O monsenhor Corrado Balducci é um religioso diferente. Amigo íntimo do papa João Paulo II, respeitado e admirado em todo o mundo católico e noutras searas, recentemente causou grande agitação no meio ufológico com declarações que arrepiaram a ala conservadora da Igreja. Entre outras coisas, Balducci admitiu num congresso de Ufologia que é “real a possibilidade de que outras criaturas inteligentes vivam na imensidão do espaço.” Para ele, tal existência seria um sinal inequívoco da glória de Deus. Até aqui tudo bem – para nós, ufólogos. Mas, um monsenhor fazer tal afirmação é no mínimo uma revolução. Com suas colocações, o teólogo coloca ainda mais em evidência um assunto que há anos é debatido por alguns grupos de pessoas e ignorado por outros tantos.
Talvez as opiniões de Balducci não fossem levadas tão a sério se não fosse ele uma das personalidades mais próximas ao papa. “A Bíblia não se refere diretamente aos extraterrestres, mas também não os exclui. A realidade dos UFOs é muito provável no infinito mistério da criação,” explicou o religioso, escancarando um tema que sempre foi mantido a sete chaves pelos governos da Terra e pelo próprio Vaticano. Mas sua intervenção na Ufologia não é a única atividade polêmica que realiza – Balducci é considerado o exorcista oficial da Santa Sé. Sua confirmação da existência dos UFOs durante o Simpósio Mundial de Ufologia de San Marino, na Itália, ocorrido em maio deste ano, foi uma peculiaridade a mais em seu currículo [Do Brasil participou do evento o conferencista e editor de UFO, A. J. Gevaerd].
“Monsenhor Balducci é um homem sincero e culto, que não poderia ficar alheio à questão dos discos voadores,” disse Roberto Pinotti, organizador do Simpósio, ao apresentar o teólogo à platéia de San Marino. Por sua vez, em sua concorrida palestra – provavelmente a primeira de uma autoridade católica em todo o mundo –, o monsenhor fez questão de dizer que não é o único a pensar dessa forma no Vaticano. “Os religiosos também são abertos a este tema e muitos deles tiveram experiências com objetos não identificados,” disse, mostrando uma posição que afirmou ser pessoal e não oficial da Igreja. “A vida fora da Terra é evidente e sua existência não pode ser ignorada,” arrematou. Mas o padre vai mais longe ao criticar as pessoas que não acreditam no fenômeno, fazendo referência ao grande número de contatos e de testemunhos que há em todo o mundo – inclusive de católicos. Ele respeita o empenho de pesquisadores em desvendar o enigma dos UFOs, mas deixa claro que o Vaticano ainda não se envolverá com a questão.
A estrutura da Igreja tem recebido muitas informações sobre observações de extraterrestres e suas relações com humanos, tanto que, em outubro de 1998, a Igreja divulgou uma nota em que informava estar prestes a construir um dos maiores e mais bem equipados observatórios astronômicos da Terra, no deserto do Arizona (EUA). O objetivo será o de contribuir na busca de planetas capazes de sustentar algum tipo de vida. O diretor do futuro centro de pesquisas, frei George Coyne, disse à época que “a Igreja tem que participar desse esforço científico internacional de procura de vida no espaço.” Balducci concorda e enfatiza a posição de sua congregação. “Não podemos ficar alheios a estas descobertas, que têm grande significado para a Humanidade!”
Alienígenas Pecadores – Na verdade, a Santa Sé conhece a realidade dos UFOs há vários séculos. A Enciclopédia Católica, editada pelo Vaticano e porta-voz do pensamento oficial da Igreja de Roma, trata deste assunto no capítulo intitulado Habitacional dos Mundos. O texto diz que a doutrina apostólica não afirma nada explicitamente sobre a existência dos UFOs, mas esclarece que se um dia a Ciência conseguir provar que em outros planetas ou estrelas existem seres racionais como os humanos, serão todos obras divinas. E ainda afirma que “a Filosofia explicará a origem destes homens do mesmo modo que elucidou a nossa, recorrendo ao argumento da causalidade que postula o Ser Criador. E a Teologia nos convidará a glorificar a grandeza, bondade e prodigalidade infinita de Deus.”
Há mais de 75 anos, no entanto, os UFOs já eram assunto de discussão de influentes sacerdotes da Igreja Católica. O padre Secchi, que era astrônomo da chamada Companhia de Jesus, e o padre Montsabré, à época um pregador dominicano de grande influência em Roma, admitiram a possibilidade da existência de criaturas racionais em outros mundos – mas de forma bem mais comedida que Balducci. Afirmavam a existência de seres extraterrestres acrescentando a suposição de que estes também seriam pecadores. Assim, mostravam que seria possível que Deus tivesse estendido a eles, como para nós, os méritos de Cristo. Desse modo, não confirmavam totalmente o Fenômeno UFO e nem o negavam…
Sem meias palavras, um importante decano da Faculdade de Teologia da Universidade Católica da América, em Washington (EUA), pronunciou-se a respeito do assunto em 1952. Era o padre Francis Connel, que acreditava na vida extraterrestre. “Não há nada de contrário à fé admitir que existam criaturas racionais em outros corpos celestes. Os estudiosos não podem estabelecer um limite para a onipotência de Deus,” disse ele à época, citando o documento Dieu Créator, minuciosamente erigido pelo teólogo George van Noort. Mas suas declarações não foram levadas muito à sério. Pelo menos, não tanto quanto as de Balducci, que goza de prestígio incomum junto à cúpula católica – e em especial o próprio papa. “É hora de se derrubarem certos dogmas e de se falar abertamente,” declarou pragmático e vanguardista.
