Segundo o eminente pesquisador franco-americano Jacques Vallée, grandes manifestações ufológicas demonstram-se em três níveis de igual complexidade: o físico, o biológico e o social. Cada fase exige um corpo teórico suficientemente amplo e revolucionário para lidar com a questão, capaz de traduzir a natureza e os objetivos do fenômeno. Fundamentados nessa ideia, podemos identificar, dentro da onda chupa-chupa, zonas de impacto ufológico cujas consequências repercutiram fortemente sobre o meio físico. Por exemplo, as queimaduras de seres humanos por sondas ufológicas que assolaram a Amazônia, especialmente o Maranhão e o Pará. No meio social, o impacto pode ser medido na extensão do pânico e na histeria que atingiram as populações ribeirinhas envolvidas.
Devemos considerar todos esses elementos e nada podemos descartar quando se estuda o Fenômeno UFO, pois podemos, inadvertidamente, eliminar partes importantes de sua manifestação. Por esse motivo, consideram-se fatos aparentemente absurdos ou estranhos — e uma parte deles diz respeito aos ataques que as pessoas sofriam do chupa-chupa, assunto tratado pela médica sanitarista e ex-diretora do Departamento de Programas Espaciais da Secretaria Municipal de Saúde de Belém (PA). Wellaide Cecim Carvalho trabalhou diretamente com centenas de vítimas dos ataques quando, recém-formada em medicina, ocupou o cargo de diretora da Unidade Sanitária de Colares [Veja entrevista nesta série].
Dos 12 meses ininterruptos de sua ação lá provêm as mais valiosas informações sobre o quadro clínico das vítimas do chupa-chupa. Segundo Wellaide, em setembro de 1977 ela começou a ser procurada por pessoas que se diziam atacadas por algo que chamavam de “aparelho” e “luz vampira”, além de chupa. “No início, não acreditei naquilo, imaginava que fossem crendices populares e até pensei em bruxaria. Mas tal coisa foi se tornando mais insistente”, declarou ao ufólogo e biomédico Daniel Rebisso Giese, autor do livro Vampiros Extraterrestres na Amazônia [Edição particular, ano 1991].
Casos desconhecidos
Em entrevista exclusiva à Revista UFO [Veja matéria nesta série] ela conta que o fluxo de pessoas que recorria à Unidade Sanitária foi ficando cada dia mais intenso. “Foi quando comecei a examinar mais detalhadamente as lesões das vítimas e vi coisas que não existiam nos meus livros de medicina”. Conforme os depoimentos da doutora Wellaide, as lesões tinham estranhas características. Por exemplo, não formavam bolhas típicas de queimaduras nem se assemelhavam a efeitos de queimaduras produzidas pelo fogo ou água quente. Também não pareciam com queimaduras radioativas, como as produzidas pelo elemento químico cobalto. E tampouco existia dor nos locais atingidos, apenas um ardor discreto que passava em poucas horas. Ela conta também que, depois de dois dias do ferimento, a pele da vítima descamava — nesse estágio era possível notar dois pontos bem próximos, como picadas de agulha.
“Sentia que ia ficar louca”
Outra vítima do chupa-chupa foi a jovem Aurora Fernandes, com 18 anos na época. Na noite de 17 de novembro de 1977, por volta das 21h00, Aurora regressava para casa quando foi subitamente atingida por uma corrente de ar frio. Assustada, sentiu que algo a envolvia. “Fiquei apavorada e chamei minha mãe, que já estava deitada. Mas antes dela chegar, uma luz vermelha me envolveu, deixando-me atordoada. Ao mesmo tempo senti furadas muito finas em meu seio e cai desmaiada. A luz vermelha parece me atormentar a todo instante. Sinto como se fosse ficar louca”, declarou. Aurora foi socorrida pela mãe, Eunice Júlia Nascimento, que observou um líquido incolor e com cheiro de éter que escorria das pequenas lesões sobre o seio direito da moça.
