas brocas nos veículos espaciais.
“Precisamos de ampla cobertura, muito mais olhos – humanos e eletrônicos – examinando a superfície em busca de padrões que refletem o motor da subsuperfície e as fendas profundas onde a vida microbiana possa estar se escondendo”. Claro, também precisamos cavar e, ao mesmo tempo, preservar o ambiente frágil que sustenta esta vida. Conclusão da doutora Nathalie – há vida em Marte, mas está bem abaixo da superfície.