A passagem atual do 3I/ATLAS, o terceiro visitante interestelar já detectado em nossa vizinhança cósmica, reacendeu o debate iniciado por seus predecessores e catalisou um novo estudo que sugere que esses viajantes gelados são candidatos ideais para procurar por tecnoassinaturas, vestígios de tecnologia extraterrestre.
A lógica é surpreendentemente sólida e está ancorada nas muitas anomalias do objeto. Ao contrário de um cometa típico, observou-se que o 3I/ATLAS é excepcionalmente grande, tem uma estranha cauda antissolar, emite mais dióxido de carbono do que água e expele níquel sem ferro. Soma-se a isso uma trajetória aparentemente calculada que o leva a passar por três planetas em nosso sistema solar, em um caminho que o torna difícil de observar da Terra. São essas peculiaridades que, embora potencialmente explicativas, o tornam um esconderijo brilhante para a tecnologia.
Os autores do estudo observam que “dada a extrema distância entre os sistemas estelares, enviar objetos físicos entre as estrelas pode ser mais vantajoso para uma civilização extraterrestre do que a comunicação direta”. E qual melhor maneira de fazer isso do que a bordo de uma rocha espacial que oferece proteção contra radiação e poeira cósmica por milênios?

Sob o gelo interestelar
Em seu artigo, publicado no servidor de pré-impressão arXiv, os pesquisadores teorizam que essa tecnologia poderia viajar de diversas maneiras. Poderia ser uma sonda ativa durante toda a jornada, que permanece adormecida até ser ativada pela proximidade de uma estrela — como uma nave de geração — ou até mesmo uma tecnologia extinta cujos componentes e materiais exóticos e flutuantes poderiam ser detectados.
Uma das possibilidades mais fascinantes é que a tecnologia esteja enterrada sob o gelo e, à medida que o objeto se aproxima do Sol, o calor sublima as camadas da superfície e o revela.
Essa abordagem transforma a observação astronômica em uma verdadeira caça às anomalias. A equipe definiu quatro áreas-chave para a busca:
- Trajetórias anômalas: Acelerações ou manobras inesperadas que não podem ser explicadas por processos naturais, como a liberação de gases de cometas.
- Anomalias espectrais ou de cor: brilho incomum, revestimentos artificiais ou excesso de calor detectáveis no infravermelho.
- Formas não naturais: Objetos com formatos estranhos, como cilindros ou finas “velas solares”, semelhantes ao misterioso 1I/Oumuamua.
- Transmissões detectáveis: qualquer tipo de sinal de rádio de banda estreita ou sinais ópticos, como lasers, que podem indicar comunicação intencional ou incidental.
De fato, essas mesmas buscas foram realizadas com seus predecessores — o enigmático 1I/Oumuamua e o cometa 2I/Borisov — embora em ambos os casos nenhum sinal convincente de origem artificial tenha sido detectado.
Visão do futuro
Embora observações anteriores não tenham produzido resultados, a importância desta nova estratégia reside em sua abordagem prospectiva. Até agora, essas descobertas têm sido fortuitas, mas isso está prestes a mudar. Com o lançamento iminente do Observatório Rubin, espera-se um aumento massivo na detecção desses objetos, passando de descobertas isoladas para um fluxo constante. Ter um protocolo sistemático para analisá-los é crucial.
Não se trata apenas de buscar vida extraterrestre, mas de construir uma estrutura científica sólida para distinguir, sem sombra de dúvida, um fenômeno natural de algo extraordinário. Como a própria equipe enfatiza, “qualquer possível detecção de tecnoassinaturas exigirá a confirmação mais rigorosa e detalhada possível”.
Fonte: Mystery Planet