A espaçonave em questão é chamada Oumuamua. É o primeiro objeto na história a passar pelo sistema solar e ser identificado como definitivamente originário de fora dele. O primeiro convidado interestelar passou por nós, vindo da direção de Vega, a estrela mais brilhante da constelação de Lyra, que fica a 26 anos-luz daqui.
Oumuamua entrou no sistema solar ao norte do plano, numa órbita hiperbólica extrema e a uma velocidade de 26,3 quilômetros por segundo mais rápida em relação ao movimento do Sol. Uma reconstrução de sua trajetória mostra que Oumuamua atravessou o plano da eclíptica em 6 de setembro de 2017, quando a gravidade do Sol acelerou o objeto para uma velocidade de 87,8 quilômetros por segundo. Em 9 de setembro, o objeto passou mais perto do sol que a órbita de Mercúrio. E em 14 de outubro, cinco dias antes de ser descoberto no Havaí, o objeto passou a 24,18 milhões de quilômetros da Terra, ou 62 vezes a distância daqui até a Lua.
(Imagem de Oumuamua pelo NASA Solar System Exploration)
“Eu não ligo para o que as pessoas dizem”, afirma Avi Loeb, presidente do departamento de astronomia da Universidade de Harvard e autor de um dos artigos mais controversos no campo da ciência no ano passado. “Para mim, não importa”, continua ele. “Eu digo o que penso e, se o público em geral se interessa pelo que eu digo, isso é um resultado bem-vindo, até onde me interessa, mas um resultado indireto. A ciência não é como política: não é baseada em pesquisas de popularidade.”
O professor Abraham Loeb, 56, estudou física na Universidade Hebraica de Jerusalém como parte do programa Talpiot das Forças de Defesa de Israel. Em 2012, a revista Time nomeou Loeb como uma das 25 pessoas mais influentes no campo do espaço. Em outubro passado, Loeb e seu estudante de pós-doutorado Shmuel Bialy, também israelense, publicaram um artigo na publicação científica The Astrophysical Journal Letters, que levantou seriamente a possibilidade de que uma espécie inteligente de alienígenas tivessem enviado uma espaçonave à Terra.
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Qual a sensação de se sentar ao lado de colegas em um refeitório universitário um dia depois de publicar um artigo argumentando que Oumuamua pode realmente ser uma espaçonave de reconhecimento?
Loeb: O artigo que publiquei foi escrito, em parte, com base em conversas que tive com colegas que respeito cientificamente. Cientistas de status sênior disseram que esse objeto era peculiar, mas estavam apreensivos em tornar público o que pensavam. Eu não entendo isso. Afinal, a posse acadêmica tem a intenção de dar aos cientistas a liberdade de assumir riscos sem precisar se preocupar com seus empregos. Infelizmente, a maioria dos cientistas obtém estabilidade e continuam cuidando de suas imagens.
Quando crianças nos perguntamos sobre o mundo, nos permitimos errar. O ego não faz parte. Nós aprendemos sobre o mundo com inocência e honestidade. Como cientista, você deveria desfrutar do privilégio de poder continuar sua infância. Não se preocupar com o ego, mas descobrir a verdade. Especialmente depois que você conseguir estabilidade.
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O primeiro amigo de outro sistema solar despertou grande entusiasmo entre os cientistas, mas sua forma e comportamento também levantaram várias questões.
Loeb: Foi submetido a observação, mas não o suficiente. Ficou apenas sob observação consecutiva por seis dias, de 25 a 31 de outubro, ou seja, uma semana após sua descoberta. No começo eles disseram: “Ok, é um cometa, mas nenhuma cauda de cometa era visível”. Mas nós não vimos um rastro de gás ou poeira em Oumuamua. Então pensamos que deveria ser um asteroide, simplesmente um pedaço de pedra. Mas o objeto girou em seu eixo por oito horas, e durante esse tempo seu brilho mudou para um fator 10, enquanto o brilho de todos os asteroides que conhecemos muda, no máximo, para um fator três.
Existem duas possibilidades em relação a sua geometria extrema. Uma é a de que tem a forma de um charuto, a outra de que tem a forma de uma panqueca. A verdade é que os mesmos observadores que examinaram a variação de luz de Oumuamua chegaram à conclusão de que se ele recebe muitos impulsos gravitacionais durante a viagem, o que é razoável, porque passou muito tempo no espaço interestelar, sua forma é plana. Posteriormente, qualidades adicionais foram descobertas, como a sua origem.
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(Órbita observável de Oumuamua)
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Qual foi o questinamento de partida para o artigo?
Loeb: A primeira pergunta que fizemos foi se uma vela como Oumuamua poderia sobreviver a bilhões de anos na Via Láctea e descobrimos que isso poderia acontecer. Ser atingido por poeira ou gás interestelar não a desgastará. Depois, tentamos calcular a aceleração que uma vela solar causaria em um objeto (como uma nave ou sonda), e descobrimos que a aceleração é consistente com a de Oumuamua. Não temos como saber se é uma tecnologia ativa ou uma nave espacial que não funciona mais e continua a flutuar no espaço.
Mas se o Oumuamua foi criado junto com uma população inteira de objetos similares que foram lançados aleatoriamente, o fato de descobrirmos isso significa que seus criadores lançaram um quatrilhão de sondas como esta para todas as estrelas da Via Láctea. É claro que a aleatoriedade é significativamente reduzida se assumirmos que Oumuamua era uma missão de reconhecimento que foi deliberadamente enviada para o sistema solar interior, isto é, para a região habitável onde a vida seria viável.
