
\’Verifiquei rapidamente que não havia ninguém nas imediações e que eu me encontrava sempre no centro do círculo de claridade, que calculei que ter uns cinco metros de diâmetro. Interessante foi constatar que embora eu me movesse para um e para outro lado, para frente e para trás, permanecia sempre no centro do círculo. Aos poucos notei que já não podia me mover do lugar onde eu me encontrava, como se meus pés estivessem colados ao chão da clareira. E foi então que eles apareceram.
\’Dois homens altos, tendo no mínimo 1,80 m de altura, pois eram mais altos do que eu, que tenho 1,75 m, com uma espécie de malha metálica cobrindo seus corpos desde os pés até o pescoço.Não pude distinguir bem os seus rostos, envolvidos em uma claridade que me ofuscava, mas pelo que pude perceber eram rostos humanos normais. De repente entendi que estavam me dando uma ordem e olhei para cima: não vi as copas das árvores e, a uma altura de talvez uns cinqüenta metros, pairava um objeto parecendo um enorme prato de fundo para baixo, que girava sobre si mesmo sem sair do lugar e era dele que vinha o silvo que eu escutava.
\’A seguir, ainda olhando para cima, como que magnetizado pelo foco de luz que descia do estanho prato, vi que no seu fundo se abria uma espécie de escotilha através da qual pude perceber claridade intensa dentro dele. Percebi que um, não me lembro bem se os dois, dos seres estranhos que estavam comigo em terra, pegou-me pelo braço e subi com ele, com uma sensação de que estava sendo sugado e entramos pela escotilha da nave misteriosa. Pareceu-me ter entrado num imenso laboratório que poderia se prestar para inúmeros fins. Comecei a sentir certo embotamento nos sentidos, mas percebi bem que me despiam e que a seguir fui submetido a diversos exames fisiológicos. Entendi também que um deles me dizia que nada de mal iria me acontecer e que eles iriam prestar a mim e a minha família um grande benefício.
\’Depois só me lembro de estar chegando de volta a nossa barraca, com a lata cheia de água na cabeça, a minha espingarda no ombro e sem sentir nenhum cansaço pela longa subida. Meu pai e um de meus irmãos já estavam para ir a minha procura, pois eu me demorava mais do que o tempo costumeiro. Na verdade eu me perguntava sobre o benefício que o estranho me prometera fazer à nossa família, enquanto inventava uma história de uma longa perseguição a uma paca, para explicar a minha demora. Não estava nada disposto a sofrer a incredulidade crítica de meu pai, de meus irmão e de meu cunhado, caso lhes contasse o que verdadeiramente acontecera comigo. Iria ser motivo de chistes e risadas deles durante muito tempo. No entanto, se houvesse tal benefício, aí sim, eu poderia revelar o episódio de que fora protagonista.
\’Pouco depois fomos deitar, mas não consegui dormir. Primeiro pelo próprio acontecimento que acabava de ocorrer comigo, segundo porque insistia em rememorar o que aqueles seres estranhos tinham feito comigo no interior da nave, e principalmente, procurava lembrar-me de alguma coisa especial que me tivessem falado. Já era madrugada, o dia não tardaria a amanhecer, quando, não sei se dormindo ou acordado, lembrei-me de que um dos extraterrestres me dissera: `Abram um túnel do outro lado da montanha, no mesmo nível e a 10 metros à direita de uma grande rocha que encontrarão lá sem grande trabalho. Sigam com o túnel em linha reta para o interior da montanha e antes de atingirem a profundidade de 30 metros vão encontrar muito minério de malacacheta`.
\’Lembrava-me bem de ter ouvido o estranho personagem dizer `malacacheta` e não `mica`, como nós dizíamos. Mas eu sabia que a significação era a mesma. Como eu poderia dizer isso a meus companheiros? Depois de muito pensar no assunto, resolvi falar sobre um hipotético sonho que tivera, durante o qual a revelação me fora feita. Mas antes de fazer isso, eu fui sozinho procurar a rocha. Para minha surpresa e alegria, não foi difícil encontrá-la. Então eu não fora, como estava desconfiado, vítima de uma desconcertante alucinação. Contei a meu pai o \’sonho` e ele foi comigo do outro lado da montanha para ver a grande pedra que eu tinha descoberto. No mesmo dia começamos a abrir o túnel de exploração 10 metros à direita dela. Menos de um mês depois, com 27 metros de profundidade encontramos o minério e, como me fora dito pelo extraterrestre, em grande quantidade.
\’Só então contei a meu pai e a meus irmãos o meu encontro com os seres de outro planeta e a minha estada na sua nave. Falhei-lhes da revelação que me fora feita e que acabávamos de comprovar exata com a feliz descoberta do minério. Mas eles me olharam incrédulos e preferiram achar que tudo não passara realmente de um sonho. Mas eu tinha certeza de que não sonhara. Estivera realmente numa nave extraterrena em companhia de seus tripulantes. No entanto se eu insistisse no fato verdadeiro, à época em que se passou, teria sido taxado e, o que é pior, considerado fraco do juízo. Mas para minha tranqüilidade, vivi até o tempo em que os aparecimentos desses objetos voadores desconhecidos e os contatos com seus estranhos tripulantes tornaram-se bastante comuns em várias partes do mundo, inclusive no Brasil.\’
Vicente Lucindo morreu no ano de 1970, pouco depois de ter me revelado o que acabo de narrar. Havíamos combinado sua vinda ao Rio de Janeiro, onde eu pretendia pô-lo em contato com alguns ufólogos para que seu caso pudesse ser devidamente levantado e cadastrado nos arquivos da ufologia brasileira. Sua morte frustrou a nossa intenção, mas não me impediu de fazer a revelação de sua estranha experiência.
Fonte: Fenomenun (Caso originalmente publicado pela editora Abril na obra A História do Ocultismo – Ciência e Futurologia)