A vítima foi conduzida em seguida ao pronto socorro municipal, mas não foi atendida e teve que regressar a casa. Como seu estado psicológico não se normalizava, foi reconduzida àquele órgão, sendo dessa vez atendida e tratada com sedativos. Ao ser visitada por jornalistas de A Província do Pará, ela exibiu as estranhas marcas existentes em seu peito — ainda assustada, queixava-se de fortes dores de cabeça e fraqueza nas pernas, a ponto de não poder ficar em pé. No mesmo bairro em que morava, surgiram mais duas vítimas da luz vampira, as jovens Maria Carmem do Socorro Lobo, então com 13 anos, e Maria Augusta do Eliseu de Oliveira, com 18 anos [Veja matéria nesta série].
O médico Orlando Zoghbi, a convite de A Província do Pará, esteve na residência de Aurora Fernandes no dia seguinte ao incidente com o intuito de esclarecer a possível causa dos ferimentos. Segundo seu laudo, extremamente cético e logo desacreditado, as pequenas e múltiplas lesões dérmicas encontradas no tórax da moça teriam sido causadas inconscientemente pela contração de sua mão sobre a região mamária, ao tentar proteger-se da investida do chupa-chupa. Desconsiderando a seriedade do fenômeno chupa-chupa, o doutor Zoghbi disse que as visões das pacientes atacadas “são frutos do estado d’alma em sintonia com o inconsciente, produzindo uma excitação psicomotora”. Ele completou que as lesões são devidas às reações
de horror ocasionadas pelo choque adrenérgico [Veja matéria nesta série].
Explicações que não convencem
Os ferimentos em Aurora eram uma série de 10 a 12 pequenas picadas concentradas em um círculo de aproximadamente 2,5 cm, oito centímetros acima do mamilo esquerdo. Não se observou outras lesões no restante do corpo da vítima, muito menos na região mamária direita, o que contradiz as explicações do médico, pois uma jovem em estado de pânico obviamente levaria as mãos abertas sobre o peito e não se arranharia, como supôs o profissional. Se fosse certa sua explicação, como entender a produção de cerca de 10 pequenas feridas concentradas em um círculo de 2,5 cm, e ainda a um palmo acima do mamilo? E como se justificariam as fortes dores de cabeça e a debilidade dos membros inferiores, apresentadas pela vítima logo após o incidente?
Padrões dos ataques
Mas há que se dizer que as marcas no seio de Aurora não se configuram como característica dos padrões do ataque do chupa-chupa — e as circunstâncias de seu contato também são incomuns à maioria dos casos registrados. De qualquer forma, a síntese da maioria das informações obtidas no transc
urso da investigação do fenômeno permitiu estabelecer o quadro clínico do que também se convencionou chamar de Síndrome Chupa-Chupa, cujos elementos são os seguintes:
-Queimaduras de superficiais a intensas de 2 a 10 cm com discreto ardor na região atingida, sem qualquer processo infeccioso. Alguns casos demonstram a necrose da pele e da carne da pessoa em poucas horas.
-Presença de pontos como picadas de agulhas, que desaparecem após 72 horas, deixando apenas a queimadura ao redor. Alguns relatos descrevem 2 e outros três furos, causados supostamente por algum objeto dentro dos raios de luz do chupa-chupa.
-Queda dos pelos nas regiões atingidas pelo raio paralisante, com consequente escamação da epiderme alguns dias depois do incidente causador da anomalia.
-Tonturas, vertigens, cefaleia e fraqueza dos membros inferiores, sintomas de astenia. Nestes casos, quase todas as vítimas do chupa-chupa descreveram ter perdido sua energia e vigor em caráter permanente e até o fim de seus dias.
-Exames de sangue feitos em vítimas do chupa-chupa indicaram baixo teor de hemoglobina e redução no número de hemácias, situação que configura anemia.