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Edição 131 – MENSAGEM DO EDITOR

Informações dos Bastidores da Ufologia

Equipe UFO

Rara coincidência entre reentrada de lixo espacial e casos ufológicos na virada do ano

O réveillon passado foi provavelmente um dos mais movimentados para a Ufologia nos últimos anos – pelo menos nos estados de Mato Grosso do Sul, Paraná, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, além do vizinho Paraguai. É que entre 23h10 e 23h50, horário local do MS, inúmeras observações de objetos voadores não identificados foram registradas em dezenas de cidades, tendo como centro dos avistamentos, aparentemente, o município de Dourados, no sul do estado. A Revista UFO também recebeu uma espantosa quantidade de relatos provenientes de áreas muitos distantes, como localidades no Mato Grosso, a mais de 1.000 km de Dourados, além de cidades do oeste de São Paulo, situadas entre 600 e 750 km do centro dos fenômenos. Até mesmo de Florianópolis e Porto Alegre chegaram e-mails de testemunhas dos avistamentos.

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A descrição feita pela maioria dos depoentes dava conta de um objeto maior ladeado por algo entre 2 e 5 menores, todos seguindo juntos numa trajetória aparente de oeste para leste, em vôo ligeiramente descendente e retilíneo. Não foi incomum observar uma longa cauda atrás dos corpos, dando a impressão de que eles se decompunham no ar para formá-la, a enorme velocidade. Entre o dia 01 e 12 de janeiro, a Revista UFO recebeu cerca de 200 e-mails e telefonemas com relatos descrevendo o fenômeno, mas logo na tarde do dia 02 já havia uma explicação para eles. Tratou-se da reentrada na atmosfera de partes de um satélite chinês da série Longa Marcha, lançado em 1994 e destinado a pesquisas científicas – e, claro, também com finalidades militares desconhecidas. O artefato em questão era o Shi Jian 4, ou SJ-4.

Lixo espacial — A reentrada de satélites é relativamente comum e acontece algumas dúzias de vezes por ano, havendo até sites especializados em informar as possíveis trajetórias e pontos de impacto, no caso de artefatos grandes, que chegam ao chão sem se esfacelarem totalmente em contato com as diversas camadas da atmosfera. É justamente desse atrito que resultam a longa cauda e a coloração dos objetos. Dependendo do tipo de material que os compõem, podem apresentar várias cores. A fragmentação também é muito comum nessas ocorrências, devido à fragilidade dos satélites, do calor gerado na reentrada e a alguns outros fatores. Em geral, esses destroços são chamados genericamente de “lixo espacial” e representam um risco médio à população, pois são poucos os que foram registrados caindo sobre áreas habitadas. Mas o risco é real, especialmente se levarmos em consideração que não sabemos exatamente quantos satélites estão em órbita da Terra e quais são suas características e finalidades, visto que a maioria é secreta e tem função militar.

crédito: BEIJING NEWS

Lançamento de um satélite chinês da série Longa Marcha, em 1994, semelhante ao SJ-4 que se precipitou no dia 31

Lançamento de um satélite chinês da série Longa Marcha, em 1994, semelhante ao SJ-4 que se precipitou no dia 31

No caso do SJ-4, segundo o astrônomo amador Douglas Bortolanza, do Grupo Próxima Centauri de Observações Astronômicas, de Dourados, foi possível determinar que um pedaço do satélite iniciou sua ruptura dividindo-se em cinco partes. “A maior delas não deve ter perdido muita massa ao reentrar na atmosfera”, disse. Ele informou que o artefato tinha formato cilíndrico, com 8 m de comprimento e 3 m de diâmetro, e pode não ter sido completamente desintegrado no atrito com a atmosfera. Fragmentos teriam se chocado contra o chão entre as cidades de Taquarussu (MS), Nova Londrina (PR) e Euclides da Cunha Paulista (SP). Outros estudiosos informaram praticamente o mesmo, dando imediatamente por encerrado o caso e incentivando a manifestação de céticos de plantão, que condenaram os ufólogos que buscavam outras justificativas para os relatos.

Explicações convencionais — Ocorre que as coisas não foram tão simples assim naquele réveillon, como se perceberia nos dias seguintes. Apesar da maioria dos relatos indicar que os avistamentos eram mesmo relacionados à reentrada do SJ-4, restava uma parcela de casos a serem esclarecidos com mais cuidado, pois suas características eram bem diversas das que podem ser explicadas como lixo espacial. Quando um satélite reentra na atmosfera, geralmente é visto acima das nuvens, a elevadas altitudes. Assim, obrigatoriamente, sua observação só é possível se o tempo estiver aberto. Ocorre, entretanto, que esta foi uma das mais chuvosas passagens de ano de que se tem notícia, com tempo variando entre totalmente encoberto e chuvoso – em alguns casos com tempestade – em cerca de 75% do Mato Grosso do Sul, onde está concentrada mais da metade das observações. E mesmo com céu carregado de nuvens, muitas pessoas observaram um fenômeno, evidentemente abaixo delas. Como isso é possível?

