por Carlos Alberto Reis
2003, o ano da emancipação da Revista UFO
Vamos começar nossos comentários com a edição 83 de Ufo, de dezembro passado, que veiculou várias matérias interessantes. Uma análise da revista mostra que o editorial Redescobrindo o Espaço contém uma obviedade. O texto informa que tanto russos quanto norte-americanos escondem até hoje suas falhas e golpes baixos na corrida espacial. Mas o que se esperava deles? Que viessem a público contar suas safadezas e baixarias, admitir os próprios erros? Certamente que não. A propósito desse assunto, na nota Astronauta Desabafa sobre UFOs, na seção Mundo Ufológico, a revista mais uma vez se desgasta em semântica. Assim, proponho ao editor um acordo: vamos logo convencionar que astronauta é norte-americano e cosmonauta é russo. Dessa forma não precisamos gastar papel e tinta explicando quem é quem, como na expressão “…primeiro astronauta norte-americano a usar uniforme de cosmonauta russo…”
Echelon, Cadê o Bin Laden?
Na seção Diálogo Aberto, com a entrevista a Aldo Novak, intitulada Olhos Eletrônicos Vigiam os Ufólogos, fica no ar uma pergunta: se o Echelon é assim tão eficiente para com a Ufologia, rastreando milhares de e-mails em todo o planeta, como ainda não localizou Bin Laden nem previu os atentados do ano passado? Será que a Ufologia representa mais risco para a segurança nacional do que os ataques terroristas? O Echelon não tem coisa mais importante para fazer? Com a palavra, o Aldo. A propósito, com todo o respeito ao entrevistado, ele parece confundir estagnação da Ufologia com ficção científica e aprofundamento das pesquisas. Que a Ufologia é rica em fatos, ninguém discute. Mas isso não significa que ela esteja avançando. Pois eu afirmo que está estagnada, sem confundi-la com ficção científica. E para ela sair da estagnação em que se encontra, é preciso ampliar a perspectiva de abordagem, entre outras coisas.
Adiante na referida edição, uma análise do texto Contatos com Alienígenas no Espaço, de Giorgio Bongiovanni, mostra vários itens dignos de nota. Por se tratar de uma matéria especial, com muitas páginas dedicadas ao tema, em igual proporção teríamos muitos comentários e observações a fazer. Mas por questões de espaço, fiquemos apenas no mínimo indispensável. Primeiramente, as mensagens atribuídas a Eugenio Siragusa são questionáveis desde os anos 70 – como, aliás, quase todas as oriundas dos “comandantes espaciais”, de Ágar a Ashtar Sheran. Em segundo lugar, à página 15 lê-se: “…o objeto efetua uma manobra inteligente”. O que é exatamente uma manobra inteligente? Isso não ficou claro na matéria. Terceiro, na página 16 lemos “a documentação da NASA… provas inequívocas… de origem extraterrestre…” Origem extraterrestre? Como o autor faz uma afirmação dessas? Na verdade, todo esse parágrafo trata apenas e tão somente de sua opinião, e não uma conclusão definitiva e inquestionável sobre o assunto. Assim, não vamos levar ao pé da letra tudo o que se afirma nesse texto. Tenhamos cuidado com certas colocações e extremas reservas quanto a outras.
Em Ufo 83 também temos o artigo Região em Porto Rico é Campo de Tiro em ETs, de Jorge Martín, que contém uma longa e desnecessária introdução para uma matéria que não justifica o título. Mas esse já não é o caso do texto seguinte, Ciência e Religião Contra a Verdade Ufológica, do mineiro Paulo Werner. Que tal deixar a ciência e a religião com suas verdades e a Ufologia com a dela – se é que tem uma? Para encerrar, o texto final, sobre o tão propalado sindicato de ufólogos, escrito pelo também mineiro Ubirajara F. Rodrigues, está um primor. Ele traz uma abordagem perfeita, completa e indiscutível sobre a criação de um sindicato de ufólogos – que, mais do que uma questão jurídica, é uma questão de bom senso. Uma polêmica a menos.
Contatados Contrariados
Vamos para a edição 84, que tem como tema central as seitas ufológicas. Quanto à matéria que inspira a abordagem, Movimentos de Culto aos Extraterrestres, de Vanderlei D’Agostino, embora minha função não permita prender-me ao debate, devo levantar uma questão básica. Se um contatado aparecer falando bobagens, com estranhas afirmações, procedimentos suspeitos e contrariando todas as expectativas da Ufologia, então ele seria uma farsa. Mas se as mensagens de supostos ETs forem de paz, do tipo “amai-vos uns aos outros” e “cuidado com vosso instinto beligerante”, então aí o sujeito seria autêntico? Vemos nessa abordagem dois pesos e duas medidas. Ninguém pediu minha opinião, mas vou dá-la assim mesmo: nenhuma das duas vertentes merece credulidade! Ainda com respeito a essa matéria, devo levantar uma questão de técnica jornalística. D´Agostino, seu autor, menciona a psicóloga Maria de Lourdes Silva à página 16, na primeira coluna. Mas quando volta a falar dela, na página 19, terceira coluna, não cita seu nome. Este é um intervalo muito grande e o leitor é obrigado a retroceder no texto para descobrir a quem exatamente o autor está se referindo. Talvez essa seja uma falha da revisão.