Mas precisamos lembrar que a humanidade não transmitiu nada há dezenas de milhares de anos, quando o objeto ainda estava no espaço interestelar. Eles não sabiam que havia vida inteligente aqui. É possível que o espaço esteja cheio de velas como essas e nós simplesmente não as vemos. Nós só vimos Oumuamua porque esta é a primeira vez que temos uma tecnologia que é sensível o suficiente para identificar objetos de algumas dezenas a centenas de metros de tamanho da iluminação do sol. Em três anos, a construção do telescópio LSST será concluída. Será muito mais sensível que o Pan-STARRS e certamente veremos muitos outros objetos que se originam fora do sistema solar. Então descobriremos se Oumuamua é uma anomalia ou não.
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(Aparência de uma vela sugerida para Oumuamua)
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Qual a importância deste artigo para a sociedade?
Loeb: A importância do meu artigo está em atrair a atenção dos astrônomos para que eles usem os melhores telescópios e procurem o próximo objeto, e planejem até mesmo um encontro com ele no espaço. A atual tecnologia de propulsão não nos oferece a possibilidade de seguir Oumuamua. O visitante vem para o jantar, sai para a rua e desaparece no escuro. É possível que nunca saibamos o que estava procurando.
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Em outras palavras, para o paradoxo de Enrico Fermi – “Onde está todo mundo? – você responde: ”Morto”.
Loeb: Definitivamente. A maioria deles. Nossa abordagem deve ser arqueológica. Da mesma forma que escavamos no solo para encontrar culturas que não existem mais, precisamos cavar no espaço para descobrir civilizações que existam fora do planeta Terra.
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Não é mais fácil, e portanto mais científico, assumir que estamos sozinhos até que se prove o contrário?
Loeb: Não. Qualquer um que afirme que somos únicos e especiais é culpado de arrogância. Minha premissa é a modéstia cósmica. Hoje, graças ao Telescópio Espacial Kepler, sabemos que existem mais planetas como a Terra do que grãos de areia em todas as margens de todos os mares. Imagine um rei que consiga assumir o controle de um pedaço de outro país em uma batalha horrível, e que então se considera um grande governante onipotente. E então imagine que ele consegue tomar o controle de toda a terra, ou do mundo inteiro: Seria como uma formiga que tenha envolvido suas antenas em torno de um grão de areia em uma vasta praia. É sem sentido. Presumo que não somos as únicas formigas na praia, que não estamos sozinhos.
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Isso é especulação. Você não sabe disso com certeza.
Loeb: A busca por vida extraterrestre não é especulação. É muito menos especulativo que a suposição de que há matéria escura, matéria invisível que constitui 85% do material no universo. A hipótese da matéria escura é parte da corrente principal da astrofísica, e é especulação. A vida (em outros lugares) no universo não é especulação, por duas razões: (a) Nós existimos na Terra; e (b) Há muito mais lugares que possuem condições físicas similares à da Terra. A ciência contém muitos exemplos de hipóteses que ainda não foram confirmadas pelas observações, porque a ciência progride com base em anomalias, com base em fenômenos que não são passíveis de explicações convencionais.
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Se realmente descobrimos que não estamos sozinhos no universo, que efeito você acha que essa descoberta teria em nossa vida?
Loeb: Um efeito enorme. Eles provavelmente serão mais avançados que nós, dado que nossa tecnologia foi desenvolvida apenas recentemente. Poderemos aprender muito com eles, sobre tecnologias que foram desenvolvidas ao longo de milhões e bilhões de anos. E pode ser que essa seja a razão pela qual ainda não identificamos vida inteligente extraterrestre: porque ainda somos uma vida primitiva que não sabe ler os sinais. Assim que sairmos do sistema solar, acredito que veremos muito movimento lá fora. Possivelmente receberemos uma mensagem dizendo: “Bem-vindo ao clube interestelar”. Ou descobriremos várias civilizações mortas, ou seja, encontraremos seus restos mortais.
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E essa será a boa notícia? Porque, se há muitas civilizações mais desenvolvidas que a nossa que foram liquidadas ou que se liquidaram, isso não é um bom sinal para o futuro.
Loeb: Será um excelente sinal. Isso nos dará dúvidas sobre o que estamos fazendo aqui e agora, para que não compartilhemos o mesmo destino. Precisamos nos comportar de maneira muito mais decente e menos militante uns com os outros, cooperar, prevenir a mudança climática e nos instalar no espaço. Isso deve levar a um bom lugar. A questão básica é se as pessoas são boas, no fundo.
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E qual é a resposta, na sua opinião?
Loeb: Eu acredito que elas são. Assim que ficar claro que realmente houve muitas civilizações que se tornaram extintas, acredito que as pessoas aprenderão a lição certa. E se descobrirmos remanescentes de tecnologias avançadas, eles nos mostrarão que estamos apenas no começo da estrada; e se não continuarmos nessa estrada, perderemos muito do que há para ver e experimentar no universo. Imagine se tivessem mostrado aos homens das cavernas o smartphone que você está usando para me gravar. O que eles teriam pensado sobre essa pedra especial?
Agora imagine que Oumuamua é o iPhone e nós somos os homens das cavernas. Imagine cientistas que são considerados os visionários da razão entre os homens das cavernas olhando para o dispositivo e dizendo: “Não, é apenas uma rocha. Uma rocha especial, mas uma rocha. De onde você saiu com isso alegando que não é uma rocha?
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Fonte: Jornal Haaretz, por Oded Carmeli
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