Somente em sua versão do ano passado, entretanto, é que o Dicionário do Vaticano fez referência aos objetos voadores não identificados, traduzindo-os com a expressão “res inexplicata volans”. Já a Bíblia sagrada menciona intrigantes passagens sobre a vida de certos profetas e importantes mensagens em que, entre outras coisas, há descrições de observações de UFOs. O arrebatamento de Enoque, a destruição das cidades de Sodoma e Gomorra e até a ressurreição de Jesus Cristo tem interpretação ufológica clara. Uma das passagens bíblicas que melhor expressam a existência do Fenômeno UFO, de fato, é aquela que mostra que Deus é Senhor de outras civilizações espalhadas pela imensidão cósmica: “A casa de meu Pai tem muitas moradas.”
Como não considerar polêmico e curioso um trecho dessa importância escrito na Bíblia? Isso sem se falar nas constantes aparições da Virgem Maria ainda no
s dias de hoje, que muitos ufólogos bem informados – e alguns teólogos também – crêem ser uma manifestação ufológica. E não é só a Escritura que deixa os pesquisadores intrigados: o período renascentista também gerou inúmeras perguntas através de pinturas que simbolizam passagens bíblicas. O quadro Anunciação é um exemplo. Ele retrata a concepção de Jesus Cristo de maneira bastante intrigante, pois mostra um raio de luz direcionado para a Virgem Maria [Veja em UFO 65]. Há outros escritos históricos, tão ou mais antigos que a Bíblia, que também contêm intrigantes descrições de acontecimentos ufológicos. O texto hindu Mahabarata, por exemplo, descreve discos voadores observados na Índia há 4.000 anos atrás. Porém, como uma das mais antigas e tradicionais religiões do planeta, a Igreja Católica é a que mais tem a esconder sobre o tema. Talvez, a partir de agora, esse quadro comece a mudar…
Entidades Demoníacas – Além de Balducci, outro importante teólogo do Vaticano que defende a realidade alienígena é o padre Piero Coda. Ele declarou que, se existirem seres inteligentes e livres no Universo, eles também foram criados por Deus. “Dessa maneira, tendo falhas, estas criaturas necessitam da redenção através das palavras salvadoras de Jesus Cristo,” teoriza. Para Coda, a solidariedade religiosa fará com que os extraterrestres conheçam o caminho da salvação de Deus, podendo até haver algum enriquecimento cultural para nossa civilização, como aconteceu no passado, quando a cultura européia descobriu outros continentes. Já Balducci acha que os ETs estão num estágio intermediário entre os humanos e anjos. “Estes são espíritos e nós muito mais corpo que espírito,” explicou, garantindo ainda que o homem é algo frágil, feito de alma e matéria, levado freqüentemente a fazer o mal em vez do bem. Em sua opinião, os UFOs poderiam ser um elo de ligação com criaturas angelicais, e consequentemente com Deus. “Os alienígenas não são entidades demoníacas, porque a misericórdia de Cristo não permitiria.”
Para o monsenhor, os ETs são superiores aos terráqueos e, portanto, poderiam ajudar-nos em nossos caminhos – inclusive no sentido espiritual. E completa, com um leve sorriso: “Certamente são melhores que nós. É difícil imaginar alguma coisa pior que os seres humanos.” Como exorcista consagrado, Balducci deixa mais evidente ainda sua posição frente ao Fenômeno UFO ao afirmar que faz parte de uma comissão do Vaticano que trabalha com a possibilidade de um dia contatar alienígenas, e que busca um modo de promover a aceitação do restante do clero e dos católicos quanto ao assunto. Essa compreensão da comunidade cristã viria, talvez, pelo fato do padre dizer que os extraterrestres também possuem uma alma, “como todas as criaturas feitas à imagem e semelhança de Deus.”
Balducci também condena certos cientistas que menosprezam o Fenômeno UFO, suas testemunhas e pesquisadores. Ele diz que não se deve destruir o relato de pessoas que viveram esse tipo manifestação, pois elas procuram a disponibilidade de acreditar no inacreditável baseando-se na vida e na religião. “Que diferença faz se os anjos em vez de asas tiverem astronaves? Se existem, não são uma ameaça,” completa. De qualquer modo, o monsenhor e os demais membros da equipe de padres-astrônomos que participa do projeto de construção do observatório nos EUA estão buscando realizar o que João Paulo II disse no ano passado: “Procurem as digitais de Deus.”