Na seção Diálogo Aberto da referida edição, intitulada As Respostas Estão na Investigação de Campo, temos o entrevistado Marco Petit incorrendo em uma contradição. Num determinado momento, ele afirma que civilizações extraterrestres podem interferir até “certo ponto” na própria evolução deste universo. Mas não existe “até certo ponto”, assim como não existe mulher “meio grávida”. Ou se interfere ou não se interfere. Se mexer num único grão de areia, então o universo todo já está alterado. Na verdade, a discussão é mais profunda, pois o universo nunca é alterado: ele é como é. Mas a incoerência está mais à frente, quando Petit afirma haver uma regra geral entre as civilizações mais avançadas para não interferir na evolução de outras raças emergentes. Afinal, podem ou não interferir? Ainda nessa entrevista, o título da foto à página 11 não está correto, Um Celeiro de Sondas Ufológicas. Ora, a Serra da Beleza pode ser um local de grande incidência de avistamentos, mas não um celeiro, pois esta palavra indica depósito, lugar onde se guarda alguma coisa. Outra falha de redação…
Bicho de Estimação
Vamos comentar o artigo Criatura Misteriosa é Investigada no Chile, da convidada especial Dirlene Ribeiro, e a seção que Ufo iniciou em sua edição 84, Memória Ufológica, do coordenador de traduções Marcos Malvezzi Leal. Com relação ao primeiro, um sujeito encontra um ser de sete centímetros vivo, sem fazer a menor idéia do que se trata e o leva para casa? Pior: guarda a criatura por oito dias e não fala para ninguém? O que ele queria, um bichinho de estimação? E tem ufólogo por aquelas bandas que não vai sossegar enquanto uma autoridade não decretar que aquilo é um ET! Quanto à seção, uma advertência: não vamos esquecer da memória! Malvezzi precisa dar a fonte dos casos que publica, por uma questão de prestação de serviço. Os interessados podem buscar mais informações na origem.
Na seção Encontros Cósmicos, o box Esclarecida Foto de ET em Ponta Grossa merece comentário. Desmascarar essa foto foi uma atitude exemplar. Parabéns aos consultores que perceberam a tempo a fraude, à revista por informá-la e aos leitores que escreveram desconfiando da imagem. Só espero que não apareça alguém dizendo “viu, não disse que o ET de Ponta Grossa confirma a ilustração da revista?” Ainda analisando as seções finais de Ufo 84, a Imprensa Ufológica está com sua agenda defasada. Confesso que não entendi, ou que prefiro acreditar em erro de impressão. Ora, a agenda do Omega Instituto traz a programação a partir de abril de… 2002? Atenção, revisor!
Dois comentários finais. Em Busca de respostas daquela edição o leitor Arnaldo A. de Oliveira poderia ter recebido uma resposta da revista, já que a Ufologia Brasileira tem a sua Associação Nacional dos Ufólogos do Brasil (ANUB), fundada em São Paulo, há duas décadas. Se funciona ou não, é outra história. E quanto ao encarte de suprimentos ufológicos, a seção Biblioteca Ufo merece uma reprimenda indispensável. No comentário pertinente à obra Os Portais do Santuário, o texto afirma que a experiência mística que o autor passou – justamente este ombudsman – o fez entender melhor as visitas alienígenas. É preciso deixar claro que em nenhum momento do livro faço qualquer menção a esse tema.
A função do ombudsman
A Revista Ufo começou 2003 com fôlego novo, espírito renovado, expectativas ampliadas e vida nova. Já não era sem tempo! Após longos períodos de incertezas, de altos e baixos, alcançamos agora maturidade através de um novo enfoque em nossa linha editorial. A começar por essa coluna, que muito orgulhosamente passo a assinar. Ela tem a finalidade de funcionar não como um mecanismo de censura, mas sim um instrumento interno de avaliação do conteúdo da publicação, analisando, comentando, criticando e elogiando tudo aquilo que de mais relevante se apresentar a cada nova edição. E para quê? Para que todos os leitores e membros da Equipe Ufo sejam beneficiários diretos desse novo modelo.
Mas o que é, afinal, um ombudsman? Esta é uma palavra sueca que significa representante do cidadão. Nos países escandinavos, onde surgiu o conceito de ombudsman, o termo se refere a uma figura pública criada para canalizar problemas e reclamações da população. Na imprensa, é utilizado para designar o representante dos leitores dentro de uma publicação. Tal função foi criada nos Estados Unidos, nos anos 60, e adotada no Brasil a partir de 1989, pelo jornal Folha de São Paulo. Porém, mais do que simplesmente receber reclamações e sugestões dos leitores, esse ombudsman estará também fazendo uma avaliação da própria revista com o intuito de aprimorar e elevar o nível de exigência que compete a uma publicação com tantos anos de existência. É bom que se diga também que tudo estará sujeito a um exame crítico, inclusive o próprio ombudsman!