Entre as pessoas que escreveram à Revista UFO descrevendo a reentrada do lixo espacial, em trajetória retilínea e nos poucos lugares onde o céu estava limpo, há inúmeros depoimentos de testemunhas que observaram um fenômeno bem distinto. Eram objetos esféricos ou elípticos voando a baixa altitude – em geral abaixo das nuvens – e em trajetórias oscilantes, muitas vezes com mudança de curso, de altitude e de velocidade. Certamente, essas não são características que possam ser atribuídas à reentrada de lixo espacial. E se esses casos não podem ser causados pelos restos do SJ-4, o que seriam, então? Para os astrônomos envolvidos na tentativa de identificar o fenômeno em termos puramente convencionais, a reentrada de lixo espacial foi suficiente. Mas para os ufólogos, com o acúmulo gradativo de outros tipos de relatos, que podem perfeitamente ser atribuídos a UFOs, estava apenas iniciando uma investigação mais profunda.

Precipitação? — O curioso, no entanto, é que os ufólogos envolvidos na apuração dos fatos – a maioria ligada ao Centro Brasileiro de Pesquisas de Discos Voadores (CBPDV) – foram taxados de “precipitados” ao tentarem explicar alguns dos fenômenos como UFOs, em detrimento da tese já dada como certa para todo o episódio, a de que se tratava de partes do satélite chinês. Porém, ao encerrarem suas pesquisas, considerando todos os acontecimentos como tendo sido causados pelo artefato, foram na verdade os astrônomos os precipitados. A Revista UFO mandou cópia de mais de 60 dos depoimentos que recebeu a vários estudiosos, de vários centros e sites de astronomia do Brasil e exterior, mas não recebeu qualquer resposta. Entre esses depoimentos estavam, por exemplo, o de Ruy Leal, funcionário do Poder Judiciário de sua cidade, Jandaia do Sul, no norte do Paraná. Precisamente na hora da reentrada do satélite, Leal e alguns amigos viram outro fenômeno. Pára-quedista, Leal afirma que o objeto que testemunhou estava abaixo das nuvens, a não mais que 1.000 m de altura. Assim, certamente, não se tratava de lixo espacial. Mas o que seria?

crédito: CELSO MAZZEI

Uma das poucas fotografias da reentrada de partes do satélite chinês Shi Jian 4, feita por Celso Mazzei em Dourados, às 23h45 de 31 de dezembro

Uma das poucas fotografias da reentrada de partes do satélite chinês Shi Jian 4, feita por Celso Mazzei em Dourados, às 23h45 de 31 de dezembro

Marinalva Lange, de Toledo (PR), também viu outro fenômeno sobre sua cidade. “Eram vários objetos que mudavam de direção.?Em alguns momentos subiam e depois desciam. Eles desapareciam no ar para depois reaparecer novamente. Movimentavam-se para os lados”, descreveu. Mais uma vez, não se tratou de reentrada de satélite. O que era então? “Houve momentos em que, enquanto aparecia um objeto na nossa frente, outros surgiam atrás da gente. Foi uma experiência espetacular”, concluiu Marinalva. Mas o mais incrível de todos os depoimentos foi o de um morador de Campo Grande, que passava o réveillon com a família em um morro da área rural do município de Jaraguari (MS), a pelo menos 300 km do centro das observações daquela noite, Dourados.

“Objeto grande e cilíndrico” — Sem se identificar, ele descreveu que um enorme objeto, em forma de cilindro, cruzou a frente do morro, praticamente na altura onde estava, podendo ser visto bem de perto. “Era muito grande, silencioso e voava a baixa velocidade. Era metálico, sem luzes, e logo após o primeiro ter passado, um outro apareceu na mesma trajetória”, descreveu a testemunha, que ficou a não mais de 100 m do objeto, observando-o passar assustador ao lado do morro. “Quando veio o outro, pensei que fosse o primeiro que tivesse dado a volta, mas olhei bem e vi aquele já bem distante, se perdendo no espaço”, concluiu. Como ele, vários outros moradores de localidades do norte de Mato Grosso do Sul e sul de Mato Grosso tiveram avistamentos que não podem, em hipótese alguma, ser atribuídos a restos do SJ-4. Seriam UFOs?

O que espanta naqueles últimos minutos de 2006 foi a simultaneidade das observações, tanto da reentrada do lixo espacial, quanto dos objetos que não se enquadram na descrição e que devem ser melhor estudados. Em Ufologia, é uma raridade que fenômenos tão distintos se dêem no mesmo momento – e ainda mais incomum que se espalhem por uma área tão grande. Enquanto os restos do SJ-4 poderiam ser vistos em localidades distantes entre si 200 e até 300 km, nos momentos em que cortou a atmosfera a grande altitudes, o mesmo não se pode dizer dos UFOs, que apareceram quase ao mesmo tempo sobre várias localidades, mas a baixa altitude e em vôo sinuoso.

Se esta foi uma grande oportunidade para os ufólogos acompanharem a mais recente “onda ufológica” de que se tem notícia, foi também uma excelente chance para astrônomos, amadores ou profissionais, penetrarem na casuística do Fenômeno UFO e conhecer suas características, apurar detalhes de sua manifestação etc. Os ufólogos estão aproveitando a oportunidade e analisando os casos, um a um. Mas os astrônomos parecem ter se dado por satisfeitos com a explicação mais fácil para a ciência – reentrada de lixo espacial – e mesmo instigados pela Revista UFO, preferiram ignorar a questão. Estranhamente, os céticos, que antes lançaram suas críticas aos ufólogos, por insistirem em conhecer melhor os fatos, calaram-se ao vê-los publicados no Portal UFO.

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